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A bateria do Erick irrompe ruidosa, embalada por um show de luzes piscando e faz o público gritar ainda mais alto. Silêncio. Pedro abre um sorriso torto, que justifica os sutiãs sendo arremessados no palco. Eu entendo, penso, também tirei a minha roupa toda pra ele.

Então a música começa. A batida intensa de "Promessas" que eu conheço de cor, é um belo jeito de começar um show. A banda toda entrega uma performance impecável, digna de um videoclipe. Nem que eu quisesse poderia ficar indiferente.

O ritmo de um rock intenso inunda as minhas veias e faz o corpo se mover sem parar. Sarah e Lana estão dançando juntas em uma nuvem de fumaça, eu estou dançando também, e tentando convencer Beatrice a soltar o corpo, mas seus movimentos são mais contidos e sóbrios. Ela não tem uma dose de MD correndo nas veias.

A essa altura, o pico do êxtase já passou, mas ainda sinto uma energia vibrante fazendo o coração bater tão rápido quanto a bateria de Erick Hall.

— BOA NOITE, LOS ANGELES! — Pedro aponta o microfone para o público, afim de ecoar os gritos que se espalham de novo. E, de novo, arrepio com o som poderoso de setenta mil vozes extasiadas. — Eu adoro tocar em L.A. É meu lugar favorito do planeta. E o Holi foi o primeiro grande festival que tocamos. Lembra disso, Kyle? — Ele olha para o baixista.

— A gente estava naquele palco menor perto da entrada. — Kyle aponta para o fundo do evento. — Outras bandas incríveis tocaram lá hoje. Mas, cara... a vista desse palco aqui é fantástica.

Mesmo à certa distância, é possível ver o brilho nos olhos de ambos. Eles estão não felizes, realizados.

— Vocês poderiam erguer as suas luzes pra gente? — Pedro pede. — Celular, relógio, qualquer coisa que acenda, só coloquem no ar. Isso, desse jeito.

Logo a maré de pessoas abaixo de nós se torna um lindo tapete luminoso. As luzes no palco, por sua vez, ficam mais baixas enquanto um dos membros da equipe passa um violão para o Pedro. Sinto um frio no topo da barriga, reconhecendo os primeiros acordes que ele dedilha.

— Essa se chama "Ninguém mais que você" — anuncia.

A voz rouca se arrasta para o microfone, como se fosse dolorido para ele cantar. Algo em mim parece sair do lugar, como se eu pudesse começar a chorar aqui mesmo. De repente as 70 mil pessoas desaparecem, tudo que eu ouço é o silêncio e a voz dele, morrendo baixa no verso final.

A plateia aplaude ruidosamente, eu ainda estou atônita.

— Fiquei sabendo que a garota pra quem essa música foi escrita tá aqui na plateia hoje... — Pedro diz, dedilhando algumas notas despropositadas. A luz do palco está centrada nele. — E eu escrevi essa música há vários anos, mas ela partiu o meu coração de novo semana passada, então eu tive que fazer o que eu faço melhor: escrever outra canção. Será que alguém aqui tá a fim de ouvir uma inédita?

A plateia responde com um grito estrondoso.

— Tiete... — Os olhos de um verde intenso me procuram no camarote. Eu sei que ele não pode me ver de lá entre tantas pessoas, mas ainda sinto como se estivesse olhando diretamente para mim. Meu coração bate num pulso acelerado. — Essa é pra você, suas viagens pra Vegas com meu dinheiro e pro cara tão melhor do que eu esquentando sua cama.

Seu riso ecoando por todo o estádio soa como a quebra de um encantamento. Não é uma serenata, só outro ataque pessoal. Pedro já tem a guerra ganha. Seu exército de fãs já me atropelou nas redes sociais. Ainda assim, aqui está, lançando granadas num corpo caído. Até onde ele vai pra me derrotar?

Logo, o ruído dos fãs é encoberto pela guitarra intensa de Luke. Eu procuro a Sarah, mas ela desapareceu. Beatrice me encara e diz:

— Amiga, ele só tá tentando chamar sua atenção.

— Ou virar um exército de 70 mil pessoas contra mim.

— Como uma estrela cadente, ela surgiu na atmosfera. — A voz rouca do Pedro corta a guitarra, exatamente como um cometa cortando o céu, e em seguida a batida intensa retoma, acompanhada da bateria. — Um meteoro em chama ardente invadindo a estratosfera.

Ele se movimenta, ocupando o palco inteiro. No telão do fundo, seu rosto ao vivo aparece encoberto por uma imagem do que parece o universo.

Ouvi dizer que um raio não cai no mesmo lugar. Então diz porque eu ainda caio, na vontade de te amar. — Seu riso é uma interrupção breve. — E nós voamos pra Saturno, e eu digo que ele tem um anel igual ao seu. Então é o seu turno de dizer "foi Júpiter quem deu".

A voz vem carregada de sarcasmo ao reproduzir minha fala. Não contenho a necessidade de virar os olhos. Ele está fazendo isso de novo. Reproduzindo nossa conversa numa canção e isso me deixa irritada. Ele não pode lucrar com as coisas que eu falei.

E tem a marca do infinito, o universo é bem maior. O seu planeta favorito da galáxia, o melhor... — A música tem uma súbita redução de ritmo. O verso seguinte vem quase num sussurro. — Então o que estamos fazendo aqui agora? Você quer que eu fique ou vá embora?...

— Quero que vá pro inferno, Pedro — falo em alto e bom tom.

Beatrice olha para mim e ri baixo.

O anel é só um anel, ela me disse. Falou que tiraria se eu pedisse. Perguntei se podia levá-la para o céu, se eu me redimisse. — A batida intensa volta nesse momento. — Ela disse o céu é longe e eu não entendo nada sobre estrelas, mas se fosse pra escolher um astro, eu preferia amar um cometa, porque, Pedro, você é Plutão e nunca vai ser o meu planeta.

A plateia explode num aplauso ruidoso.

— Nem é uma música tão boa assim — reclamo ao final.

Beatrice apenas olha para mim e ri brevemente. Ela sabe, assim como eu, que é uma das melhores músicas que o Pedro já compôs. Vai estrear no topo das paradas e depois ganhar outro Grammy convencendo as pessoas de que eu sou a grande vilã do nosso relacionamento.

— Essa música se chama 'O anel de Saturno' e vai estar disponível em todas as plataformas de streaming a partir da meia noite — Pedro avisa do palco. — Meu empresário também quer que eu avise vocês que ela faz parte do nosso novo álbum de estúdio "Fora de Órbita" que chega ao mundo no mês que vem.

Eu mordo meu lábio e sacudo a cabeça em negação. A palavra "órbita" também é algo que eu me lembro de dizer quando estávamos no observatório. Então é isso? Outro álbum sobre nós?

— Começo a achar que eu devia ser creditada nas composições dele — digo. Beatriz só ri, não levando a sério. Ela não estava lá. Não sabe que ele usou as palavras exatas que eu usei.

O show não para. A canção que Pedro toca em seguida é "Sangrar". Essa é a música em que ele pede desculpas por "me amar até sangrar", e eu acho que a escolha de repertório não tem nada de acidental.

Ele começa atirando depois pede desculpa pelo sangue no chão. Esse é o problema.

Meu coração não consegue se concentrar na mágoa e na raiva quando a voz rouca e baixa ecoa por todo o estádio num pedido tão sincero de "me perdoa". É doloroso e eu sussurro com a mão no peito:

Só queria que esse amor que você tanto clama parasse de me arrancar sangue.

Alguém chegou viva ao final desse capítulo? Manifestem-se 😅

Loletes, o livro 1 está muito pertinho de bater 1M de views. Eu too 🥹🥹🥹

Não quero me iludir, mas se chegarmos a 1M no domingo, eu posto um capítulo de comemoração 🥰

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