40

Algo na atmosfera que emana do seu corpo faz o meu se arrepiar.

— O Ian disse que você tinha que dar uma olhada nessas músicas. — Eu estendo o Pen Drive, e nossos dedos se tocam brevemente quando ele troca de mãos. — Algo sobre escolher uma faixa do seu álbum novo pra apresentar no Holi festival.

— Vou escutar mais tarde. — Ele deixa o pen drive de lado.

Leva a bebida até os lábios e eu assisto pelo canto dos olhos enquanto ele deglute alguns goles, em seguida ele a empurra em minha direção. Seguro a garrafa gelada e encaro o rótulo por alguns instantes, surpresa por não ser um uísque de trinta anos ou algo do tipo.

— Cerveja, Pedro Lucas? — Franzo o cenho.

— Credo. — Ele me encara. — O que eu fiz pra me chamar desse jeito?

— É o seu nome. — Rio. — E o que eu fiz pra você me chamar de tiete?

— Eu sempre te chamei desse jeito. — Ele sacode os ombros e desvia os olhos para o pôr do sol, eu faço o mesmo.

— Agora que tem milhões de garotas pra chamar de tiete, bem que podia me dar um tempo.

Pedro ri e dá um trago longo no cigarro.

Nah... Elas são apenas fãs, você é minha tiete.

— Cala a boca! — Eu colido o ombro no dele, e instantaneamente me arrependo: isso está ficando confortável demais. Não devia ser confortável demais ficar perto dele.

— Diz aí... Qual o problema com a cerveja? — Posso sentir o par de olhos verdes em mim. — Pensei que tinha dito que era o que tomava.

— Problema nenhum, na verdade. — Tomo um gole. — Eu é que pensei que você só bebia uísques envelhecidos ou sei lá que tipo de bebida extravagante prefere tomar agora que ficou milionário.

— Me acha extravagante? — Ele arqueia a sobrancelha e ri. Ergo os ombros. — Só tenho grana e uso ela. Qual seria o sentido de não usar? Mas, se quer saber, a maior parte das coisas que eu gosto são baratas.

— Tá bom. — Rio. — Disse o cara que mora em uma cobertura no bairro mais nobre de Los Angeles e passa os finais de semana navegando em um iate particular.

Ele meneia a cabeça.

— Dinheiro é bom, eu não vou dizer que não. Mas as melhores coisas da vida são de graça.

— Sério? Tipo o que? — Meu olhar é um desafio.

— Tipo, eu gosto de música, de cerveja, de assistir o por do sol enquanto escrevo... e... porra, Julie, eu gosto de você. — Desvio os olhos para as mãos com o rosto ruborizado. Ele não tem o direito de me dizer essas coisas. De me fazer sentir todas essas coisas. — Eu sei que você acha que eu não amava você naquela época, mas tá errada. — Meu coração bate em galopes. Não que eu tenha esperado todos esses anos por uma explicação e um pedido de desculpa, mas não posso negar que as palavras mexem comigo. — Eu errei, mas eu te amava bem mais, Julie.

— Não fala isso, Pedro.

— É sério. Tanto que você seguiu em frente uns meses depois, mas eu nunca consegui sentir por outra pessoa o que eu sentia por você.

Pedro tem um talento inestimável com as palavras. Foi o que o deixou famoso. Foi o que me trouxe aqui, mas é tão fácil pra ele dizer as coisas, como quando disse "ninguém mais que você". Eu já não sou a garota que acreditou. Aposto que ele diz a mesma coisa pra Lily Adams. Aposto que consegue fazê-la se sentir especial, exatamente desse jeito.

— E a sua namorada?

— Namorada? — ele arregala os olhos. — Ainda tá falando da Lily? Quantas vezes eu tenho que dizer que não é desse jeito. Eu sei que a Lily é uma mulher atraente e poderosa, qualquer cara do mundo teria sorte de levar ela pra jantar, mas a Lily nem é meu tipo, Julie. E acho que eu também não sou o tipo dela. A gente só se beija quando tem uma câmera perto pra fotografar. É um espetáculo para os fãs verem.

— Do que você tá falando?

— Um contrato de publicidade, Julie. O Ian achou que um relacionamento com a Lily Adams seria bom para a minha imagem, ele tá realmente tentando construir esse personagem que os tabloides adoram. Mas você nunca acreditou quando eu dizia que gostava de você, não sei por que eu pensei que isso pudesse mudar de uma hora para a outra.

Não consigo dizer nada. Qualquer coisa que eu dissesse denunciaria que estou fraquejando. O corpo de Pedro se aproxima, sua mão desliza de encontro à minha. Eu não deveria, mas experimento a sensação do seu toque em minha pele, como quem experimenta uma peça de roupa numa loja mesmo sem poder comprar.

A mão macia sobe pelo meu braço, desliza de um ombro ao outro, e então ele puxa o meu corpo de encontro ao dele. É errado, mas eu apoio a cabeça sobre o seu ombro e me aconchego ali.

O abraço quente. O perfume amadeirado. O silêncio longo. O nariz de Pedro esfrega suavemente no meu cabelo. O céu alaranjado vai dando lugar a um azul escuro, e eu vejo as luzes da cidade se acenderem aos poucos.

A noite de Los Angeles é certa e errada ao mesmo tempo. As estrelas aqui nunca ficam no céu, mas nas calçadas. Estar com Pedro é a mesma coisa. Por que é que parece tão certo fazer a coisa errada, quando a coisa errada é estar nos braços dele?

— Você já reparou que Los Angeles tem estrelas na calçada, mas nenhuma iluminando o céu? — Encaro nossas mãos enroscadas uma na outra em seu colo. — Tudo aqui não parece do avesso?

— Ou talvez o resto do mundo inteiro que esteja ao contrário.

— É um jeito muito egocêntrico de olhar as coisas. — Pedro ri, e eu sei: isso, nós dois, é o que está ao contrário. — O que nós estamos fazendo aqui, afinal, Pedro?

— Eu não sei você... — O dorso da sua mão desliza pela lateral do meu rosto em uma carícia lenta, e eu fecho os olhos. — Mas eu estou fazendo uma coisa que sempre quis fazer.

—O que? — Minha respiração falha.

Cada centímetro do meu ser torce para que seja só mais um blefe. Cada centímetro do meu ser torce para que não seja. Cada centímetro anseia por mais toque dele. Cada centímetro implora para não ser tocado. Eu não sei o que fazer com o sentimento trepidando em meu peito.

Pedro se aproxima lentamente. A respiração quente toca minha nuca, o nariz desliza pelo meu pescoço em uma trilha lenta e deliciosa faz cada pelo do meu corpo se arrepiar.

— Te fazer entender que eu nunca parei de gostar de você. Nem por um segundo de todos os anos que fiquei sem te ver. 

Nenhuma parte do meu corpo estava preparada para essas palavras. Eu sou inteira pele, e os lábios macios experimentam o sabor do meu pescoço. Eu não faço nada para impedi-los. Meu coração bate rápido. Os beijos sobem pela minha orelha, descem por todo o contorno do rosto até o queixo, sem pressa. Eu, ao contrário dele, tenho urgência.

Engancho os dedos nos cabelos negros e o puxo para um beijo. Quando a língua invade a minha boca com sabor de bebida e cigarro, é como se eu tivesse quinze anos de novo, e nunca houvesse sido tocada por um homem desse jeito. Eu sou inteira hormônio, inteira desejo. Carne e osso. Fraca, suscetível.

Pedro me puxa para o seu colo, e deixo as pernas enlaçarem o seu quadril. Nossos corpos se encaixam feito peças de um quebra-cabeça. Os dedos engancham o cós da minha calça, me trazendo para ainda mais perto

A sensação quente do corpo entre as minhas pernas, me faz desejar que não houvesse tantas camadas de roupa entre os nossos corpos. Ele deseja o mesmo porque as mãos ágeis rapidamente escavam minha blusa. Pedro me puxa para si como se pudesse fundir nossos corpos num só.

A mancha do batom vermelho está espalhada por todo o rosto bonito, deslizo a boca para o pescoço quente e as mãos para debaixo da camiseta preta, deixando que as unhas façam cicatrizes profundas na pele macia.

— Puta merda, Julie. — Pedro aperta as minhas coxas com força.

O som da voz rouca fraquejando em um gemido de prazer devia constar no dicionário como definição da palavra luxúria. Afasto-me só o suficiente para arrancar sua camiseta e tiro um instante para apreciar a perfeição do abdômen marcado de tatuagem e cicatrizes das minhas unhas.

Os olhos de Pedro, por sua vez, demoram um pouco em algum lugar além do meu ombro, e ele franze o cenho.

— Merda. — Ele segura o meu quadril e levanta, levando meu corpo junto com ele. — É melhor a gente terminar isso lá dentro.

Nossas bocas se enroscam de novo. Ele empurra a porta de vidro sem nenhum cuidado, adentrando o bar. Sua mão desliza pelo balcão de mármore derrubando várias garrafas, e eu ouço o barulho do vidro se quebrar no chão atrás das minhas costas, espalhando bebida no chão de porcelanato.

Pedro me apoia no mármore, e então os lábios escorregam para o meu pescoço. Os dentes se cravam ali com suavidade, ele morde sim, penso, e eu gosto. Deixa um caminho de mordiscadas e beijos molhados até o meu ombro. Dedos habilidosos se livrando da alça fina, fazendo a blusa escorregar pelos braços.

Num lapso de consciência eu abro os olhos, e é quando vejo a mesma coisa que o Pedro provavelmente observou do lado de fora: Uma luz branca piscando no topo de um dos prédios vizinhos. É muito distante, mas eu estreito os olhos e consigo ver o esboço de um ser humano olhando para cá, com o que parece ser um tipo de telescópio.

— Que merda é aquela, Pedro? — pergunto, mas ele não para de me beijar, então eu puxo os cabelos negros com força, obrigando-o a se afastar. — Que merda é aquela?

❤️
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Enfim, voltei! Como vocês foram de fim de semana???

Sei que vocês vão surtar no fim desse capítulo, então prometo que amanhã posto mais um kkkk

Não esqueçam de votar!!!

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