9- Vergonha
Nanda
Uma semana depois, eu já estou começando a me acostumar com meu emprego no escritório de Félix.
A pior parte é o estresse diário, ainda mais sendo fim de ano — o que resulta em muitas provas.
Pelo fato de eu estar com muitas coisas para fazer e me estressando facilmente, eu consigo perceber que meu vício por sexo está aumentando, o que eu considero que não seja bom.
A pedido de Félix e também para meu próprio bem, eu resolvo finalmente ir a um psicólogo, e vou fazer isso hoje.
Mesmo sem saber que tipo de roupa usar nessas ocasiões, eu decido vestir uma calça jeans clara e uma blusa preta, vendo que o resultado final não ficou ruim.
Então, depois de pronta, eu pego uma bolsa com tudo que preciso. Eu peço um carro antes de sair definitivamente, e quando vejo que ele está perto saio e fecho a porta, já que não tem mais ninguém lá.
Durante todo o caminho para a clinica, eu tento me distrair, tentando não pensar em coisas que me façam desistir.
Sim, eu estou extremamente nervosa, principalmente por nunca ter ido nesse tipo de médico antes.
De tão inerte em meus pensamentos, eu demorei para perceber que já havia chegado.
Respirei umas três vezes antes de enfim pagar o motorista e descer do carro, não demorando em entrar no edifício alto.
Ao passar pela recepção, eu converso com a moça simpática que estava ali, a recepcionista, me informando sobre o andar em que tenho que ir, já que eu havia esquecido, por causa do nervosismo.
Ao que já estava devidamente informada, caminhei em direção ao elevador, apertando o botão do número que me levará até o andar do médico onde irei me consultar.
Quando as portas metálicas do elevador se abriram, revelando o interior do escritório, eu caminhei calmamente até a mesa da secretária, que estava localizada ao fundo da sala.
— Olá, bom dia — eu cumprimentei, esperando que ela tivesse sua atenção em mim.
— Bom dia! Em que posso ajudá-la? — ela perguntou, educada e sorridente, assim como eu costumo ser quando estou trabalhando.
— Eu tenho uma consulta marcada com o senhor Sanches — eu respondi, logo vendo ela se dirigir ao computador em sua frente.
— Qual seu nome?
— Nanda Souza.
Depois de um tempo procurando, ela finalmente conseguiu achar meu cadastro, e pediu para que eu aguardasse sentada em um dos sofás que estavam ali.
Sendo assim, foi exatamente isso que eu fiz, aproveitando para conversar com Tyler pelo celular, lhe dizendo como eu estava nervosa.
— Nanda Souza? — ouvi meu nome ser chamado. Eu mal havia percebido o tempo passar.
Aparentemente, era o senhor Sanches que estava me chamando. Ele aparentava ter quarenta e nove ou cinquenta anos. Seus cabelos possuem alguns fios grisalhos, quase a maioria.
Caminhei calmamente até a sala do médico, e assim que entrei ele fechou a porta, logo indicando a cadeira em frente à sua mesa para que eu me sentasse.
— Certo, então, o que a trás aqui? — ele perguntou, tendo sua atenção direcionada a mim.
— Eu tenho ninfomania — eu disse de uma vez, temendo perder a coragem. — E eu não quero mais ter, porque me atrapalha, mesmo que seja bom, de alguma forma.
— Certo — ele falou, me observando. — Esses casos não são tão comuns, sabe? Tem muita gente que prefere não procurar ajuda.
— Eu era uma dessas pessoas, eu só resolvi vir porque uma pessoa me ajudou a entender que eu precisava.
— Isso é bom, já é um passo. Mas você tem que ter em mente de que pode ser difícil. Vamos começar com algumas perguntas, pode ser?
— Claro — então, ele pediu para que eu me deitasse no sofá que tinha ali, o que me fez descobrir que ele é extremamente confortável. Deitei de barriga para cima. O médico se sentou em uma cadeira à frente.
— Certo, não precisa olhar para mim se não quiser, pode fechar os olhos se preferir — eu fechei os olhos, me sentindo mais confortável. — Me conte um pouco sobre sua rotina que envolve a ninfomania.
— Eu vou para a escola de manhã. No ano passado eu saia da sala para... — eu parei, abrindo meus olhos. Estava envergonhada para terminar de falar.
— Pode dizer, não precisa se preocupar, eu escuto esse tipo de coisa com frequência.
Sendo assim, eu voltei a fechar meus olhos, deixando as palavras fluírem. Quando voltei a falar, não me interrompi novamente.
— Não só no ano passado, eu saia da sala para ir ao banheiro, eu sempre me masturbava quando me sentia entediada ou nervosa para alguma prova, e isso é um dos motivos pelo qual eu reprovei no ano anterior. Mas agora eu parei um pouco com isso, só faço quando realmente preciso. Eu tento evitar, porque preciso passar de ano.
— Isso é muito bom. Autocontrole é uma coisa realmente importante.
— Sim, mas em compensação, eu saio em quase todas as noites. Eu vou para baladas e sempre acabo ficando com dois ou três homens, e isso é tão ruim. Eu tenho vergonha disso.
— O que mais te incomoda? — ele pergunta. Consigo ouvir o som do lápis deslizando contra uma folha de papel, ele deve estar anotando alguma coisa.
— O fato de que eu não tenho total controle sobre minhas próprias vontades.
Então, o doutor permaneceu alguns minutos em silêncio, apenas anotando e pensando sobre o assunto. E enfim, voltou a dizer algo.
— Nós podemos começar com o Tratamento Psicoterápico, que é o mais simples, ele é com sessões de terapia individuais ou em grupo. Nelas, você vai poder tentar descobrir qual as causas da sua compulsão.
— No caso, o porquê de eu fazer isso? — eu perguntei, olhando para ele.
— Sim, isso mesmo.
— E quanto tempo de tratamento?
— Ele varia; pode durar seis meses, ou a vida toda — eu me assustei com isso. Eu não quero ficar minha vida toda fazendo um tratamento. — Mas isso vai depender de você. Uma das coisas mais importantes é o autocontrole. O objetivo do tratamento não é a abstinência, mas o correto exercício da sexualidade: sem sofrimento, culpa ou vergonha. E isso não quer dizer que você não vai mais poder fazer sexo, mas sim que vai fazer sem sentir culpa. Ou seja, vai poder se sentir bem fazendo isso.
— Mas se eu já sinto prazer, quer dizer que pode ficar ainda melhor?
— Claro, porque não basta apenas sentir prazer, você tem que se sentir bem e saber que não está fazendo isso apenas para se saciar, e fazer com uma pessoa que se importa com você é ainda melhor.
— E se eu tiver recaídas? — sim, esse é um dos meus medos, porque mesmo que eu consiga seguir o tratamento, sempre tem um jeito de tudo voltar para a estaca zero.
— Para evitar as recaídas você teria que tomar algumas precauções, como por exemplo: evitar conteúdos sexuais na internet ou se masturbar sem motivo algum. O ideal seria instalar softwares em sei computador ou celular para bloquear sites pornôs ou salas de bate-papo.
— Certo. Eu quero tentar — eu disse, não me esquecendo de um detalhe. — Mas, se possível, eu preferia fazer as seções de terapia em particular, e não em grupo.
— Como você preferir. Tenho mais umas perguntas, se importa? — eu balancei a cabeça negativamente, o que indicava que ele podia perguntar.
Eu já estava começando a ficar mais confortável, então não fechei mais os olhos.
— Você tem mais alguma compulsão?
— Não, que eu saiba — respondi, sinceramente.
— Por que você faz isso? Da onde surgiu sua ninfomania? — eu esperei um tempo, pensando no que deveria dizer.
— Eu li uma vez que traumas na infância podem desencadear a compulsão. Quando eu era pequena, meu pai sempre discutia com minha mãe, e as vezes batia nela. Eu sei que não é um motivo tão grande, mas para mim era.
— É um motivo grande sim, não se culpe por ter esse vício — ele disse. Eu esperei mais um tempo antes de voltar a falar.
— Com o passar do tempo tudo foi ficando pior: Meu pai morreu, coisa que não me deixou triste e nem feliz, mas me deixou levemente excitada; perdi minha virgindade com meu vizinho por não aguentar mais apenas as masturbações; minha mãe engravidou de um traste qualquer que apenas se aproveitou dela e sumiu; eu quase sofri um abuso em uma das vezes em que fui para uma balada; e para piorar, o traste apareceu na vida da minha mãe de novo e agora eles estão casados e morando juntos, que é no mesmo lugar onde eu moro. Eu detesto ele.
— É realmente muita coisa, e sua compulsão é justificável.
— Eu não quero mais ser assim, mas e se o tratamento não funcionar?
— Dai nós tentamos outro, o Tratamento Medicamentoso, que é a base de remédios. Mas ele é mais usado quando o paciente tem depressão e ansiedade em alto nível, que se associa com a ninfomania. Um ponto positivo é você não ter outras compulsões, assim fica mais fácil. E no caso, eu poderia tentar gerenciar a sua libido com antidepressivos. Mas eu creio que não vamos precisar; você tem bastante força de vontade.
Dessa forma, nós conversamos por mais alguns minutos, até que ele anunciou o fim da consulta, e marcou a próxima para dali a uma semana.
De algum jeito, essa consulta me ajudou, e eu não vejo a hora de poder contar a Félix sobre isso. Eu estou feliz, e espero que ele também fique.
E ao voltar para casa, eu consegui me sentir um pouco mais leve, esperançosa quanto ao tratamento.
Eu realmente espero e acredito que vai dar certo. Acredito sinceramente. E nem minha mãe e meu padrasto me enchendo o saco tiraram a esperança de mim.
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Eu quero pedir mil desculpas pela demora, as coisas andam bem corridas por aqui ultimamente. Mas eu vou fazer o possível para continuar com as postagens certinho, sem demorar muito.
Eu espero que vocês estejam gostando e que a história esteja ficando legal, e creio que não vá demorar tanto para acabar, infelizmente, mas não sei ao certo quando tempo ainda, provavelmente no próximo capítulo eu já tenha uma noção maior.
É isso gente, nos vemos em um futuro distante, mas talvez não tão distante assim.
Até a próxima♥️
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