5- Nervosismo
Nanda
É difícil dizer quantas vezes já fiquei nervosa por algo, ainda mais, por algo tão simples.
Nervosismo, é sim, algo ruim para quando se precisa ter concentração. Principalmente, quando a concentração se deve ao simples fato de precisar parecer calma e eficiente para um emprego.
Então, depois que Félix deixou minha casa, antes de qualquer um que mora lá comigo chegasse, eu liguei para Taylor; eu precisava saber se algo importante tinha acontecido ou se algum professor marcou algo para o dia seguinte. Ao que ele me informou sobre tudo o que tinha acontecido — que se resume a nada —, eu lhe agradeci pelas informações e avisei que não iria para a aula no outro dia novamente, já que eu tinha uma entrevista de emprego.
Sendo assim, todo o restante do meu dia foi gasto de uma forma nada produtiva. Eu precisava de uma roupa para a entrevista e não tinha nenhuma. É óbvio que meu armário estava abarrotado de roupas, mas nenhuma boa o suficiente para aquele compromisso.
Em um momento de desespero, eu liguei para minha mãe, lhe atrapalhando em seu emprego, mas o assunto era importante, e ela sempre diz que posso ligar se houver emergências, mesmo que não fosse o tipo de emergência que ela estava dizendo. Então, disquei o número de seu celular, esperando pouco tempo até a chamada completar.
— Nanda? Aconteceu alguma coisa? — isso foi o que minha mãe disse, assim que atendeu seu telefone.
— Não é a emergência que a senhora está pensando, mas ainda sim é uma emergência — ela não disse nada, apenas esperou que eu continuasse. — Eu tenho uma entrevista de emprego amanhã e não tenho roupa para ir. Será que posso pegar algumas peças suas? Prometo que cuido para não estragar — ela deixou um suspiro escapar antes de responder.
— Pode pegar qualquer coisa, mas cuide mesmo. E boa sorte na entrevista — sendo assim, eu agradeci e logo me despedi, desligando em seguida.
Então, saltitando de alegria, eu fui até seu quarto, abrindo as portas de seu guarda-roupas e vendo todas as peças, uma por uma, para que eu pudesse encontrar algo que me agrade.
Então, pouco tempo depois, eu encontrei um conjunto de saia e camisa, que realmente me chamou a atenção. Ainda dentro do quarto de minha mãe, eu tirei minhas roupas, colocando as suas em seguida.
Eu sou um pouco mais magra que minha mãe, e isso faz com que as roupas fiquem largas em mim, mas nada que um pontinho no cós da saia não resolva. E sobre a camisa, talvez eu tenha alguma que fique boa em meu próprio armário.
Então, me observando no espelho de minha mãe, eu levo um susto ao que uma voz alcança meus ouvidos:
— Você está muito bonita — é Deric quem fala, parado no batente da porta.
— A quanto tempo está ai? — pergunto, com medo de ele ter me visto sem roupas, quando eu estava me trocando.
— Acabei de chegar — ele respondeu, simples. — Alias, vai onde?
— Não que seja da sua conta, mas tenho uma entrevista de emprego amanhã, e minha mãe deixou que eu pegasse as roupas dela emprestadas — ele ficou um tempo em silêncio, até finalmente se pronunciar. — Por que não usa aquele vestido preto colado, com decote nas costas e mangas longa? — ele enfim pergunta.
No entanto, não entendo muito bem sua sugestão, já que faz tempo que eu não uso aquele vestido.
— Como você sabe dele? Eu não uso a quase um ano.
— Eu vi você usando um dia, e acabei me lembrando dele agora.
— Bom, vou para meu quarto — eu estava quase saindo, depois de já ter pego minhas roupas e mais algumas de minha mãe para provar. No entanto, meu padrasto me parou mais uma vez.
— Onde está sua irmã? — foi o que ele perguntou.
— Saiu com a tia Carlota, elas ainda não voltaram, mas minha tia mandou uma mensagem avisando que não vai demorar.
Dito isso, eu saí do quarto, indo diretamente ao meu e fechando a porta. Deric me deixa desconfortável em um nível impressionante.
Sobre o meu vestido no qual meu padrasto citou, houve sim um motivo para eu ter parado de usá-lo, mesmo que o motivo não seja extremamente forte.
A quase um ano atrás, eu fui a uma festa, como o de costume. Tudo estava tranquilo e nada fora do comum tinha acontecido. Os caras em que me envolvi naquele dia eram tão comuns quanto os que eu já havia ficado em noites passadas. Porém, talvez eu tenha feito uma das escolhas mal. Eu me envolvi com um rapaz, esse que eu não sei o nome, já que nem me dei o trabalho de perguntar. Nós transamos, obviamente, e quando acabou eu me troquei e já estava pronta para ir embora, porém, ele não deixou, ele queria mais e não parava de falar o quanto meu vestido o excitava. Foi difícil me livrar dele naquela noite, e depois de gritar igual uma condenada, finalmente vieram me ajudar. Felizmente, nada de tão ruim aconteceu. Depois disso, eu nunca mais usei aquele vestido, e também não vi mais aquele homem, e se visse não reconheceria, já que não me lembro muito bem de seu rosto.
Saindo de meus devaneios, eu finalmente termino de organizar tudo para o dia seguinte. Depois de um banho relaxante, vou direto para cama, sem pensar em nada mais que descansar para a entrevista, pela primeira vez na vida.
•°•°•°•
No dia seguinte, eu acordei cedo, para que desse tempo de fazer todo o processo de arrumação com calma.
Depois de já estar pronta, eu desço as escadas, indo diretamente até a cozinha, tomando um café preto com alguns biscoitos.
Eu estava tranquila. Minha mãe e meu padrasto já foram trabalhar, minha irmã já está na escola. A paz reina nessa casa. E, sim, seria um momento perfeito para me satisfazer.
No entanto, quando vi que horas já era, levei um susto ao perceber que acabei enrolando demais. Sim, eu estava quase atrasada, e tenho apenas meia hora para chegar no consultório.
Não tenho experiência em ser secretária, e se é esse o cargo que Félix tem a me oferecer, vou fazer de tudo para conseguir me esforçar para aprender.
•°•°•°•
Finalmente, depois de tanto desespero, consegui chegar ao consultório de Félix com cinco minutos de antecedência.
— Bom dia! Eu vim para a entrevista de secretária — eu disse, assim que cheguei na recepção.
— Bom dia! Preciso dos seus dados, por favor.
Então, eu passo tudo que é necessário, e logo a recepcionista me pede para esperar até que alguém do RH venha me chamar.
Não demora até que uma moça apareça, e devo dizer que ela é muito bonita, mesmo.
A moça, que descobri ser a gerente do RH, é alta, morena e com um ar de elegância. E isso, deixa qualquer um desconfortável e nervoso.
Ao chegar na sala da gerente, ela me pediu que sentasse na cadeira em frente a sua mesa, o que consequentemente me fez ficar de frente para si também.
— Então... — ela começou, lendo o currículo que eu havia levado. — Nanda Souza. Tem experiência de secretária?
— Não, mas eu posso aprender.
E assim se sucedeu a entrevista. Ela continuou com os questionamentos, sem expressar reação alguma. Depois, quando a entrevista acabou, eu me despedi dela e depois da recepcionista, seguindo até o ponto de táxi.
Durante o caminho, eu me martirizei pensando que, com certeza, não passei na entrevista. Porém, espantei esses pensamentos e disse a mim mesma para deixar de ser pessimista. Mas, o que realmente me tirou desses pensamentos, obviamente, foi minha excitação chegando.
E por esse motivo, o restante do meu dia serviu para que eu falasse com Taylor e me arrumasse. Minha noite se sucedeu como todas as outras: indo a uma boate e transando com caras que pouco me importavam se eram conhecidos ou não.
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