Two

O taxista não respondeu, apenas olhou o rosto da jovem pelo retrovisor e deu a marcha. Ele dirigia em direção ao inferno, e não fazia ideia de que ele carregava alguém que já tinha o seu lugar garantido lá.

Ele não disse uma palavra durante todo o caminho, o que era bom. Isso permitia que Cassy pensasse, e ela o fez segurando lágrimas.

As ruas não eram mais as mesmas, e isso a fez ter certeza de que o tempo realmente havia passado. E ela nunca poderia voltar atrás.

Nunca.

Os resquícios de luz solar marcavam as sombras, que a faziam ouvir suas histórias tortuosas-- sempre eram -- e ver o sentimento de podridão que carregavam consigo.

O que a dele lhe contaria?

Houve uma época em que a resposta seria rápida, certeira. O convívio a fazia ter certeza do que dizer. Todavia, a presença constante que ela tinha em sua vida há muito havia acabado; Isso não tornava as coisas fáceis para a jovem, muito pelo contrário, trazia um sabor amargo ao céu de sua boca.

Cassy só soube dizer que estava na rua certa, pois sua garganta ardeu ao expirar o ar gelado e denso que arrodeava a mansão. O taxista se arrepiou, o que comprovava a teoria criada por ela e Ben anos atrás: almas castigadas viviam naquelas paredes.

Abriu a porta e se ergueu para fora do automóvel amarelado, a insegurança a fazendo tremer, e pegou um punhado de notas e atirou na mão envelhecida do homem.

Os portões rangeram ao serem abertos, o som rasgando seus ouvidos apurados. Andou poucos passos até chegar à grande porta de madeira, que foi empurrada suavemente.

Eram tantas entradas e passagens, que ela acreditou que desistiria antes de pôr os pés na sala. O coração batendo com tanta força, que era sentido nas pontas dos dedos.

O cheiro do cômodo era familiar: livros velhos e infelicidade. Só que onde antes sempre havia um silêncio mórbido, agora haviam vozes altas, muito altas.

Eles estavam discutindo.

Velhos hábitos nunca mudam.

--Você tem problema mental? A gravidade da Lua bagunçou o seu cérebro?! -- O sarcasmo de Diego sempre foi uma meia verdade.

--Eu sei que parece improvável, mas pensem bem! --Insistiu aquele cuja voz estava nos piores pesadelos da loira -- É muito a cara dela, pegar troféus! Cassiopeia adorava isso.

-- Um monóculo não é troféu, Luther! E você só está mencionado a Cassy, para disfarçar que nos acusou antes.

-- Não fique triste, Alisson. Eu sei que vocês foram amigas, mas isso...

Aproveitando a deixa, Cassy entrou. Ela correu rapidamente e se jogou nos braços de sua irmã favorita, rindo e a balançando.

--Eu estava com tanta saudade! -- foi o que ela ouviu.

Cassy 1 × Luther 0

Diego não tardou para puxa-la dos braços da negra, a envolvendo com os seus. Ele a girou no ar e ela deixou escapar um grito alegre, que se perdeu em meio às gargalhadas.

Ela quase se sentiu feliz de novo.

Quase.

Mas um pigarro a trouxe de volta à realidade.

E ao se separar do abraço do irmão, ela ergueu os olhos e fitou outro, cuja face estava retorcida em reconhecimento e saudade.

Klaus.

A loira não sabia o que dizer, e o nó em sua garganta não permitiria mesmo se houvessem palavras. O olhar intenso dele não se desviou de seus olhos em momento algum.

Por que?

A pergunta estava clara em todo o rosto do moreno.

Por que?

Ele não tinha a menor ideia. E era melhor assim.

Por que?

E ela respondeu sem sequer abrir a boca: Você concordaria se soubesse.

Ele somente negou, um suave balançar de cabeça que fez o coração dela disparar. E então saiu. Nada de abraços. Nada de palavras doces. Só o silêncio ensurdecedor da culpa.

Ela se perguntou se deveria ir atrás dele, mas o que diria? Suas justificativas não poderiam ser ditas em voz alta. Então a loira sentiu as costas queimarem, e soube que alguém a encarava antes mesmo de ouvi-lo:

--Cassiopeia.

--Luther. --Foi o que conseguiu responder, pois o ódio a invadiu assim que seu nome saiu dos lábios venenosos do irmão.

--Onde você estava quando soube da morte do meu pai? --Indagou.

--Não lhe devo satisfações, maninho. --Lembrou a loira, e ainda acrescentou o suficiente para tirar o sono dele -- Mas fique estressado, pois se eu encontrar algum monóculo, nunca o entregarei a você.

Ele bufou, o rosto se contorcendo em desconfiança. Diego ria ao fundo, mas Alisson estava tensa.

--Você sabe do monóculo, então? --Ele continuou perguntando.

-- Eu deveria? Por que ouvi você me acusando pelas costas, então deduzo que não, eu não deveria.

--Você sabe o que eu quis dizer, Cassiopeia! -- grunhiu -- Pare de brincar com as minhas palavras, e diga de uma vez! -- um vinco havia se formado em sua testa, e isso a divertiu -- Você matou o meu pai?

--Seu pai? --Ela perguntou, as palavras tinham um sabor agridoce quando deslizaram pela boca rosada da mulher. -- Ele era o meu pai, também.

E saiu da sala sem dizer mais nada, muito menos uma resposta.

~&~

22 anos atrás

Era uma bela manhã de sábado quando as crianças acordaram e se prepararam para o café da manhã. Elas tomaram banho, escovaram os dentes e vestiram o elegante uniforme da academia. Quando desceram as escadas, viram uma sala de refeições impecavelmente limpa e calma, apenas com a entediante voz de um cara velho ao fundo, daqueles discos de vinil que Sir Reginald adorava.

Eles se sentaram e assim que todos terminaram de comer, Pogo insistiu para que as crianças tivessem o dia livre para se divertirem, afinal, era o 8º aniversário delas. Reginald não prestou muita atenção, dispensando os 8 aniversariantes para fazerem o quiserem, logo se trancando em seu escritório.

Ben disse que queria ir explorar a casa, todavia isso era abusar da pouca sorte que eles tinham. Só que como eram apenas crianças, tão ingênuas e frágeis, todos adoraram a ideia do Número 6.

--Quem chegar por último é..é...--Diego tentava dizer, mas enquanto tentava pensar na palavra, Klaus foi mais esperto e começou a correr.

Luther o seguiu, ultrapassando-o facilmente, e Ben nem piscou antes de ir atrás deles. Alisson correu o mais rápido que pôde, mas ainda sim era devagar, e Vanya, que demorou a entender o que estava acontecendo, tentou acompanha-los.

--...Um bobalhão! -- Afirmou Cinco, pegando a mão da Número 8 e correndo.

Assim que eles se aproximaram dos outros, Cinco viajou e apareceu na frente de todos eles. Diego havia ficado para trás, e as risadas dos outros o motivou a acelerar.

Eles não tardaram a chegar na sala dos quadros, onde Grace ia se recarregar, e começaram a rir e brincar; Exceto a Número 8.

A pequena Cassiopeia tinha muito medo de altura, e mal conseguia se desgrudar das paredes. Aqueles corrimãos e sacadas a apavoravam, pois ela sempre pensava que eles iam ceder e ela ia cair.

--Cassy, venha ver o Pogo cantando! --A voz de Alisson era doce e alegre-- Oh! Ele está dancando!

Eles riram dos passos engraçados do chimpanzé, mas Cassy estava suando frio de tanto medo.

-- A-Alisson, depois você me conta qual música ele ca-cantou. Eu acho que vou ir tomar um copo de água. -- Sua voz era quase um choramingo e ela estava pálida.

Os outros não prestaram muita atenção, pois Pogo estava fazendo um verdadeiro número musical. Mas quando a loira estava indo em direção às escadas, ela tropeçou no pé de Vanya, que a empurrou com o susto --os olhos dela estavam brancos? -- E Cassy, fraca de medo, acabou batendo com as costas na grade dourada.

E ninguém viu quando ela caiu misteriosamente.

12 lances de escada.

Allison gritou, Luther tentou segura-la e Pogo se assustou com o estridente grito de Cassy. Mas não foi isso que fez com que esse acontecimento fosse importante.

E sim as sombras que a seguraram a 7 centímetros de distância do piso.

Sombras que pertenciam a tudo e todos da mansão.

Sombras que ela controlava.

__________________

Olá, meus amores! Eu voltei, e com um capítulo novinho!

Não se esqueçam de votar e de deixar o seu feedback. Se vocês gostaram do capítulo, compartilhem com os amigos, esse é o tipo de fanfic que é melhor quando lida em grupo.

Nos próximos capítulos, teremos surpresas e o retorno de um garoto muito conhecido!

Um beijo e um queijo, até a próxima!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top