III - Casas Compartilhadas Não Escondem Segredos


Capítulo narrado pelo Liam. Boa leitura.


Liam Willahelm acordou da sua soneca com o corpo em chamas e seu lobo uivando em agonia.

Ele rugiu, tentando se libertar, mas seus cinco irmãos o agarravam, o impedindo de saltar da cama como seu lado lupino implorava.

― Shh, Liam, se acalme, querido ― pediu sua mãe chorosa a sua direita.

― Ele não consegue, mãe ― disse seu irmão mais velho. ― Você se lembra de como foi quando eu quando senti Madeleine.

― Por favor, Gael, você sabe que eu não suporto ver nenhum de vocês sofrendo ― discorreu a matriarca.

― Eu posso seda-lo durante as primeiras horas, mas depois, quando ele for capaz de falar, nós precisamos deixa-lo ir, mãe ― avisou com a voz já dolorida.

― Eu sei ― ela respondeu com ares de finalidade. ― Apenas sede-o. lidaremos com o significado disso mais tarde.

Liam rugiu novamente, mais lobo do que homem, suas garras rasgando carne e tecido.

A picada em seu braço foi seguida de letargia.

― Durma, meu querido, durma.

Chloe.

***

Quando Liam acordou novamente, a queimação havia sumido e ele estava sozinho. Sentou-se na cama desfeita e destruída. Limpou o suor da testa e o nome dela veio tanto em sua mente quanto em sua boca.

Chloe.

Para um lobo ― como eram todos na família Willahelm ― a forja da ligação com sua companheira era dolorosa. Ela só se manifestava quando seu companheiro ou companheira de vida, seu único amor, a única pessoa que desejaria e teria, se encontrava em perigo de vida.

Isso poderia levar um lupino a loucura.

A ligação feita nesse momento crucial, era perigosa. Liam conhecia dezenas de histórias nas quais a companheira se perdia, o lobo não sendo forte o suficiente para salva-la.

Aquilo era letal.

Não para o lobo, mas para o homem.

Dominado pela dor, o lobo assumia total controle fazendo com que sua outra metade desaparecesse.

Como havia acontecido com seu tio Jonah.

Após a perda de Mary ele assumiu a forma de lobo e desapareceu. Em todos os solstícios, no entanto, a irmã dele, mãe de Liam, ainda o buscava e corriam juntos em suas formas lupinas.

Liam levantou-se com ímpeto, deliciando-se com todas as informações que necessitava para encontrar e salvar sua companheira.

Seu nome era Chloe e ela era de Nova York.

Seria difícil para um lobo viver em uma cidade tão urbanizada, mas por ela, ele faria tudo.

Arrumou as malas e se preparou para as despedidas.

Lobos precisavam estar em uma matilha, mas precisavam ainda mais de sua companheira.

Saiu do quarto às pressas deixando a lâmpada acesa.

A despedida não foi dolorosa para Liam, a adrenalina causada pela ligação ainda estava muito forte no seu sistema para ele realmente sofrer com a separação da sua matilha. Infelizmente, não haviam passagens sobressalentes para aquele dia e ele teve que esperar até a frota do dia seguinte.

Liam sentou-se no banco do ônibus e suspirou. A viagem entre Ohio e Nova York seria longa, mas valeria a pena.

A imagem de sua mate rondava o seu cérebro sem parar. A ligação lhe daria o suficiente para encontrá-la, o que não seria muito mais que um nome e endereço. Depois que se encontrassem, a ligação a afetaria e ela se abriria e entenderia que era dele, sem precisar de palavras. Ela necessitaria dele tanto quanto ele dela e a partir daí seria tudo muito fácil.

Liam já havia visto isso acontecer em primeira mão com três dos seus irmãos. Gael, o mais velho, tinha vinte e cinco anos e estava casado com Madeleine desde os vinte. Eles haviam se conhecido na escola, mas Gael nunca havia feito mais do que a cumprimentar nos corredores, muito respeito por sua mate que nem havia conhecido até então, como todos os lobos. Tudo mudou quando ele fazia compras de natal com sua mãe. Ele sentiu uma dor insuportável em seu interior e a caçou pela cidade em sua forma de lobo. Ele causou um furor tão grande na cidadela que apareceu até no jornal local. Havia sido perigoso, mas ele salvou Maddie de ser estuprada e em um mês eles estavam casados.

Cassian era o quarto, tinha quinze anos, vinha logo após Liam. Ele havia conhecido Merryn no acampamento de verão e a salvou se afogar no lago em uma competição de canoagem estúpida que havia acendido o espírito competitivo dos dois. Quando ela caiu na agua, porém, não foi só o espírito que ficou aceso. Cassian não perdeu tempo em saltar da canoa e tira-la da correnteza. Infelizmente para o garoto, a bela morava na Califórnia e apesar de todas as mensagens e videochamadas, o lobo dele sofria sempre que pensava nos três anos que ainda os separavam da maioridade e de ficar juntos.

A maior surpresa de todas foi Aeary que só tinha cinco anos. O caçula da família tinha impedido Aideen, sua coleguinha de classe, de cair de uma arvore e desde então eles não se desgrudavam. Aeary ainda não havia passado pela transformação ― isso só aconteceria quando ele completasse treze anos ― mas todos que passassem cinco minutos perto dos dois sabiam que eles estavam destinados.

Ronan, de onze anos, ainda tinha bastante tempo, mas Kaiden já tinha vinte e dois e Liam sabia que isso preocupava a mãe deles, pois ele já era dois anos mais velho do que Gael tinha sido.

Mas tudo a seu tempo. Lobos tendiam a ter vidas longas e felizes ao lado de seus companheiros. Assim como seus pais haviam tido.

Eles haviam se conhecido ainda crianças e se descoberto mates aos catorze anos. Gael veio quando eles tinham dezesseis e um ataque cardíaco levou seu pai quando Aeary tinha três. Eles tinham ficado juntos por vinte e quatro anos.

Sua mãe, Maura, havia ficado tão solitária e confusa após a morte de Paul, que todos seus filhotes ― mesmo o pequeno Aeary ― sabiam que eles eram o único motivo pelo qual ela ainda levantava todas as manhãs. Eles tentavam se mostrar autossuficientes, mas conheciam a mulher teimosa que tinham como mãe e sabiam que ela só pararia de respirar quando seu bebê completasse dezoito anos. Talvez esperasse até os netos e com Gael trabalhando tão duro em fazer alguns ― casas compartilhadas não escondem segredos ― Liam acreditava que não demoraria para Maura ter o dobro de netos do que tinha de filhos.

Liam riu com o pensamento, afinal, se encontrasse sua mate rápido o suficiente, em breve seria ele tendo uma ninhada de filhotinhos.

O ônibus parou abruptamente e o moreno se levantou atordoado sentindo o cheiro fúnebre de medo.

Havia um acidente na estrada e eles levariam mais algumas horas para chegarem ao seu destino, informou o motorista.

Liam ficou frustrado, queria gritar que não poderia se atrasar, tinha uma mate para salvar e a casa dela nem seria sua primeira parada, já que precisava de um lugar para ficar primeiro, mas respirou fundo e se controlou, retraindo suas garras que saíram com sua agitação.

Havia tempo e tudo daria certo. Ele teria seu final feliz e nisso não havia dúvidas, mas se ele queria viver na cidade com sua Chloe precisaria aprender a conviver com esses contratempos.

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