Champanhe e Sangria

Deixei a última caixa no chão da sala ao ouvir o barulho tão particular de Liam e corri para a porta para encontrá-lo. Meu namorado me abraçou com força e me girou no ar, como se eu tivesse desaparecido no período em que ele foi ao supermercado.

― Tudo isso é saudade? ― brinquei. Ele murmurou algo, provavelmente uma resposta atrevida, mas sua cabeça ainda estava enterrada no meu pescoço e o que quer que fosse, se perdeu no meu cabelo. Eu ri mesmo assim.

Liam correu para guardar os mantimentos que havia deixado no chão assim que pode me soltar e eu voltei a caixa que havia deixado na sala.

Meus dedos tocaram a borda de um porta-retrato empoeirado que trazia uma foto dos meus pais, jovens e sorridentes. Ainda doía, provavelmente doeria para sempre, mas era diferente agora. Meu coração, não era mais vazio e esburacado. Os buracos permaneciam, mas o resto todo havia sido ocupado.

Tanta coisa havia mudado em tão pouco tempo. A nossa partida para UCLA tinha sido agridoce. Fiquei feliz de sair daquela cidade, mas aquilo era tudo o que eu conhecia, ali eu tinha vivido minha vida inteira e ali meus pais haviam sido sepultados, sair do cemitério após me despedir deles foi difícil, mas também me encheu de uma sensação de alívio. Dar adeus a família Willahelm também foi dolorido, eles haviam se tornado uma parte minha e mesmo trazendo Cassian conosco, ― a ideia de Liam ir para o estado que sua namorada morava e ele não, o deixou maluco ― eu ainda sentia falta de toda aquela agitação e falatório intermináveis.

― Tenho certeza de que eles estão orgulhosos ― falou o moreno se sentando próximo a mim, a mão no meu ombro.

― Eles estão ― confirmei sentindo os olhos marejados. ― Eles estão juntos e eu estou feliz pela primeira vez desde que eles se foram. Caramba, eu vou realizar o sonho dela!

Liam me presenteou com um sorriso tão sincero, tão atado a felicidade, que eu me vi sorrindo de volta sem reservas.

Eu tinha tido muitos motivos para sorrir nos últimos dois meses.

Após o incidente no baile que terminou com Mikhail morto, Jussie desaparecido e eu acasalada com um lobisomem, não houve mais pesadelos, o que por si só já era um alívio, mas eu sentia saudade de Jussie e seu humor afiado. A mordida de Liam fez mais do que apenas queimar o Lavoutin puro de Mikhail do meu sangue, ela também evitou a cicatriz da mordida do demônio louro e em troca, eu tinha a marca da reivindicação de Liam no lugar onde ele tinha me salvado. O sumiço dos pesadelos me parecia um aviso de que tínhamos conseguido, havíamos vencido o destino e seu desejo pela minha morte.

Eu ainda não havia decidido se queria que ele me transformasse ou não. Não teria o poder de me transmutar como ele, apenas uma imunidade mais forte e uma vida mais longa e bem, talvez algumas presas para me defender, o que sempre fazia Liam sorrir e dizer eu já tinha presas, elas apenas não eram visíveis. Eu estava esperando para tomar essa decisão mais tarde, talvez quando tivéssemos filhos e eu tivesse mini-nós dependendo dos meus cuidados.

Suspirei com os meus pensamentos e Liam ameaçou morder meu ombro de brincadeira. Coloquei a foto sobre a prateleira e me levantei:

― Tenho uma surpresa para você ― anunciou se apoiando nos cotovelos ainda sentado no tapete.

Levantei a sobrancelha e coloquei as mãos na cintura lhe dando o meu melhor olhar ameaçador:

― O que você andou aprontando? ― indaguei séria.

Ele me deu um daqueles olhares de menino e desviou o olhar:

― Será que eu devo contar agora ou esperar para te deixar mais nervosa?

― Você está tentando conseguir algumas cócegas, Sr. Willahelm? ― perguntei com os olhos semicerrados, flexionando os dedos ameaçadoramente em sua direção.

A porta da frente se abriu e me sobressaltei apenas por um momento antes de chegar à conclusão óbvia de que era Cassian. Liam não deixaria mais ninguém entrar dessa forma.

Soube imediatamente que estava errada quando braços fortes circundaram minha cintura. Cassian nunca me abraçaria daquela forma se não quisesse receber um rosnado indignado do irmão.

― Sentiu minha falta, gatinha? ― indagou o dono dos braços em meu ouvido.

― Jussie! ― berrei me virando para agarrá-lo. ― O que você está fazendo aqui, seu canalha? ― questionei depois de finalmente conseguir soltá-lo.

― Você não achou que eu deixaria você dar um passo gigantesco desses no seu relacionamento sem nenhum tipo de aconselhamento, não é? ― ele tinha um sorriso, mas seus olhos estavam tristes e eu sabia que aquilo era um pedido de desculpas. ― Além do mais, eu precisava me matricular em alguma faculdade para manter as aparências e ocupar meu tempo, não é?

― Você vai estudar aqui? ― Sussurrei de olhos arregalados.

Ele mexeu as sobrancelhas com um sorriso torto:

― Isso seria perfeito, não é? Mas não ― meneou a cabeça. ― Berkeley é perto o suficiente.

Ele tinha razão. Alguns quilômetros de distância eram melhores do que a perspectiva de nunca mais vê-lo. Isso sem contar sua supervelocidade que garantiria sua presença quase instantânea sempre que eu tivesse uma fofoca.

― Vai morar no dormitório? ― falei sorrindo sugestivamente. ― Como um bom americano de sangue quente?

Ele revirou os olhos e me mostrou seus dentes:

― Meu sangue é quente o suficiente, obrigado. Além do mais, eu já tive essa experiencia, estive lá, fiz isso, dessa vez estou pensando em uma experiencia mais caseira, tenho algumas terras nesse estado ensolarado e estou pensando em ficar algum deles com um certo quatro-olhos. Só preciso arranjar uma explicação sobre a propriedade ― ele esfregou os olhos. ― Humanos, por que tão complicados?

Dei um tapa em seu ombro:

― Seu cachorro safado! ― exclamei lhe tirando uma risada. ― Eu não sabia que o relacionamento de vocês estava nesse patamar!

― Querida, Chloe, um homem tem que manter algum mistério, até mesmo da melhor amiga ― ele sorriu apertando minhas bochechas.

― Você vai dar um jeito ― garanti me referindo a propriedade, pois sabia que ele iria.

― É claro que vou ― concordou antes de puxar meu nariz carinhosamente. ― Te vejo em breve, gatinha ― ele foi em direção a porta. ― Tchau, Liam.

Liam rosnou um adeus e me abraçou quando ouvimos a porta bater.

― Obrigada ― murmurei em seu pescoço. ― Obrigada por ter trazido ele até aqui, eu imagino o quanto isso foi difícil para você.

Ele enterrou a cabeça no meu ombro como sempre fazia e eu estremeci pela sensação boa que isso causava.

― Eu sabia que você estava sentindo falta dele ― informou demonstrando que eu não havia sido tão boa escondendo quanto imaginei. ― Eu só queria te fazer feliz. Funcionou? ― pronunciou com delicadeza.

― Estou mais feliz agora do que algum dia eu já fui.

E então, ele sorriu, pois sabia que eu estava falando sério e eu sorri de volta, pois era verdade.

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