But the arms of the ocean delivered me

As luzes da minha cidade e o tráfego incessante de pedestres não me incomodava mais como antes. Tudo parecia exatamente igual ao meu redor, mas eu me sentia diferente. Meus olhos não enxergavam mais as coisas com as mesmas perspectivas, era como se tudo tivesse perdido a cor e eu não soubesse mais como viver.

É incrível o que pode acontecer com você quando tudo que está aqui dentro é preenchido de um lânguido e horripilante vazio. É frio como o gelo, e ao mesmo tempo instigante e poderoso. É uma força que te puxa cada vez mais para baixo, e eu decidi que não lutaria mais.

Depois de ouvir tantas coisas, de ser humilhada pelas pessoas ao meu redor e ser chamada de uma vaca inútil pelos meus pais, eu decidi que não valia mais a pena estar aqui nesse mundo. Pode parecer doloroso admitir isso para meu coração, mas agora que eu estou submersa pelo oceano, com as ondas quebrando em cima da minha cabeça, eu me sinto em paz. E esse é um momento que eu quero guardar comigo para sempre.

Meu coração não está mais agitado, eu não sinto mais medo da minha decisão, e não há nada que me possa fazer voltar atrás. Não, eu prometi a mim mesma e a ele, há muitos anos, que nunca mais olharia para trás.

Meu melhor amigo Sam morreu atropelado há 2 anos. Ele era a única pessoa no mundo que não me inferiorizava. Eu me sentia bem em sua companhia, e costumávamos dizer que éramos somente nós dois contra o mundo. O Sam era uma pessoa doce, estudiosa e tinha um bom coração, mas teve a sua vida interrompida aos 15 anos.

Desde que ele morreu, eu me senti afundando antes de estar aqui, sendo arrastada pela força das correntezas. Eu não consegui lidar com o fato de que a única pessoa que me entendia de verdade tinha partido.

Os meus pais nunca ligaram muito para mim. Tentei entender o ódio que eles nutriam por mim, mas parei no momento em que percebi que nunca descobriria.

Na escola, tinha um grupo que me perseguia constantemente. Eles roubavam meu lanche e às vezes me batiam. Os meus pais nem se importavam.

Quando o Sam estava vivo, ninguém se metia comigo. As pessoas tinham medo dele, e algumas não entendiam porque ele andava tanto comigo. Eu não sei em que momento fui escolhida para ser a renegada da turma, mas quando percebi o que estavam fazendo comigo, eu nem cheguei perto de tentar revidar, principalmente depois que o meu melhor amigo morreu.

Eu fui afundando aos poucos até não consegui mais aguentar lidar com tanta dor. Meu coração não parou de doer um segundo sequer, e nem dormindo eu tinha paz.

Então, num belo dia, eu parei nessa praia em que estou agora. O vento refrescante fez meu coração se acalmar, e eu soube o que tinha que fazer. Deixei um bilhete para os meus pais na mesinha de cabeceira, e entrei na água sem nem pestanejar.

Já era noite e fazia muito frio, mas eu não me importava mais. Eu tentei lutar, tentei ser forte, mas percebi que não havia mais nenhum motivo para fazer isso. Eu estava sozinha, e não queria mais viver assim.

Olhei para cima, para a água que me afundava e me arrastava para o fundo, e vi os reflexos da lua bem acima da minha cabeça. A luz do luar era bonita, e deixava o oceano com um ar místico e fragmentado que me encantava. Eu poderia escrever sobre isso se tivesse a chance, mas eu não sei o que vai acontecer comigo depois que eu morrer.

No fundo do mar tudo é mais calmo. Não existe cobrança, não existe a necessidade de conversar, não preciso provar nada para ninguém, e essa é uma sensação boa. Fazia muito tempo que eu não sentia uma emoção genuinamente boa, e isso é o mais perto que devo chegar da felicidade. Sei disso porque o ar em meus pulmões começa a faltar, e eu não consigo mais submergir.

Eu escolhi isso. Eu escolhi desaparecer pelo oceano. Eu estou deslizando para o fundo e é uma sensação tão... boa.

Nunca me deixe partir.

Os braços do oceano me abraçaram, e estão me carregando para longe. Talvez me levem para uma nova vida, para uma chance de experimentar a felicidade.

O oceano me libertou.

Minhas pálpebras estão pesadas e meus pulmões estão queimando. Ninguém veio atrás de mim, ninguém tentou me impedir.

Então acabou.

A vida curta e dolorosamente triste de Melanie Ackles termina agora.

Minha visão prejudicada já não enxerga mais do que alguns pontos pretos embaixo da água, mas meu corpo está leve. A sensação de paz ainda está dentro de mim, mas o vazio predomina. Estou triste, mas os braços do oceano estão me ninando. Eu me sinto deslizar cada vez mais para o fundo, e não tenho mais medo.

Mas, antes de adormecer, eu consigo vê-lo:

Sam.

O meu melhor amigo está sorrindo de braços abertos, esperando por mim.

Então, subitamente, tudo mudou: eu não sinto mais frio, meu coração não está mais nebuloso e eu não consigo enxergar mais nada. Ainda sinto o oceano me levando, mas eu não sinto mais dor.

E nessa hora, tudo desaparece por completo.

O som do oceano é a última coisa que ouço antes de partir.

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