Capítulo atrasado mas tudo bem, certo?
Tenham uma boa leitura...

01 DE JANEIRO

Natal, aniversário e véspera eram as datas mais azaradas que Taehyung poderia ter passado naquele fatídico ano. Situações inoportunas e uma nevasca maldita tinham colaborado para todo o desastre naqueles 4 dias na vida de Kim, mas agora o destino parecia ter sorrido para ele.

O azar de Ano Novo não tinha aparecido. Ao contrário, a sorte de Ano Novo pareceu ter se compadecido e resolvido fazer uma visita no primeiro dia do ano. A prova disso era a neve que caía lentamente pelas árvores no lado de fora e não de maneira frenética e perturbadora como a noite passada.

E Taehyung achou que não podia melhorar até encontrar imagem de Jung Hoseok cozinhando no primeiro dia do ano.

— Ele é bonito até cozinhando, né? — Yoongi suspirou com irritação, chegando por trás do Kim e abraçando o corpo do mais novo.

— Sim, ainda mais quando eu estou com fome — sua barriga reclamou e os dois riram.

— Deveria me sentir ofendido? — Hoseok questionou ao virar e encarar os outros dois.

  Apontou a colher de pau para eles na entrada cozinha e ergueu as sobrancelhas, tentando passar seriedade em seu questionamento.

— Nada, Hoba — Yoongi que tomou a frente e beijou a bochecha do moreno que estava agarrado, se soltando logo depois — Mas você realmente fica mais gostoso cozinhando.

Hoseok fez um barulho com a boca fingindo desgosto. Então ele era mais gostoso cozinhando? Não era _sempre_ o mais gostoso?

— Sabe o deve ser mais gostoso? A comida! Estou com fome — foi Kim que choramingou, seguindo Yoongi até a mesa e se sentando no lado do namorado.

Era um pouco mais que duas da tarde e o moreno tinha acordado há 30 minutos atrás, quando Yoongi acidentalmente acertou seu nariz com a mão.

Acidentalmente.

Hoseok serviu o tteokbokki que tinha começado a preparar no começo daquela tarde e se sentou a mesa. Os três comeram em silêncio, vez ou outra trocando olhares divertidos enquanto a atmosfera preguiçosa de fim de tarde os envolvia.

Yoongi foi o primeiro a levantar e pegar as louças na mesa pra lavar. Taehyung foi logo atrás pra ajudar na louça. Era uma regra quase geral que se um tinha cozinhado, o outro automaticamente ficaria com a louça.

A tarefa não durou muito para os namorados e logo eles tinha se juntado a Hoseok na sala. Ainda tinha vinho na mesa que foi esquecido no auge da madrugada e alguns cubinhos do queijo favorito de Yoongi. Eles sabiam que precisavam conversar em algum momento mas nenhum dos dois mais novos queria dar o pontapé inicial, com medo do que aquela discussão poderia abrir na vida deles.

— Acho que vocês deviam conversar sozinhos — Yoongi começou sentado no sofá, fazendo a menção de levantar logo depois.

— Não! — os dois mais novos falaram em unissom e Yoongi voltou a se sentar.

O Kim se endireitou no sofá, suspirou e juntou as mãos no colo. Tinha fugido da conversa com Hoseok apenas para entrar em uma com Hoseok e Yoongi juntos.

— Gosto de você, Hoseok — Taehyung falou rápido, arrancando sorrisos dos outros dois — E amo você, gatinho, mas acho que eu não soube administrar muito bem meus sentimentos…

— Sim, você fugiu durante meses.

Hoseok interrompeu o moreno, que uniu as sobrancelhas e o fuzilou com o olhar.

— Não diria fugir, ok? Talvez adiar… Enfim, não soube administrar todos os sentimentos que sentia naquela época e nem lidar com a possibilidade de ser não monogâmico — a vergonha foi aos poucos tomando a voz do Kim — Já tinha passado pela fase não hétero com meus pais, não queria passar pela fase não monogâmico também e nem imaginar o que minha mãe poderia pensar a respeito

— A senhora Kim? Aquela que tinha quase colocado os três no mesmo quarto e dado dicas de como não fazer barulho? — Hoseok questionou de forma divertida.

Segundo Yoongi, Kim Soyeon era uma figura, e Hoseok não podia negar. Assim que se conheceram na festa de aniversário do Kim mais novo, a 1 ano atrás, a mulher tinha sido a pessoa mais gentil, divertida e maluca que poderia ter conhecido perto do ano novo. Havia tratado o Jung como seu genro querido — assim como Yoongi era tratado — e mostrado mil e uma fotos de um Taehyung pequeninho e atentado. Era impossível que uma mulher daquela fosse preconceituosa.

Certo?

Ao menos, era o que o Jung achava.

— Fiz o mesmo questionamento pra ele, Hoba — dando de ombros, o loiro se pronunciou e chegou mais perto da ponta do sofá — Se ela pudesse tinha casado os três naquele mesmo dia — cochichou, fazendo os três rirem.

— Eu sei, hyungs. Ela é muito legal, né? Mas não é porque vocês acham que ela seria receptiva que ela vai ser. Uma coisa é fora da família, com terceiros e outra coisa é dentro da própria família.

Taehyung deu de ombros, chateado por não ser explícito para seus hyungs. Tinha presenciado vários casos em que os familiares pareciam legais e receptivos a esse tipo de coisa mas no fim, o mesmo discuso de ódio e rejeição era usado.

— Espero que no fim vocês estejam certos porque eu quero tentar, hyungs.

Hoseok travou ao ouvir o moreno. Tinha começado aquela conversa com apenas uma pontinha de esperança que Taehyung fosse de fato aceitar algo vindo de si, casual ou não, e agora aquela pontinha de esperança havia se alastrado por seu peito com uma simples frase.

— Então, vou ter que memorizar duas datas de namoro?

Hoseok perguntou de forma séria tirando gargalhada dos outros dois e logo sendo alvo de uma almofada jogado por Taehyung, que o fez sorrir.

— Também estou apaixonado por você, tigrão — o moreno parou de rir na mesma hora, Jung continuou — Estou apaixonado desde que você explicou tintim por tintim de uma técnica de pintura a óleo enquanto estava bêbado no aniversário do loirinho.

Jung ri ao lembrar da cena. Um Taehyung completamente bêbado, bagunçado e de bochechas vermelhas tentando explicar com clareza sobre técnicas para pinturas a óleo e reclamando da vez que tinha deixado uma pintura no tom errado.

— Também quero tentar, Taehyung. Quero tentar há tanto tempo que seria até ridículo fazer cu doce com seu pedido.

Os dois riem. Yoongi os observa pacientemente com os dedos cruzados uns nos outros e o rosto sério, o que atraiu a atenção dos dois namorados, fazendo com que parassem de rir.

— O quê? Estou namorando o não namoro de vocês, são tão lindos que dá vontade de namorar junto.

— Mas você namora, loirinho — Jung lembra o mais velho, e o outro sorri orgulhoso.

— Ah, é! Ótimo gosto o meu — Yoongi diz cheio de si.

É, ele tinha um ótimo gosto para namorados. Taehyung que o diga.

❄️

Algumas horas mais tarde naquele mesmo dia, os — agora —  namorados tinham decidido desejar feliz Ano Novo para seus familiares e amigos, decidindo começar pelo mais fácil: a família Jung. A ligação chamou incessantemente até cair na caixa postal, então, Hoseok desistiu de falar com a família e passou para o outro tópico mais fácil: os amigos

Namjoon atendeu na terceira chamada da ligação por vídeo. Os cabelos pretos bagunçados e curtos, o rosto inchado.

— Ia desejar feliz ano novo, mas que porra aconteceu com você?

Jung questiona de forma engraçada. Taehyung e Yoongi estando ao seu lado mas fora do campo de visão do outro Kim.

Assim que a voz do ruivo foi ouvida no outro lado da ligação, mais três cabeças se espremeram para aparecer na tela do aparelho. Jungkook, Seokjin e Jimin também estavam lá, todos com rostos inchados de sono.

— Oi pra você também, Hobi hyung.

É Jungkook que fala de maneira preguiçosa, chamando a atenção dos outros dois ao lado de Hoseok e fazendo com que eles encarem a tela, dando a oportunidade dos outros quatro de verem eles também.

O silêncio predominou por longos minutos, a estranheza dos seus quatro amigos estarem no mesmo cômodo aparentemente dormindo juntos.

— Quando vocês chegaram em Ilsan? — Taehyung perguntou curioso para o casal Kim, prendendo um sorriso sacana.

— No dia 29, por quê? — Jin respondeu ainda sonolento e saiu do enquadramento da câmera, mas seu cabelo preto ainda sendo visto pelos amigos.

Taehyung prendeu o riso. Hoseok encarou os dois namorados, e os três sorriram de forma sugestiva. O mesmo pensamento passando pela mente dos três como um fio de alta voltagem para fofoca.

— Aparentemente não sou o único não monogâmico por aqui, né? —  Min perguntou na lata, achando tudo muito divertido para o primeiro dia do ano.

— Nunca dissemos que era o único, hyung.

Jimin respondeu na mesma hora, e Hoseok gargalhou, os outros dois em um leve choque. Seus amigos eram um quadrisal? Como? E quando?

— Sinceramente, o mundo está acabando — Taehyung disse, dramático. — Como vocês podem estar nisso?

— Ei, não seja hipócrita. Você namora um cara não monogâmico, Taehyung — Jin voltou a resmungar, a cara ainda fora da tela do telefone.

Taehyung deu uma risadinha.

— Não estou falando isso por vocês serem quatro, mas por serem vocês. Tipo, como não colocaram fogo no quarto de hotel ainda? Ou o Jin hyung não ter jogado o Jungkook janela a fora? — Taehyung disse mexendo as sobrancelhas, sorrindo e gesticulando como se listasse os incidentes que os quatros poderiam causar — Sem contar, que eu não namoro _um_ cara não monogâmico. Eu namoro _dois_ caras não monogâmicos.

Seokjin e Jimin se ergueram no mesmo instante, se aproximaram da tela, deixando só parte dos olhos a mostra e testas franzidas.

— Finalmente ouviram nossos conselhos? Isso é um MILAGRE! — seokjin comemorou.

—  Milagres de ano novo existem, estão vendo? — Jimin soltou risinhos ao dizer para os outros três no quarto.

Namjoon e Jungkook deram parabéns de forma embolada, entregando o telefone nas mãos do Park e falando algo sobre ressaca estar acabando com eles.

Depois de ligar para os amigos e absorver a supresa de todos estarem juntos, o trio passou para a tarefa mais difícil daquele dia: ligar para a senhora Kim Soyeon.

Soyeon atendeu no primeiro toque. Taehyung arregalou os olhos.

Em que mundo estava que senhora Soyeon atendia no primeiro toque?

— Oi, mamãe. Feliz Ano Novo — Taehyung se controlou pra não transparecer seu nervosismo e suspirou. Yoongi e Hoseok permaneciam quietos ao seu lado — Desculpa por não ligar mais cedo, estive ocupado.

Soyeon soltou uma risadinha maliciosa e curta.

— Feliz Ano Novo, filhotinho. Tudo bem, imagino como deve ter ficado ocupado com o Yoongi — a Kim disse de forma animada, parecia não estar só pelos barulhos que Taehyung pode ouvir — Falando nele, como meu genrinho lindo está?

Yoongi ergueu as sobrancelhas, se ajeitando no sofá como se o apelido enchesse seu ego e fez com que os outros dois namorados rissem.

— Muito bem, mamãe. Bem até demais — Soyeon fez um barulho com a boca como se concordasse e o moreno continuou — Já que tocou no assunto genro, mamãe… Sabe o Hoseok? O outro namorado do Yoongi?

— Sei filho, aquele ruivinho alegre e gentil do ano novo passado. O que tem ele? — a senhora perguntou distraída do outro da linha.

— Então… Ele é meu namorado agora também.

Houve um silêncio na linha. A casa da senhora Kim não parecia estar tão movimentada agora de tão silencioso que a linha tinha se tornado. Yoongi se esticou para o lado do namorado e Hoseok imitou o loiro, ambos checando se a ligação não tinha caído.

— Você e o Yoongi terminaram?

A voz da mulher estava contida. No meio do seu próprio nervosismo, Taehyung não soube distinguir se sua mãe estava com raiva ou só incrédula.

— Não… Estamos namorando, os três juntos. — mesmo com a voz cautelosa, Taehyung corrigiu a mãe e no mesmo momento jurou ter escutado algo cair no outro lado — Mãe? Tudo be…

— FINALMENTE! — Soyeon gritou do outro lado, interrompendo o filho.

A ligação se enche do barulho de panelas caindo no chão, vozes conhecidas e risadas da senhora Soyeon. Taehyung encara o telefone, mesmo que não pudesse ver a mãe, tinha um grande ponto de interrogação flutuando sob a cabeça

— Poxa filho, vocês poderiam ter sido mais rápidos — Soyeon lamenta de forma dramática, fazendo Yoongi gargalhar — Yoongi, é você querido? Ya! Pare de rir da sua sogra.

— Desculpa, tia So. Não se preocupe o quanto eles demoraram, nenhum de nós ganhou a aposta.

Nesse momento, o rosto de Taehyung saiu de confusão para surpresa, enquanto Hoseok ainda parecia perdido na situação.

— Então foi com a senhora que o Yoongi apostou? Mamãe! — repreendeu a mãe, causando mais risadas — O que vocês apostaram exatamente?

— Que vocês se acertariam antes de julho — é Yoongi quem responde, as sobrancelhas erguidas — Tia So disse que seria antes de outubro.

— E o que era o prêmio? — Hoseok questiona totalmente interessado, tinha entendido tudo com a pergunta anterior.

— Alguns wons, nada demais — Soyeon faz pouco caso no telefone, mas o Kim mais novo sentia que não era apenas alguns wons — De qualquer forma, oi, Hoseok, meu novo genrinho lindo.

Taehyung revirou os olhos com a animação da sua mãe ao falar com Hoseok e pelo ruivo responder a altura. O moreno já sabia que dali em diante tinha perdido a mãe para seus outros dois namorados.

Pobre alma.

Os três ficaram mais longos minutos pendurados ao telefone assim que a senhora Min entrou na linha, dizendo que eles tinha demorado para se assumir e que não aguentava mais ouvir Soyeon resmungar por ter _apenas_ um genro. Depois de Yoongi desejar um feliz ano novo aos pais que estavam na casa da senhora Kim, e outras várias promessas de que os três iriam visitar o mais rápido possível as famílias, a ligação foi encerrada.

Yoongi se virou para os namorados, o sorriso com a gengiva a mostra estava lá, e os outros dois só faltaram agarrar o mais velho pelas bochechas de tão fofo.

— Ainda tem vinho ou vocês acabaram com tudo? — Min questiona já levantando e indo em busca da garrafa.

— Coloquei na parte de baixo, loirinho — Hoseok diz indo atrás do namorado, mas não sem deixar um beijo nos lábios quadradinhos do Kim.

Os dois somem na cozinha, deixando Taehyung na sala ouvindo a conversa sobre quantas garrafas de vinho poderia ser considerado normal tomar em um curto período de tempo, fazendo-o rir.

Como se um grande peso tivesse saído de si — e tinha — Taehyung levantou, buscando o próprio telefone em cima da mesinha de centro, mas não sem antes ver a foto na tela principal do telefone de Yoongi, que estava aceso sobre a mesa.

Taehyung e Hoseok cara a cara, com os rostos inchados de sono e as expressões tranquilas era que estampava o wallpaper do Min. Kim se lembrava de ter ouvido sobre a foto no mesmo dia que foi tirada.

— Yoongi hyung precisa parar de tirar essas fotos — reclamou consigo mesmo, recordando quantas fotos o namorado deveria ter de Taehyung no seu pior estado: com sono e babando.

O Kim desbloqueou o próprio celular e conectou a caixa de som do Min, escolhendo a primeira faixa da sua playlist e deixando o telefone aceso sobre o aparelho do som.

As primeiras notas de Almost There começaram a tocar pela sala. Taehyung cantarolava a música, esperando que nenhum dos outros dois tenha se perdido do caminho entre a sala e a cozinha com o vinho.

— Caralho, que música é essa? — Hoseok surgiu do portal da cozinha, as taças na mão e o nariz franzido.

— Almost There — Kim respondeu distraindo, pegando duas das três taças na mão do outro que tinha se aproximado das caixas e do Kim.

— Que música de morto, tigrão — Jung resmungou e rapidamente se aproximou do telefone, rolando tela com agilidade e selecionado outra faixa.

Ego da Beyoncé tinha começado a tocar.

Taehyung respirou fundo, juntando as duas taças em uma mão só e colocando a outra no quadril, encarando Hoseok.

— Música de morto, Hoseok? É jazz, seu cabeça de fósforo.

E o Kim se aproximou, recolocando a música anterior.

— Não deixa de ser desanimador, tigrão! Deixa a Bey, é Ano Novo — Hoseok fez menção de trocar a música, e Taehyung bateu na mão do mais velho.

Yoongi chegou no momento em que Hoseok pareceu querer levar uma garrafada de Taehyung, que tentava proteger o telefone para que a música não fosse mudada e Hoseok fazia de tudo para contornar o corpo do mais novo e tocar na tela.

— Isso é a música da princesa e o sapo? — Yoongi perguntou, deixando a garrafa na mesa de centro, fazendo os outros dois pararem.

O rosto de Hoseok pareceu se encher de divertimento ao reconhecer a música.

— Mentira! Tigrão você gosta da princesa e o sapo? Que fofo — Hoseok riu, apertando as bochechas do namorado.

Taehyung que antes estava vermelho de raiva, agora era de vergonha vendo o platinado apertar suas bochechas como de uma criança

— A música é muito boa, ok? E é a versão jazz — se defendeu, fazendo os outros rirem.

— Tudo bem, mas ainda prefiro a Beyoncé.

Jung disse se esticando e tocando a tela, outra música da cantora tinha começado, e Taehyung faltou rosnar de raiva.

E foi nesse momento que Taehyung notou que nem todo azar é ruim. Que apesar de estar querendo morder seu mais novo namorado e choramingar com o outro, todo aquele azar tinha se transformado em sorte no momento que parou de fugir de si mesmo.

Afinal, nem toda nevasca é de azar. A sorte às vezes vem disfarçada e, para Kim Taehyung, ela veio disfarçada de Jung Hoseok e Min Yoongi.

  ❄️

Notas do autor:

Para aqueles que leram até aqui, muito obrigado.

Não se esqueçam do votinho no capítulo, pls

Usem máscara e se vacinem. O covid ainda não acabou, docinhos. Se cuidem 💜