Prologue
Tudo parecia normal naquela manhã de outubro no Acampamento Júpiter, até a estranha ausência de seu pretor ser notada pelos legionários.
A primeira pessoa a notar foi Darya Lancaster, legionária da Quinta Coorte, que o esperou por vinte minutos em frente ao alojamento ao acordar e depois por todo o café da manhã. Inicialmente, supôs que estivesse ocupado com questões de pretor, mas Reyna foi vista sozinha, também buscando por ele. E ele havia prometido que treinariam juntos após o almoço.
Ele não apareceu.
Jason nunca quebrava uma promessa.
Nunca. Era um lema pessoal de conhecimento de todo o acampamento. A palavra de Jason Grace somente estava abaixo de um juramento pelo Rio Estige.
Durante todo o dia ninguém teve notícias dele. Foi então que a preocupação se instaurou por todo o acampamento.
Jason Grace, filho de Júpiter, Pretor da Décima Segunda Legião Fulminata, bravo legionário da Quinta Coorte, um dos membros mais antigos, que cresceu naquele lugar, havia desaparecido.
Não haviam rastros. Não havia qualquer sinal que indicasse o que ocorreu. Ele apenas… Sumiu. E todos rezaram aos deuses para que estivesse bem e vivo.
— Sinceramente, continuar as buscas é inútil — disse Octavian, augure da legião, legado de Apolo.
— Inútil é você continuar aqui parado com essas porcarias de ursinhos falando besteiras! — exclamou Darya.
— Hoje é o Solstício de Inverno. Já se passaram dois meses. Seria melhor sermos racionais e aceitarmos que ele com certeza está…
— Continue essa frase e você vai acordar se afogando no Pequeno Tibre no meio da noite.
— Silêncio! — ordenou Reyna, a voz firme e autoritária.
Ela estava sentada em seu posto na Principia, ao lado da cadeira vazia que antes Jason ocupava. O rosto estava cansado, a longa trança em seu cabelo escuro ameaçava se desmanchar. Os dois cães de metal descansavam aos pés da dona, ainda atentos com seus brilhantes olhos de rubi.
As buscas e o trabalho de pretora recaído em dobro sobre seus ombros sem seu parceiro estavam acabando com ela, mas não podia demonstrar fraqueza. Permanecia em sua pose forte e imponente, embora soubessem que estava preocupada e exausta.
— Retomaremos as buscas após às festas — decretou.
— Eu não vou festejar enquanto meu melhor amigo está desaparecido!
— Ou morto.
— Pare, Octavian. — Reyna lançou um olhar frio para ele.
— Eu não vou parar de procurar por ele. O resto da equipe pode continuar depois, eu vou agora.
— É uma ordem, Darya. Retomaremos as buscas depois. Se não encontrarmos nada… Iremos parar.
Darya negou com a cabeça, comprimindo os lábios e cerrando os punhos, contendo gritos e palavrões em sua garganta.
— Não é inteligente ir contra uma ordem expressa, Darya — Octavian disse com um sorriso cínico, a voz carregada de um misto de deboche e desprezo ao pronunciar o nome dela. Ela adoraria agarrá-lo pelos cabelos loiros e afogá-lo para arrancar aquele sorriso maldito da cara dele. — E, certamente, já podemos nos preparar para eleger um novo pretor no próximo Festival da Fortuna.
— E você não será eleito se esse acampamento ainda tiver o mínimo de bom senso — Darya retrucou.
— Oh! Espera que você seja, então? — Ele riu.
A garota apertou as unhas contra a palma das mãos com mais força, os punhos cerrados. Estava usando o máximo do seu autocontrole para não dar um soco em Octavian em frente a pretora, mas era extremamente difícil. Não suportaria ficar nem mais um segundo na presença dele.
— Estão dispensados. E Octavian, não quero precisar chamar sua atenção outra vez — disse Reyna.
— Por quê? Não fiz nada! — exclamou com indignação.
Darya não disse mais nada. Apenas virou-se e saiu do edifício a passos largos. O vento gelado bagunçou os cabelos escuros, que batiam contra seu rosto. As lágrimas desceram frias e silenciosas por suas bochechas, ainda com um semblante frustrado e irritado.
Seguiu pela Via Principalis, ignorando alguns olhares sobre si enquanto passava por legionários e empurrava qualquer um que estivesse no meio do caminho.
— Calma, aí, Lancaster! — disse Bryce Lawrence após vê-la ultrapassar brutalmente um grupo de legionários.
— Sai da minha frente. — Empurrou-o.
— Tá bravinho porque enfim percebeu que o seu guarda-costas está morto?
— Vai se foder, Lawrence! — exclamou erguendo os dedos do meio para ele.
— Cuidado para não explodir os aquedutos de novo!
Ela o ignorou e continuou seu caminho, apressando o passo. Um alto grito escapou por sua garganta ao estar longe de qualquer pessoa no caminho para a Colina dos Templos. Um grito de pura frustração, raiva, tristeza, angústia.
Mais meses se passaram. Mais meses sem notícias.
Agora era junho.
Darya seguiu até o pequeno templo azul com um tridente acima da porta, próximo do Optimus Maximus. Abriu as portas e adentrou o local, caindo de joelhos perante o altar de seu pai.
Os olhos claros das cores das águas caribenhas se fixaram na enorme estátua de Netuno atrás do altar, a qual ela mesma fazia as manutenções para manter limpa, assim como todo aquele templo.
Era possível sentir-se um pouco mais próxima do pai ali, onde podia chorar e desabafar suas dores. Netuno nunca respondia, mas ela sentia algo. Um conforto. Um alívio de seus problemas, como se fossem levados pelas águas dos domínios de seu pai.
— Pai… — Sua voz soou falha e rouca. Uma lágrima rolou por sua face. — Eu sei que você nunca me responde, mas sei que está me ouvindo. Ao menos… Espero que esteja.
Respirou fundo, mexendo distraidamente no colar em seu pescoço.
— Jason é meu melhor amigo… Meu único amigo — disse dolorosamente. — Já fazem oito meses! Eu só… E-eu só queria um único sinal de que ele está vivo. Um sinal de que posso encontrá-lo. Me ajuda!
Fechou os olhos com força, mais lágrimas caindo sem cessar. A imagem do amigo se formava perfeitamente em sua mente. Os cabelos loiros, os olhos azuis, o sorriso gentil, o abraço caloroso…
Ah, ela faria de tudo para abraçá-lo outra vez. Era difícil sem ele, quase insuportável.
Ele é mais que um amigo. Jason é sua família.
— Me ajuda… — suplicou. — Qualquer coisa. Por favor, pai… Qualquer coisa… Eu não tenho mais ninguém aqui! Só… Eu quero meu amigo… Quero minha família de volta!
O silêncio reinava. Tudo que ouvia era sua própria respiração e seus soluços.
Esperava que ao menos o pai tivesse ouvido.
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