Capítulo 4
AQUI VAI UMA CURIOSIDADE: depois de três dias se alimentando de coisas pastosas, reciclando urina para beber como água e ter o relógio biológico bagunçado depois de ver o sol quinze vezes, ser astronauta parecia bem menos glamoroso.
O que Johnny fazia era checar a estabilidade e os recursos da estação espacial, ouvir Rudolph e Reed debater sobre termos que só os dois entendiam, aturar a cara feia e rica de Victor e por fim, irritar um pouco Ben.
Mas o começo havia sido sensacional. Ele pilotara a pequena nave deles até a estação espacial melhor do que pilotou qualquer carro ou moto na vida. Ele acrescentaria os jatos de vôo nessa lista, mas teve um acidente com a aeronáutica uma vez... Não vem ao caso.
O momento mais emocionante foi quando chegaram na estação e sua pequena comitiva foi acoplada à Estação Von Doom. Era como fazer uma baliza no espaço, estacionar e acertar cada milímetro para que pudessem passar da nave para a estação. Até Adeline havia sorrido para.
Adeline havia sorrido para ele. Praticamente um milagre.
Mas ele sabia que não ia demorar muito até ele impressioná-la de alguma forma. Afinal, ele era Johnny Storm.
Uma coisa que ele achou incrível era o recurso de gravidade da estação. Era um mecanismo inovador, já que as estações espaciais não contavam com um sistema de ajustar a microgravidade para uma gravidade próxima do planeta Terra. Por isso os astronautas ficavam no ar dando piruetas no espaço. Mas não na Estação Von Doom, lá eles caminhavam como caminhavam na Terra. Johnny queria um pouco mais de emoção e até planejou girar Ben no ar até que ele vomitasse, mas pensando bem era melhor assim.
No terceiro dia eles estavam no compartimento principal da estação, Johnny encarava o próprio prato que continha uma pasta verde que supostamente deveria ser espinafre.
-Depois de um tempo você começa a achar gostoso, Storm. -Adeline disse depois de ter comido a pasta de batata dela.
Johnny revirou os olhos:
-Ah, mas é claro que você adora a ração de astronauta. Esse cardápio da NASA é uma bela porcaria. -Ele disse e depois engoliu o alimento segurando a cara feia, não queria dar aquele luxo à Rudolph.
Ninguém havia levantado ainda, Johnny e Adeline sempre dormiam um pouco depois ou acordavam antes dos outros. Eles checavam os relatórios de pesquisa para serem enviados à base. Depois da primeira refeição do dia, Victor os encontrou no compartimento central.
Ele olhou para Johnny como se não contasse com o fato de que ele estivesse ali também e então se virou para Adeline dizendo:
-Dra. Rudolph, como você deve saber há um compartimento fechado abaixo deste andar. Gostaria que fosse dar uma olhada na estrutura do local. -Ele disse enquanto Adeline o observava atentamente. -Se for do seu agrado, peço que notifique seu advogado sobre a parte cumprida do acordo.
Ela apenas acenou positivamente a cabeça e Victor se retirou.
-O que ele quis dizer com isso? -Johnny perguntou, engoliu em seco na tentativa de se livrar do gosto de espinafre preso na garganta.
-Vou descobrir agora. Vou verificar o compartimento. -Ela disse se levantando.
-Eu vou com você. Ele pode estar tramando alguma coisa. -Ele resmungou seguindo Rudolph pelas estreitas passagens para fora do compartimento central. -Ele pode ter colocado o Alien naquele compartimento.
-Esse filme é terrível. -Ela disse indo na frente.
Eles seguiram para o corredor de intersecção de compartimentos da estação. No do corredor, ao chão havia uma escotilha com uma placa de metal.
Ele e Rudolph se aproximaram para ler o que estava escrito e abaixaram a cabeça.
"Compartimento Olho de Zeus. Em Homenagem à Dra. Adeline Hwan Rudolph. Para grandes mentes que observam o Universo".
Johnny leu em voz alta e acrescentou:
-Caramba, Rudolph. Vamos entrar, eu quero ver. -Ele disse colocando a mão na porta da escotilha enquanto se agachava, mas Adeline lhe deu um leve tapa no braço o fazendo se afastar.
Ela se agachou ao seu lado e abriu a porta da escotilha.
-Tudo bem, pode ir primeiro! -Ele resmungou em tom sarcástico enquanto ela descia pela escada do tubo ao qual a escotilha dava acesso.
Ele a seguiu pela escada e fechou a portinhola de aço. Desceu os poucos degraus e chegou ao chão do compartimento ao lado dela.
Era uma sala oval toda de aço e vazia. No centro havia uma pequena mesa de vidro com o outro placa de aço dizendo "Olho de Zeus" e havia um botão metalizado logo abaixo.
Johnny estava doido para apertar o botão, mas esperou que Adeline o fizesse. Era a primeira vez que ele via os olhos dela tão cheios de expectativa.
E então ela apertou o botão e toda a estrutura de metal se abriu revelando paredes de vidro. Era como se a estrutura de metal fosse só uma embalagem que se abriu mostrando pela camada de vidro todo o espaço ao redor deles.
As paredes, o chão e até uma parte do teto os inundou com a via láctea, milhares de estrelas se estendiam sob seus pés. À direita deles estava a Terra flutuando. Era como se eles estivessem voando sobre toda a imensidão.
Era lindo e assustador.
Johnny podia ver o quanto ele era pequeno diante de tudo aquilo. Ele se aproximou de Adeline e os dois deslumbrados observaram a grandeza daquilo.
Ela parecia não conseguir respirar e quando Johnny a olhou viu as estrelas refletidas em seus olhos.
-Victor te deu esse compartimento? -Ele perguntou e percebeu que estava sussurrando, como se qualquer som alto ou movimento brusco pudesse lhe fazer acordar. Aquilo era bonito demais para ser real.
-Eu projetei esse compartimento. Projetei toda essa estrutura e o controle de microgravidade. -Ela sussurrou de volta olhando para a Terra. -Tom roubou o meu projeto e o deu para Victor.
-Tom fez isso?! -Johnny arquejou surpreso ao perceber que era bom ter um motivo pra socar aquele cara, não gostou dele desde o primeiro instante.
-Então nós terminamos, cancelamos o casamento e eu processei ele. -Ela disse e suspirou profundamente como se estivesse cansada daquilo e agora pudesse renovar as energias ali. -Tom foi obrigado a ressarcir um bilhão de dólares para mim e dar os créditos na estação.
-Que babaca. -Johnny murmurou com um suspiro. -Você parece feliz agora.
-Ficou lindo não ficou? -Ela perguntou abrindo um sorriso.
E ali observando a galáxia como deuses com as constelações sob seus pés, Johnny pensou: Merda, ela é linda. Então ele se aproximou mais dela, o rosto se inclinando para Adeline vendo o reflexo do planeta em seus olhos.
E ela olhou de volta para ele.
-Eu nunca senti isso antes, só sinto quando estou aqui. -Ela sussurrou e parecia como se eles estivessem trocando segredos em meio às estrelas. -É aqui no espaço, há milhões de quilômetros da Terra, que eu me sinto em casa.
Johnny sentiu algo dentro de si, como se aquele não fosse qualquer momento. Como se pressentisse que ia sonhar com aquela imagem por anos. Adeline sobre o universo e ao alcance de seus lábios. Mas ela bem que poderia estar em seus braços. E Johnny como não se apaixonava, achou que era desejo. E Johnny como não passava vontade, deslizou uma das mãos pela cintura dela e apertou-a gentilmente contra o seu abraço.
-Então, quer dar uns amassos no espaço? -Ele perguntou, Adeline encarou os olhos dele enquanto a mão direita dela o abraçava de volta.
O coração de Johnny acelerou como nunca antes, mais um aviso de que não era qualquer momento. Ele inclinou o rosto para ela, os lábios se aproximavam. Até que o conector ao seu ouvido chiou.
"Storm, Rudolph. Retornem ao compartimento central. As ondas de radiação cósmica aumentaram consideravelmente, houve alterações. A tempestade está prevista para daqui duas horas".
Era a voz de Tom. Johnny não teria deixado isso o parar, mas Adeline abriu os olhos e se afastou se virando para a escada.
Ele segurou em sua mão e a puxou para perto de novo.
-Se deixar o momento passar vai se arrepender depois. -Ele direcionou o seu melhor olhar Johnny Storm, mas não funcionou. O momento já havia passado.
Rudolph soltou sua mão e ajeitou o rabo de cavalo.
-Não seja tão convencido, Storm. -Ela disse subindo a escada e abrindo a escotilha para saltar para fora. -Isso foi nada.
Ele suspirou lamentando que não tenha sido daquela vez. Seria uma boa recordação. Já havia beijado várias garotas, mas nunca uma no espaço.
Ele apertou o botão abaixo da placa de metal e toda a estrutura voltou a cobrir o vidro. Quando ele se virou para subir a escada, reparou na pequena câmera no canto superior do compartimento e então lembrou que eles estavam sendo monitorados pela base o tempo todo. O que levou a perceber que Tom Von Doom estava observando e podia tê-los interrompido de propósito.
Agora Johnny tinha dois motivos para socar o cara.
Ele murmurou enquanto saía do compartimento:
-Tom, seu filho da...
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