C A P Í T U L O • 0 7
Porque uma vez você me disse
Se algo estivesse faltando em mim
Eu poderia encontrar em você
Um pedaço de mim não está lá
Porque nada se compara
A vida quando eu era jovem
Aquela garota dentro de mim permanece
Se eu não estiver aqui por mim
Ela estará
M E S S A G E S F R O M H E R |
S A B R I N A C L A U D I O |
• 2 0 2 1 , 0 8 D E O U T U B R O •
Manhã de sexta.
O sol corta o horizonte e banha meu rosto como o beijo de um amigo querido, casto e vívido.
Entro no carro e, como espero desde o momento que saí do consultório da minha terapeuta, fecho meus olhos e aprecio o silêncio.
Lembro da última coisa que disse a ela. O troféu inestimável fruto de toda minha luta ao longo desses anos.
"Meu nome Brooke Murphy. Hoje eu estou bem, e vou lutar para permanecer."
Eu nunca vou esquecer isso.
As lágrimas já banham meu rosto — elas são amigáveis. Às vezes vinham quando sentia saudade, quando sentia medo, quando apenas sentia. Mas hoje estão comigo por motivo de felicidade. Porque nesse dia de sol e brisas indomáveis eu percebo que estou pronta. Não estou mais estagnada no passado, porque o tirei das costas e assim eu aprendi a andar com meus próprios passos.
Não consegui sozinha, por que tive ao meu lado — mesmo que além da matéria — as pessoas que mais amo. Mas Zane estava certo quando falou que pessoas não podem ser remédios. Hoje entendo a superação como uma rota a ser percorrida por si mesmo, mesmo com o empurrão inicial de terceiros.
Instalei-me em New Haven, Connecticut, há pouco mais de dois anos. O tempo passou devagar, a adaptação também foi lenta. Foi difícil ficar longe dos meus pais e do Zane, até do Brad e Matt que inesperadamente se tornaram pessoas especiais em minha vida. Eu os visitava sempre que podia, mas não com a frequência que queria, pois dizer "até logo" era algo que tomava muito do meu peito.
Bennett não saiu da minha vida. Ele realizou o antigo sonho de ser um jogador de hóquei, me ligou nos momentos mais felizes de sua carreia em ascensão. Eu posso dizer que estava com ele em todos, e ele pode afirmar o mesmo, mesmo com a distância gritante. Ao longo desse tempo, também, nosso sentimento se manteve. Eu ainda o amo, com o mesmo ardor que causa colapsos por entre meus ossos, mas ainda não estava pronta, e ele não me julgou em nenhum momento ou cobrou de mim. Zane foi paciente, deixando claro que estaria lá por mim.
Não abri mão do meu jeito, não foi possível mudar de personalidade assim como mudei de cidade — e eu também não queria isso —, então continuei sendo a garota pacífica. Aqui, entretanto, as pessoas me encaram de maneira diferente, não como muitos que me julgavam pelo olhar no passado. E por esse motivo fiz amizades com quem não se importava por eu não gostar das mesmas coisas que todos, que está ao meu lado por eu ser apenas a Brooke.
Fiz muito por mim. Aceitei o fato de que não estava bem e que precisava de ajuda. Nas vezes em que minhas lágrimas se misturaram às gostas de água que saíam do chuveiro pensei em desistir. É o que todos pensam, onde muitos realmente desistem. Eles não são fracos, são tão guerreiros quanto qualquer outro que enxuga o rosto molhado e se levanta. No fundo ninguém realmente quer isso, e o mundo talvez fosse diferente para essas pessoas se os julgadores entendessem isso — a terra seria uma utópica estação de plena vivência se as pessoas apenas parassem e tentassem entender as outras.
O bip da mais uma mensagem me desperta.
Leio o conteúdo em silêncio.
Meu coração palpita com quando me bate a premissa do "e se?".
E é assim que faço uma escolha.
Depois disso sinto apenas sinto antecipação em cada minuto das próximas horas.
• 2 0 2 1 , 0 9 D E O U T U B R O •
A entrada do estádio está lotada. É possível ver torcedores de ambos os times, sobretudo de Asheville, uma vez que estão jogando em casa. Mas alguns rostos estão pintados em vermelho e amarelo, grifando a torcida de Minnesota, algo que provavelmente deve ser esperado quando todos estão com gás de início de temporada.
— HEY! — é o grito alto de um torcedor entre a multidão enérgica. Ignoro como todos os outros. Mas não por muito tempo. — Moça de blusa azul com mochila preta!!! — Franzo o cenho. O quê? — Brooke, é você?! — Percebo assim que está se dirigindo a mim.
Olho sobre o ombro, já encontrando um rosto familiar se aproximando.
— Brad! — respondo, sem esperar muito para ir em sua direção, e sendo recebida rapidamente por um confortante abraço. Fazia muito tempo desde que o vi, e, de certa forma, encontrá-lo agora acalma um pouco do nervosismo que está acampado no meu estômago.
— Porra! É você, Murphy! — Arregala os olhos expressivos, eufórico e com descrença estampada, ainda não me soltando. Ele ainda sustentava sua essência de garoto cativante, mesmo tendo amadurecido. — O Zane vai surtar quando ver você aqui. Puta merda, preciso dizer isso a ele, aposto que virá corrend-
Interrompo-o antes que termine de puxar o celular do bolso.
— Não! — apresso-me em dizer. Ele obviamente estranha minha negação. — Ele não pode saber que estou aqui, ninguém sabe na verdade. — Talvez eu esteja parecendo ridícula e não faço sentido para ele nesse momento.
— Como? — Inclina a cabeça, movimentando os cachos loiros que estão mais longos desde a última vez que o vi. — Você é quase a namorada dele! Se eu fosse a namorada dele a primeira coisa que faria seria correr até aquele gótico tatuado de dois metros. — O que me parecia impossível acontece: eu estou rindo apesar de toda a ansiedade.
Abracei Bradley novamente, não precisando de motivo.
— Senti sua falta. — A saudade fora minha maior companhia, afinal.
— Eu também, moça. — Beija o topo de minha cabeça, carinho expresso em atos.
Outra ideia então nasce em minha mente. Parece loucura, pode não dar certo, mas aceito confiante, porque uma pessoa um dia me disse que eu era suficiente, em meu mundo eu podia ser eu. E somos loucura, somos devaneios, somos instantes improváveis e impulsivos. Inconstância. Estou em meu mundo, quem vai julgar minha loucura?
— Preciso que faça algo para mim.
Z A N E B E N N E T T
A tensão antes do jogo sempre fora uma das poucas coisas as quais eu não conseguia ser imune, embora disfarçasse bem. O leve tremor no estômago denuncia a antecipação. As inseguranças às vezes são companheiras de todos os jogadores em momentos como esse. A pressão em relação ao desempenho, a estar preparado, a saber liderar a equipe, e eu estou sendo o capitão aqui, o peso disso redobrava.
Ela sempre mandava uma mensagem antes de todas as partidas. "Estou torcendo por você", "Sei que vai dar o seu melhor", ou até um singelo "boa sorte" significava muito.
O estádio está lotado, gritos de ambas as torcidas durante o jogo, sobretudo da nossa. Como esperado, não é um jogo calmo, os Dulluth Bulldogs são um time forte, o que é de se esperar do vencedor da última temporada do hóquei universitário.
E assim eles ganham, mas por muito pouco. Nosso time foi bom, mas o adversário estava mais preparado, e aquele resultado era mais normal do que pensavam. Mas ainda assim vejo a frustação de muitos do nosso time. E, além disso, estou puto por um dos nosso que iniciou uma briga e acabou levando suspensão.
Minha cabeça se encontra um verdadeiro caos.
— Bom jogo — comenta um cara do time adversário ao tirar o capacete e me estender a mão, em gesto de paz. Havia enfrentado muito ele, percebendo assim o nome Summers na parte de trás do seu terno.
— Foi justo. — Aceito o aperto de mão firme e aceno antes de patinar em direção da saída da pista.
— Bennett. — Me interrompem antes que eu consiga.
No meio de outras pessoas vestidas de cores temáticas, avisto aquele loiro idiota, rindo enquanto vinha até mim.
— Você aqui? — Ele raramente vem aos jogos.
— Surpreso? — tem um ar convencido.
— Não. — Na verdade estou, mas ele aumentaria muito a situação se soubesse.
— Um dia você vai perder a vergonha e confessar que morre de saudades de minha presença ilustre. Mas não hoje, eu sei. — Ergue as mãos. — Tem um tempo?
Não tenho muito o que dizer. Os anos passavam, mas ainda não encontrei uma forma de contornar Bradley.
E assim se foram alguns minutos de conversa aleatória, havia sentido falta disso. As arquibancadas já estão vazias quando me despeço dele.
Encontro poucas pessoas no caminho até o vestuário, ainda sentindo o cansaço e certa irritação correndo em meu sangue, e logo que chego não encontro mais ninguém nele, consequência da conversa demorada.
Jogo o capacete de lado e me sento no banco, encostando os braços nos joelhos e cobrindo o rosto com as mãos e suspirando cansadamente.
O dia está sendo uma verdadeira bagunça desde a primeira hora.
Inesperadamente um par de all star entra em meu campo de visão, me deixando confuso e tenso. Mãos pequenas e sutis tocam meu cabelo e descem até meu pescoço.
Mas que porra...
Estou pronto para me afastar e perguntar o que diabos está acontecendo, no entanto, quando a dona daquele toque se agacha e toma minha visão ao erguer meu rosto, não consigo proferir uma única palavra.
— Obrigada por não ter desistido de nós, amor — a voz dela falha quando sussurra tal como um anjo. Mas os olhos continuam dizendo tanto.
Brooke está ali, na minha frente, depois de meses sem respirarmos sequer o mesmo ar. Nesse segundo quero dizer tantas coisas, meu coração começa a processar tantos sentimentos, e minha pele clama por contato.
— Brooke! — Levanto-me em um ímpeto e puxo seu pequeno corpo para junto do meu, erguendo-a no ar.
— Eu te amo. — Ela soluça baixo com o rosto enterrado em meu pescoço. — Eu te amo tanto, Zane.
— Você está aqui. Está aqui. — Eu mal consigo pensar com coerência. A última vez que senti tantas emoções juntas fora justamente na noite em que dissemos adeus, na noite em que fomos um do outro e separamos nossas mãos. — Porra, isso é real. Você voltou — confidencio, ainda não creditando que é verdade.
Aqui, eu nunca mais quero soltá-la. Tê-la em meus braços é encontrar o encaixe no meio de todo o tempo em que senti que faltava muito em mim — é ela meu outro lado perdido.
— Eu te disse, Bennett. — Busca meus olhos com desespero e saudade. — O tempo não derrota o eterno.
Beijo seus lábios, como um maldito viciado em abstinência, e o primeiro contato é um golpe de sensações para ambos, eu sinto.
Meu mundo novamente se colidiu com o dela.
<<<<<<<<<<>>>>>>>>>>
Acordo sozinho no quarto. Meus sentidos reclamam sua falta, pois seu cheiro no travesseiro é um bálsamo, mas nunca irá se comparar à sensação do seu corpo junto ao meu pela manhã.
Hoje é um dia importante, é sua formatura.
Daqui a poucas horas Brooke estará recebendo seu diploma, e ela está enérgica por isso. Não consigo ao menos tirar o riso do rosto ao lembrar de sua imagem feliz e realizada. Ela merece cada instante dessa conquista.
A porta se abre em um rompante e sua figura adentra no quarto — esse que agora é nosso.
— Bom dia! — Abre um sorriso, o cabelo indomado deixando-a mais linda com a adição de seu pijama que não é nada além que uma blusa surrada minha.
Quem não a consideraria uma deusa nesse momento?
— Não. — Minha expressão se mantém neutra. Seu sorriso hesita.
— O que quer dizer?
Ao invés de falar, sinalizo com a mão, pedindo para que se aproxime. Ela vem de encontro a mim, ainda confusa.
Capturo seus lábios, roubando seu ar e surpreendendo-a ao puxá-la para cima de mim. Brooke não espera para corresponder, moldando-se a mim e imergindo no nosso instante de plenitude.
— Seu namorado carente precisa desse tipo de "bom dia", baby. — Sinto seu sorriso contra meu rosto.
— Não cansa de ser traiçoeiro, Bennett?
Encaro sua expressão doce e angelical. Risonha, leve, feliz. Foda-se, eu faria qualquer coisa para vê-la assim pelo resto dos meus malditos dias.
— Para conseguir mais de você? Nunca. — Roubo mais um beijo longo.
Ela é minha garota. Minha mulher, a única para mim, a alma pela qual meu fodido coração clama todos os dias, e eu era dela, tudo era por ela.
A melhor parte de Benjamin havia ido, e ficamos com sua saudade, com a dor. Foi mais do que poderíamos suportar, foi um abismo que causou cicatrizes depois que, ambos, caímos, mas nosso amor, de certa forma, nos estendeu a mão. Eu era orgulhoso por ela ter se erguido, por ter lutado contra a dor que a arrastava. Cada segundo distante foi torturante, cada noite em que via seu rosto ao fechar os olhos foi difícil, mas, hoje, assistindo nossa evolução e vendo onde chagamos, entendo que tudo foi preciso. Brooke precisava se desprender da dependência que rondava seu interior. Nosso amor, naquela época, nunca poderia ser um curativo, seu coração precisava abrir mão desse apego, e ir às vezes é um gesto de amor, também próprio.
Hoje Murphy dará um passo em sua vida, e eu quero sugerir outro para nós em um futuro breve.
Ao final da noite, naquele mesmo parque noturno e sucinto onde despi minha alma para ela, a aliança que está no bolso do meu jeans estará em seu dedo se ela me der seu sim.
Eu irei gritar para a porra de todo o mundo que Brooke Murphy, a mulher que eu amo com cada fragmento da minha existência, vai ser minha esposa.
Que ela é minha melhor parte.
B R O O K E M U R P H Y
— Oi — falo, olhando para o pôr do sol. Há apenas silêncio ali, pássaros cantam e as folhas das árvores se movimentam vagarosamente. Um sinônimo de paz. — Faz tempo desde a última vez, não é? Deve estar me achando chata por ter voltado de novo, mas não me mande embora.
Suspiro.
O túmulo continua rígido contra minhas costas. Não está frio como outrora, nas madrugadas, no entanto. Ele apenas está lá.
— Eu levei muito tempo para perceber que o fim não é constante, sabe. — Uma lágrima. — E tudo bem, isso acontece. Mas por vezes penso se talvez tivesse sido diferente, B. Eu queria você aqui, queria que estivesse com a gente nos momentos únicos. Sempre quis. Mas você está, agora eu sei. — Fito os lírios. — Você sempre está lá, e isso é lindo porque sentir sua presença não é mais como imaginar a sombra do fim. Tenho saudade, memórias não projetam abraços e sorrisos com perfeição, mas elas são você. — Faço uma pausa, sentido a energia pacífica que me ronda, a positividade desse lugar sob o céu dourado. — Você é eterno, insubstituível. Um coração raro no mundo, meu eterno melhor amigo, e seria o tio mais legal e o melhor cunhado que eu poderia pedir. Mas você se foi, e eu aceitei.
Sinto o vento contra minha pele úmida.
— Um dia eu vou te encontrar. E depois de te abraçar, B, vou olhar nos seus olhos para dizer que você tinha razão. — Depositando as flores na pedra, vago os dedos pela lápide esculpida. — Somos cabeça oca demais para o agora. Obrigada por ter me dado a chance de conhecer o seu mundo — digo por fim.
Me ergo em silêncio e saio dali com passos calmos, meu peito agora estando tão brando quanto.
O sol está indo embora e traz a noite aos poucos, mas eu estou calma.
Porque, mesmo se a névoa vier, eu não tenho mais medo de enfrentá-la. Encontrei minha luz.
<<<<<<<<<<>>>>>>>>>>
isso é o fim, gente. epílogo também tá vindo, mas espero que tenham gostado <3
(alguém percebeu que tivemos uma participação especial aqui? kjkjaj ele tem olhos âmbar, só digo isso)
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top