C A P Í T U L O • 0 6
Eu amei e te amei e te perdi
Eu amei e te amei e te perdi
Eu amei e te amei e te perdi
E isso dói como o inferno
F L E U R I E |
H U R T S L I K E H E L L
• 2 0 1 9 , 2 3 D E J U N H O •
— Zane — ouve uma voz feminina lhe chamando. É Ivy, também líder de torcida e patricinha popular, tal como aqueles filmes clichês de colegial sempre mostram.
Irritante.
Bennett está sozinho com Matt, após Brooke ter avisado que iria ao banheiro e Brad, como um maldito lorde, ter prontificado sua companhia durante o trajeto. Não estava feliz com a distância e não entendia o porquê de não ser ele a acompanhá-la. Mas, embora tivesse ficado enérgico, essa inquietação passou no momento em que ela sorriu com carinho e disse que estava tudo bem e que logo voltaria para ele.
Para ele, porra. E, sim, sabe que provavelmente está agindo e pensando como um homem das cavernas, mas que se foda.
— Sim? — responde. Não é cordial, e não vê obrigação em ser. Não tem interesse em falar com a ruiva, e, além disso, ele seguia uma conversa interessante com Matt antes da interrupção. As coisas com Zane sempre pareciam funcionar assim, entre o preto e branco.
— Estou surpresa com você. — Pisca os longos cílios envoltos de rímel. Ela é linda, o moreno não poderia negar.
Mas, para ele, não passa disso. E há alguns metros dali a garota mais perfeita do mundo o espera. Ele realmente não está interessado em nada além.
— Motivo? — Ouve Lewis pigarrear discretamente, talvez sinalizando que é contra a forma rústica de como o amigo se porta perante a garota.
— Então os boatos são verdadeiros — desdenha. — Nossa, sério que você está com ela? A Brooke é tão estranha e ridícula, uma depressiva, não faz em nada o seu tipo. Sinceramente, eu esperava mais de você.
Estranha e ridícula? Sua mandíbula tensiona mediante tais palavras carregadas de escárnio. Mas que porra era aquela?
— Não seja baixa — adverte, a voz de um amante, sombria e letal. O rosto da garota então murcha, a pele de porcelana fica levemente corada por algo semelhante à irritação, embora, também, certo temor. — Não com ela, que é a garota mais especial desse lugar tóxico, e nem comigo, que não vou aceitar que você a rebaixe. Pode ser e estar em meio aos lobos aqui, mas não vai querer entrar em meu caminho, Ivy Scott.
Ele não espera nenhuma resposta, simplesmente deu-lhe as costas, como se não deixasse nada para trás. Nenhuma palavra precisa ser mais dita.
Não sabe se Matt o acompanha, mas cessa os passos antes que descubra, justamente quando avista Brooke no corredor. A cena o faz estancar.
Ela está nos braços de Bradley, mas o que praticamente dispersa todos os seus sentidos é perceber lágrimas em seu rosto.
— Brooke? — o interior se contorce em sentimentos de angústia, mas ele usa todo seu controle para proferir seu nome em um tom suave e hesitante, mas não deixando de transparecer uma fração da urgência.
Ela ergue os olhos, chorosos, transparecendo dores, clemência. Isso o desarma em tantos níveis, e em seu pensamento nasce o questionamento sobre ele ser fraco demais caso suas pernas simplesmente cedessem diante disso.
Isso é amar então? O amor o qual todos falam e citam, é isso? Sobre estar na carne? Sobre se interligar? Sobre, independentemente de se julgar fraco, clamar a felicidade do outro, de forma ligada e diretamente proporcional?
Uma das equações mais perfeitas já vistas, pensou ele.
Tem que ser isso, ou simplesmente não sabe mais o que é aquela densidade agridoce que domina seu peito, sua vida.
— O que aconteceu? — é o garoto que agora nota estar ao seu lado quem questiona a Brad.
O loiro não podia estar mais confuso também.
— Eu não sei. Ela só saiu do banheiro enquanto chorava. — Sua preocupação também ficou em evidência.
— Hey, baby. — Mesmo querendo reduzir o mundo de quem fez isso a ruínas, aproxima-se dela e toca seu braço com uma delicadeza jamais vista entre os dois jovens que assistem a cena. Como se fosse outra pessoa, e ele não negaria isso.
Ela não perde tempo para ir de encontro a seus braços, tão pequena e frágil, também quebrada como ele.
— Eu não consigo — a voz abafada dela contra seu peito sai tão sussurrada que soa com um hino o qual nunca seria digno de contemplar.
— Do que está falando, amor? — Não precisa saber o teor disso, mas é seguro de que ela é capaz de conseguir alcançar qualquer coisa que realmente quiser. Brooke sempre teve garra o suficiente para isso.
— Ela me disse que eu sou fraca. Mas sei que sou forte. — Ela? Pragueja internamente ao supor quem fez aquilo. Maldita cadela. — Que o mínimo que podem sentir por mim é pena, e que esse é o motivo pelo qual você está aqui comigo. Sobre os outros, não me importo e, sobre você, sei da verdade. Mas ouvi uma coisa onde tenho certeza que ela não mentiu.
— Brooke...
Ela o olhou, mais controlada, os olhos vermelhos e os lábios rosados, que antes formavam um sorriso, agora tremendo pelo choro.
— Ivy disse que nós dois não temos um futuro. Que isso aqui pode parecer bonito, mas não vai se sustentar.
— Foda-se o que ela disse, Murphy, porque isso aqui — tocou em seu próprio peito com força e depois, sutilmente, tocou o dela com a palma da mão — não é a porra de uma ilusão. Você acha que o que estamos sentindo agora é uma simples atuação idiota?
O garoto está claramente nervoso, e, apesar de não querer transparecer, aquele campo em que estavam entrando se estendia em um campo minado. Bennett já havia, antes, tomado uma decisão onde ambos sofreram as consequências e sentiram cada minuto no processo.
Estaria aquilo se repetindo?
— Não. — Ela toca seu rosto, dedilhando a o maxilar marcado de sua pele marfim e contornando seus cabelos escuros com a ponta dos dedos. Esse mero movimento tira a metade do peso que o mundo havia acabado de jogar em suas costas. — Nosso agora é completo e real, Zane Bennett. Eu te amo o suficiente para ter a certeza que o que vejo agora em seus olhos é um reflexo do meu amor. — Um beijo suave visita seus lábios, portador de paz, um raro alento. Eu te amo. Porra. — O que me dói é perceber não podemos eternizar esse agora, tampouco caminhar de mãos dadas. Não a partir daqui.
— O que quer dizer com isso? — O coração do tatuado começa bombear sangue com tamanho afinco, chega-se a questionar se ela conseguiria ouvir facilmente as batidas velozes e ritmadas.
— Não estamos prontos, Zane. — Aparentemente é preciso de muita força para ela falar aquilo, força essa que ele já não possui. Não mais. Seus joelhos enfim encontraram o chão, o baque surto reverberando pelo corredor.
E Murphy, sempre mais guerreira que ele, ajoelha-se ao seu lado, segurando seu rosto entre as mãos com força e encostando-o carinhosamente ao seu.
— É o fim? — é capaz de indagar.
Pode estar sendo fraco, vulnerável, covarde. Sim, ele sebe disso perfeitamente. No entanto, não é um mero exagero. A sensação é semelhante a estar no deserto em estado de sobrevivência há dias, meses para maior semelhança, e, como uma miragem em momentos de delírio, de repente avista-se uma fonte de água. É possível se sentir vivo depois de muito tempo, é possível sentir o gosto de algo além da existência torturante. E, no fim, o pesadelo chega. A fonte não passa de mais um delírio apaziguante. Não é o fim do martírio.
— Não, amor. — Ela ainda chora. — É uma reticência.
— Por quê?
— Porque somos muito, mas não o suficiente no momento. — O amor nem sempre é suficiente, ele entende, assim.
Zane pode finalmente entender os pensamentos e angústias de Brooke.
Eles ainda estão quebrados. Usar sentimentos tão puros como cola para juntar estilhaços não é a garantia de um futuro como almejam, pode ser a ruína final. Ele poderia enfrentar uma parte das suas máculas, mas ainda lida com questões. E ela... ela acabou de acordar, quer se levantar para conseguir trilhar seu caminho.
— Promete que não é o fim? — Uma lágrima escorre em seu rosto. É a única, mas representou todas as outras que foram engolidas antes dela.
— Nunca haverá fim para o que foi feito para ser eterno.
Ela diz.
Ele acredita piamente.
E, naquele dia, eles confidenciam amor em cada segundo dessa noite. Fica gravado nas palavras, na pele, nas lágrimas que escorrem, nos sussurros que são soprados ao vento, no amor que queima no peito, no último beijo salgado que não tem apenas o agridoce da separação, mas a perfeita mensagem:
Voltarei para você. Por nós.
• 2 0 2 1 , 0 9 D E O U T U B R O •
— Zane! — a voz feminina grita de seu quarto, interrompendo seu café da manhã. Ele está consideravelmente atrasado, e, se não quiser levar um sermão do seu treinador impaciente, o mais aconselhável é sair de casa imediatamente para chegar a tempo.
Mas é Ash quem o chama, ele ainda não consegue ir contra essa mulher que ocupa aquela casa todos dias. Mesmo ainda sendo o cara reservado e recluso de sempre, ela tinha ultrapassado grande parte de sua armadura.
— O que fiz dessa vez? — pergunta calmamente ao entrar na pequena suíte do apartamento que dividia com três colegas de time.
A loira segura na mão a toalha que ele há pouco tempo usou e o encara com decepção.
— Toalha molhada na cama? Sério, Bennett? — Ele arriscaria se aproximar e beijar seu rosto para dizer um correto "bom dia", como ela sempre exige que faça, mas teme que a loira jogue a toalha em sua direção. Ash tem uma excelente mira. — Até você?! Como se já não bastasse o Zack deixando as cuecas no corredor. No corredor! — Ele também concorda que cuecas no corredor são um absurdo, além de o irritar muito, mas Zack aparentemente não lembra que não mora sozinho nas vezes em que chega acompanhado e não consegue chegar no quarto ainda com as calças.
— Eu realmente não lembrei. — Conhecendo-o tão bem o quanto ela consegue, a mulher provavelmente lê em seu rosto que ele nunca faria uma coisa dessas por consciência.
A cena parece cômica teve que admitir. Inacreditável para alguns que lidam com ele todos os dias.
Ali está ele, Zane Bennett, considerado um monstro sem piedade nas pistas de gelo em que entra, agora diante de uma senhora de um metro e meio que lhe dá sermões sobre organizar seu quarto. O quarto que ele os outros caras a contrataram para limpar. Mas eles apreciam tanto o jeito único daquela senhora que os adotou como filhos, que seguem suas instruções como garotos obedientes.
— Só não repita isso, pelo amor de Deus. — E com isso entra no banheiro burburinhando outras coisas inaudíveis. — E eu percebi que já passou da sua hora, mocinho!
Ele dá um dos seus raros e concisos sorrisos, calado e acenando.
— Sim, senhora. — Logo após sai em retirada do apartamento, mas não antes de checar seu celular.
Ela não o mandou nenhuma mensagem há praticamente uma semana. Isso já está começando a lhe preocupar. Zane sabe que suas aulas em Yale estão exigindo muito, mas, mesmo assim, nunca havia o deixado sem notícias durante tanto tempo.
Hoje, ambos lidam com suas rotinas extensas. Ele, como jogador de hockey universitário em um time em ascensão, e ela também com seu curso e dedicação ao sonho de lecionar. Mas sempre houve tempo, mesmo que um momento para uma mensagem de boa noite ou perguntas frívolas sobre o dia a dia, mas que sempre possuem um toque especial por ser um vínculo sempre presente.
Bennett escreve outra mensagem e clica em enviar.
Todavia, é justamente no momento em que ela visualiza todas as anteriores e responde com uma única sentença.
Puta merda.
"É o fim das reticências."
Seu coração para.
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quem sentiu saudades desses dois? <3
o cap era pra ter sido postado há dois dias atrás, no meu aniversário como avisei no insta, mas rolou imprevistos e só consegui entregar hoje. espero que tenham gostado :b
nebulas tá no fim (AAAAAAAAAAA), e tô tão boiola com esses dois \o/
até o próximo, e último.
de sua autora,
K. L. Lawrence
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