C A P Í T U L O • 0 4
Vejo os arames rasgando enquanto você respira
Você sabia que tinha um motivo
Isto o matou como doenças
Eu posso ouvir sua voz enquanto você fala
Você não pode ser tratado
[...]
Os arames tiraram o melhor dele
Tudo no que ele investe
Vai direto para o inferno
T H E N E I G H B O U R H O O D |
W I R E S |
• 2019, 13 de junho •
Olhos divagantes fitam Brooke com intensidade.
Zane sente nesse momento uma torrente de pensamentos sobre sua mente. Quando horas atrás decidiu se aproximar, teve ciência de que isso aconteceria.
A dor nos olhos dela é sua sentença. Ter a deixado, abandonado sua metade doeu e dói como um inferno. Mas têm certeza de que não teria doído mais que ter colocado ela naquele mundo tenebroso que ele entrou.
Observa os traços delicados de seu rosto sob a luz da lua, os lábios perfeitamente desenhados, os pequenos chuviscos marrons que ela tinha na pele aveludada, como um mapa de sua beleza. Hipnotiza-se nos olhos castanhos expressivos, quase do mesmo tom dos tímidos cachos do seu cabelo rente aos ombros. Desde a adolescência ele sempre a achou a garota mais linda aos seus olhos, nunca existirá outra. Foram inúmeras as vezes em que ele perdeu o fôlego com o seu sorriso belo. Ou que se pegou pensando no quanto gostava dela.
E o seu beijo...
Fora o primeiro. Ainda é o único.
No auge dos 13 anos eles dois brincavam em uma tarde ensolarada, foi em uma das raras vezes em que o trio estava separado. Sempre sentiu uma coisa forte pela melhor amiga na infância, e, após juntar coragem para confessar aquilo, decidiu que naquele dia Brooke iria saber de seus sentimentos. E Zane tentou. Mas as palavras sumiram de sua língua no momento em que o par de orbes brilhantes lhe mediu com atenção, aguardando. Nada disse, no entanto, porque não conseguiu proferir uma palavra sequer uma vez que era um garoto tímido além dos limites, mas quis expressar aquilo dentro de si, de alguma forma.
Então, sem mais pensar, juntou seus lábios aos dela, em um impulso. Rosto com rosto, sentindo seu cheiro de flores e tocando aqueles lábios doces em um ato cálido, Bennett viu que ela tinha ficado surpresa. Supôs que não iria gostar ou que ficaria irritada, então se afastou. Só não esperava que a mesma o surpreendesse, puxando-o novamente para perto e beijando-o. Hoje ele ainda lembra sobre o quão foi mágico, sobre como sentiu aquelas malditas borboletas dançando em seu estômago. Soube naquela tarde que Brooke Murphy seria a dona dos seus lábios — ainda guarda essa promessa feita a si mesmo. São várias as suposições sobre o porquê de Zane, o bad boy fechado e desejado do colégio, nunca é visto aos beijos com ninguém.
Ele não conseguiu. Quando mais novo, por ser preso aos seus sonhos — à garota dona daquele lindo sorriso. Agora, por sempre lembrar dela.
— Eu sucumbi, Brooke. Foi... uma merda. — Dói falar disso. Do passado o qual ele lutou para deixar, pois as lembranças são uma cadela. Mas aquilo tem que sair. — Eu tive uma crise no dia do enterro dele. Foi assustador. — Engole em seco. — Mal sabia que tudo pioraria a partir dali. Quando... Quando eu recusei suas ligações, quando eu comecei a faltar nas aulas, eu estava entorpecido pela dor, Brooke. Ele era meu irmão, e ele tinha ido embora para sempre. Não aceitava aquilo, não suportava pensar que era real, que o Benjamin tinha me deixado, nos deixado. Então eu... Eu me afundei no escuro. Não sabia como fazer aquela fodida dor parar de doer. E eu só queria que parasse, só precisava que acabasse. Então a única solução se fez óbvia. — Não sente vergonha das lágrimas que estão saindo de seus olhos, o que lhe envergonha é confessar sua covardia. — Eu tentei tirar minha vida. Não apenas uma vez, não superficialmente. Eu realmente tentei me matar. — É um sussurro que se perde no vento.
— Zane... — Murphy já não segura o pranto quando toca a curva do seu pescoço, o toque é tão bem-vindo.
— As tatuagens — estende os braços rabiscados —, elas cobrem o rastro, elas escondem minha fraqueza. — Quando a garota toca o interior de seus braços... Céus, ele sente que ela percebe. São cicatrizes, de cortes aparentemente profundos. — Não foi só isso. Também houveram as bebidas, depois as drogas, e eu fazia tudo escondido, além de tentar mostrar para os meus pais que eu estava conseguindo superar. Mas eu só estava caindo ao me esconder. E eles não demoraram para descobrir. Eu ainda lembro da primeira overdose, da segunda, da terceira; das outras seguintes. Eu ainda lembro da última, ainda consigo lembrar de quando minha irmã de 10 anos entrou no banheiro e gritou ao me encontrar morrendo no chão. Seu olhar aterrorizado ainda está em minha memória. Eu prometi a mim mesmo que nunca mais seria o responsável por aquela expressão em seu rosto, aquilo foi a fodida gota d'água.
— Como eu não consegui ver isso, como eu não...
O ambiente é sufocante, mesmo ao ar livre.
— Não tinha como você saber. Ninguém, além da minha família que acompanhava aquele pesadelo, soube da minha... situação. — Ele não queria que fosse diferente. Apesar de toda dor, ao menos conseguiu poupar a dela, mesmo que Brooke não o perdoe por roubar seu direito de escolher participar disso. — Eu mal tinha completos 16 anos quando entrei para uma terapia intensa, além do tratamento com o lance das drogas. Mas eu consegui, Murphy. Não sozinho, por que eu só vi a luz após aceitar ser guiado pelas mãos estendidas. — Sua família, que tanto o ama.
— Eu precisava estar ao seu lado. Eu tinha esse direito, você era uma parte de mim, Zane! Simplesmente achou que podia me excluir-
— Você não precisava daquilo, Brooke, seria demais, eu não poderia suportar te arrastar comigo. Eu sei que você pensava que era sobre o acidente, que eu te culpava, porém nunca foi isso, e era angustiante não poder explicar. — O arrependimento do moreno não vem, e que se foda sua própria dor. — Teria feito diferente? Eu sinto que você não iria me querer perto, conheço você.
— Não sei — transparece ser sincera ao murmurar, encarando os olhos do garoto, que mais parecem duas pedras de obsidiana sob o luar. — Acha que fiquei melhor sozinha? Realmente acha que iria me salvar saindo da minha vida? Naquele momento?!
— Você pode me odiar eternamente, querida, mas eu não me arrependo de te poupar daquilo.
O som dos animais noturnos preenche o silêncio massacrante, as respirações entrecortadas pelo choro mordaz adornando o fundo.
— Tentei seguir minha vida. Tentei ser quem era antes de tudo, no entanto, quanto mais eu buscava isso, mais percebia que era impossível. Não importava o quanto minha família tentasse ficar do meu lado. E os outros... Só recebia pena, e eu odiava isso; ainda odeio. E, depois de tanto me sentir vazia e de me afastar do que acontecia ao meu redor, tornei-me isso. Essa casca. Eu tentei, Zane, assim como você, eu tentei. Porque todos tentam. Todo mundo, em determinada hora em sua queda, busca a luz, se esforça para se levantar. Mas às vezes aquele gás acaba, às vezes ficamos tão cansados que se entregar ao fracasso é, de forma ilusória, menos cansativo que lutar, ou apenas aceitamos que não tem cura. — Ambos ali sabem perfeitamente a sensação. Um ainda convive, outro guarda na memória.
— Eu daria absolutamente tudo, qualquer coisa para que você não tivesse passado por isso. — Sua mão grande se ergue e enxuga as lágrimas que escorrem pela pele de porcelana. — Mas eu não pude, e sei que talvez você nunca venha a me perdoar, tenho consciência disso, mas também não pude estar ao seu lado, mesmo desejando ir até você durante... Cada. Fodido. Dia.
— Não sei o que pensar sobre tudo isso, não sei o que devo fazer-
— Não precisa fazer nada. Você é forte, você foi mais forte que eu, ainda está sendo. E, porra, não se sinta triste por isso, não chore por minhas merdas, o que restou são cicatrizes. — Encostou sua testa na dela, lentamente. — Não sou eu quem precisa desse amparo, você sabe disso.
— Ainda não estou pronta, eu não consigo — sussurrou, sentindo sua respiração pesada.
— Um ano atrás, após acordar de um pesadelo e me sentir sufocado, eu saí por aí, vagando pela noite. — Naquele pesadelo, não foi apenas B quem tinha morrido, e Zane sequer conseguia proferir isso verbalmente. — Quando me dei por mim, estava de frente para o cemitério. Sabia que deveria ir embora, assim como também sequer deveria estar ali. Mas então eu vi uma pequena figura sobre o túmulo dele. Eu reconheci você no momento em que pus os olhos no seu cabelo ondulado por baixo da iluminação vinda do poste. Você usava aquele sobretudo azul que eu havia te dado em seu aniversário de 15 anos. — Percebe que ela se surpreende com sua fala, mas não cessa. — E eu fiquei no escuro, assistido você murmurar coisas para um túmulo e me questionando sobre o que você estava fazendo ali. — Escondeu o fato de que ficou puto com sua inconsequência. Estava sujeita ao perigo, andando pelas ruas desertas de madrugada, mal calculando o perigo ao seu redor. — E, de longe, eu acompanhei você até que chegasse em casa. Não sei o porquê, mas na outra semana eu fui lá de novo, no mesmo horário, no mesmo lugar. E você estava lá, dessa vez chorando. Isso se repete até hoje.
— Isso explica como você sabia. — Suspira, exausta. — Não consigo explicar porque fui a primeira vez, nem sei se quero. Mas eu apenas queria estar ali, gostava daquele momento. Era como se eu fugisse de todos e fosse até onde apenas ele estaria me ouvindo.
— Eu nunca me aproximei. Nunca o suficiente para ouvir você — confessa.
— Eu não me surpreendo com isso. — Então ela sorri, singela, mas sorri. — O que acontece agora, Zane? O que tudo isso significa?
— Não sei, realmente não sei, mas não quero que signifique nada. Eu não sou seu remédio, nenhuma pessoa é isso para ninguém, mas quero estar ao seu lado, preciso que me deixe adentrar, e que busque em seu interior aquela vontade de se levantar. Você disse que ela existe, está dormente, mas existe.
Antes que ela dê uma resposta, furiosos pingos de água começam a cair sobre eles, nuvens pesadas contornando uma parte do céu.
— Precisamos ir embora, sair dessa chuva! — Ergue-se e ela imita sua ação. Estende a jaqueta. — Coloque sobre si, você pode ficar resfriada.
— Não. — Brooke, já encharcada, olha ao seu redor, para o cenário vivo. — Não quero fugir. Eu preciso sentir, Bennett. — Eleva a cabeça para cima e sorri, rodando o corpo sobre a grama, os olhos fechados. — Eu quero viver.
— Eu apoio isso, mas não quando vai contra sua saúde-
Ela leva sua mão até o braço tatuado e o puxa até que o rapaz fique perto de si, o mesmo que está confuso.
— Você também sente isso? — Guia a mão dele até o lugar onde seu coração palpita sob a blusa molhada.
— Sobre você — fala, baixo, deixando seu rosto a poucos centímetros do dela, seus corpos colados —, eu sinto você. Porque eu respiro sua essência, Brooke. É tudo sobre você.
Nesse momento nada mais se passa em sua mente além da magia que os rodeia, sequer lembra de qualquer possível resfriado que possa cair sobre eles.
— Eu senti sua falta. — A voz doce... Puta merda, como passou tanto tempo sem apreciá-la?
— Eu também — reafirma Bennett, imerso demais. — Eu também, baby.
É uma surpresa sentir lábios molhados pressionado os seus. Quente, nada hesitante e doce. E, sabendo que ela quer tanto quanto ele, aprofunda o beijo, sentindo sua língua, explorando seu sabor.
Tendo a dona de seus lábios ali, em seus braços.
Ambos se sentem em casa.
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que choradeira é essa, meu pai?
eu ouvi a música do capítulo umas 638973 até terminar de escrevê-lo, e quis chorar todas essas vezes. sorry pelo cap maior, mas foi preciso, amores, e também peço perdão pelos erros. enfim, o que acharam? plmr, me digam que não sofri sozinha jkskjkd
obrigada por ler, e não esqueça de votar. S2
K. L. Lawrence
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