C A P Í T U L O • 0 2
Ultimamente eu tenho perdido o sono
Sonhando com as coisas que poderíamos ser
Mas, querida, eu tenho rezado muito
Eu disse: chega de contar dólares
Nós vamos contar estrelas
[...]
Tudo que me mata faz eu me sentir vivo
C O U N T I N G S T A R S |
O N E R E P U B L I C |
• 2019, 13 de junho •
"Viva comigo".
Viver.
As pessoas não refletem sobre o quão complexa essa palavra, ato, é. A vida, em uma visão supérflua, se resume ao batuque constante da máquina que existe por trás da nossa caixa toráxica, bombeando sangue. O coração rege a vitalidade, dizem.
Mas isso não é tão simples.
Viver não é simplificado ao ato de respirar e estar fisicamente saudável — essa é a definição refinada da existência.
Viver, sobretudo, é sentir. Imergir nas camadas que compõem nosso meio e degustar o mundo como um banquete vasto e único.
A alegria. Os sonhos. Os anseios nunca perdidos. A força.
Há também os medos, angústias, calafrios...
Cada partícula que nos faz sentir é significativa, não importa se é boa ou não. O equilíbrio é uma pilastra da vida, afinal. A falta dele é uma ameaça. Isso explica que dosagens desenfreadas podem não apenas causar uma confusão, mas levar ao desfalecimento.
Contudo, apesar de ter ciência de tudo isso, meu diagnóstico ainda se permuta.
A dor veio em uma avalanche, que, com a desordem, devastou meu viver.
Após aquele dia horrível, eu, Brooke Murphy, a garota que acreditava nos sonhos, que convivia com as borboletas no estômago, que, além do oxigênio, respirava a essência da vida, agora apenas existe por entre as quase 8 bilhões de pessoas nesse planeta singular.
Mas uma fresta, quase que imperceptível aos olhos nus da minha resiliência, cruza o vácuo.
Parece uma miragem — não me importo por ser ridícula ao ponto de cogitar tal possibilidade.
Após tanto tempo sob anestesia, ele está me fazendo sentir algo, mesmo que uma fração do que um dia me tomou.
"Você estar sozinha nunca mais será uma opção", ele disse, os orbes em um hiperfoco em mim, a voz firme, tal como ouvi em todas as vezes em que a seriedade tomava seu semblante.
Prometeu-me. Eu confiei, confio — a necessidade de o fazer é emergente. Parece ingenuidade, eu sei. Entretanto não enxergo a verdade em seus olhos apenas por estar vislumbrada por um cara bonito e que é parte de B. Eu acredito em Zane porque não consigo ler apenas sua face supérflua — também vejo seu interior, aquele cara sempre está lá. Nesses dois anos eu apenas enxergava outro cara supérfluo, fechado e que estava a muitos e muitos passos de distância, mas eu enxergava apenas essa casca porque não podia vislumbrar seus olhos, que ficaram fechados para mim por dois anos.
Mas agora eu o vejo novamente. Por trás daqueles olhos, não importa o tempo, eu sempre enxergo o garoto que tanto foi parte de mim. O Zane que me defendia das outras crianças que me azucrinavam por ser a mais baixa e desengonçada da turma, aquele que não me julgou ou fez piadas quando fiquei de luto dias seguidos quando meu peixinho Star morreu. Ainda consigo lembrar, com detalhes precisos, toda a tarde em que ele chegou e me viu chorando sobre o lugar onde tinha enterrado o bichinho e apenas sentou-se no chão, abraçando-me e dizendo palavras doces até que eu cessasse com a crise de ansiedade que me tomou, ou quando me visitou durante uma dúzia de dias quando eu estava resfriada em algum inverno passado — vinha direto da aula até minha casa, nas mãos um punhado de tulipas para mim. São essas e incontáveis outras coisas que ascendem o farol que me guia entre as sombras do garoto à minha frente.
Se é uma visão ilusória isso que enxergo?
Estar em sincronia na mesma órbita que Zane e sentir aquela energia única nos rondando vai além do encantamento de uma adolescente apaixonada.
Então, não. É vivo demais para ser. Por isso eu sinto.
Sempre foi e é igual — antes e agora.
Seus olhos me fisgam de uma forma que temo sair de órbita. Nas constelações presentes em sua íris, está ali o mapa do nosso universo, tendo cada átomo pertencente a nós, constituído por nós — a pura essência.
Nesse momento, enquanto agarro seu tronco sobre sua jaqueta de couro, inspiro seu cheiro inebriante e sinto a brisa cálida ao compasso em que ele desvia dos carros na avenida com sua moto esportiva, eu reflito sobre o fato dele saber.
Pondero se ele, meu primeiro beijo, a pessoa que deu vida às borboletas em meu estômago, faz ideia do quanto significou para mim.
Ben dizia que era óbvio, só um tapado não percebia.
E por muitas vezes cogitei sobre Zane ser ou não um tapado.
De sua boca nunca veio uma pista, ou resposta. E os olhares e atitudes... Não achei certo fazer deduções.
Mas a dúvida sempre esteve lá.
A incógnita sobre o amor.
— Eu nunca fugi do colégio — murmuro baixo quando, ao descer da moto no momento em que ela para em uma rua que eu tanto conheci antes, entrego-lhe o capacete que usava.
— Não fazer isso uma única vez na vida deveria ser considerado um crime. — O divertimento em seu rosto iluminado pelos raios de sol é contagiante. — Você pode me agradecer por te apresentar uma das melhores experiências juvenis depois. — Após tirar sarro de mim, pega minha mão entre a sua e me puxa compassadamente em direção a um estabelecimento.
Não é a primeira vez que estou de frente para a fachada daquele lugar — na realidade, é a primeira depois de muito tempo distante.
— Por que você me trouxe para essa cafeteria? — quero saber, clamando a mim mesma internamente que não me entregue às lembranças que fazem doer.
Afastando uma mecha do meu cabelo que cai sobre meu rosto, Bennett então me responde:
— Não sei você, baby, mas eu ainda não comi nada hoje. Temo que meu corpo caia ao chão antes de chegarmos ao meio dia.
— Então todos esses músculos são inúteis?
Ao perceber a observação nada sútil que faço do seu físico invejável meu rosto ruboriza. E de nada ajuda ele semicerrar os olhos em minha direção.
— Músculos, é? — Rolo os olhos, tentando soar indiferente. — Você ainda é perfeita quando cora o rosto.
Não sei o que dizer diante de sua fala. E, para minha sorte, ele escolhe me dar as costas e me guiar até o estabelecimento. Lá, posso ver o mesmo cenário que ainda tenho em minha mente. As mesas antigas coladas aos recantos das paredes ainda têm a aparência retrô de antes. Há algumas pessoas nelas, degustando alguma guloseima ou apenas apreciando um bom e amargo café. Posso ouvir uma música baixa que vem dos alto-falantes. Vance Joy canta Reptid em uma sintonia leve.
— Menino Bennet! — também ouço alguém chamar.
É o senhor Sheeran, dono da cafeteria e criador da receita do melhor cheesecake que já provei.
— Bom dia, Jean. — É a vez de Zane se manifestar, aparentemente também feliz em ver o homem que lhe saúda com um enorme sorriso.
— Você veio tarde hoje, não deveria estar na aula, garoto? — Estreita os olhos verdes, mas, apesar de não poder vislumbrar o rosto do cara enorme à minha frente, sei que ele recebe um revirar de olhos como resposta, pois logo engata bufando: — Certo. Certo. O que vai querer para hoje?
— Surpreenda-nos. — E, assim, sou notada.
— Você. — Jean me enxerga, surpreso, fitando-me por trás do moreno. — Sabia que um dia voltaria, senhorita Murphy.
O sorriso que ele direciona a mim é tão sincero que por poucos segundos esqueço que esse lugar quase chega a ser um gatilho para mim. Estar aqui é ver, em minha mente, a imagem do grupo de amigos felizes e absortos ao mundo, como em um filme. Os dois irmãos irritantes e amorosos que tanto faziam a vida da garota ter cores, e eles, na mesa 5, sempre estavam dando risadas ou apenas lá, dividindo a presença uns com os outros. Mas eu, aos poucos, deixo de enxergar um daqueles adolescentes vibrantes, assistindo sua forma se apagar aos poucos em uma bruma seca.
Esse é o loop que me prende.
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Obs.: houve uma alteração de datas. No capítulo 1, antes, por descuido acabei colocando a data em dezembro, mas o tempo correto em que tudo se passou é em junho. Para quem leu antes, eu já consertei, para quem leu agora, apenas ignore este aviso. ^^
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gostaram? talvez o capítulo não tenha ficado especial como idealizei em mente, mas nele quis transparecer sentimentos e anseios que dizem muito sobre esses dois. se possível, me falem aqui um pouquinho o que acham dos personagens e tals, é pro meu tcc ksksj
se curtiu o cap não esqueça de deixar seu voto, e desde já agradeço. <3
de sua autora,
K. L. Lawrence
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