Inspiração: Então é Natal

Natal de Amor

       O sol do meio dia iluminava a pequena garagem enquanto Nicolau colocava os últimos pacotes na caminhonete já cheia. As costas do homem doíam após todo o trabalho das últimas semanas, mas ele nem ao menos se importava: 24 de dezembro era um dia simplesmente mágico, e nada seria capaz de dissolver a emoção que eletrizava o ar.

       A voz de Simone ecoava do rádio do carro, recordando Nicolau de seus motivos para tudo aquilo: afinal, "Então é Natal" sempre fora a canção natalina preferida de Mariana. Sempre que a música se repetia, o homem ficava mais convencido de que aquela época realmente era a festa do amor como um todo. Ele amava cada presente arrecadado, cada rosto que se iluminava ao ver sua roupa vermelha e a barba branca.

       Também era apropriado que seu destino fosse justamente o Hospital do Amor.

       Assim que todos os pacotes de presentes estavam devidamente armazenados na caminhonete, Nicolau trancou a casa e ligou o carro. Ele tinha um longo caminho a ser percorrido de Mogi das Cruzes até Barretos, e não queria correr o risco de se atrasar por algum imprevisto na estrada.

       Durante as longas horas de viagem, como de costume, várias memórias invadiram a mente de Nicolau. As músicas natalinas salvas no pen drive ecoavam ao fundo, como uma trilha sonora para seus pensamentos. Era surreal refletir sobre como seu projeto havia crescido durante os anos, e em quantas crianças ele poderia alegrar esse ano, ao menos por um momento. Seria inútil tentar esconder que ele chegou a derramar algumas lágrimas.

       Um bom tempo depois, Nicolau estava no hospital. Já conhecido por muitos ali, ele foi cumprimentado diversas vezes. Depois de jantar, o homem correu para se trocar e vestir seu famoso traje de Papai Noel.

       Enquanto isso, um grupo de enfermeiros comentava:

       -Seu Nicolau é um homem tão bom.

       -78 anos e nunca se cansa de fazer o bem.

       -É emocionante ver como ele transformou tudo o que aconteceu em uma boa ação.

       O relógio enfim marcou 20:00 horas, e Nicolau estava pronto. Já havia enchido o saco de tecido com os presentes doados pela comunidade, que todos os anos se solidarizava com o projeto Natal de Amor, e era o momento de começar a distribuí-los.

       Cada porta que se abria para um quarto hospitalar revelava um universo diferente. Cada uma das crianças ali internadas, acima de sua doença, tinham também sonhos e paixões. Para Nicolau, era extremamente emocionante poder ajuda-las a esquecer por um instante a luta contra o câncer, e motivá-las por meio da alegria a continuarem sendo fortes.

       E, à meia noite, quando todos os presentes já haviam sido entregues, Nicolau se sentou no banco da caminhonete e tirou do bolso a foto de Mariana, sua neta de 6 anos, tirada quando ela ficou internada no Hospital do Amor, há doze anos.

       -Tudo por você, minha princesa. Descanse em paz.

       Nicolau guardou a foto e girou a chave. As canções tocando no rádio o guiariam para casa. 

(total: 500 palavras)