Capítulo 7 - O Oráculo de Ethria

Acordei com o sol invadindo meu quarto, e meu celular parecia ter se tornado uma sirene de notificações. Todo o reino parecia ter descoberto meu número, clamando por entrevistas exclusivas com a princesa herdeira de Drako.

No meio desse alvoroço, uma mensagem de um número desconhecido se destacou: "Não paro de pensar em você"

Meu coração saltou. Seria Dante? As palavras só poderiam ser dele, mas com tantas pessoas com meu número, eu precisava confirmar.

Respondi de forma descontraída: "Por que um nobre fugiria do baile?"

A resposta veio rápida: "Algumas histórias são escritas nas sombras, longe dos olhos curiosos. O baile é apenas uma máscara."

Um arrepio percorreu minha espinha. Ele continuou: "Alguns destinos estão entrelaçados, independentemente das barreiras. Sob o luar, talvez possamos descobrir o que o destino reserva." As palavras eram ousadas, sugerindo algo mais profundo, algo que me intrigava.

Respire fundo e disquei o número, não iria arriscar sem ouvir sua voz.

— Bom dia, Lysa — disse a voz do outro lado, suave como uma melodia, e meu coração acelerou, confirmando minhas suspeitas; era realmente Dante.

Suas palavras pareciam dançar no ar, carregadas de uma audácia que me intrigava.

— O que você propõe? - Perguntei, curiosa

A pausa que se seguiu foi como um suspense no ar, antes de Dante responder com uma ousadia intrigante:

— Quero vê-la novamente. Ouvi dizer que a coroa está organizando um chá da tarde para conhecer melhor a nora.

— O quê?! — questionei. A ideia de ser a protagonista desse evento real, destinada a ser a futura rainha, fez-me refletir sobre o peso das expectativas que agora recaíam sobre mim. O chá da tarde poderia ser um cenário crucial para determinar o curso do meu destino.

No mesmo instante, ouvi batidas na minha porta e desliguei o telefone rapidamente.

— Lysa — Zoe adentrou o quarto, estendendo-me um convite. - A rainha convidou vocês para um chá da tarde que será realizado amanhã.

Sentei-me na cama e aceitei o convite de suas mãos, o selo distintivo da família real brilhava na extremidade do papel.

— Meu pai já sabe? — perguntei, mesmo sabendo que já conhecia a resposta; ele não deixaria nada passar.

— Sim, pediu para o alfaiate trazer umas opções de vestido.

— Ok, informe que estarei ocupada me preparando e peça para trazerem o café da manhã para meu quarto, por favor.

Zoe acenou com a cabeça, dando uma referência, e saiu, me deixando sozinha. Afundei-me nas cobertas, buscando um breve refúgio na escuridão do quarto. Queria um momento para refletir sobre o turbilhão de acontecimentos que transformaram minha vida em menos de 24 horas. Um noivado, uma atração incrível, um segredo... O que eu estava fazendo? A antiga Lysandra, criada sob as rígidas convenções da nobreza, jamais teria se permitido estar tão próxima do irmão do seu noivo, quanto mais desafiar uma decisão tão importante de seu pai.

Ao olhar para o teto, meu pensamento divagou para minha mãe, que, apesar de ter falecido quando eu era jovem, sempre me inspirou com suas histórias de amor. Ela me ensinou que o verdadeiro amor desafia convenções e barreiras, que seguir o coração era o caminho para a verdadeira felicidade. Uma onda de determinação percorreu meu ser. Talvez, em meio à confusão, eu devesse recordar os ensinamentos dela e trilhar meu próprio caminho no labirinto do amor.

Levantei-me com determinação, sentindo a urgência de entender as motivações por trás das minhas próprias decisões. Enviei para Dante, ainda envolta na perplexidade do momento: "Vou tentar visitar os jardins se estiver sozinha por um momento" e logo em seguida uma para Zoe "estou indo para Ethria"

Ao deixar meu quarto e seguir os corredores do nosso castelo em direção a Ethria, minha mente estava repleta de pensamentos sobre o que me aguardava na visita ao oráculo, e o impacto que essas revelações poderiam ter sobre o meu futuro.

Pedi para meu motorista me levar até lá, sem me importar que meu pai seria avisado sobre isso no mesmo instante.

Ao chegar à entrada de Ethria, a atmosfera mudou. O local, sempre envolto em um mistério mágico, parecia mais imponente e carregado de significado naquele momento. As árvores altas formavam um túnel natural, e as folhas sussurravam mensagens que eu não conseguia compreender completamente.

Adentrei o santuário e me dirigi ao templo central, onde o oráculo realizava suas leituras. A intensidade do perfume das flores e o som suave da água corrente criavam uma atmosfera que imediatamente me envolveu.

Ao alcançar o altar, o oráculo, uma figura enigmática envolta em véus, saudou-me com uma inclinação de cabeça. Seus olhos, profundamente penetrantes, pareciam conter segredos universais.

— Lysandra Wyrmgard, o que a traz a Ethria nesta manhã? — sua voz, suave e melodiosa, ecoou pelo templo.

Respirei fundo antes de responder, sentindo a importância de minhas palavras.

— Busco orientação sobre meu caminho. Muitas decisões foram impostas a mim recentemente, e desejo compreender as implicações de minhas escolhas.

O oráculo acenou com a cabeça, como se já esperasse por minha chegada.

— O caminho da vida é como um rio, fluindo e se adaptando às paisagens que encontra. Você, Lysandra, está no ponto onde os afluentes se dividem. As escolhas que fizer agora moldarão não apenas seu destino, mas o destino de Drako.

Seus olhos pareciam transcender o presente, vislumbrando um panorama mais amplo.

— Estou tão confusa.

Ela pegou minha mão, surpreendendo-me, e encarou-me com olhos brancos. Antes que eu percebesse, uma agulha perfurou meu dedo, e ela umedeceu os dedos com meu sangue.

— Pobre menina — sussurrou.

— O que você vê? — perguntei ansiosa.

Ela soltou minha mão e virou a cabeça de um lado para o outro, resmungando consigo mesma.

— Não tenho o que procura — disse, dispensando-me.

— Mas... — antes que eu pudesse terminar de falar, ela se levantou e foi até a porta para me expulsar.

— Seu futuro ainda não está decidido. Você vai ter que escolher, mas precisa tomar muito cuidado com suas escolhas. Se decidir seguir por aqui — disse, apontando para meu coração — vai ter que enfrentar desafios que podem acabar destruindo tudo. Agora, se decidir seguir por aqui — apontou para minha cabeça — pode acabar se perdendo na luta.

Olhei para a senhora à minha frente com os olhos marejados, e com o coração apertado, me despedi com um leve aceno. Estava tão magoada; achava que teria as respostas certas para meu futuro, mas a incerteza persistia.

Corri pelos corredores do templo, com as palavras do oráculo ecoando em minha mente. As opções se desdobravam diante de mim, como as ramificações de um rio prestes a bifurcar-se. A dúvida sobre seguir o dever, casando-me com Gael, era como uma sombra persistente, enquanto a perspectiva de uma vida ao lado de Dante acendia uma chama no meu coração.

Ao chegar aos jardins, busquei um lugar tranquilo para refletir sobre as palavras do oráculo. O aroma das flores e o sussurro suave das folhas ao vento criavam um cenário sereno, contrastando com a turbulência que se desenrolava em meu interior.

Gael personificava a estabilidade, a segurança que minha posição exigia. Uma aliança estratégica para unir as casas nobres e manter a paz em Drako. No entanto, ao contemplar a possibilidade de me casar com ele, uma névoa melancólica pairava sobre meu coração. Seria uma existência sem paixão, guiada pelo dever, mas destituída da chama ardente do amor.

Dante, por outro lado, era um enigma envolto em fascínio. Sua audácia e atração mútua eram como ímãs irresistíveis. A ideia de uma vida ao lado dele acendia um fogo ardente em meu peito, mas também trazia consigo o peso da incerteza e do desconhecido das consequências de contrariar as regras impostas por nossos pais.

Ao retornar para casa, o turbilhão de emoções dentro de mim parecia ter criado um redemoinho confuso. Cada passo ecoava com as palavras do oráculo, e o dilema entre o coração e a razão intensificava-se a cada instante.

Ao adentrar os portões, encontrei meu pai esperando por mim com uma expressão séria. Seus olhos, normalmente calorosos, estavam pesados de preocupação. Engoli em seco antes de tentar expressar o que fervilhava dentro de mim.

— Pai...

Ele ergueu uma mão, interrompendo-me. Seu olhar transmitia uma mistura de compreensão e determinação.

— Lysandra, eu entendo que isso seja difícil para você. Mas esse casamento não é apenas sobre você. Envolve o futuro de Drako, a estabilidade e a paz que nossa terra tanto precisa.

Minhas palavras pareciam estar presas na garganta, mas eu sabia que precisava expressar o que sentia.

— Eu... depois do encontro com o oráculo, estou confusa. Não sei se seguir com isso é o melhor para mim.

Ele suspirou, revelando o peso de suas próprias responsabilidades.

— Lysandra, eu sei que isso é difícil para você. Mas precisamos pensar no bem de todos. Drako está em um momento delicado, e esse casamento é crucial para garantir a estabilidade que nosso reino necessita. Gael é um homem digno, capaz de liderar e assegurar que o futuro seja promissor.

Eu baixei o olhar, sentindo-me acuada entre o que desejava para minha vida e as obrigações impostas pelo dever real.

— Pai, eu...

Ele tocou gentilmente meu ombro.

— Eu entendo que seja um fardo pesado para você, minha filha. Mas, às vezes, precisamos sacrificar nossos desejos individuais pelo bem comum. A decisão que tomamos não é apenas sobre nós mesmos, mas sobre o reino que juramos proteger.

— Mas mamãe sempre me disse para pensar no amor...

Ao sentir a tensão no ar, meu pai suspirou profundamente, como se carregasse não apenas as preocupações do presente, mas também as memórias do passado. Seus olhos, por um breve instante, perderam-se em lembranças distantes.

— Lysandra, eu compreendo o que você está enfrentando. O casamento com Gael é uma responsabilidade significativa, transcende nossos desejos individuais. Quando sua mãe e eu nos unimos, eram tempos distintos, as circunstâncias eram diversas.

— Eu sei que você e a mãe enfrentaram desafios, mas...

Ele acenou com a cabeça, interrompendo-me suavemente.

— Sua mãe e eu éramos jovens, sem o peso nos ombros das consequências de nossas escolhas, especialmente porque ela pertencia à família original do ar.

Seus olhos, agora mais próximos dos meus, carregavam a tristeza de uma história ainda não completamente revelada.

— Quero que você seja feliz, Lysandra, mais do que tudo. No entanto, ao longo do tempo, aprendi que nem sempre as escolhas ditadas pelo coração resultam em plena felicidade.

— Mas...

— O que você acha que aconteceria se escolhesse seguir seu coração por alguém que não faz parte das famílias originais? — Encarei seu olhar sério, e antes que eu pudesse formular uma resposta, ele continuou: — Infelizmente, sua mãe e eu fomos abençoados apenas com você, o que agradeço todos os dias, não duvide disso. Contudo, estamos numa balança, querida. Conforme as leis genéticas do nosso povo, quando você tiver seu filho, grande parte do poder dele será do pai. Se escolher casar com alguém de sangue misto, cujo poder já é diminuído, seu filho talvez não herde nada do poder da Terra. Consegue imaginar o que aconteceria com nossa família? Casando-se com Gael, mesmo que seu filho vá puxar o poder da água, teremos o respaldo da família real para manter a força de nossa linhagem.

Conforme meu pai terminava de falar, a gravidade das palavras pesava sobre mim como uma corrente. A responsabilidade que carregava não era apenas individual, mas também recaía sobre o futuro da nossa linhagem e a estabilidade de Drako. Um suspiro escapou dos meus lábios, carregado de resignação.

— Pai, eu... Eu entendo a importância disso tudo, mas...

Ele colocou uma mão gentilmente sobre meu ombro, transmitindo um conforto misturado com um pesar compartilhado.

— Eu sei que é difícil, Lysandra. Ser líder de uma família nobre não é apenas uma questão de desejo pessoal, mas uma responsabilidade para com todos que dependem de nós.

Respirei fundo, absorvendo as palavras, mesmo que elas pesassem em minha alma. Nossos papéis pré-determinados na sociedade de Drako, onde as tradições eram tão entrelaçadas com a magia que governava nosso reino, pareciam uma teia intricada que eu mal começava a compreender.

Queria lhe dizer sobre Dante, sobre a conexão que senti, talvez houvesse uma esperança já que eu não mexeria na genética. Mas será que era amor? Era tão cedo para pensar sobre isso, e mesmo que Dante tenha mostrado que quer me ver novamente, ele não me disse nada sobre se casar comigo.

A incerteza pairava, enquanto eu caminhava em direção ao meu quarto, e me perguntava se conseguiria suportar o peso da máscara que usava, ou se ela eventualmente racharia sob a pressão de meus verdadeiros sentimentos.

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