Capítulo 6 - Segredo Compartilhado

Cada uma das famílias originais de Drako nutria suas próprias tradições e rituais, sendo os bailes de abertura das estações um dos eventos mais marcantes entre eles. Cada uma se incumbia de sediar seu próprio baile, em sua estação do ano, proporcionando uma oportunidade única para a apresentação de seus herdeiros e o fortalecimento de laços com outras casas nobres. Esses eventos não eram apenas demonstrações de prestígio; eram verdadeiros espetáculos onde alianças eram forjadas entre danças elegantes e conversas discretas nos salões ricamente ornamentados.

Os bailes sazonais transcendiam a simples celebração, transformando-se em uma oportunidade para exibir o poder mágico e a linhagem nobre que fundamentavam a essência de Drako.

Os trajes deslumbrantes desse cenário eram mais do que simples vestimentas; eram testemunhos visuais de uma magia única. Para as famílias que não pertenciam à linhagem original, esses eventos representavam a chance de apresentar seus herdeiros e exibir suas habilidades mágicas. As danças, meticulosamente coreografadas, destacavam a afinidade singular de cada família com os elementos, enquanto os salões eram transformados em espetáculos mágicos que encantavam e maravilhavam os convidados.

Cada família carregava consigo tradições únicas, lealdades antigas e, por vezes, rivalidades profundas. Os casamentos, frequentemente, eram encarados como uma extensão dessas alianças, uma maneira de consolidar o poder e manter o equilíbrio delicado entre as casas nobres.

Gael e eu éramos peças nesse jogo intricado, mas a dança que ocorria em meu coração não se alinhava com as coreografias ensaiadas.

O baile continuou, mas dentro de mim, uma revolta silenciosa se agitava. Não aceitaria meu destino passivamente; buscaria uma maneira de moldar minha própria história, mesmo que isso significasse desafiar as convenções e trilhar um caminho desconhecido.

Após todas as formalidades do baile, senti a necessidade de escapar do salão movimentado. Minha mente ansiava por ar fresco e espaço para respirar, um momento de pausa na coreografia rígida da vida que estava prestes a assumir. Com um sorriso polido, desculpei-me dos convidados e me dirigi aos jardins iluminados pela luz da lua.

O frescor da noite acariciou meu rosto enquanto eu caminhava pelos caminhos de pedra. A beleza serena do jardim contrastava com a tempestade que ainda rugia dentro de mim. As flores pareciam testemunhar minha agonia silenciosa, e as folhas sussurravam palavras de consolo que eu estava longe de compreender.

Enquanto me aproximava de uma fonte tranquila no coração do jardim, avistei Dante encostado em um dos pilares, observando as estrelas. Seus olhos encontraram os meus, e um entendimento silencioso pareceu passar entre nós. Sem dizer uma palavra, juntei-me a ele, e ficamos lado a lado, compartilhando o silêncio confortável da noite.

— Lysandra... — ele começou, mas suas palavras foram engolidas pelo suspiro suave do vento.

Olhei para ele, permitindo que meus olhos expressassem a tristeza que eu não podia revelar publicamente. Dante, com sua presença reconfortante, percebeu a melancolia que envolvia meu ser.

— Não esperava que fosse tão difícil, não é? — ele disse finalmente.

Balancei a cabeça, incapaz de formular palavras para descrever a tempestade emocional que me consumia.

— É um arranjo que serve aos interesses da nobreza, mas às vezes me pergunto se não perdemos a verdadeira essência da vida — ele comentou, olhando fixamente para o céu estrelado.

Decidimos explorar mais o jardim, afastando-nos das áreas movimentadas do baile. Em meio a risos suaves e murmúrios do vento, encontramos uma fonte tranquila no coração do jardim. Ao seu redor, flores delicadas desabrochavam em cores suaves, como se estivessem ansiosas para compartilhar sua beleza.

— Esta é a minha árvore favorita — comentei, indicando uma majestosa árvore de floração noturna. Suas flores desabrochavam sob a luz da lua, emitindo um suave brilho prateado.

Dante observou a árvore com admiração, e um sorriso brincou em seus lábios.

— É verdadeiramente única. Conte-me mais sobre ela.

Conversamos sobre a árvore e suas peculiaridades, compartilhando histórias e memórias. Em um gesto surpreendente, Dante utilizou seus poderes para criar uma fina névoa d'água ao redor da árvore. Sob a luz da lua, a névoa transformou-se em um arco-íris delicado, envolvendo a árvore como uma auréola mágica.

— Para trazer um pouco de magia à sua noite — Dante disse, sorrindo.

A beleza do momento nos envolveu, dissipando as sombras da tempestade emocional. A atração entre nós crescia, alimentada não apenas pela proibição, mas pela descoberta mútua e pela magia que se desdobrava ao nosso redor.

— Fiquei curiosa sobre você. Por que estava treinando com a espada no meio do baile?

Dante soltou uma risada suave, sua expressão revelando uma mistura de diversão e autenticidade.

— Às vezes, a espada é minha melhor companhia. Não sou muito fã de bailes e etiquetas da família real. Além disso, é uma ótima maneira de manter minhas habilidades afiadas sem ninguém questionar por que me esforço tanto para isso em vez de ajudar meu irmão e meu pai com os assuntos do reino.

Respondi com um sorriso, apreciando a resposta descontraída de Dante. À medida que a noite avançava, descobrimos mais sobre nossos passados, sonhos e desafios, e percebi que tínhamos muito mais em comum do que pensava.

— Acho que o que me dói mais é que não escolhi isso. Meu pai, os interesses da casa... eles moldaram meu destino como se eu fosse uma peça de xadrez em seu jogo político — confessei, desabafando as angústias que carregava.

Dante virou-se para mim, seus olhos escuros refletindo uma intensidade que me prendeu.

— E você, Lysandra? O que deseja?

A pergunta reverberou dentro de mim, ecoando as vozes dos ancestrais que clamavam por uma resposta sincera. Percebi que ansiava por algo além das amarras de um casamento sem amor, uma busca pela autenticidade em um mundo de convenções.

— Desejo o direito de escolher o meu próprio destino, de seguir meu coração, de viver uma história que seja minha, não uma que tenha sido escrita por outros — murmurei, sentindo a verdade das palavras enquanto elas escapavam.

Dante estendeu a mão, tocando suavemente a minha, um gesto de solidariedade em meio ao caos.

— Minha mãe costumava falar sobre o amor verdadeiro, sobre a capacidade de desafiar as convenções para encontrar a felicidade real. Eu sempre acreditei nisso, mas agora... sinto-me aprisionada em uma história que não é a minha. — confessei, minha voz ecoando entre as folhagens.

Dante aproximou-se, a distância entre nós se encurtando como se o destino estivesse empurrando-nos um para o outro.

— Às vezes, precisamos ser a autora de nossas próprias histórias. — ele disse.

Enquanto nos perdíamos naquele momento, a dúvida começou a surgir em minha mente. Por que eu me sentia tão atraída por Dante? Era errado desejar algo além do destino que meu pai havia traçado para mim? A culpa se misturava aos sentimentos confusos, criando uma tempestade interna.

Em um instante, a distância entre nós desapareceu, e suas mãos tocaram suavemente o meu rosto, transmitindo um significado profundo. Era um gesto íntimo, carregado de emoções que pareciam transcender as palavras. Naquele jardim iluminado pela lua, começamos uma narrativa única, uma dança de toques que revelava a verdadeira essência do que estava se formando entre nós.

O toque de Dante transmitiu uma sensação de liberdade que eu ansiava. Era como se, naquele breve instante, pudéssemos escapar das correntes que nos prendiam a destinos predestinados. Suas mãos envolveram suavemente o meu rosto, como se ele pudesse proteger-me do mundo exterior.

— Linda...

Após ouvir aquela palavra, senti o calor subir pelo meu rosto, tingindo minhas bochechas de um rubor intenso. Eu não sabia como reagir, então apenas sorri timidamente, desviando o olhar para o chão.

Dante pareceu notar minha reação e deu um sorriso nervoso, recuando alguns passos. Seus olhos brilhavam à luz da lua, mas havia uma sombra de incerteza neles. Ele se afastou ligeiramente, como se percebesse que talvez tivesse ido longe demais.

— Desculpe, não quis te deixar desconfortável... — murmurou ele, com a voz levemente trêmula.

Eu levantei os olhos para encontrá-lo, querendo dizer algo para dissipar o constrangimento que pairava entre nós, mas as palavras pareciam fugir de mim. Em vez disso, apenas balancei a cabeça em um gesto de negação, tentando expressar que estava tudo bem.

O som da música vinda do salão de baile chegava até nós, lembrando-nos da realidade iminente que enfrentaríamos ao voltar.

— E agora? — perguntei, sentindo a urgência do momento.

Dante pegou a minha mão, um gesto que simbolizava uma promessa silenciosa.

— Não permita que escolham seu destinos por você.

Caminhamos de volta para o salão de baile, cientes de que o mundo que conhecíamos estava prestes a mudar. Ao adentrar o salão, nossos olhares conectaram-se com os olhares curiosos e, por vezes, julgadores dos convidados. A notícia do casamento planejado ainda pairava no ar, mas agora, Dante e eu carregávamos conosco um segredo compartilhado, uma chama que queimava mais intensamente diante das adversidades.

O baile continuou, mas agora, para mim, era uma dança entre dois mundos. O mundo da nobreza, das alianças políticas e dos compromissos impostos, e o mundo secreto e proibido que compartilhava com Dante. A dualidade tornou-se a trilha sonora da noite, uma melodia complexa que ecoava a incerteza de um futuro não convencional.

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