Capítulo 3 - A Chama Ancestral
À luz suave da lua, percorri os caminhos floridos, perdendo-me nos delicados aromas que pairavam no ar. Estava descalça da forma que gostava, sentindo a grama fazer cócegas nos meus pés. Cada passo era como uma carícia da natureza, conectando-me profundamente com a energia da noite. O brilho prateado iluminava meu caminho, revelando o jardim como um cenário encantado.
No horizonte, avistei uma silhueta, treinando com graciosidade sua habilidade com a espada.
"Dante?" tentei dizer, mas minha voz não saiu.
Seus movimentos eram como uma dança, uma coreografia fluida que ecoava no silêncio da noite. Sentia-me atraída, como se uma força invisível me conduzisse na direção dele.
Quando nossos olhares se encontraram, o tempo pareceu congelar.
Dante, com uma expressão de surpresa sucedida por um sorriso enigmático, abandonou a espada e se começou a vir em minha direção.
"Lysandra" ouvi uma voz distante dizer.
Mas então Dante chegou, e o calor da noite intensificou-se quando suas mãos tocaram as minhas, me deixando desconcentrada ao o que acontecia ao nosso redor.
Suas palavras sussurraram no vento: "Você me deixou intrigado."
A voz distante surgiu novamente "Acorde!".
Relutante, tentei agarrar a visão encantada, mas tudo começou a desvanecer, Dante, o jardim, a lua. Num clarão, meus olhos se abriram, e eu estava de volta ao quarto, afastando-me rapidamente do sonho que parecia tão real.
– Lysandra – a voz agora próxima me chamou, e me virei, encontrando Zoe, minha assistente, ao lado de minha cama.
– O que houve? – perguntei, olhando para a janela e percebendo que ainda era noite. Deveria ter voltado do baile apenas algumas horas atrás.
– Seu pai me pediu para ajuda-la se vestir, disse que é importante – falou Zoe, estendendo-me uma xícara de chá.
Aceitei a xícara, sentindo o calor reconfortante do chá. As memórias do sonho ainda dançavam em minha mente, uma experiência tão real que demorei a me ajustar à realidade. Olhei para Zoe, curiosa e um tanto confusa.
– Você estava tendo um sonho agitado – comentou, com um sorriso no rosto e observando-me com olhos atentos. – Mencionou o nome "Dante" várias vezes.
As palavras dela trouxeram flashes do sonho, a noite encantada, o treinamento de Dante e suas palavras sussurradas ao vento. Sacudi a cabeça, tentando dissipar as imagens que persistiam, sentindo meu rosto esquentar.
– Não é o que está pensando – murmurei, envergonhada.
– Por mais que eu queria saber mais sobre isso, precisamos ir – sugeriu Zoe, com urgência. – Seu pai está ansioso para sair, e não temos muito tempo.
Concordei com um aceno, ainda tentando afastar os resquícios do sonho que teimavam em me seguir. Levantei-me da cama, sentindo uma mistura de exaustão e fascinação pela experiência onírica. Zoe começou a selecionar o vestido e os acessórios, movendo-se com eficiência.
Enquanto me trocava, não pude deixar de pensar na estranha conexão que parecia existir entre o sonho e a realidade. Por que eu estava pensando nele? Foi apenas uma dança, um toque...
– Terminei – falou Zoe, interrompendo meus pensamentos. Ela estava conferindo-me no espelho com um sorriso satisfeito. – Está linda!
Enquanto descíamos as escadas apressadamente, estranhei a falta da agitação característica antes de eventos importantes. Não tinham guardas alinhavam os corredores, e o burburinho de servos correndo de um lado para o outro, estava tudo muito estranhamente quieto demais.
Ao chegarmos à sala principal, meu pai, trajando vestes imponentes, esperava impacientemente. Seus olhos encontraram os meus assim que entrei, e uma expressão de aprovação cruzou seu rosto.
– Coloque isso – ele disse, me estendendo uma longa capa preta.
– O que está acontecendo? – perguntei relutante, mas vestindo a capa.
– Vou te contar no caminho, não podemos nos atrasar.
Assenti e segui meu pai para o portão de nossa residência. A capa negra ondulava, adicionando um toque de mistério ao meu nervosismo crescente. Zoe me acompanhava, mantendo-se próxima e trocando olhares preocupados.
Ao alcançarmos os portões da residência, um carro escuro nos aguardava, seus contornos vagamente visíveis na penumbra. Meu pai indicou para que eu entrasse, mas me paralisei por um momento.
O que estava acontecendo? Uma saída no meio da noite para um lugar desconhecido, sem guardas, com uma capa escura para possivelmente não chamar a atenção, isso não podia ser coisa boa.
— Eu... — comecei a dizer, mas hesitei sem saber como perguntar para conseguir respostas.
— Está tudo, filha. Você já vai entender o motivo de tudo isso.
Respirei fundo e entrei no carro, me despedindo de Zoe com um aceno rápido.
O caminho parecia interminável, e a escuridão lá fora não revelava nosso destino. Minha mente girava com possibilidades, e as palavras não ditas de meu pai pairavam no ar. Finalmente, ele parou o carro e e meu coração acelerou enquanto as portas se abriam.
Descemos, encontrando-nos em frente a um majestoso portão de ferro, enigmático e coberto de hera. Meu pai, habitualmente confiante, não transmitia nada. Olhei ao redor e só conseguia ver folhas e escuridão, então deveríamos estar longe do centro de Drako.
O portão se abriu lentamente, revelando um caminho que se estendia por uma floresta densa e sombria. Sem mais explicações, meu pai indicou que avançássemos. Com uma mistura de curiosidade e apreensão, adentramos a escuridão da floresta, rumo ao desconhecido que aguardava além dos limites do familiar.
Meu pai, em meio à densidade da floresta, finalmente quebrou o silêncio tenso.
— Abaixo do castelo da família real existe uma rede de túneis, um privilégio exclusivo para as família originais. Esses túneis permitem uma locomoção discreta, evitando as ruas movimentadas da cidade e, assim, mantendo a discrição em momentos como esse por exemplo.
Caminhando pela entrada oculta, os detalhes dos túneis surgiram à luz fraca das tochas. Pedras esculpidas, paredes que exalavam história, e o eco dos nossos passos criavam uma atmosfera única.
— Por que precisamos ser discretos? — questionei, observando as sombras dançarem nas paredes antigas.
— Porque o lugar onde estamos indo não deveria existir. — respondeu meu pai.
— Ainda não estou entendendo.
— Você se lembra da história da Drako?
— Claro — respondi, eu sempre gostei das aulas de história.
"Tudo começou com a discordância do dragão do fogo, que recusou unir seu filho mais velho à filha mais jovem da família da água. Essa disputa culminou na destruição de uma das cavernas mais emblemáticas da cidade, resultando na expulsão do clã fogo do reino.
Movido pela raiva, o dragão ancestral do fogo buscou a ajuda de uma bruxa para criar uma maldição sobre os outros dragões. Ele solicitou que eles se tornassem fracos e vulneráveis como punição por suas decisões.
A bruxa, atendendo ao pedido, lançou a maldição sobre os outros dragões, fazendo com que perdessem suas escamas protetoras e enfraquecessem diante das adversidades. Dizem que ela se baseou nos humanos que os dragões tanto insultavam por sua fraqueza e tamanho. As consequências foram imediatas, desencadeando um período de vulnerabilidade e desconfiança entre os três elementos.
Contudo, o tempo revelou que as maldições, por mais poderosas que fossem, não eram imortais. Os dragões, apesar de enfraquecidos, aprenderam a se adaptar. Exteriormente, pareciam meros humanos, mas internamente, ainda preservavam seus poderes elementares. Nenhuma maldição poderosa poderia privá-los dessa essência tão intrínseca.
Com isso, os três dragões elementares (terra, água e ar) fundaram a cidade de Lumina no centro de Drako. Para evitar futuras discordâncias, uma votação foi realizada, chegando a um acordo de que apenas uma família deveria reinar, enquanto os herdeiros das outras atuariam como conselheiros do rei.
A família escolhida para reinar foi a da água, considerada a mais apta para lidar com o clã do fogo, que ocasionalmente buscava vingança pelo rancor do passado.
As famílias originais descendem diretamente desses dragões, razão pela qual são tão respeitadas em Drako.
Do dragão elementar da água surgiu a família real Valkyr, com o rei Adrian e a rainha Zaya, seus dois filhos Dante e Gael e a caçula Valentina.
A família do dragão do ar: Theron e Isabella Skylark, suas duas filhas Lilith, Elowen e seu herdeiro Lucius.
A minha, do dragão da Terra, com meu pai Caleb Wyrmgard, minha falecida mãe Hera e eu.
Sobre a família do fogo, ninguém possui informações claras. Há relatos esporádicos de avistamentos assombradores de um dragão vermelho, esbelto, cortando os céus de Drako, deixando um rastro de mistério e medo. O temor persiste, especialmente diante da possibilidade de uma nova guerra, pois o clã nunca parece cansar de buscar vingança.
Somos as únicas famílias das linhagens que possuem o sangue mais puro dos dragões fundadores, com o poder elemental mais forte e a explicação para isso é o motivo da minha revolta desde que aprendi sobre essa tradição.
As três famílias originais mantêm a tradição de casar os filhos entre si, quase nunca aceitando outra opção. Papai sempre me disse que é para o sangue não se sujar e para preservar a pureza do poder elemental forte que herdamos.
— O que vou te mostrar hoje é o maior segredo e mais preciso de nosso reino. Você não pode revelar para ninguém, Lysandra. — meu pai falou interrompendo meus pensamentos.
Continuando pelas curvas dos túneis, alcançamos uma escada oculta que conduzia a um salão grandioso. Ao abrir as portas, a visão era deslumbrante: um fogo no centro do salão irradiava calor mágico, revelando um lugar que parecia transcender a realidade.
— Bem-vinda ao Salão da Chama Ancestral — ele anunciou, com um tom solene. — Este é um local sagrado, que só as famílias originais sabem da existência.
O fogo no centro pulsava em resposta, como se reconhecesse nossa presença. Senti o calor envolver-me, uma presença viva e ancestral que me conectava à linhagem dos dragões. Olhei ao redor, maravilhada com a magnificência do lugar. O salão parecia viver e respirar, uma manifestação do poder que flui pelas linhagens há gerações.
—Chegou o dia de você ser abençoada com uma dádiva.
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