Capítulo 22 - Ciúmes no Ar

1 Mês para o Casamento

Um mês havia passado desde aquele dia memorável em que compartilhamos nosso primeiro "eu te amo". Desde então, mergulhei de cabeça nos preparativos para o casamento, auxiliando a rainha com uma montanha de tarefas intermináveis e tradições que pareciam pertencer a outra era. Enquanto isso, Dante esteve cada vez mais imerso na investigação dos ataques misteriosos que assolavam o reino, sua dedicação à segurança do povo nunca vacilou, mesmo diante dos desafios que surgiam a cada passo.

Apesar das nossas ocupações, mantivemos nossa conexão, conversando todos os dias e nos encontrando furtivamente nos jardins do castelo à noite, onde podíamos nos perder nos braços um do outro e esquecer, ainda que por um breve momento, das preocupações que pairavam sobre nós.

No entanto, mesmo em meio aos momentos de ternura, nossos pensamentos eram frequentemente invadidos por questionamentos sobre quando seria o momento certo para fugir, para escaparmos juntos e encontrarmos um lugar onde pudéssemos viver nosso amor livremente. Mas sempre havia um novo obstáculo, uma nova emergência que exigia a atenção de Dante, especialmente com os recorrentes problemas envolvendo o clã do fogo, que o obrigavam a deixar nossos planos de lado para investigar e lidar com as ameaças.

Além disso, Gael continuava tentando manter contato, mas eu o afastava com firmeza, recusando-me a ceder aos caprichos de um casamento arranjado que jamais seria capaz de me trazer felicidade.

Naquele dia, porém, era diferente. Era o dia da celebração do casamento do meu pai. Enquanto me preparava para retornar à casa onde cresci, sentia um misto de emoções conflitantes. Uma parte de mim estava ansiosa para reencontrar meu pai e participar da alegria da ocasião, mas outra parte temia que aquele lugar, que um dia já fora meu lar, agora me parecesse estranho e distante.

Com um suspiro, afastei esses pensamentos inquietantes e me concentrei em me preparar para a festividade que se aproximava. Afinal, eu tinha um papel a desempenhar, tanto como filha quanto como noiva. Mas, no fundo do meu coração, uma pequena voz sussurrava a pergunta que eu não podia ignorar: Será que algum dia voltaria a sentir-me verdadeiramente em casa naquele lugar que um dia chamei de lar?

A rainha fez questão de que eu fosse no mesmo carro que eles para a festa. Enquanto seguíamos pela estrada sinuosa em direção à casa de meu pai, a rainha quebrou o silêncio com uma pergunta gentil:

— Lysandra, estou curiosa para saber como você estava se sentindo, agora que o casamento estava cada vez mais próximo. Ansiosa?

Seu olhar caloroso era reconfortante, mas também me enchia de desconforto, pois eu sabia que a verdade não seria a resposta mais adequada naquele momento. Respirando fundo para ganhar coragem, eu respondi:

— Um pouco, majestade. Era um grande passo, e eu estava ansiosa para ver como tudo ia se desenrolar.

Embora minhas palavras soassem confiantes, por dentro eu me sentia dividida entre a expectativa pelo futuro e a preocupação que se agitava em meu coração.

A rainha assentiu com um sorriso compreensivo, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, a conversa foi interrompida por uma sugestão inesperada:

— Gael, por que você não levou Lysandra para passar um dia em Rosalia? Aposto que ela adorou conhecer a cidade — disse a rainha, sua voz cheia de entusiasmo.

Meu coração deu um salto de surpresa com a sugestão. A ideia de dividir a cidade com Gael me pareceu horrível, especialmente porque Rosalia estava repleta de memórias felizes que compartilhei com Dante. Essas lembranças eram preciosas para mim, e a simples ideia de criá-las novamente, mas desta vez com Gael, me perturbava profundamente. A cidade estava impregnada com a presença de Dante, e o pensamento de explorá-la com outra pessoa, especialmente Gael, era quase doloroso para mim.

Antes que eu pudesse responder, Gael concordou prontamente:

— Seria um prazer.

Eu forjei um sorriso de gratidão, mas por dentro, meu coração ansiava pela presença reconfortante de Dante. Saber que ele estava ausente novamente, viajando para investigar outro caso suspeito envolvendo o clã do fogo, trouxe uma pontada de tristeza que eu lutava para ignorar. Além disso, a preocupação crescia dentro de mim, pois sabia que ele estava mais uma vez diante do perigo.

Ao chegar, meu pai veio nos receber calorosamente, acompanhado por Helena e Thea, ambas vestidas de verde, em um claro símbolo do orgulho da família da terra.

— Olá, querida, que bom vê-la! — meu pai disse, abraçando-me com ternura.

— Oi, pai, estou feliz por estar aqui — respondi, tentando esconder minha inquietação.

Enquanto tentava sorrir e interagir com todos, senti um nó se formar em minha garganta. Ver Helena e Thea trajadas em verde só intensificava minha sensação de estranheza, como se eu não pertencesse mais àquele lugar que um dia chamei de lar. As palavras cruéis de Thea, proferidas após acordar da coma, ressoavam em minha mente, recordando-me da tensão e da amargura que ainda permeavam nossas relações.

"Ela acabou nos ajudando, bem que podia ficar em coma para sempre"

Ainda tentando superar o desconforto causado pela presença de Helena e Thea, fui surpreendida quando Gael se aproximou com um sorriso gentil.

— Lysandra, gostaria de me conceder esta dança? — ele perguntou, estendendo a mão em um convite cordial.

Olhei para ele por um momento, hesitante, mas depois percebi que seria uma boa oportunidade para sair dali e espairecer um pouco. Concordei com um aceno de cabeça, aceitando o convite.

— Claro, alteza. Será um prazer — respondi, forçando um sorriso educado enquanto aceitava sua mão.

Juntos, nos afastamos do grupo, mergulhando na melodia suave que fluía pelo salão, envolvendo-nos como uma suave brisa de tranquilidade em meio ao agito da festa. O brilho cálido das luzes cintilantes refletia-se nos vestidos deslumbrantes das damas e nos impecáveis trajes dos cavalheiros, criando um cenário de pura elegância e sofisticação.

Apesar de tudo, a dança proporcionava um breve alívio, como se cada passo nos transportasse para um mundo à parte, onde as preocupações se dissipavam no ritmo envolvente da música. Por um momento, eu me permiti esquecer temporariamente as tensões que pairavam no ar, entregando-me ao movimento gracioso dos passos de dança e à atmosfera festiva que nos envolvia.

Decidi me afastar um pouco para satisfazer meu apetite crescente, afinal, toda aquela dança estava me deixando faminta. Foi então que Lucius me encontrou, interrompendo brevemente o encanto da festa com sua presença calorosa e amigável.

— Lysandra! Era você mesmo que estava procurando — exclamou, seu sorriso iluminando o ambiente. — Deixe-me apresentar-lhe minha irmã, Lilith. Este é o seu primeiro baile.

Lilith sorriu timidamente, seus olhos brilhando com uma mistura de excitação e nervosismo. Seus olhos claros, como safiras reluzentes, destacavam-se contra seus cabelos ruivos que caíam em cachos suaves sobre seus ombros. Seu vestido cinza, adornado com brilhos sutis, refletia a luz da sala de baile, adicionando um toque de elegância à sua figura delicada.

— É um prazer conhecê-la, Lysandra — disse ela, sua voz suave e melodiosa ecoando no ar festivo ao nosso redor.

Antes que eu pudesse responder, Lucius continuou, com um olhar divertido nos olhos.

— Você não vai acreditar, mas Lilith não para de me perturbar, perguntando onde está Dante. Ela estava convencida de que ele viria hoje — disse, soltando uma risada. — Você sabe se ele vem?

— Dante? — perguntei, tentando entender a razão por trás da curiosidade de Lilith.

Lucius lançou um olhar cúmplice para a irmã antes de voltar sua atenção para mim.

— Agora que Lilith completou 16 anos, ela está convencida de que é a próxima da fila para se casar com um príncipe — explicou, com um tom divertido. — Ela mal pode esperar para encontrar o seu 'príncipe encantado' e viver o conto de fadas que sempre sonhou.

Lilith corou levemente, mas seus olhos brilhavam com esperança e entusiasmo diante das possibilidades que o futuro reservava. Senti uma pontada de ciúmes se espalhar dentro de mim. Dante era meu, e era frustrante não poder expressar abertamente esse sentimento para os outros. No entanto, me esforcei para manter a compostura, não querendo revelar meus verdadeiros sentimentos na frente deles.

Forçando um sorriso, respondi:

— Ele está viajando e talvez não chegue a tempo.

A expressão de Lilith mudou ligeiramente, mas Lucius pareceu entender, pois deu um leve aceno de cabeça.

— Com sorte, ele conseguirá chegar a tempo para uma dança ou duas — sugeriu ele, tentando animar a situação.

A ideia de Dante dançar com Lilith mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Uma onda de ciúmes percorreu meu corpo, e percebi que não queria vê-lo nos braços de outra mulher, especialmente não nos de Lilith. De repente, desejei ainda mais que ele chegasse depois do final do baile, quando eu pudesse tê-lo só para mim, sem ter que compartilhá-lo com ninguém mais.

Pedi licença e decidi ir até o jardim para afastar esses pensamentos tumultuados.

Ao seguir o caminho familiar que percorri com Dante quase um ano atrás, permiti que a serenidade do ambiente envolvesse minha mente. Um sorriso suave brotou em meus lábios ao recordar o momento em que eu e Dante passamos por ali. As memórias inundaram minha mente, especialmente aquela em que ele, com delicadeza, tocou meu rosto e, com ternura, chamou-me de linda.

Decidi ligar para ele, ansiosa por compartilhar com ele o vazio que senti sem sua presença. Puxei meu telefone e disquei seu número, esperando ouvir sua voz tranquilizadora do outro lado da linha. No entanto, após alguns toques, a chamada foi para a caixa postal. Uma pontada de preocupação se misturou ao meu desconforto enquanto desliguei o telefone, me perguntando onde ele poderia estar e por que não estava atendendo.

Olhei para o céu estrelado e um sorriso se formou em meus lábios. Me senti feliz, pensando que finalmente tinha encontrado o amor que tanto desejava, assim como nas histórias que minha mãe costumava contar. Por um momento, me permiti acreditar que tudo está perfeito, que o mundo estava alinhado e que nada poderia perturbar aquela sensação de plenitude.

No entanto, fui abruptamente interrompida pelo som insistente do meu celular tocando. A esperança de que fosse Dante me faz atender rapidamente.

— Alô? — disse, com um toque de ansiedade na voz.

— Lysa, onde você está? — a voz preocupada de Zoe soa do outro lado da linha.

— Estou no jardim. Por quê? — respondi, tentando ocultar a decepção que começa a se infiltrar em meu tom.

— Preciso te contar algo importante. Você poderia vir até seu antigo quarto? — Zoe falou, sua voz carregada de urgência.

Senti um calafrio percorrer minha espinha ao ouvir sua expressão séria. Sem hesitar, concordei, com o coração pesado e sai de lá, deixando para trás o momento de tranquilidade que havia encontrado sob as estrelas.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top