Capítulo 17 - Fique Comigo

Quando finalmente abri os olhos, me vi encarando o teto de um quarto desconhecido. As paredes ao redor estavam decoradas em tons de verde, com delicados toques dourados, criando uma atmosfera de tranquilidade. A confusão começou a se instalar em minha mente, enquanto eu tentava entender o meu entorno.

Gradualmente, minha consciência se ajustou, e comecei a perceber os detalhes ao meu redor. A decoração extravagante e o símbolo da coroa no papel de parede indicavam que eu provavelmente estava em um dos quartos do castelo.

Porém, mesmo com essa pista, muitas perguntas permaneciam sem resposta, aumentando a minha ansiedade. Por que estava no castelo? Quanto tempo estive inconsciente? O que havia acontecido enquanto estive dormindo?

Foi então que ouvi vozes familiares ao meu redor, uma mistura de sarcasmo e ressentimento cortando o ar. No entanto, percebi que as vozes vinham de uma área além da parede que bloqueava parte do lounge do quarto, deixando-me apenas com fragmentos das conversas.

— Ela acabou nos ajudando, bem que podia ficar em coma para sempre — as palavras atingiram-me como um soco no estômago, ecoando dentro de mim como um grito silencioso de angústia. Parecia Thea, filha de Helena, minha futura madrasta.

O que aquilo significava? Por que desejariam algo tão terrível para mim? A confusão e o medo começaram a se misturar dentro de mim, criando uma tempestade emocional que ameaçava me engolir.

Tentei processar o significado por trás daquelas palavras, mas antes que pudesse reunir meus pensamentos, Helena interveio em um tom cauteloso.

— Cuidado com suas palavras, querida. Alguém pode aparecer a qualquer momento, precisamos ser discretas.

As lembranças começaram a surgir em minha mente, flashes de eventos passados que agora faziam sentido. Uma discussão acalorada, palavras cortantes sendo trocadas, seguidas pela sensação de dor e escuridão que me envolvia.

Helena e Thea continuavam sua conversa, alheias à minha agonia silenciosa. Eu queria gritar, implorar por respostas, mas uma mão invisível parecia pressionar minha garganta, deixando-me muda e impotente.

Com um esforço tremendo, consegui mover minha mão até a borda da cama, agarrando-a com força como se isso pudesse me ancorar à realidade. Mas a escuridão continuava a se fechar ao meu redor, envolvendo-me em um abraço gelado e implacável.

Eu estava sozinha, perdida em um labirinto de incertezas, lutando para encontrar uma luz que me guiasse de volta à superfície.

— Senhora Delacroix, ainda por aqui?

A voz de Dante cortou o silêncio do quarto, como um farol de esperança em meio à escuridão que ameaçava me engolir. Seus passos se aproximando ecoavam como um eco reconfortante, dissipando parte da angústia que me dominava.

Helena e Thea pareceram surpresas com a interrupção, seus murmúrios cessando por um momento enquanto digeriam a presença de Dante.

— Caleb estava tão cansado... Consegui convencê-lo a ir para casa descansar e me ofereci para cuidar da senhorita Lysandra. — respondeu Helena, sua voz soando tensa e cautelosa.

Senti um lampejo de alívio percorrer meu corpo ao ouvir a voz de Dante. A sensação de não estar mais sozinha trouxe uma nova determinação, uma chama de esperança que queimava dentro de mim.

Com um esforço tremendo, lutei contra a escuridão que me envolvia, reunindo todas as minhas forças para me aproximar da superfície da consciência. Cada respiração era um desafio, cada movimento uma batalha contra a fraqueza que ameaçava me derrubar a qualquer momento.

— Dante... — minha voz saiu como um sussurro fraco, mal audível até para meus próprios ouvidos. Mas ele pareceu ouvir, porque sua presença ao meu lado se intensificou, como se ele estivesse se aproximando para me oferecer conforto.

— Por que não aproveitam que estou aqui e vão dar uma volta pelos nossos jardins? — ouvi Dante sugerir.

— Mas... alteza não seria apropriado... — hesitou Thea.

— Está tudo bem, pense que é um favor ao meu irmão. — Dante insistiu, sua voz firme e determinada.

Enquanto os passos de Helena e Thea se afastavam, senti uma mão gentil apertando a minha.

Com um esforço tremendo, forcei meus olhos a se abrirem, encontrando os de Dante mergulhados em lágrimas. Sua expressão era uma mistura de alívio e preocupação, refletindo todo o tumulto emocional que havia vivenciado nos últimos tempos.

— Mi amore... — sussurrou Dante, sua voz suave e reconfortante como uma brisa suave acariciando meu rosto.

Tentei falar, mas minha voz saiu fraca e rouca, mal audível até para mim mesma. Percebi que não precisava dizer nada, pois os olhos de Dante pareciam compreender o que eu queria expressar.

Foi então que as lembranças da briga inundaram minha mente, como flashes de um pesadelo vivido. A sensação de impotência, o medo avassalador de perder Dante para sempre... A simples lembrança era o suficiente para fazer meu coração se apertar de angústia.

Mas ao mesmo tempo, uma sensação de calor se espalhou por meu peito ao perceber que Dante estava ali, ao meu lado, seguro e são. Era como se um fardo tivesse sido retirado de meus ombros, substituído pela certeza reconfortante de que ele estava bem.

Com um sorriso fraco, deixei-me afundar na serenidade do momento, permitindo que o conforto da presença de Dante me envolvesse como um abraço reconfortante. Não precisávamos de palavras para entender o que significávamos um para o outro. Nossos olhos falavam por nós, transmitindo todo o amor e gratidão que sentíamos em silêncio.

— Como você está se sentindo? — sua voz era suave e gentil, carregada de uma preocupação genuína que fez meu coração se aquecer.

Tentei dar um sorriso reconfortante, mesmo que minhas forças estivessem frágeis.

Ele segurou minha mão com delicadeza, seus olhos cheios de alívio e uma ponta de apreensão.

— Você me deu um baita susto, achei que ia te perder... — sua voz estava embargada, revelando a profundidade de sua aflição durante o período em que estive inconsciente.

Ele inclinou-se suavemente sobre mim e seus lábios encontraram os meus em um beijo repleto de emoção e alívio. Senti suas lágrimas misturando-se às minhas, uma demonstração silenciosa do turbilhão de sentimentos que compartilhávamos naquele momento.

Ele se afastou do beijo e olhou para mim com os olhos cheios de gratidão e preocupação.

— Você me salvou! — Ele segurou meu rosto entre as mãos, seus polegares enxugando as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto. — Mas olha como você ficou. Foram três meses, Lysa. Três meses em que eu mal consegui suportar a ideia de perdê-la. Você está proibida de fazer isso novamente, ouviu?

Sua voz estava firme, mas havia uma ternura subjacente que aqueceu meu coração. Eu sabia que ele estava preocupado, que cada segundo que passamos separados foi uma tortura para ele também. Assenti com a cabeça, mesmo sabendo que o salvaria novamente se fosse necessário.

Três meses. Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Como eu poderia ter perdido tanto tempo? O que aconteceu enquanto eu estava adormecida? E como eu tinha causado isso a mim mesma?

Foi então que uma lembrança há muito esquecida surgiu em minha mente, como uma luzinha fraca no fundo de um túnel escuro. Lembrei-me de uma vez quando era criança, minha mãe havia se queimado enquanto cozinhava. Ela havia gemido de dor, segurando sua mão ferida, e num ímpeto de desespero, eu beijei o local.

Naquele momento, a dor dela desapareceu como por magia, e sua pele curou-se diante dos meus olhos. Ela ficou chocada e, ao mesmo tempo, preocupada, me olhando com olhos cheios de perguntas não ditas. Ela me disse para nunca contar a ninguém sobre o que eu era capaz de fazer, para manter esse segredo guardado a sete chaves.

Aquelas palavras ecoaram em minha mente como um sussurro fantasmagórico. Eu nunca entendi completamente o que havia acontecido naquele dia, como eu poderia ter curado minha mãe apenas com um beijo. E agora, diante da minha própria experiência de cura milagrosa, as peças começaram a se encaixar lentamente em um quebra-cabeça complicado.

A conexão com a terra, o fluxo de energia que corria através de mim... Seria possível que eu tivesse herdado algum tipo de dom da minha mãe? Um dom que me permitia canalizar a energia da terra para curar os outros e a mim mesma? Mas isso não deveria ser possível.

Eu sabia que precisava descobrir mais sobre esse dom, sobre as origens e os limites do meu poder. Mas, ao mesmo tempo, uma sensação de medo e incerteza se instalou em meu coração. Eu não podia ignorar as palavras sussurradas pela minha mãe tantos anos atrás, o aviso para manter meu dom oculto do mundo exterior.

Enquanto eu lutava com esses pensamentos tumultuados, Dante permaneceu ao meu lado, segurando minha mão com firmeza. Sua presença era reconfortante, uma âncora em meio à tempestade de emoções que ameaçava me consumir. Eu sabia que tinha muito a descobrir sobre mim mesma, sobre meu passado e meu destino. Mas, por enquanto, eu só precisava me concentrar em me curar, tanto fisicamente quanto emocionalmente, e em corrigir as coisas para não casar com Gael.

No entanto, uma exaustão repentina se abateu sobre mim, como uma onda que ameaçava me afogar. Meus olhos pesaram, minha respiração se tornou mais lenta e minha mente começou a vagar para longe. Eu não tinha mais forças para lutar contra o sono que se aproximava implacavelmente.

Sussurrei para Dante, minha voz quase inaudível:

— Fique comigo...

Com um suspiro de resignação, entreguei-me ao abraço acolhedor do sono, confiando que Dante estaria ali quando eu acordasse.

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