Capítulo 13 - Doença Misteriosa

— Lysa! - ouvi uma voz distante e tentei abrir meus olhos, mas meu corpo não obedeceu.

Uma onda de calor envolveu meu corpo, como se estivesse imersa em um mar de chamas. Cada movimento parecia desencadear uma resposta ardente, enquanto uma vertigem me fazia flutuar entre a consciência e a névoa febril. O som da voz distante se misturava a um zumbido incessante, e minhas tentativas de abrir os olhos eram frustradas pela pesada cortina de exaustão que se abatia sobre mim. Era como se estivesse presa em um estado de sonolência febril, onde as fronteiras entre o real e o onírico se entrelaçavam em uma dança confusa.

Os olhos se entreabriram após um esforço hercúleo, e deparei-me com a figura reconfortante de meu pai. Sua expressão, uma mescla de preocupação e alívio, flutuava à minha frente como uma miragem. O ambiente ao redor parecia distorcido, uma névoa febril que embaçava as linhas nítidas da realidade. A voz dele, suave e carregada de cuidado, ecoava como uma melodia distante, tentando penetrar a barreira nebulosa que envolvia meus sentidos febris.

— Filha — ouvi ele dizer quando percebeu que eu estava acordada.

Senti sua mão apertando a minha.

— O que... — balbuciei com esforço.

— Você está com febre; preciso que tente me explicar o que fez ontem para identificarmos a causa do problema.

As palavras de meu pai pareciam distantes, como se atravessassem um túnel longo antes de alcançar meus ouvidos. Tentei reunir os fragmentos nebulosos da memória, mas a febre dançava como sombras fugazes em minha mente. Uma dor latejante ecoava em meu corpo, e a tentativa de articular uma resposta era como remar contra uma correnteza incessante.

— Dante... — sussurrei.

Meu pai franzia a testa, buscando compreender as palavras entrecortadas que escapavam de meus lábios. O calor febril persistia, transformando cada pensamento em um emaranhado nebuloso.

— Tente descansar. Vamos cuidar de você. — A voz dele, embora emaranhada na neblina da febre, continha um tom reconfortante.

Afundei de volta na névoa febril, as palavras perdendo-se no tumulto onírico que envolvia minha consciência febril.

O dia se desenrolou em um emaranhado de febre e delírios. Minha mente navegava entre sonhos e fragmentos da realidade, como se estivesse aprisionada em um labirinto de pensamentos nebulosos. A voz distante de Dante ecoava como um farol através da névoa febril, guiando-me de volta à consciência.

Aos poucos, a cortina opaca da febre começou a se dissipar. Ao abrir os olhos, a claridade do quarto não era mais uma ofuscação insuportável. O calor intenso que envolvera meu corpo cedeu lugar a uma sensação reconfortante. Respirei fundo, absorvendo a percepção de que a febre finalmente retrocedia.

Meu pai, ao notar minha melhora, deixou escapar um suspiro de alívio. Seus olhos, antes carregados de preocupação, agora emanavam um brilho reconfortante.

— Como se sente, Lysa? — indagou ele, sentando-se ao meu lado.

— Melhor — consegui dizer, experimentando uma mistura de cansaço e alívio.

Ao observar o quarto ao meu redor, notei Dante dormindo em uma poltrona no canto do quarto.

— Dante está aqui desde que a febre começou a se intensificar. Ele recusou-se a sair do seu lado, preocupado com o seu bem-estar — explicou meu pai, sorrindo em direção ao adormecido Dante.

Meu coração acelerou com suas palavras, era reconfortante saber que, mesmo nos momentos mais difíceis, Dante permanecera ao meu lado. Seu gesto silencioso de cuidado e preocupação aqueceu meu coração.

— Ele tem estado incansável em cuidar de você. Às vezes, pensei que não fosse sair daqui — continuou meu pai, com um olhar que misturava admiração e aprovação.

Enquanto processava essas informações, Dante começou a despertar, percebendo que a conversa se desenrolava ao seu redor. Seus olhos encontraram os meus, e um sorriso suave curvou seus lábios.

— Como se sente? — perguntou ele, aproximando-se da cama.

— Melhor, obrigada a vocês dois por estarem aqui comigo — respondi, deixando transparecer minha gratidão.

Dante se sentou na beirada da cama, segurando minha mão com ternura. A proximidade dele trouxe uma sensação reconfortante, uma conexão que transcendia as palavras. Meu pai, respeitando o momento, levantou-se e deixou-nos a sós.

— Você me assustou, sabia? — confessou Dante, com os olhos repletos de preocupação.

— Desculpe por isso, eu não sei o que aconteceu — murmurei, buscando em seus olhos a compreensão que precisava.

Dante acariciou minha mão suavemente.

— O importante é que está se recuperando, você me deu um susto.

Sorri, sentindo-me feliz pela sua presença reconfortante ao meu lado. Contudo, à medida que absorvia essa sensação de apoio, começava a perceber que, se Dante estava presente, meu pai já deveria estar ciente de que passamos o dia juntos em Rosália. Várias perguntas começaram a surgir em minha mente. Será que Dante teria compartilhado todos os detalhes sobre nosso dia?

Imersa nesses pensamentos confusos, não tive a chance de lhe perguntar antes de meu pai retornar ao quarto segurando uma tigela de sopa.

— O médico recomendou esta sopa, que Zoe fez questão de preparar. Pedi a ele que venha amanhã cedo para verificar se você está totalmente recuperada. — falou meu pai, oferecendo-me a sopa. — Como se sente agora?

— Melhor, pai. Obrigada por cuidar de mim. — Aceitei a tigela com gratidão, sentindo a mistura de calor e nutrientes acalmar meu corpo.

Ele sorriu gentilmente.

— Você é minha filha, Lysa. Estarei sempre aqui para você, não importa as circunstâncias.

Dante permaneceu ao meu lado, observando com uma expressão serena. Enquanto saboreava a sopa, aproveitei para abordar as dúvidas que rondavam minha mente. Diante da confusão que envolvia minhas últimas memórias, decidi abordar meu pai com cautela para obter esclarecimentos sem revelar coisas demais.

— Pai, estou tentando entender o que aconteceu. Eu estava bem ontem antes de dormir. O médico descobriu o que está errado comigo?

Ele suspirou, escolhendo as palavras com cuidado antes de responder.

— Pelo que Dante me contou, você usou bastante magia da dádiva, certo? Achamos que esse seria o motivo, mas o médico acredita que não seja isso. Nunca antes existiu alguém que o corpo rejeitou o poder da dádiva. Além disso, ele disse que seus sintomas estão mais próximos de um envenenamento do que de esgotamento de energia, o que tornou as coisas mais estranhas. Estamos numa rua sem saídas no momento; ele teve que levar seu sangue para fazer uns testes. Estamos aguardando os resultados para entender melhor o que está acontecendo.

— Envenenamento? Mas como isso seria possível? — perguntei, perplexa.

Meu pai suspirou mais uma vez, revelando a preocupação em seus olhos.

— É uma pergunta que todos estamos tentando responder. Pode ter sido algo que você comeu ou bebeu, mas nada até agora se encaixa completamente. Estamos analisando todas as possibilidades.

Deixei a informação se infiltrar, tentando compreender a gravidade da situação. Enquanto isso, Dante permaneceu em silêncio ao meu lado, seu olhar sério indicando a seriedade da situação.

— Eu deveria ter tomado mais cuidado em Rosalia, achei que estávamos seguros e você acabou se ferindo por minha causa — Dante murmurou, nervoso, quebrando o silencio.

Senti a tensão em sua voz e coloquei minha mão sobre a dele, buscando confortá-lo.

— Dante, não fale isso. Nada disso foi sua culpa.

— Estas coisas acontecem, e não há como prever todos os desafios que enfrentaremos. A prioridade agora é encontrar a causa real e garantir a recuperação de Lysa. Vamos concentrar nossos esforços nisso. — falou meu pai.

Dante assentiu, parecendo aliviar um pouco da carga que carregava.

— Você está certa, Lysa. Vamos superar isso juntos. Eu só... — ele hesitou por um momento, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. — Eu me importo muito com você.

Seus olhos fixaram-se nos meus, as palavras pairando no ar como uma declaração sutil. A atmosfera tornou-se momentaneamente mais carregada, mas Dante não se aprofundou na expressão de sentimentos, e meu pai, respeitando a sutileza do momento, permaneceu em silêncio.

— Dante, obrigada por estar ao meu lado — murmurei, tocando suavemente a mão dele.

Ele sorriu gentilmente, um gesto que continha tanto alívio quanto preocupação.

— Sempre, Lysa. Vamos superar isso juntos.

Meu pai interrompeu o breve momento de emoção com um sorriso compreensivo.

— Bem, agora que tudo está esclarecido, o melhor é que você descanse e permita que o corpo se recupere. Dante, vou te acompanhar até a porta. Não quero que você se preocupe em voltar para casa sozinho.

Concordei com um aceno de cabeça, agradecendo a ambos por estarem ao meu lado. Dante lançou-me um olhar reconfortante antes de seguir meu pai para fora do quarto. Enquanto me acomodava na cama, minha mente era inundada por pensamentos sobre meus sentimentos. Por que o acordo tinha que ser com o irmão errado? Queria tanto minha felicidade, e Dante a cada dia que passa me mostra como seria incrível viver ao seu lado.

Após alguns minutos, meu pai retornou ao meu quarto, e a atmosfera carregava uma seriedade quase palpável. Ele sentou-se ao meu lado, olhando-me atentamente.

— Lysa, há algo que gostaria de discutir. Preciso saber como você conseguiu salvar o campo de Ninfeias, pode descrever para mim?

Comecei a descrever a experiência em Rosália, detalhando como senti a conexão com a terra e canalizei a magia para curar as flores. Enquanto ela compartilhava sua jornada mágica, notou uma mudança na expressão de seu pai. Seus olhos, inicialmente focados na narrativa, agora revelavam uma mistura de surpresa e inquietação.

— E então, quando concentrei minha energia na terra, percebi uma presença obscura no centro do campo, exalando uma fumaça negra ao seu redor. Eu sentia as emoções da terra, sua agonia silenciosa diante da intrusão tóxica. — expliquei, buscando nos olhos de seu pai uma compreensão que, estranhamente, não encontrava.

O silêncio se instalou na sala, e a atmosfera carregou-se de tensão. Seu pai, por sua vez, parecia lutar internamente com algo que não desejava revelar.

— Pai, o que está acontecendo? Há algo que não está me contando? — perguntei, preocupada.

Ele hesitou por um momento, antes de suspirar profundamente.

— Existe algo que ainda não considero adequado para compartilhar no momento. Fiz uma promessa à sua mãe de contar quando você estivesse mais velha, e não posso quebrar. Só quero que você saiba que o que aconteceu não pode ser divulgado. Não deixe ninguém saber sobre isso, filha. Prometa para mim.

Senti um nó se formar em seu estômago enquanto observava a expressão séria e preocupada de seu pai. Aquelas palavras carregavam um peso significativo, e a curiosidade misturava-se com uma inquietação crescente.

— Pai, eu... prometo. Mas por que tanta cautela? O que há sobre essa magia e essa presença em Rosália que precisa ser mantido em segredo?

— Eu prometo que vou te contar um dia.

Ele se virou para sair, mas pareceu pensar algo, me olhando com uma expressão seria.

— Dante parece estar se aproximando de você de uma maneira que vai além da amizade. Você sente o mesmo?

Refleti sobre a pergunta, tentando entender os sentimentos que surgiam a cada dia ao lado de Dante.

— Talvez — resolvi dizer, meu pai já deveria desconfiar mas não afirmaria nada sabendo que ele não deve concordar com isso.

Ele assentiu compreensivamente, respeitando minha hesitação.

— Amor é uma coisa complexa, Lysa. Pode levar tempo para entendermos nossos próprios sentimentos.

A conversa se desdobrava em um terreno emocional delicado, e eu agradecia pela paciência e compreensão de meu pai. No entanto, antes que eu pudesse processar completamente esse aspecto da conversa, ele abordou outro assunto.

— A festa de noivado com Gael está marcada para amanhã à noite. Você precisa estar preparada para assumir seus compromissos como noiva, independentemente dos acontecimentos recentes.

A notícia golpeou-me como uma onda fria. A festa de noivado era uma realidade iminente, e eu me encontrava dividida entre o dever e as incertezas que permeavam meu coração.

— Pai, não sei se consigo lidar com isso agora. Tanta coisa aconteceu, e minha mente está confusa.

Ele suspirou, mostrando um olhar de compaixão.

— Compreendo, Lysa, mas esta união com Gael é crucial para a estabilidade de Drako. Eu não pediria isso se não fosse necessário. Você terá tempo para considerar seus sentimentos, mas por agora, cumpra com suas responsabilidades.

Com essas palavras, meu pai deixou-me a sós com meus pensamentos tumultuados. A proximidade da festa de noivado acrescentava um peso adicional às já complexas circunstâncias que envolviam meu coração e meu destino.

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