Capítulo 10 - Você confia em mim?

Ao sair do palco, senti um misto de alívio e inquietação. Aquelas palavras ensaiadas ecoavam em minha mente, enquanto a verdade que buscava parecia cada vez mais elusiva. O sorriso permaneceu no rosto, mas a dúvida se instalou no fundo do meu ser.

Gael, ao meu lado, parecia perceber a turbulência em meus pensamentos.

— Você esteve incrível lá, Lysandra. O público adora você.

Agradeci, mas por trás do meu sorriso, a inquietação persistia. Enquanto nos afastávamos do palco, a movimentação nos bastidores criava um zumbido constante. Nosso próximo compromisso já estava agendado, mas uma necessidade urgente de esclarecimento tomava conta de mim.

Encontramos um local mais tranquilo, afastado dos olhares curiosos. Eu estava determinada a abordar a questão que me assombrava.

— Alteza, precisamos conversar sobre algo importante.

Ele assentiu, percebendo a seriedade em meu olhar.

— O que está acontecendo?

Respirei fundo antes de começar, escolhendo minhas palavras com cuidado.

— Eu preciso saber a verdade. Meu pai tomou a decisão de se casar de repente, e agora estou me questionando se isso pode ser uma reação a alguma notícia desagradável que estão tentando propagar na mídia.

Gael franziu a testa, claramente surpreso com a direção da minha pergunta.

— O que você quer dizer?

— A mídia está sempre atrás de notícias sensacionais, e meu pai mencionou abafar a investigação sobre o marido de Helena durante nossa entrevista. Mas eu sinto que há algo mais, algo que não estou vendo. Após a morte de minha mãe, fomos alvo de uma série de notícias negativas sobre o meu futuro. Éramos constantemente questionados sobre a minha capacidade de liderança e sobre se serei capaz de manter viva a magia da linhagem familiar sem a orientação de uma figura materna ao meu lado.

Ele ponderou minhas palavras por um momento antes de responder.

— Lysandra, entendo suas preocupações, mas, às vezes, na corte, decisões são tomadas para manter a estabilidade e evitar tumultos. Seu pai pode estar protegendo a imagem da família real.

Eu o interrompi, não satisfeita com uma resposta vaga.

— Isso não é suficiente, Gael. Preciso da verdade, não de respostas políticas ensaiadas.

Ele olhou nos meus olhos, reconhecendo a seriedade da situação.

— Eu juro que não estou escondendo nada de você. Acredito que seu pai está agindo com as melhores intenções, mesmo que as circunstâncias sejam complexas.

A frustração se misturava com a determinação em meu peito. Eu não aceitaria respostas evasivas. Havia algo mais profundo acontecendo, e eu estava determinada a descobrir.

— Preciso que me prometa. Se descobrir qualquer informação, qualquer coisa que não esteja sendo revelada, você me contará, certo?

Ele segurou minhas mãos com seriedade.

— Eu prometo. Se houver algo que você precise saber, eu serei honesto contigo.

Agradeci com um aceno de cabeça, mas o peso da incerteza ainda pairava sobre mim. Eu estava decidida a desvendar os segredos que cercavam meu pai, mesmo que isso significasse enfrentar verdades desconfortáveis.

Enquanto nos preparávamos para o próximo compromisso, o caminho à frente parecia mais complexo do que nunca. A corte real, com seus jogos de poder e intrigas, revelava-se como um labirinto onde as aparências muitas vezes obscureciam a verdade.

Ao longo do dia, a rotina tumultuada continuou, e eu me esforcei para manter uma imagem de serenidade diante das câmeras. No entanto, por trás da fachada cuidadosamente construída, as dúvidas persistiam, sussurrando no fundo da minha mente.

À medida que a noite caía e os compromissos do dia chegavam ao fim, encontrei um momento de solidão para refletir. A sensação de ser guiada por forças externas, sem controle sobre meu próprio destino, crescia como uma sombra constante. Mesmo no silêncio do meu quarto, a pressão do mundo exterior parecia ecoar em meus pensamentos.

Ao me aproximar da varanda, fixei meu olhar nas estrelas, questionando a possibilidade de escapar das amarras das expectativas que envolviam minha vida. O anseio por trilhar minha própria narrativa, guiada pelas batidas do meu coração em vez de obedecer a convenções impostas, ecoava como um clamor interno que se intensificava a cada instante.

Meu celular vibrou suavemente, rompendo meus pensamentos. Era uma mensagem de Dante.

"Podemos passar o dia juntos amanhã?"

As palavras dele despertaram uma mistura de curiosidade e apreensão.
Estava prestes a responder quando batidas na porta me puxaram de meus pensamentos.

— Entre!

Zoe pediu licença e entrou no quarto com uma xícara de chá.

— Vi a luz acessa e achei que poderia precisar de algo para acalmar os pensamentos. — Sugeriu, estendendo a xícara com um sorriso gentil.

— Obrigada, Zoe. Você sempre sabe como cuidar de mim — agradeci, aceitando a xícara. Dei um gole e já senti o poder do chá se espalhar por meu corpo.

Por ser de uma mistura da família da terra com água, Zoe desenvolveu o dom de manipular ervas e chás, tornando-se uma especialista em proporcionar alívio e conforto.

— Às vezes, um momento de calma e reflexão é tudo o que precisamos.

Assenti, apreciando sua compreensão silenciosa.

— Você... — Comecei, mas parei indecisa. — Seja sincera, por favor. Acha que sou egotista por pensar no amor em vez do melhor para o povo de Drako?

Zoe sorriu gentilmente.

— Eu penso que todos possuem o direito de amar aquele que desejar. A busca pelo amor e a preocupação com o bem do povo não são mutuamente exclusivas. Acredito que seguir o que o coração deseja pode acabar trazer a melhor solução para todos.

Seus olhos refletiam uma mistura de compaixão e sabedoria, oferecendo um apoio silencioso às minhas dúvidas.

— O amor, quando verdadeiro, tem o poder de inspirar mudanças positivas, inclusive no destino de reinos inteiros. Você não é egoísta por ansiar por esse amor, Lysandra. Apenas lembre-se de que as decisões do coração devem ser feitas com consciência e responsabilidade.

Em um momento de silêncio, me vi contemplando não apenas meu próprio destino, mas também o legado que carregava como filha da família original.

— Obrigada. - Agradeci sinceramente, sentindo-me grata pela presença reconfortante da minha leal amiga e conselheira.

Zoe sorriu e se virou para sair do quarto, quando lembrei da mensagem de Dante.

— Zoe — chamei. — Cancele meus compromissos de amanhã, irei passar o dia longe. Se alguém perguntar, pode dizer que fui ao Templo.

Zoe assentiu compreensiva.

— Entendido. Vou garantir que tudo seja organizado para preservar sua imagem.

Enquanto Zoe se retirava do quarto, observei as estrelas refletindo sobre o impacto das minhas decisões ao futuro de Drako. O chá de Zoe havia trazido não apenas conforto físico, mas também uma clareza momentânea em meio à complexidade de minhas escolhas.

Peguei meu celular e liguei para Dante, que atendeu imediatamente.

— Olá — falei, sentindo uma pontada de nervosismo.

— Lysa, aconteceu algo? — a preocupação era palpável na voz de Dante.

— Não, eu só quis ouvir sua voz antes de nos encontrarmos amanhã — Expliquei, buscando conforto nas palavras.

Dante respondeu com entusiasmo perceptível.

— Posso considerar isso como um sim? Será especial, prometo.

— Sim, só temos que ter cuidado com os lugares... — minha voz hesitou, refletindo as preocupações que pairavam em minha mente.

— Você confia em mim? — Dante perguntou, sua expressão transmitindo sinceridade.

— Sim — respondi, sentindo uma mistura de ansiedade e confiança.

— Mando um carro para te buscar às 9h.

Ao encerrar a ligação, uma mistura de emoções e expectativas preenchia meu coração. O encontro com Dante parecia ser um raio de luz em meio às sombras da complexa trama que envolvia minha vida na corte de Drako.

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