"I'm beautiful in my way
'Cause God makes no mistakes
I'm on the right track, baby
I was born this way"

Lady Gaga, eu te amo, mas quando você toca às cinco da manhã, só consigo pensar em te afogar na privada, quer dizer, em jogar o celular que toca sua música na privada. Estico meu corpo e observo ao redor; o quarto está exatamente como o deixei antes de dormir. Sento na cama e passo os olhos pelas mensagens, nada muito interessante, várias mensagens para responder e zero interesse em manter uma conversa. Não posso reclamar de estar sozinha, não dou o braço a torcer.

Caminho pelo quarto, vou até o banheiro, faço minhas necessidades e sigo para a cozinha, onde sirvo um café já frio. Tenho exatos trinta minutos para me arrumar, pegar o ônibus e ir trabalhar. Basta pensar no trabalho para minhas articulações doerem, devo ser alérgica.

Alvin, meu gato, está ronronando no sofá, então me aproximo dele:

— Oi, bebê, como você está?

Ele não quer muito colo, Alvin nunca gostou muito. É um gato preto adorável, porém totalmente antissocial. Volto para o quarto e visto meu uniforme - uma calça jeans escura, uma camisa cinza e tênis de corrida. Amarro meus cabelos ruivos e passo um gloss para dar um ar de saúde, pareço bem.

Olho no celular e vejo que faltam apenas dois minutos para o ônibus; ótimo, né? Se eu me atrasar, terei que pagar trinta pilas de mototáxi, e eu odeio todos aqueles velhos tarados. Pego minha mochila rapidamente e saio correndo em direção ao ponto, onde já avisto o ônibus se aproximando.

Não precisaria passar por essa humilhação se fosse uma herdeira, uma tremenda nepobaby, a nata do capitalismo. Sinceramente, ser pobre é uma droga, trabalhar é uma droga e não podemos romantizar isso. Trabalhar só é bom quando você está no topo da pirâmide; se você está na base da base, vai trabalhar como um condenado e continuará sem nada.

Pode parecer rude, mas vivemos em um país capitalista; acha mesmo que vai ficar rico fazendo faculdade, onde sempre terá um filho de papai melhor que você?

Sabe o que tem para pessoas como nós? Trabalho árduo para não morrer de fome, e falando nisso, lá está a fábrica.

Trabalho em uma tecelagem, dobrando tecidos o dia todo, ganhando um salário mínimo e desperdiçando meu tempo e saúde em troca de dinheiro. Vocês vão ver, ainda encontrarei meu velho da lancha e serei uma esposa troféu.

Eu nasci pra ser uma mulher que só usa roupas marcas, toma vinho caro com as amigas ricas enquanto falamos sobre a última viagem para Dubai.

Viver essa vidinha que tenho, não tem cabimento.

Mulheres ambiciosas são fogo! Laura tem ambições grandes demais, vejamos se ela vai conseguir realizar seus desejos.

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Vitória Parreiras