Inacreditável

Assim me sinto ao reler a mensagem deixada pelo meu namorado, ou melhor, ex-namorado em meu WhatsApp.

"Susie, vamos ser realistas, não está dando certo mais. Queremos coisas diferentes e estive pensando muito. Vamos acabar por aqui."

Cachorro safado, como ele ousa? Que diferenças são essas? A única divergência entre nós é que sou louca por k-pop, enquanto ele prefere sertanejo. Seis meses de namoro jogados no lixo.

Jogo o celular na cama e observo o teto com suas manchas de mofo. Após a última chuva, as manchas pioraram. Inclusive, mencionei à minha mãe sobre a necessidade de colocar um telhado em casa, mas ela está mais ocupada gastando com seu namorado do que com a manutenção da residência. Eu até consideraria usar do meu dinheiro pra trocar se não tivesse sido dispensada do supermercado onde trabalhava. Sério, estava prestes a completar um ano e fui demitida "por cortes de funcionários". Me ferrou todinha.

A campainha toca, me fazendo levantar abruptamente e correr para abrir o portão. Lá está minha amiga Natacha, com suas roupas multicoloridas, diante da minha porta. Sem trocar palavras, apenas a abraço apertado, ansiando por esquecer minha demissão e o término do relacionamento.

— Susie, vamos para dentro, precisamos conversar.

Concordo e entramos. Minha casa é simples, com quintal, sala, meu quarto, banheiro, cozinha e o quarto da minha mãe. Graças a Deus, minha mãe só engravidou uma vez, pois, vamos ser sinceros, nem toda mulher nasceu para ser mãe.

Falando nela, não está em casa. Hoje é dia de visitas no presídio, então lá se foi ela visitar aquele homem feio com quem está envolvida. Não me importo que ela tenha um relacionamento, afinal, já se passaram mais de dez anos desde a morte do meu pai, e ela ainda é jovem, nem chegou aos cinquenta. Mas por que justamente um presidiário?

Natacha e eu nos dirigimos para meu quarto, tão pequeno que mal nos acomoda. Sentamos na cama e mostro a ela as mensagens enviadas pelo meu ex. Nat balança a cabeça e comenta:

— Eu te avisei que não ia dar certo.

— Você diz isso para todos os caras com quem saio. — Retruco.

— Mas amiga, esse é seu problema! Você se apega a todos que beija.

— Isso não é verdade!

— Como não? Beijou Vitor em uma festa e jurou estar apaixonada, não durou nem dois meses. Logo em seguida, começou a sair com Tales e agora "namorou" esse Thiago que conheceu em uma festa. Amiga, não precisa se desesperar tanto por um namorado, você pode sentar sem se comprometer.

Contenho o riso e reflito. Só decepção atrás de decepção. Preciso parar de frequentar as festas que Natacha organiza. Só encontro homens que parecem ter saído do lixão.

— Eu preciso de alguém que me interesse de verdade sabe? Faça meu tipo. — Encaro-a e ela retribui com desdém.

— Que tipo, Susie? Você tem algum padrão?

Olho ao redor e avisto o pôster imenso de Bang Chan colado atrás da porta. Não hesito em apontar para o coreano que rouba meus suspiros no silêncio da noite, afinal, sonhar não custa nada.

— Homens reais, Susie! Você nem consegue se dar bem com os caras disponíveis, imagine com um coreano que não deve valer nem a água que bebe.

— Para sua informação, ele é australiano! — Retruco, e ela dá de ombros.

Natacha fica comigo até tarde da noite. Decidimos fazer as unhas, cuidar da pele e falar mal dos homens e sobre sexo, afinal, mulheres solteiras também querem se divertir.

Quando Nat vai embora, Observo atentamente o pôster mais uma vez. É noite de quarta-feira e já estão organizando uma festinha para o final de semana. Penso no que seria perfeito para esquecer o Thiago: outra boca para beijar. Olho a foto do idol  e murmuro:

— Já que você ainda não está disponível, vou me contentar com o que tenho aqui.

Antes que eu possa começar a fantasiar qualquer cena com meu utted, ouço o barulho da porta batendo e sei que é minha mãe. Contra a minha vontade, vou em direção a ela, pois sei que provavelmente está bêbada e sabe-se lá como chegou em casa.

Sabe aquela amiga que beija um e se apaixona? Pois é, todos temos uma Susie em nossas vidas 😹