1.6 / Borboleta Azul

São Paulo
Novembro, 2017


"Uma fotografia é um instante de vida capturado"


Não lembro exatamente qual idade eu tinha no momento em que a minha paixão pela fotografia teve início. Tudo o que lembro é de como ela surgiu, eu ainda era criança quando ganhei uma câmera de presente de aniversário da minha madrinha Sheila. A partir daí, segundo os meus pais, eu fiquei com a mania de fotografar tudo o que eu via pela frente. Minha mãe contou que pensou seriamente em esconder ou devolver o meu presente, mas aí ela pensou que iria precisar contar uma boa mentira para eu saber sobre o paradeiro do objeto, e também ela teria que me recompensar com outra coisa.

A primeira foto que eu tirei foi de uma borboleta azul pousada no cabelo da Ingrid. Estávamos brincando em um gramado, lembro que ela estava tomando um sorvete de morango, quando do nada surgiu uma borboleta azul e pousou em seus cabelos. Eu contei a ela o que aconteceu enquanto tentava entender como aquela coisa funcionava, no exato momento em que eu aprendi, ela esboçou uma reação super espontânea de surpresa e alegria. A foto não ficou perfeita, mas foi nesse momento que eu percebi que através de uma câmera eu poderia parar o tempo, pois a fotografia permite que eu congele os meus momentos favoritos apenas com um click.

Ao lembrar dessa época, tenho a sensação de déjá vu, pois Ingrid e eu estamos na praça do meu bairro, viemos trazer a Íris para brincar. Minha afilhada está brincando de bola com uma garotinha que tem a mesma idade dela. Essa garotinha veio com o seu pai, porém ele precisou ir a algum lugar e pediu para que a gente cuidasse dela. Há uma barraca de sorvete há alguns metros do banco onde estou sentado, algumas crianças maiores passam correndo para chegar lá, quase derrubando a Íris e sua amiga no chão. Ingrid fica brava pela falta de atenção dessas crianças, mas não diz nada para elas.

— Calma, são só crianças. Não fizeram de propósito. — aviso.

— Eu sei que não foi. Só fiquei preocupada, pois elas poderiam cair e se machucarem. — ela fica quieta por alguns instantes, observando a filha brincar com a bola -Eu pensei sobre o que você falou, a respeito de eu começar a faculdade no ano que vem.

Alguns dias atrás eu falei que ela poderia entrar na faculdade no próximo ano. Ingrid quer cursar administração, para gerenciar o negócio da família, que é uma junção de lanchonete, cafeteria e sorveteria. Entretanto, ela ainda está receosa de colocar a Íris em uma creche e também não quer sobrecarregar seus pais, com mais essa responsabilidade. Eu ainda acho que ela deveria ao menos tentar, se der tudo certo ela pode continuar com o curso, caso ela não conseguir conciliar tudo, ela pode trancar a matrícula. Eu também acredito que seus pais não iriam se incomodar de ter que cuidar da neta uma vez ou outra.

— E o que você decidiu? — as crianças voltam andando devagar para o sorvete não cair e ela olha atentamente para checar se essas crianças vão enxergar a pequena Íris.

— Eu vou deixar para outro ano. A Íris ainda está muito pequena, não vou conseguir deixar ela aos cuidados de uma creche. E por causa da faculdade e o meu trabalho não vamos passar muito tempo juntas, não quero ser uma mãe negligente e egoísta.

— Por que egoísta?

— Felipe, não é justo eu estar fazendo o que eu quero enquanto a minha filha não passa tempo o suficiente com a mãe. Ela não tem pai e eu não quero ser insuficiente, ela não merece isso. E eu tenho medo da minha rotina ser tão corrida a ponto de eu não poder acompanhar o desenvolvimento dela.

— Você sabe que eu posso ajudar se eu tiver tempo livre, não vai me custar nada.

— É sério, você é o melhor amigo do mundo. — ela sorri para mim.

— Eu sei que sou.

— Eu poderia até te dar um abraço, mas não vou alimentar o seu ego.

— Você só estaria sendo grata. E eu não sou convencido. — ela estreita seus olhos cor de amêndoa para mim — Okay. Talvez só um pouco.

— Você é inacreditável.

— Sabemos que você me adora. Somos amigos há vários anos.

— É por isso que eu cansei...

Minha amiga foi interrompida por uma voz chorosa gritando por ela, Íris caiu no chão. Levantamos do banco para ajudá-la. Ingrid vai ajudar a filha e senta na grama sem se preocupar com as pessoas ao redor ou a sujeira do chão. O machucado não é grave, ainda bem, Íris teve sorte de ter só um dos joelhos ralados. Sua mais nova amiguinha encara o ferimento da minha afilhada, com um misto de medo e curiosidade em sua expressão facial. Ingrid tira da bolsa um band-aid e coloca sob o machucado, dizendo para a filha que vai ficar tudo bem.

— Mamãe, beija o meu dodói para sarar mais rápido?

— Claro. Faz parte do tratamento. — ela deixa um beijo delicado no joelho dela.

Como se não tivesse acontecido nada, Íris vai brincar novamente com a sua colega. Eu volto a sentar no banco de antes e a Ingrid permanece sentada na grama. Um sopro de vento refresca ao nosso redor e, juntamente com esse sopro, vem uma borboleta azul voando atrás dela. Fico surpreso ao ver essa cena se passar diante dos meus olhos e das lentes da minha câmera. Da mesma maneira que aconteceu no passado, a borboleta pousa no cabelo dela. Fico indeciso se aviso a ela ou não, para não perder a chance, decido tirar a foto primeiramente e avisar depois. Para facilitar o meu trabalho, opto por usar o celular, vai ser mais rápido. Capturo o mesmo momento de anos atrás, o que falta para ser a reprise perfeita é o sorvete de morango e a minha antiga falta de habilidade em usar uma câmera.

— Ingrid, tem uma borboleta no seu cabelo. — aviso assim que tiro a foto. Ela estava tão distraída olhando para a filha que nem percebeu.

— Sério? — ela diz confusa e passa a mão pelos fios, a borboleta assusta com o gesto dela e voa para pousar em uma flor. Ainda não estou acreditando que isso aconteceu.

— Felipe, por que você está sorrindo para o nada. Você está bem? — ela pergunta.

— Acho que ver este inseto é um bom sinal.



Dizem que quem é vivo sempre aparece, certo? Quanto tempo eu não apareço por aqui, o último capítulo que eu publiquei foi antes do Natal e nós já estamos no período do Carnaval. É, realmente, faz muito tempo.

A explicação da minha ausência é o seguinte: bloqueio criativo. Sim, essas duas palavrinhas resumem perfeitamente o que eu estou passando com essa história. Então, para eu não perder tempo quebrando a cabeça com este livro, eu estou me dedicando a "Um Doce Natal". Não falta muito para eu terminar essa nova história, e só depois disso que eu vou me dedicar  parcialmente  a história da Tina e do Felipe. Por causa do bloqueio criativo, eu tenho pouquíssimos capítulos prontos. Mas não pensem que eu vou abandonar o livro, é uma pausa é temporária, okay?

Agora eu quero saber uma coisinha. Comente um coração neste parágrafo se você ficou esperando por um capítulo novo durante todo esse tempo.

E para não perder o costume...

Beijinhos e até o próximo capítulo! 😙❤

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