1.5 / Antes tarde do que nunca

São Paulo
Janeiro, 2018

"Eu poderia encantar qualquer outro par de ouvidos
Não te ter mais aqui comigo
Mas eu não quero não
Eu não quero
Poderia imaginar

Ou até acostumar
O meu querer
Noutro lugar
Tanta coisa em que aqui cabe um sim
Mas não
Porque eu te amo
— Anavitória (Porque eu te amo)

Nos últimos dias meu pai e eu ficamos cada vez mais próximos. Ontem nós fizemos o jantar com a ajuda da Lúcia, não sou eficiente na cozinha, mas a comida ficou muito boa, provavelmente porque foi a Lúcia quem fez a maior parte do preparo.Não excluímos a Bia da nossa aventura gastronômica, ela não quis participar porque estava ocupada demais conversando com alguém que estudou com ela no Ensino Médio. Esse foi o motivo; mas no fundo, eu sei que ela não participou porque não queria incomodar. Eu insisti, no entanto, ela não quis mesmo participar. O senhor Carlos me prometeu que assim que o caso do avô que pode ficar sem aguarda das suas netas for resolvido, ele vai ficar sem ir para o escritório por dois dias. Estou verdadeiramente contente pelo esforço do meu pai, é nítida a mudança dele. E, é claro, que estou contente pelo meu relacionamento com o Felipe. 

E por falar nele, não vejo o Felipe desde a madrugada do dia primeiro, mas isso não significa que não mantemos contato. Aliás, depois do nosso primeiro beijo estamos cada vez mais próximos. Conversarmos todos os dias por mensagens, já estou acostumada com o bom dia que recebo todas as manhãs e também já acostumei a dar boa noite. Bia ficou tão feliz que estamos juntos que foi como se tivéssemos contado que iríamos viajar pelo mundo na nossa lua de mel. Não me sinto mais presa ao passado, estou tão satisfeita com o meu presente que não me sinto culpada por estar com ele. Eu finalmente entendi o que realmente é seguir em frente, e não tenho um pingo de arrependimento.

Hoje ele vai me levar para conhecer o trabalho dele. Felipe não tem aulas hoje, só vou ir para conhecer o espaço. Nunca coloquei meus pés em uma escola de música, estou ansiosa para conhecer tudo. Também estou receosa de conhecer a minha sogra. Será que ela vai gostar de mim? Será que vai achar que sou boa o suficiente para seu filho? O meu namorado me contou que ela é pianista e que é a proprietária da escola, são as únicas informações que sei sobre ela, além do nome, que é Alexandra.

Meu namorado. Cada vez que penso nessas duas palavrinhas, pronome possessivo mais substantivo, meu coração acelera.

Coloco um vestido florido e prendo meus cabelos. Por insistência da minha amiga,adicionei uma segunda peça, uma jaqueta jeans. Nos pés, calcei os coturnos dela. Passei um gloss labial rosa claro e... acabei. Estou pronta! Já são quinze horas, ele disse que chegaria para me buscar até quinze horas e quinze minutos. Uso o tempo restante para ir ao banheiro e guardar o celular e dinheiro na bolsa.

— Você está maravilhosa. — Bia elogia — Não se preocupe com horário para voltar para casa.

— Obrigada. Eu já vou descer, irei esperar por ele na calçada. — coloco a bolsa no ombro — Não apronta nada, por favor.

— Pode deixar. — ela faz continência. Não tem razão fazer esse gesto, mas não retruquei — Essa conversa de te levar a uma escola de música parece ser um pretexto para irem a outro lugar. — ela esboça exatamente o mesmo sorriso de quando diz algo inconveniente.

— Qual lugar? — pergunto temendo pela resposta. Sei que não é bom dar corda aos comentários inapropriados dela, mas a curiosidade é maior.

— É um lugar que começa com M e termina com L.

— Começa com M e termina com L... — penso alto. Vários lugares passam pela minha mente. Chego à conclusão de qual lugar é e fico perplexa com o pensamento dela — O que? Claro que não. Meu Deus, Bia! Esquece esse assunto, preciso ir.

É um pensamento da Bia! O que você quer, Tina? Algo como igreja e orações?

— Tchauzinho. — ela acena — Vou querer saber todos os detalhes mais tarde, incluindo os mais quentes.

Saio do quarto e desço as escadas. Encontro Lúcia na sala arrumando as almofadas no sofá. Ela voltou antes do prazo, segundo ela, teve brigas na casa dos seus familiares no Ano Novo. Isso me fez lembrar que minha tia discutiu com alguém por causa de uma garrafa de champanhe, Bia me contou; mas me poupou dos detalhes.

— Já está indo, Tina? — Lúcia pergunta.

— Sim. Meu pai sabe para onde estou indo; mas se ele chegar antes de mim e esquecer para onde vou, a senhora pode relembrá-lo, por favor?

Andamos até a porta. Saio de casa e ela permanece do lado de dentro.

— Claro. Vai lá, querida. — Lúcia me abraça, ela é tão fofa — Agarre seu homem.

Agarrar meu homem? Tudo bem, então.

Fico sem graça pelo conselho dela. O que está havendo com as mulheres dessa casa hoje? Bom, tenho certeza que meu pai não falaria isso para mim. Dou uma olhada rápida pelo jardim e passo pelo portão, fechando logo em seguida. Não sei que horas são agora; no entanto, sei que o Felipe está atrasado. Não gosto de esperar pelas pessoas, não tenho paciência.

Quando penso que ele me deu um bolo, avisto o carro dele se aproximando. Imediatamente meu coração acelera e a famosa sensação de ter borboletas no estômago aparece.

Não é o momento para cair de amores por ele.

Ele estaciona o carro perto de mim. Para disfarçar essa cena de boba apaixonada — mesmo sabendo que sou — tiro o celular da bolsa para checar o horário. Felipe abre a porta do carona e diz "oi, docinho de coco". É brega, mas eu gostei. Entro no carro e sinto o cheiro do perfume que ele está usando, não conheço essa fragrância, é muito boa.

— Se isso é uma tentativa de se desculpar pelo atraso, não funcionou. Você está dez minutos atrasado. — falo e coloco o cinto de segurança.

— Perdão. Você aceita beijos como pedido de desculpas?

— Aceito só por hoje, não se acostume. — tento fingir que estou irritada, mas não consigo evitar sorrir. É, definitivamente sou uma garota boba apaixonada.

E foi assim que aconteceu o nosso primeiro beijo da tarde, às quinze horas e vinte e cinco minutos em uma sexta-feira. Saímos da vizinhança e seguimos o nosso destino. Felipe fala mais sobre a DóRéMi Music, conta sobre os instrumentos, seus alunos e também diz, com brilho nos olhos, que é a sua segunda casa. O trânsito fica mais lento, gerando engarrafamento. Espero que a gente não tenha que ficar aqui parados por muito tempo. Isso é outra característica da cidade.

— Você é tão linda. — ele faz carinho na minha bochecha — Esse vestido ficou muito bom em você, mas ainda prefiro você sem ele. — vejo um vestígio de sorriso surgir na sua face.

Ai. Meu. Deus. Será que estamos indo para o lugar que começa com M e termina com L?

Nós estamos indo para o seu trabalho, certo? — a aflição se faz presente em minha voz.

— Estamos sim. Porém, se você quiser ir para outro lugar, — sua mão desce para minha coxa, onde o vestido não cobre — eu posso mudar a rota. — um sorriso malicioso aparece em seus lábios.

— Você é muito descarado, docinho de coco. — não perco a chance de retribuir esse apelido ridículo.

Eu sei que você adora.

A DóRéMi Music fica em um bairro bem movimentado. Com vários prédios comerciais, lojas, supermercados e outros estabelecimentos. Aqui é um bom ponto, é bem agitado, facilitando para chamar a atenção das pessoas. Outra coisa que deixa a escola em evidência, são as cores vermelho e cinza escuro na fachada do lugar.

Entramos na escola e a minha suposição da decoração do interior foi derrubada com sucesso. Diferentemente do lado de fora, aqui as cores são mais claras, passa a impressão de ser um ambiente mais calmo e acolhedor. A parede atrás do balcão tem uma tonalidade rosa claro, com uma ilustração preta de pessoas tocando flauta, violino, violão e piano. As outras paredes são creme ou bege, não sei exatamente qual é a cor. A recepcionista é uma garota loira muito sorridente.

— Oi, Letícia. Boa tarde! — ele cumprimenta a moça.

— Boa tarde. — o sorriso dela é tão aberto que consigo ver a cor do seu aparelho dental.

— Letícia, essa é a Cristina, minha namorada. — ele passa o braço pela minha cintura, me puxando para mais perto. 

— Oi. — não consigo disfarçar a minha timidez com desconhecidos. Também não consegui disfarçar a minha animação ao ouvir essas duas palavrinhas que ele escolheu para se referir a minha pessoa.

— É um prazer conhecê-la — ela diz — Você quer falar com a sua mãe, Felipe? Posso chamá-la, se quiser. A aluna dela ainda não chegou.

— Não, não. Obrigado. Nós vamos subir, quero mostrar a escola para a Tina.

Eles conversam sobre o horário de aulas da Alexandra e eu aproveito para olhar as fotos que estão em um mural. São fotos tiradas em maio do ano passado em uma comemoração de aniversário da empresa. Em uma das fotos, Alexandra está com um vestido vermelho exuberante, abraçada com o George, pai do Felipe. É um belo casal! Nas outras fotos são pessoas sorridentes, algumas segurando instrumentos e outras não.

— Está apreciando o meu trabalho?

— Você é muito bom. As fotos estão incríveis.

— Obrigado. — ele sorri — Vamos subir?

Subimos as escadas e chegamos ao segundo andar. Felipe estende a mão e andamos de mãos dadas. Acompanho seus passos rápidos e sinto uma dor na perna direita, decido ignorar esse pequeno incômodo e foco a minha atenção na escola. Eu preciso praticar alguma atividade física. Estamos em uma sala de espera, não há ninguém aqui. Passamos pelas cadeiras e entramos em um corredor. Há discos e desenhos de notas musicais decorando.

— Sua mãe trabalha todos os dias?

— Não. Só de terça-feira à sexta-feira.

— Ela é a única professora?

— Tem a professora de flauta, a Sheila. Ela é minha madrinha. Sheila trabalha na parte da manhã, infelizmente você não vai poder conhecê-la hoje.

Nesse corredor há várias portas. Tem o desenho do instrumento para indicar e sinalizar as aulas.

— Todas as salas são a prova de som para não interferir em outras aulas. Não tem problema se todos os professores trabalharem ao mesmo tempo. — ele explica.

Passamos direto pela sala de violão. Pensei que seria a primeira sala que eu fosse conhecer, mas o Felipe optou para irmos primeiro à sala da Alexandra, que é a última sala do corredor.

— Vamos aproveitar os cinco minutos que a minha mãe tem antes da próxima aula dela.

— O que ela acha de você trazer suas namoradas para o local de trabalho? — resolvi perguntar, não foi por ciúmes, foi para saber se Alexandra vai gostar da minha presença aqui.

— Não sei. Você é a primeira.

— E a Ingrid?

— A Ingrid veio aqui antes de ser minha namorada. E durante o tempo que ficamos juntos, ela não veio aqui. Então, você é a primeira. — ele sorri.

Juro que ao ouvir isso meu coração quase errou uma batida. Me sinto especial em saber disso.

— Isso é bem melhor que docinho de coco, não acha?

— Qual o problema com docinho de coco, minha paixão?

Desisto de responder seu comentário provocativo porque ouço o som da música vindo da sala de piano, Alexandra deixou a porta aberta. Não tenho hábito de ouvir música clássica, acho que a partir de hoje vou aderir na minha rotina, a melodia é tão calma e bonita. Não preciso ouvir muito para saber que ela é uma pianista excepcional. Ficamos no batente da porta admirando ela tocar divinamente. Para o Felipe pode ser só mais uma vez no seu dia-a-dia, mas para mim chega a ser tão extraordinário que acho que nunca vou esquecer. Ela percebe a nossa presença e sorri.

— Entrem. — ela pede e levanta do banco para nos receber.

As paredes têm a mesma tonalidade clara da recepção, exceto por uma que é cinza. Há uma grande janela de vidro com a vista para a cafetaria que tem ao lado da escola. O piano de cauda preto fica posicionado perto da janela. Na sala há algumas partituras sob as estantes e um armário branco no fundo da sala. Quando chego perto dela, descubro a origem das covinhas e dos olhos verdes que o Felipe possui. São exatamente da mesma tonalidade, é incrível.

— Oi, tudo bem? — dessa vez eu me arrisco a cumprimentar primeiro.

— Oi. Estou ótima. Sabe, eu estava me perguntando quando que eu iria conhecer a minha nora. O Felipe fala tanto de você que fez com que eu ficasse mais curiosa.

— É um prazer te conhecer. Não sabia que ele falava de mim para a senhora. — olho para ele que está ao meu lado.

— Você não faz ideia, Cristina. Alexandra Baxter, prazer! — damos um aperto de mão — Mãe em horário integral e musicista nas horas vagas.

— Pode me chamar de Tina, se preferir. A senhora é bem talentosa, adorei a música.

— Obrigada. — uma garota bate na porta mesmo estando aberta, e Alexandra vai atender. — Perdão, Tina. Adoraria ficar mais tempo com você, mas já estou no horário de aula. Vou marcar um jantar na minha casa, quero você presente.

Tivemos que nos despedir e sair da sala. Dei a minha palavra que eu vou nesse jantar. Gostei dela, Alexandra é tão serena e simpática. Estava receosa dela me achar insuficiente para o seu filho, ainda bem que deu tudo certo. Fiz questão de dizer que gostei da mãe dele, inclusive falei que a minha mãe quer conhecê-lo também.

Não entramos na sala de violino porque estava tendo aula, Felipe explicou que com a viagem de seu pai, tiveram que contratar um violinista substituto.

— Você não falou mais sobre a situação do seu avô. Ele teve alguma melhora?

— É difícil falar sobre uma pessoa que não dá a mínima para a família.

— Perdão. Não quis te chatear.

Esse assunto o deixou chateado por lembrar da indiferença de seu avô. Não tem nada que eu possa fazer para mudar a perspectiva dele sobre seu próprio filho e neto. O que eu posso fazer para mostrar que estou aqui, mesmo que seja insuficiente, é abraçar e dizer que ele não tem que se preocupar com isso. Ele tem pais e amigos que o ama e, agora, também estou incluída nessa lista. Quando saio dos braços dele, com a vontade de permanecer por mais tempo, ele beija delicadamente a minha testa e diz:

— Tudo bem, Tina. Não podemos escolher nossos familiares.

Deixamos esse assunto para trás e entramos em sua sala.

— Eu divido a sala com o professor Márcio. Ele fica com as turmas de pessoas com mais de vinte e cinco anos.

Reparo bem o interior. Como na sala de piano, aqui também as paredes são claras com outra parede cinza. Nessa parede cinza tem uma enorme ilustração de violão e a frase "música é o diálogo das notas musicais". Aqui também tem um armário branco no fundo do cômodo. Essas características devem ser um padrão para todas as salas. Tem algumas partituras pela sala também, mas de uma forma bem organizada. Quatro violões estão suspensos na parede clara. Há algumas cadeiras e alguns puffs.

— Adorei a sua sala. É mais descontraída que a sala de piano.

— Vantagens de ser o herdeiro. — ele sorri.

— Aposto que me trazer aqui é uma dessas vantagens.

Caminho até a janela para observar o movimento de carros e pessoas lá embaixo. Ele vai até o armário e tira uma caixa preta de dento de uma das gavetas.

— Eu deixei isso aqui ontem. É um presente para você.

— É a segunda vez que você me presenteia e eu não te dou nada em troca.

— Isso não é uma troca, Tina. Eu gosto de você, faço isso porque quero, não é uma obrigação. Você vai aceitar o presente?

Tomo a liberdade de agradecer o presente com um beijo e pego a caixa de suas mãos. Dentro da caixa há um bilhete e um papel mais espesso. Decido ler o bilhete primeiro antes de saber o que é o outro papel.

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."

Leio a primeira linha e sorrio para ele. Não entendo o porquê dele está com essa expressão neutra preocupada. Felipe está tenso e parece não estar confortável ao meu lado. Continuo a ler o bilhete.

Shakespeare era um cara bem esperto, você não acha? É irônico esse ser o nome do cachorro que me levou a capturar esse momento.

Não entendi muito bem. Confusão é o estado em que estou. A resposta para isso deve estar no outro papel. Puxo o outro papel para tirá-lo do envelope e sinto que é textura de papel para fotografia. Na foto sou eu ajoelhada na grama ao lado de um cachorro. Ah, eu me lembro desse dia! Foi na primeira vez que vim em São Paulo, lembro que foi em setembro de 2016, naquela época meu cabelo estava mais longo. Meu pai e eu fomos para o Parque Ibirapuera fazer piquenique. Ah, Shakespeare é mesmo o nome do cachorro. Recordo dos acontecimentos desse dia, só não entendo um detalhe que, por acaso, é o motivo de eu estar segurando essa foto.

— Como você conseguiu isso? — pergunto com tanta seriedade que até fico surpreendida com o meu tom de voz.

— Eu estava lá. — calmo, ele diz — Eu tinha o hábito de ir ao Ibirapuera fotografar paisagens e, às vezes, eu fotografava pessoas também.

— O que? Eu não me lembro de ter falado com alguém parecido com você, Felipe. — esforço para lembrar mais desse dia. Tenho certeza que as únicas pessoas que conversei no parque além do meu pai, foram dois funcionários de lá e a tutora do cachorro — Você fez alguma mudança na sua aparência? Realmente eu não recordo de ter tido alguma conversa com você. E por que você não contou que já me conhecia?

Quando estou nervosa, costumo fazer várias perguntas ao mesmo tempo. A demora dele em responder as minhas perguntas está me deixando irritada e tensa. Ele passa a mão na nuca, depois coça os olhos, respira fundo e finalmente diz alguma coisa:

— Acho que você ainda não entendeu o que eu quero dizer. Eu não conversei com você nesse dia. Vi o que aconteceu e resolvi tirar a foto. Sei que eu deveria ter falado antes, desculpa.

Viro de costas para ele e vou sentar em um puff. Não quero ficar estressada com isso, não quero gritar, não quero exigir respostas de forma agressiva. Respiro fundo duas vezes seguidas e tento ficar calma também.

— Eu vou ser sincera, sinceridade é uma qualidade que eu prezo muito nas pessoas. Eu sei que você não mentiu para mim, é uma omissão. E não sei se você percebeu, mas a foto não é o problema, é só um objeto e, particularmente, eu gostei do presente. A questão, Felipe, é como você conseguiu a foto. Isso não é romântico, é estranho. Você não tem o direito de fotografar pessoas sem autorização. E por que você quis me fotografar?

Antes de responder a minha pergunta ele aproxima-se mais de mim, puxa uma cadeira e senta na minha frente.

— Eu... eu — vejo medo em seus olhos, provavelmente o medo não está permitindo que ele responda à minha pergunta de forma coerente. Passo as mãos pelo meu cabelo e suspiro. Eu preciso ficar sozinha por um tempo.

— Eu não quero fazer ou falar nada que faça com que eu me arrependa depois. Não devo ser impulsiva e agir pela emoção. Sempre penso antes de tomar qualquer decisão, tento ser sensata em minhas escolhas e agora não vai ser diferente. Eu posso ficar sozinha por um tempo? Preciso pensar.

Ele assente, deixa outro beijo na minha testa, sai e fecha a porta. Quando combinamos de vir aqui, não passou pela minha cabeça que minha tarde seria conturbada e inusitada. Jamais imaginei que antes do nosso encontro tumultuado no aeroporto ele tinha me visto há um ano antes. Não pedi tempo para dramatizar a situação ou para fazê-lo sofrer, isso não é do meu caráter, eu só quero refletir sobre o que ele contou.

Depois que conheci o Felipe, minha vida ficou mais movimentada. Quem diria que eu fosse correr em plena Avenida Paulista, que eu iria cantar em cima de um palco ou até mesmo que eu fosse beijar alguém em meio a uma multidão de pessoas. Esses momentos foram tão especiais que guardei todos em meu coração. E o melhor disso tudo, é que ele participou de todos e deixou tudo mais leve e divertido. Esses encontros marcados de última hora bagunçaram a minha rotina minimamente planejada e até mesmo monótona. Tudo aconteceu de forma tão natural que se eu acreditasse em destino, poderia apostar que tinha sido obra dele. Estou perdida com essa situação. Pela primeira vez na minha vida, sei o caminho que devo seguir, mas não sei se é o caminho certo. Será que devo focar no problema e deixar de lado todos os nossos momentos felizes?

Felipe abre a porta e entra.

— Você está aqui há trinta minutos. Tudo bem? Se você quiser, nós podemos ir comer alguma coisa agora.

Eu não tinha ideia do tempo que estou aqui. Guardo na caixa o bilhete e a foto e ajeito a bolsa no ombro. Fico de pé, arrumo o vestido e solto meu cabelo para prendê-lo novamente, dessa vez, dou mais voltas com o elástico.

— Quero sim. Não vamos ter a conversa que precisamos no trabalho da sua mãe. Não é adequado.

Descemos para ir à cafeteria ao lado. Antes de irmos, pedi para a Letícia guardar a caixa para mim, e Felipe pediu para ela avisar para a Alexandra aonde vamos, caso ela pergunte. Saímos da DóRéMi Music e só precisamos dá menos de dez passos para chegar no local. A cafeteria Novo Sabor tem uma decoração rústica. O espaço não é grande, mas é muito aconchegante, eu adorei. Escolhemos uma mesa mais próxima da entrada. O garçom veio trazer o cardápio e não precisamos de tempo para fazer nossos pedidos, escolhi um cappuccino e um pedaço de bolo de chocolate. Felipe também escolheu bolo de chocolate e, para beber, optou por um expresso duplo. Ele só conversou comigo o necessário, ainda está respeitando o meu pedido de tempo e espaço. O mesmo garçom traz os nossos pedidos, pede licença e sai. Felipe não tira suas íris verdes de mim, provavelmente está esperando eu dizer ou fazer algo. Preferi comer primeiro antes de ter a conversa. Ele percebeu que da minha boca não vai sair uma palavra por enquanto e resolveu comer também. Comemos em meio ao nosso silêncio. Esse cappuccino está divino, o melhor cappuccino que já provei, o bolo também está maravilhoso. Quero voltar aqui novamente. Bebo o último gole e limpo a boca com o guardanapo.

— Você pode responder a minha pergunta agora? — cruzo os braços e mantenho meu olhar firme em direção ao seu rosto.

— Nada melhor que um chocolate para aliviar o clima, né. — ele dá um meio sorriso — Desde o momento em que te vi pela primeira vez, no parque, eu senti algo por você. Até passei a frequentar o parque com mais frequência para ter o mínimo de chance de te ver novamente. Quando te vi no shopping, você não foi tão amigável comigo, então eu não contei porque pensei que não iria conseguir me aproximar de você. Depois do dia que te levei ao museu ficamos mais próximos e eu não quis estragar a nossa amizade. E também com esse problema familiar, — ele suspira — eu acabei esquecendo da foto.

Você não pensou que o fato de não me contar poderia arruinar tudo?

— Só pensei depois. Na verdade, é o que eu estou pensando agora.

Tem algumas coisas que eu quero dizer. Quero falar que ele teve oportunidade de me contar no dia do passeio ao museu, quero falar que ele poderia ter dito no dia que eu fui totalmente sincera com ele, minutos antes do nosso primeiro beijo, quero falar que ele poderia ter dito antes. Mas o que vai adiantar? Ele já sabe disso. Nada do que eu falar vai mudar o passado, minhas palavras não tem o poder de mudar o que já aconteceu. Então, a única coisa que vou falar, é o que eu cheguei à conclusão depois de refletir sobre o ocorrido, vou dizer o que eu simplesmente tenho vontade de dizer.

— Tudo bem. Você contou agora. Como dizem, antes tarde do que nunca.

— Você ainda está aceitando beijo como pedido de desculpas?

— Bom, eu disse que aceitaria somente hoje. E pelo o que eu saiba, ainda é sexta-feira.

E foi exatamente com um beijo que ele reforçou seu pedido de perdão, assim que saímos da cafeteria, às dezessete horas e trinta minutos dessa surpreendente sexta-feira. 


A MARATONA CHEGOU AO FIM!!!

Oi, pessoal. O que vocês acharam da maratona? Gostaram da experiência? Eu adorei estar com vocês oito dias seguidos, foi muito legal. Muito obrigada a todas que participaram, vocês são incríveis. Infelizmente esse foi o último capítulo da maratona. Esse mês vai sair um capítulo bônus, então fiquem de olho. Depois só teremos capítulos somente em Janeiro, se tudo der certo. Só tenho a agradecer pelo retorno que vocês me deram. Amo vocês!

Como eu disse anteriormente, pode ser que aconteça outra maratona na reta final do livro. Eu ainda não posso confirmar nada, pois é só uma possibilidade. Ainda não terminei de escrever o livro todo, no momento estou escrevendo o capítulo 16. — meu estoque de capítulos prontos foi por água abaixo com essa maratona.

Já deixou o seu voto? Se sim, já podemos pular para a despedida.

Beijinhos e até o próximo capítulo! 😙❤ 

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