0.9 / Merry Christmas!
São Paulo
Dezembro, 2017
"Keep the holiday spirit alive"
Faz três dias que eu saí com o Felipe. É claro que a minha mãe não acreditou completamente na desculpa que eu dei, mesmo sendo um fato. À noite ela ligou para conversar comigo; mas dessa vez, via Skype. Eu contei para ela sobre o dia incrível que eu tive e ela ficou um pouco desconfiada por não conhecer ele, fez várias perguntas e eu não consegui responder a maior parte delas, quando o "interrogatório" terminou, a minha mãe disse que quer conhecer o Felipe o mais rápido possível e que está contente por eu ter arrumado um namorado — palavras dela, não minhas.
Como se eu fosse a encalhada do século!
Expliquei para ela a situação e apresentei argumentos sólidos e convincentes para dizer que definitivamente ele não é meu namorado. E minha tia Anna que estava com ela, apenas sorriu — o mesmo sorriso que a Bia usou ao insinuar que eu deveria aproveitar a oportunidade — e disse "ainda". Como a dona Rosana pediu, eu conversei com a tia Anna sobre a minha mãe não querer entrar em um relacionamento. Por que algumas pessoas não entendem que estar sozinha é uma opção?
O assunto passeio com Felipe chegou até aos ouvidos do meu pai. Adivinha quem transmitiu o recado? Minha mãe. Ele disse que se eu não andar com más companhias está tudo bem, Bia brincou que se por acaso eu me envolver com problemas ele é advogado e está tudo certo, meu pai não gostou da brincadeira, mas forçou um sorriso.
Nem tudo é brincadeira. Precisamos ser responsabilizados e sofrer as consequências dos nossos erros, senhorita Bia.
Meu dia com o Baxter acabou de uma forma bem inusitada. Ele me entregou uma pequena caixa com um laço vermelho e simplesmente falou que é o meu presente de Natal. Achei meio estanho a gente trocar presentes sem ter qualquer tipo de relacionamento, não somos nem amigos. Aliás, nem foi uma troca de presentes se for levar em conta que eu não dei nada para ele, fiquei tão sem graça por isso e ele comentou que na hora certa vai me cobrar o presente. Felipe me fez prometer que só vou poder abrir meu presente no dia vinte e cinco, sendo assim, essa caixinha surpresa está bem guardada dentro do meu armário. Minha melhor amiga é muito curiosa, mas não fez questão alguma de tentar espiar para saber qual é o presente. Isso me fez perceber que ela já sabe do que se trata. Bia confirmou que aquele "obrigado por tudo" que o Felipe falou antes de irmos ao Museu, era sobre isso. Estou curiosa sobre o presente, mas como eu prometi, só vou abrir no dia certo. Tenho o costume de honrar minhas promessas.
Ontem, quarta-feira, eu estava na sala lendo e assim que tirei os olhos da minha leitura, reparei que aqui não tem nenhuma sombra de decoração natalina. Não estive tão ocupada ultimamente para deixar esse grande detalhe passar despercebido. Mesmo em cima da hora, precisávamos resolver a ausência do indicativo da chegada desta tão esperada data. Comentei com papai sobre isso e ele me deu carta branca e dinheiro para comprar tudo para a decoração. Eu estava com cólica e, infelizmente, não pude ir às compras; porém, Bia e Lúcia foram e compraram a árvore, os enfeites para colocar nela, luzes e uma guirlanda. O tempo que elas gastaram comprando tudo eu fiquei em casa conversando com o Felipe por mensagens, continuamos mantendo contato desde o dia do passeio ao Museu de Arte de São Paulo. Pego o celular para responder a mensagem que ele enviou agora a pouco. Estamos trocando mensagens constantemente.
Sim, estou bem. E você?
Já estive melhor. Eu fui levar meu pai no aeroporto no dia que te conheci, ele viajou para Nova York para ver meu avô paterno que está doente. Resumindo a história toda, os dois não tem uma relação saudável de pai e filho, e agora tem a doença. Meu pai veio para o Brasil porque meu avô não aceitou a escolha profissional dele. O velho não ficou nem um pouco feliz em ver meu pai depois de vários anos, acho que ele nos odeia. Mesmo ele estando com câncer, continua sendo um babaca com o próprio filho. Hoje o meu pai ligou e as notícias são péssimas, meu avô Jimmy não está respondendo ao tratamento. Minha tia Charlotte está desesperada e meu pai tem medo de não ser perdoado por ter seguido o próprio sonho.
É muito bom que ele se sente confortável para contar sobre seus problemas familiares, demonstra que ele me acha uma pessoa confiável. Lamentavelmente, eu não posso fazer nada para ajudá-lo, fico triste por isso. Deve ser horrível o George ser tratado cruelmente pelo próprio pai, — a essa altura do campeonato, já sei os nomes dos pais do Felipe — meu pai e eu não somos tão próximos como antigamente, mas ele nunca me tratou com desdém. Resolvo continuar o assunto, talvez ele fique mais aliviado em colocar para fora o que sente. Ser uma boa ouvinte e pensar positivo é tudo o que eu posso fazer para ajudar.
Eu sinto muito, Baxter. Espero que fique tudo bem na sua família. Se por acaso você precisar de algo é só falar comigo. O que seu avô queria que seu pai estudasse?
Assim que clico para enviar, em poucos segundos já tenho a resposta da pergunta que fiz.
Medicina. Meu avô é médico e queria que os filhos seguissem a profissão também. Minha tia seguiu o caminho do pai pq quis, Jimmy não teve o trabalho de pressionar a filha mais nova. Após a morte da minha avó, eles brigaram feio e o meu pai veio morar com o tio dele, irmão da minha avó, aqui em São Paulo.
Depois disso, mudamos de assunto. Felipe perguntou quando nós iremos sair novamente. Ele disse que minha companhia pode ser um ótimo presente atrasado de Natal. Se é isso o que ele deseja, acho que posso fazer isso. Afinal, não é nenhum sacrifício.
Natal. Época de receber presentes, ter uma decoração colorida pela casa, luzes nas árvores das praças da cidade, músicas alegres para deixar tudo mais divertido e, até mesmo a neve, em alguns lugares do mundo. Não podemos deixar de lembrar, que o Natal vai muito além de fazer pedidos e exigir coisas. Apesar de já ser verão, posso dizer que essa data comemorativa metaforicamente deixa as pessoas mais calorosas. Deixando-as mais unidas, felizes, harmônicas e, talvez o mais importante, gratas por ter a oportunidade de celebrar e comemorar com quem ama, mantendo o espírito natalino vivo.
Foi com esse pensamento que hoje de manhã colocamos o plano da decoração natalina em prática, aproveitamos que o meu pai só ia para o escritório à tarde. Eu estou radiante por ter passado esse tempo com ele, recordei da época que meu pai dava mais prioridade para a família e não existia a possibilidade de um divórcio.
— Pai, falta só essa, coloca perto do senhor. — entreguei uma bola dourada e ele pendurou o enfeite na árvore.
Afasto alguns passos para trás e contemplo o resultado da nossa dedicação. A árvore está perfeita. Está tudo tão esplêndido. Quero que a noite chegue logo para conferir como as luzes ficam mais destacadas.
— Fizemos um ótimo trabalho! — sorrio — Eu vou colocar a guirlanda na porta e vocês passam o pisca-pisca na árvore.
Como tudo aconteceu rapidamente, esse ano não vamos ter troca de presentes. Para ser sincera, eu não importo, o mais importante é comemorar com a família e saber o que a data representa. O verdadeiro significado do Natal não está nos presentes, está na união, alegria, gratidão e amor. Esse é o primeiro Natal que vou estar longe da minha mãe, e o Natal do ano passado, foi o primeiro que passei longe do meu pai.
Ainda recordo de quando descobri que o Papai Noel é uma farsa. Foi aos meus nove anos, depois do horário que eu tinha que ir para cama, fui à sala conferir se estava tudo certo para a visita do Bom Velhinho. Fiz o possível para não causar barulho e andei em passos leves. Na minha percepção de criança, a Magia do Natal acabou no momento em que vi meu pai comendo o lanche que deixei para o Senhor Noel. No meio da discussão dos meus pais sobre não destruir os sonhos da filha, minha mãe deixou escapar a inexistência do Papai Noel. Chorei pela descoberta, mas acabei entendendo.
Estamos guardando os enfeites que sobraram em uma caixa. Podemos usá-los no ano que vem.
— Vamos dançar Jingle Bell Rock igual as Poderosas? — Bia pergunta e bate palmas, animada com a ideia.
— Por que não? Isso é tão barro. — debocho. Só a Beatriz para ter ideias como essas.
Nesse momento, Lúcia, Bia e eu estamos na cozinha fazendo cupcakes de chocolate. Bia ficou com a parte do recheio, Lúcia e eu vamos fazer a massa e, por ultimo, nós três vamos confeitar. Separei a quantidade exata de cada ingrediente da massa e do recheio, segui a receita à risca, elas disseram que não é necessário o meu cuidado de não deixar passar uma grama a mais ou uma grama a menos, mas eu não importei, gosto das coisas certas. Antes desse processo, coloquei a playlist da minha banda favorita tocar no meu celular e, obviamente, higienizei minhas mãos. Bia está em um canto mais isolado preparando a ganache, eu estou passando a farinha na peneira para adiantar o nosso trabalho e Lúcia está batendo no liquidificador os ovos, o açúcar, o óleo e o leite. Termino de peneirar a farinha de trigo e faço o mesmo com o chocolate em pó e aproveito para acrescentar o fermento e o bicarbonato. Misturo esses ingredientes secos com o auxílio de um fuer, Lúcia adiciona os ingredientes que bateu no liquidificador na vasilha e eu continuo misturando para deixar a massa homogênea.
— O forno já está pré-aquecido? — Bia pergunta e abre a geladeira. A ganache precisa ficar lá por aproximadamente uma hora.
— Sim. — respondo.
Finalmente a massa ficou completamente homogênea. Lúcia encarrega-se de despejar a massa nas forminhas e eu recolho os potes, xícaras, colheres e outros utensílios para poder lavar. Preenchi essa uma hora de espera conversando com o Baxter, durante esse tempo em que estamos mantendo contato, já sei quais são seus filmes favoritos, músicas favoritas, estação favorita e comida favorita. Estamos seguindo um ao outro nas redes sociais. Também descobri um pouco mais da família dele. E ele sabe algumas coisas de mim também, como a minha paixão por livros e a minha mania de organização e planejamento.
O temporizador do celular da Bia anuncia que já passou uma hora. Ela checou se a consistência do recheio está adequada e tirou da geladeira. Agora ela está colocando a ganache dentro de três sacos de confeiteiro. Lúcia e eu fomos até ela para começarmos a confeitar. Essa é a parte mais divertida. Perfuramos o centro de cada cupcake e preenchemos todos com recheio, e por fim, colocamos uma cereja em cada um e despejamos granulado. Assim que terminamos a nossa missão, eu pego um para experimentar. Está divino! Fico satisfeita com o nosso trabalho em equipe. Depois de comer dois em seguida, não consegui resistir, pego o meu celular para ver se o Felipe respondeu à minha última mensagem. Três mensagens não lidas, com intervalo de dois minutos entre elas:
Onde vc tá?
Cadê vc?
Ei, eu não posso ficar te esperando o dia todo!
Ignoro esse drama e tiro uma foto dos doces para enviar para ele. Digito na legenda "desculpa a demora, eu estava concluindo essa maravilha". Preciso dizer que assim que enviei a foto ele já visualizou? Posso imaginar ele andando com o celular nas mãos a espera do meu retorno.
Acho que tenho um excelente motivo para ir na sua casa hoje.
Sorrio por causa dessa ousadia. Será que ele é capaz de vir aqui por causa dos meus cupcakes? Prefiro acreditar que não, apesar deles estarem deliciosos.
Baxter, você é um grande interesseiro.
Ah, vai dizer que você caiu nessa? Eu adoro doces, mas eu quero ver você. Aquilo era só um pretexto
Antes de eu pensar em uma resposta, recebo outra mensagem dele:
Aposto que você está uma gracinha com o cabelo sujo de farinha.
Meu sorriso desaparece assim que leio essa última mensagem. Como ele sabe disso? Olho ao redor da cozinha preocupada como se a qualquer momento ele fosse sair do armário. Acho graça da ambiguidade do meu pensamento e Lúcia pergunta se estou bem, digo que lembrei de uma piada. Direciono meu foco na minha conversa com ele e arrisco-me a fazer uma pergunta indiscreta:
Isso é um flerte?
Se funcionar, sim. Tina, pensei que vc fosse mais esperta. Vc precisa deixar de ser distraída comigo e ficar atenta às minhas investidas pra corresponder a minha demonstração clara de interesse.
Eu li corretamente ou a minha imaginação está pregando peças? Ele é muito direto, por essa eu não esperava. Bebo água enquanto penso na minha resposta. Analisando meu conhecimento raso sobre relacionamentos, posso dizer que ele ainda está na fase atração/interesse, o que é mais vantajoso caso eu queira deixar claro que o interesse não é recíproco. Para não causar um coração partido, é preciso fazer isso antes dele avançar para a fase seguinte, que é a paixão. Eu não quero ter somente um romance de verão, quero algo mais intenso e duradouro. Apesar de eu não estar 100% pronta e confiante para embarcar em um futuro relacionamento, o interesse dele pela minha pessoa significa que ele enxergou algo de bom na Tina distraída, grosseira e que atropela pessoas com as malas. Se eu ficar com o Felipe, vou precisar deixar o Caio completamente no meu passado e abandonar a minha história com ele em uma esquina qualquer, e eu não consigo fazer isso, ainda não. Eu realmente gosto do Felipe, acho ele gentil, prestativo, divertido e... bonito, não tem como negar esse último adjetivo, mas isso não é o suficiente para começar e manter um relacionamento.
Você não é nada sútil, eu deveria saber que não faz questão de ser discreto. Bom, você vai vir aqui mesmo?
Infelizmente hoje não dá. Mas você tá me devendo um encontro.
Ei, eu não prometi nada.
E é preciso prometer?
Envio um coração em resposta. Pensando bem, até que um dia com ele não vai ser ruim.
Nos primeiros minutos do dia de hoje, vinte e cinco de dezembro, eu enviei para a minha mãe e para a minha tia uma mensagem de Feliz Natal. Agora são oito da manhã e Bia ainda está dormindo, o que é normal, pois fomos para a cama de madrugada. Finalmente eu posso abrir meu presente que ganhei do Felipe. Minha fome é maior que a curiosidade, então deixo essa questão de lado por enquanto. Escovo os dentes e ainda de pijama, desço até a cozinha para tomar café da manhã.
— Bom dia, Lúcia. Feliz Natal!
— Feliz Natal! Você está precisando de algo? Eu tenho que resolver uma coisa.
— Não, pode ir. Eu me viro aqui. — ela concorda e sai da cozinha.
Fico encantada com o que se encontra nela, tem uma linda pulseira dourada com seis bolinhas douradas também. A primeira coisa que eu consigo pensar, é o preço que deve ter custado e, a segunda, é que o Felipe tem bom gosto. Já que a Bia sabia sobre isso, assim que ela acordar faço questão de perguntar se ela ajudou na escolha. Coloco a pulseira no meu pulso esquerdo e presto mais atenção nela, acho que ela combina com o anel que o Caio me deu no meu aniversário de quinze anos. Pego o meu celular e mando uma mensagem para o Felipe agradecendo e dizendo que adorei, para confirmar minhas palavras, tiro uma selfie de modo que meu braço fique perto do meu rosto, para que a pulseira apareça e envio a foto para ele.
Após dez minutos, ele responde:
Ainda bem que gostou, eu fiquei com medo de você detestar. Feliz Natal!
Aliás, adorei os chifres.
Quem não iria gostar? A pulseira é linda. Sobre a tiara, eu sei que não é um costume as pessoas usarem esse acessório nesse feriado, mas ela é fofa. Ele me envia uma foto e eu espero carregar. Os cabelos dele estão cheio de frizz e parece que não vê um pente há um bom tempo, as olheiras estão bem visíveis, o sorriso continua lindo desde a última vez que vi e as covinhas dão o ar da graça. Apesar disso e ao contrário das pessoas que acordam horríveis com o cabelo bagunçado e às vezes com baba no canto da boca, como a princesa Anna, Felipe fica lindo assim. A noite deve ter sido bem agitada para ele estar desse jeito.
A noite deve ter sido boa.
Ah, só estou cansado da minha rotina. Você vai ser o meu escape, tá me devendo um encontro, lembra?
Devendo eu não estou, mas isso não é relevante agora. Cedo ao seu convite e concordo.
Aonde vamos?
Surpresa, Tina. Nem adianta insistir, vou resolver um detalhe com uma pessoa e depois nós marcamos.
Posso confirmar e dizer em voz alta que estou começando a gostar das surpresas dele. E como eu disse antes, não é nenhum sacrifício.
♡
Oi, pessoal. O que vocês acharam do capítulo de hoje? Já vou pedindo perdão se algumas palavras ficaram juntas. Corrigi os erros, mas talvez algum erro passou despercebido. Não sei o que está acontecendo com a plataforma. Também não sei se o wattpad está sendo sacana somente comigo.
Enfim, gostou do capítulo? Então, vote. Não custa nada e me deixa muito feliz. Podem comentar também, juro que eu não mordo e vou tentar responder todos os comentários.
Beijinhos e até amanhã! 😙❤
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