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Belo Horizonte e São Paulo
Dezembro, 2017

"A luz que banha toda a cidade

Pequena se faz num riso teu

Nenhuma graça tem outro sotaque 

Nenhum monumento, o Coliseu"
— Anavitória (Canção de Hotel)

A tarde dessa sexta-feira chuvosa chegou ao fim e deu lugar para a noite fazer seu papel. Enquanto uma tempestade está caindo lá fora com direito a relâmpagos e trovões, estou no meu quarto arrumando as malas para a viagem, em frente ao armário fico analisando se falta adicionar mais alguma peça de roupa ou acessório. A ansiedade está predominando nesses últimos dias, ela está sendo uma daquelas visitas chatas que você torce para ir embora o quanto antes. O motivo é o fato que faz meses que não vejo o meu pai, sinto falta dele. É claro que nos falamos por ligações, mensagens e até e-mail, senhor Carlos diz que ainda não consegue acompanhar a evolução tecnológica, como se mensagem de texto tivesse surgido há pouquíssimo tempo. Mesmo mantendo contato, não é como se ele estivesse presente como antes. Quando digo antes, estou referindo quando papai ainda prestava atenção em mim e na mamãe.

— Tina, cheguei! — ouço mamãe gritar assim que fecha a porta da sala — Cadê você?

— Estou no quarto, mãe! — grito em resposta — Estou pensando se falta mais alguma coisa para colocar na mala.

Sento na cama e pego o celular para conferir mais uma vez a lista que fiz no bloco de notas. Calças? Ok. Vestidos? Ok. Pijamas e roupas íntimas? Ok também. E blusas?...

— Você poderia ter esperado eu chegar para te ajudar. — mamãe entra no quarto e se senta ao meu lado.

— A senhora sempre sendo prestativa. Obrigada, mas sei que está cansada, ainda mais em plena sexta-feira e depois dessa tempestade que está caindo lá fora, você merece um banho e um chocolate quente livre de preocupações. E de nós duas, eu sempre fui a mais organizada.

— E teimosa também, isso veio do seu pai... — ela continua resmungando algumas coisas incompreensíveis enquanto olha tudo que coloquei nas malas — Filha, não acredito que você está levando mais calças do que vestidos. Na próxima semana já é verão, se bem que não podemos confiar, leva casacos também. E por que a senhorita está levando metade de uma das malas em livros? Confirmou tudo com a Beatriz e sua tia?

— O nome disso é prioridade. E se eu precisar de mais roupas posso comprar lá. Meu Deus, mãe! E não é somente eu que faço várias perguntas de uma vez.

Mamãe fica em silêncio. Certeza que ela deve estar pensando em um jeito de fazer eu ficar e desistir da viagem. Ela é uma mãe protetora, não que eu ache ruim; e ela não me sufoca com toda proteção. Será que ela é assim para tentar compensar a ausência do papai? É importante as mães serem atenciosas com os filhos. Porém, no meu caso é somente uma viagem, e mesmo assim ela não está confiante. Mas agora é tarde demais para voltar atrás, passagens já estão compradas. São Paulo, aí vou eu!

Acordo com o som irritante do despertador. São seis da manhã, como eu queria dormir mais, mas não posso ter esse luxo. Ah, meu Deus! Hoje é o dia que vou para a casa do papai. Levanto imediatamente e vou ao banheiro fazer minha higiene matinal. Deixo a água na temperatura morna e tento não demorar para sair do banho. Visto o roupão e deixo uma toalha no cabelo para absorver o excesso da água. Coloco o creme dental na escova para escovar os dentes, abro o armário e tiro a necessaire para conferir se está tudo ok, deixo a escova de dente na boca cheia de espuma enquanto procuro o meu batom favorito que deveria estar aqui.

— Cristina! — mamãe chama e bate na porta do banheiro — Posso entrar?

— Claro, mãe. — ela abre a porta e eu vejo sua cabeleira de fios castanhos e seu sorriso enorme — Bom dia, flor do dia!

— Bom dia, Tina. — mamãe beija minha testa. Isso virou tradição e eu amo. Sou uma garota muito sortuda por ter uma mãe tão carinhosa e atenciosa, sei que muitas pessoas não tiveram essa dádiva. — O café já está na mesa, não demore.

Dona Rosana vai em direção à saída, mas antes de passar pela porta, olha para mim e avisa que tia Anna já está vindo para cá. Ficou combinado que minha mãe nos levará ao aeroporto. Desisto de procurar pelo batom e termino de escovar os dentes. Logo após vou para o quarto vestir a roupa que deixei separada na noite passada. Em seguida, vou tomar o café da manhã. Acordei faminta, acho que é consequência da ansiedade, ou não, já que sempre estou com fome.

— Filha, fiz seu bolo favorito. — Mamãe diz quando me ver entrando na cozinha.

— Isso tudo é para me fazer ficar. — brinco e me junto a ela para comer. — A senhora sabe que se pedir para eu ficar, eu nem vou. — Sorrio para ela.

Encho a xícara com café e leite e coloco um pedaço do bolo de chocolate no pires. Eu adoro bolo de chocolate, principalmente o que a minha mãe faz. Ela disse uma vez que o ingrediente principal é o amor. Ela é maravilhosa. Se minha mãe não existisse, ela precisaria ser inventada.

— Sério, Tina? Ainda bem que funcionou.

— Claro que sim, mãe. Mas não disse quando. Eu entendo a preocupação. Porém, a senhora precisa entender que eu estarei de volta. Eu vou ficar na casa do meu pai, e não mudar de país.

— Eu sei. Quando você for mãe talvez você entenda. Eu te amo muito, Tina. Vou dar o espaço que você precisa. Ah, mudança de planos. Sua tia e a Beatriz vão estar nos esperando na portaria do prédio. Bia mandou mensagem avisando.

Mamãe vai para a sala e eu tento ingerir o café da manhã o mais rápido possível, não é adequado, mas não posso gastar tanto tempo para comer hoje. Não é difícil, comida sempre é bem-vinda. Volto para o quarto na tentativa de achar o batom desaparecido. Avisto o batom em cima da escrivaninha, volto no banheiro para buscar a necessaire e acomodo o bendito batom dentro dela, depois de ter usado, guardo a necessaire em uma das malas. Calço minhas sapatilhas azuis e vou até à janela, observo meia dúzia de pessoas andando lá embaixo. Uma brisa sopra meu rosto e alguns fios do meu cabelo dançam no vento. Sem sombra de dúvidas vou sentir falta daqui, da minha família, dos meus livros e lá no fundo, até dos vizinhos que não se contentam em cuidar da própria vida. Afinal, vão ser mais de dois meses longe de casa.

Ouço minha mãe dizer que já está na hora de ir. Pego minhas duas malas e a bolsa tiracolo, olho mais uma vez para o quarto, saio e fecho a porta. Dona Rosana está na entrada da sala, quando me ver, esboça um pequeno sorriso. Esse é bem diferente do sorriso de minutos antes, quando me deu bom dia. Não é preciso ser um gênio para desvendar o que passa na cabeça dela.

— Mãe, não fica assim. Lembra que a senhora reclamava com papai porque ele não passava muito tempo com nós? Então, é para esse motivo que eu vou ir para lá. Não torne tudo tão difícil, está bem? Você está dramatizando a coisa toda, está passando muito tempo com a Bia.

Ela abre mais o sorriso e diz novamente que está na hora de ir. Descemos de elevador e encontramos com as duas na portaria. Cumprimento o porteiro e caminho até elas.

— Oi, meninas. — Tia Anna adora quando uso palavras que valorizam sua juventude.

- Animada com a viagem, Cristina? — titia pergunta — Bia está tão animada que nem dormiu direito.

— Ah, mãe! Que exagero.

Bia só está indo porque venceu uma competição de dança, era uma disputa entre ela e minha tia. Minha mãe e eu fomos juradas. Aceitei participar dessa loucura pois era o único jeito dela viajar comigo, aparentemente. Minha adorável tia Anna encontrou uma maneira bem diferenciada de permitir que Bia fosse.

— Muito. E ansiosa também. Vou sentir falta de vocês duas, mas eu quero muito ficar com papai.

— Estou preocupada com ela viajando para outra cidade sem mim. Sempre vemos várias tragédias que acontecem em cidade grande.

— Deixe de besteira, Rosana. Se elas quiserem viajar pelo mundo, eu dou minha benção. É bom conhecer outros lugares. O perigo está em todo canto. Não sei como a Tina aguenta ver sua cara feia todos os dias. Você não vai ficar na cola da menina para sempre.

— Mãe, vocês são idênticas. Tia Rosana, desculpe. Minha mãe não quis dizer isso.

— Idênticas? Eu sou mais que um rostinho bonito, querida. Tenho personalidade própria. E meu cabelo é mais lindo.

— Gente, depois vocês resolvem esse assunto de genética. Não posso perder o voo. — tive que parar a conversa antes que virasse algo mais sério.

Fomos para a garagem e entramos no carro. Anna continuou argumentando sobre o porquê dela ser a mais bonita, apesar de ela e mamãe serem gêmeas idênticas, e disse que minha mãe deveria me dar mais liberdade. Realmente elas têm personalidades distintas. Bia ficou tagarelando junto com elas durante o trajeto até o aeroporto, eu fiquei apenas observando o movimento da cidade diante dos meus olhos. Vou guardar cada pedacinho com carinho na minha memória.

Assim que chegamos no aeroporto, fomos até a fila para fazer o check-in, a fila não está curta, mas não demorou tanto para chegar minha vez como eu pensei, e rapidinho a atendente entregou-me o cartão de embarque.

— Minha filha, por favor, cuide-se e tenha juízo. Quero que ligue para mim assim que chegar na casa do Carlos.

— Sim, senhora. Pode deixar. Vou sentir saudades. Mãe, aproveita esse tempo para sair mais de casa, você também tem que se divertir.

Despeço da minha tia com um abraço e Beatriz faz o mesmo com minha mãe. Seguro as lágrimas que estão quase caindo, nunca fui fã de despedidas. Mas afinal, não haveria despedida se não houvesse encontro. E no momento, estou indo passar um tempo com meu pai. Depois de mais abraços e conselhos, eu e minha amiga fomos despachar as bagagens e nos direcionamos para a sala de embarque para aguardar a hora de embarcar, obviamente. Após alguns minutos entramos no avião, Bia e eu nos acomodamos nos assentos e guardamos as bolsas no compartimento.

A aeromoça começa a dar as instruções e o avião decola. Está previsto para pousar em solo paulista daqui uma hora e meia. Bia decidiu que vai ocupar seu tempo livre colocando o sono em dia, já eu, vou aproveitar para começar mais uma leitura. Na verdade, não consigo parar de pensar em mamãe. Nunca fiquei tanto tempo longe de casa. Tento ficar calma dizendo para mim mesma que tudo vai dar certo, espero que eu acredite. Simplesmente não tem como ter uma crise de insegurança e pedir para o avião mudar a rota e voltar. Ou tem? Eu sei que preciso passar algum tempo com papai, e estou segura da minha decisão, mas não posso ignorar o fato que minha mãe ficará sozinha no nosso apartamento. Ainda acho que ela deveria ficar com a mãe da Beatriz durante esse período. A tia Anna é tão extrovertida e animada, mamãe poderia sair para se divertir com ela. É necessário ter distrações e espairecer, é bom sair da bolha de vez em quando. A vida não se resume em só trabalho. Papai precisa ouvir isso. Depois do divórcio minha mãe só focou em mim e na Universidade, onde ela trabalha e deixou de lado ela mesma.

— A senhorita aceita alguma bebida ou petisco? — a aeromoça questiona com um sorriso profissional estampado nos lábios. Se a cada vez que eu abrisse a boca para dizer algo e tivesse que sorrir para completar minha fala, tenho certeza que minha boca ficaria dormente. Formalidades.

— Pode ser um chá, estou meio nervosa. Chá de camomila, por favor. — uma xícara de chá já basta, não estou tão nervosa. Estou sem vontade para beber chá, mas vou empurrar a goela abaixo. Esse líquido de coloração amarela tem o costume de me deixar mais tranquila em situações de estresse e nervosismo. Por essa razão, tem livros que eu já leio bebericando esse tipo de chá.

— Já trago.

— Obrigada.

Logo após eu ter tomado aquela xícara de chá e ler um pouco mais de três capítulos, acabei adormecendo. Desperto com uma voz noticiando que já vamos aterrissar. Balanço o corpo da Bia para que ela acorde e ela murmura dizendo que acabei com a chance única que ela teve de beijar o Nathan Barone. Quanto drama! Com essa performance ela irá ser a melhor atriz de enredos mexicanos. Reviro os olhos e respondo que sonhos são de graça e ela pode tentar novamente mais tarde. Garota mal educada!

Desembarcamos no Aeroporto de Guarulhos às dez horas, fomos retirar as malas da esteira de bagagens. Com meus olhos de águia avisto meu pai de longe segurando uma cartolina, a euforia me preenche fazendo com que eu puxasse Beatriz pelo braço e saímos correndo como se fôssemos duas crianças com total inocência, sem saber que não convém correr ali. Ou como duas loucas desprovidas de bom senso. Prefiro ficar com a segunda opção. Preciso esclarecer que não tenho esse tipo de comportamento, sabe. Mas a saudade é tanta que sinto que cada segundo é uma barreira que separa papai de mim.

Atrapalho-me com as malas e caio em cima de alguém desavisado do desastre Cristina Escobar. Já era de se esperar que algo aconteceria, em situações como essa eu acredito cada vez mais na Lei de Murphy. Quando recupero do susto vejo que Bia está bem plena segurando risadas enquanto pega sua única mala no chão, noto também que esse alguém desavisado é um garoto. Ele educadamente ajuda-me a levantar e as pessoas que pararam para assistir o desastre voltam a seguir seus caminhos. É, eu sei, bem clichê. Os olhos dele são verdes, mas não é simplesmente qualquer tonalidade de verde, tem algo especial. Arrisco dizer que são verde oliva. E eu nunca vi íris desse tom.

— Ai, desculpa! — meu rosto deve estar vermelho como a capa de "Não se apega, não". Acabei de colocar os pés na Terra da Garoa e já estou causando quedas, bagunça e motivo de risadas alheias. A partir de agora vou voltar agir com a razão e não admitir que a emoção tome conta de mim. — É que eu estava correndo e as malas não colaboram nem um pouco.

— Que pressa hein, moça — ele sorri. Resta saber se esse sorrisinho de canto é da minha situação ou para mim.

— Desculpa... - qual o nome dele mesmo? Ou melhor, nessa confusão chegamos a nos apresentar?

— Felipe. — ele completa. Sorte a minha o garoto notou que eu estava buscando na memória o nome dele. Sorte mesmo, pois eu iria tentar adivinhar falando o primeiro nome masculino que passasse pela minha mente, e seria impossível acertar porque com certeza o nome Felipe não iria ser contemplado pela minha cabeça.

— Prazer, Cristina. — estico o braço para dar um aperto de mão. Graças a Deus que a boa educação que meus pais me ensinaram não foi perdida junto com a dignidade. - Essa é minha amiga Beatriz.

— Não tem problema, acontece com moças bonitas apressadas.

— Vamos, Tina! Preciso dormir e continuar o sonho que você interrompeu. — Bia diz com cara de poucos amigos empurrando minhas malas para mim.

— Então, tchau, meninas. A gente se vê por aí.

- Acho difícil, São Paulo é enorme. - dou de ombros e volto a andar na direção de papai com uma Bia irritada ao meu lado.

Quando chego perto de papai imediatamente leio a seguinte frase escrita na cartolina às pressas, possivelmente pelo estado da letra: "Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso da família. Te amo, filhota" na parte inferior está escrito em letras bem miúdas "Você também, Bia." Provavelmente papai soube que Bia viria comigo depois que o cartaz foi feito. Mas o que vale é a intenção, e pelo contexto da frase creio que papai aprendeu a lição, infelizmente depois do divórcio. De qualquer forma ele está se esforçando e certamente está ganhando pontos com mamãe.

— Papai! Quanto tempo, eu te amo. — dou um abraço tão apertado e não preocupo com o cartaz que está em suas mãos — Eu estava morrendo de saudades. Pensei em fazer uma loucura para que o senhor voltasse para BH voando. — brinco e quando nos soltamos do abraço vejo um sorrisão no seu rosto.

— Ah, eu também senti sua falta. — beija minha testa. — Que bom que sua mãe deixou você vir. Ou melhor, que Anna e Rosana deixaram vocês virem.

— É verdade, tio. Não vejo a hora de conhecer a cidade. — Bia fala com tanto entusiasmo. Onde foi parar o sono e o mau-humor dela?

— Vocês vão ter muito tempo para passeios. Meninas, como foi o voo? Ocorreu tudo bem?

— Deu tudo certo. — minha amiga responde e eu concordo com ela. — Eu dormi o tempo todo, mas se tivesse acontecido algo grave eu iria acordar.

— Que bom, ainda bem. Agora eu quero saber quem está com fome? — Bia e eu levantamos os braços e soltamos gritinhos animados e papai apenas ri. — Vamos para casa, então!

Meu pai enrola o cartaz, pega uma das minhas malas e segue na frente para servir como guia. Bia e eu vamos atrás e eu tento segurar a empolgação dela para não acontecer um escândalo e atrair mais olhares curiosos. À medida que sigo meu pai, observo que seus cabelos estão mais grisalhos no alto da cabeça e que ele se encontra mais magro comparando com a última vez que o vi. Acho que alguém não está se alimentando direito, e não precisa nem citar a causa. Advocacia é tão importante para o senhor Carlos que nem sei o que será dele se um dia não advogar mais.

É a segunda vez que coloco os pés em Sampa. Quando estive aqui pela primeira vez fiquei só um fim de semana para não perder aulas. Foi pouco tempo, mas foi muito bacana. Com a testa colada na janela, fico admirando tudo como se fosse a primeira vez, Bia fica encantada igual a mim e papai faz alguns comentários engraçadinhos durante o caminho para casa. Beatriz e eu estamos muito impressionadas que tagarelamos sobre tudo que vemos. Com todos aqueles prédios quase não dar para ver a imensidão do céu azul. Se um paulista disser "ah", aposto que nós vamos falar sobre o quão fofo o sotaque é. Nossas expressões faciais denunciam que somos turistas, assim como minha amiga, não sei guardar para mim a felicidade de conhecer coisas novas. É interessante pensar que as pessoas estão totalmente alheias à minha alegria de estar aqui, para elas são mais um dia comum. Talvez não para Felipe, acho que ele vai recordar da data de hoje como o dia que uma turista desastrada e desajeitada o atropelou. Bom, prefiro não pensar sobre isso.

Ficamos quase uma hora no trânsito e nem ficamos entediadas. Papai nem disse nada sobre, com certeza já está acostumado. Alguém desconhecido poderia achar que viemos do interior. Belo Horizonte também é uma cidade grande, mas não se compara ao caos desta vasta metrópole brasileira. Estou ansiosa para conhecer o Museu de Artes de São Paulo, talvez Bia não queira ir, ela não gosta. Só digo uma coisa: São Paulo, espere por mim! Quero conhecer muitas coisas. Vamos usufruir de tudo que a cidade tem a oferecer. Tenho certeza absoluta que não teremos dificuldades para viver durante um tempo aqui na cidade, como um bom mamífero vamos nos adaptar a um novo habitat.

Chegamos na Vila Mariana e papai conduz o veículo para sua casa, trajeto que foi esquecido por mim. Meses atrás quando coloquei meus pés na calçada da casa dele, fiquei impressionada com o prezado e fascinante jardim. Nesse momento, quando as flores e arbustos surgem no meu campo de visão, percebo que continuo apreciando todas as rosas vermelhas, margaridas, amores-perfeitos, hibiscos e alamandas amarelas. É tão lindo, pela expressão facial da minha amiga, ela compartilha a mesma opinião, apesar de não ligar muito. As cores e tonalidades das flores formam um equilíbrio e contraste perfeito. É como se elas fossem destinadas a serem plantadas no mesmo jardim. Se Bia tivesse acesso aos meus pensamentos, ela diria que sou poética demais e que são somente plantas. Um dia questionei papai sobre o motivo de ter um jardim, (achei estranho ele separar tempo para cuidar de plantas, já que o trabalho está no topo da lista de prioridades) ele respondeu que é pela beleza. Fiquei intrigada, pois pensei que era por causa da minha mãe. Ela ama flores e é a razão de eu também gostar. Talvez eu esteja certa.

Ao entrarmos em casa percebo que tudo está exatamente como antes, pelo menos na sala. A mesinha de centro que fica em frente de um dos sofás com uma foto minha e de meu pai ainda tirada em Belo Horizonte, a decoração composta por vasos antigos e quadros que não faço ideia de quem pintou. Lúcia veio nos receber e oferecer ajuda com as malas. Recusei, não há necessidade. Digamos que ela não está mais na flor da idade, eu e Bia podemos subir com tudo. Acontece que Lúcia é muito gentil e prestativa, ela é adorável. Essa senhora trabalha aqui praticamente desde que meu pai mudou para cá. Ele tem muita sorte de tê-la, ela preocupa de verdade com ele e faz o que pode para manter as coisas em ordem e harmonia.

— Ah, menina. Quanto tempo, Tina! Olha só para você, está crescida. — damos um abraço caloroso.

— Eu acho que continuo do mesmo jeitinho. Está tudo bem com a senhora?

— Estou ótima, minha querida. Sei que é por educação, mas não precisa me chamar de senhora. Ora! Ainda me sinto jovem, e quem é essa menina linda que está com você?

— Onde estou com a cabeça? Lúcia, essa é minha prima e melhor amiga Beatriz.

— Oi, é um prazer conhecê-la. — Bia estende o braço para dar um aperto de mão.

— O prazer é meu. — Lúcia não repete o gesto de Bia, para nossa surpresa, ela a puxou para um abraço apertado e em seguida apertou as bochechas da minha amiga.

— Vou ir para o escritório, estou à espera de uma ligação importante. Se precisarem de mim é só chamar. — papai se pronunciou pela primeira vez desde que passamos pela porta. Fiquei tão distraída com Lúcia que nem lembrei do meu pai.

— Sim, pai. — Não vou negar que me sinto um pouquinho chateada. Mas como é importante, eu entendo. Ainda vamos passar um bom tempo juntos, é o que eu espero.

Lúcia fez questão de nos acompanhar até o quarto para desfazer as malas e descansar. Deixei minhas roupas bem organizadas na minha parte do armário e coloquei os livros no nicho que decora o quarto, não gosto de bagunça Enquanto Bia juntou tudo e jogou na parte dela, literalmente. Lúcia sai do quarto com a promessa de voltar quando o almoço for servido.

— Quando vou poder chamá-la de avó? — minha amiga pergunta. — Ela está sendo muito fofa.

 Aposto que ela vai adorar.

 Só vou ter meu encontro com o Nathan Barone depois do almoço. Não dá para dormir com fome.

Sério isso, Beatriz? Fala sério. Que lástima. 

Aproveito o silêncio e disco o número de mamãe. Tenho que avisar que chegamos bem e em segurança. Depois de cair várias vezes na caixa postal, ela atendeu. Disse que estava longe do celular e por isso não ouviu o aparelho berrar durante poucos minutos. E como já era de se esperar, dona Rosana afirmou que está tranquila de ter ocorrido tudo bem. Mas o nível de preocupação continua o mesmo, acho que mamãe pensa que a cidade vai me engolir a qualquer momento. Ela também tornou a repetir as recomendações que me passou algumas horas atrás e perguntou sobre meu pai.

— Papai está no escritório, mãe.

— Ele não tira um minuto de folga do trabalho

Espero que ele mude esse comportamento enquanto eu estiver aqui.

— Verdade. Mãe, diz para a tia Anna que eu e Bia estamos bem, por favor. — olho para minha colega de quarto. — Beatriz está com o celular na mão, mas não sei se ela está fazendo isso.

— Pode apostar que ela não fez. — ouço a voz da tia Anna ao fundo. Mamãe nem avisou que elas estão juntas, espero que passem muito tempo aproveitando a companhia uma da outra.

— Ela já sabe, Tina. Coloquei a ligação no modo viva-voz.

— Eu percebi. Ah, eu preciso desligar agora. Lúcia está aqui fazendo gestos e dizendo algo, o almoço deve estar pronto.

— Ok. Pode comer tudo, mocinha. Se deixar comida no prato, tenho meus meios de descobrir. Conversamos mais tarde, então. Amo você, filha. Tchau.

— Te amo. Amo a senhora também, titia. Tchau. — desligo a chamada.

                
       ♡

Oi, pessoal! Eu estou apreensiva e animada de estar aqui mostrando o que eu escrevi para vocês. É a segunda vez que estou apostando nesse romance e mesmo eu sendo insegura com meu projeto, preciso admitir que estou mais satisfeita com essa versão.

Se vocês estão gostando da história e vão entrar no barco para me acompanhar nessa jornada, a passagem são votos e comentários. É claro que não é obrigatório, mas é por meio deles que vou saber se vocês realmente estão gostando. Eu pretendo postar uma vez por semana SE TUDO DER CERTO. Esse "tudo" é minha criatividade, tempo e disponibilidade. Eu não tenho muitos capítulos escritos e por isso estou contando com a sorte.
Beijinhos e até o próximo capítulo!
😚❤

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