Capítulo 26
Estou dentro do ônibus, pensando em como serão as coisas a partir de agora. Decidi não avisar ninguém, estou com tanto medo... esfrego minha barriga, um costume que adquiri depois que soube da gravidez e tento me tranquilizar.
Acabo pegando no sono com o sacolejo ritmado do automóvel e acordo quando sinto que estamos parados.
Olho pela janela e reconheço a rodoviária. É hora de enfrentar minha família.
Espero que me entreguem a pequena mala e pego um táxi até a casa na qual vivi toda a minha vida.
Durante todo o trajeto, ensaio o que direi para mamãe e Emma. Estou tão envergonhada por meu comportamento, mas uma coisa que Joseph disse é certa, elas são minha família e irão me apoiar, não importa o que aconteça.
Não posso mais fugir da realidade, uma hora ou outra eles teriam que saber desse bebê e posso apostar que depois de ficar brava, mamãe e Emma vão amá-lo tanto quanto eu já o amo.
Alex também não sabe que estou na cidade, sou tão covarde que nem o avisei.
Pelo que fiquei sabendo, ele teve que voltar por algum problema com os pais, mas me mandou uma mensagem dizendo que ainda estaria me esperando, o tempo que for, nesse momento percebi que não o mereço.
Ele jamais desconfiou de mim, me procurou sem cansar e quando me encontrou, fez questão de deixar bem claro que estaria comigo, sem importar a minha decisão.
Jamais imaginei que esse garoto fosse tão leal.
- São doze reais, senhorita. -O taxista informou e nesse momento percebi que havíamos chegado.
- Oh... já chegamos... -Tiro o dinheiro do bolso e o entrego. O senhor de meia idade tira minha mala do bagageiro e a entrega delicadamente. - Obrigada. -Agradeço e ele apenas balança a cabeça, entrando novamente no carro e me deixando sozinha para enfrentar meus medos.
Respiro fundo algumas vezes antes de finalmente começar a caminhar até a porta da casa.
Deus, como senti saudades.
Não me sinto mais no direito de entrar simplesmente com minha chave, pelo que toco a campainha algumas vezes e espero pacientemente até que escuto alguns passos e vejo a maçaneta se movimentando para abrir a porta.
Mamãe aparece no meu campo de visão e nesse momento tudo parece estar acontecendo em câmera lenta.
- Margo... -Ela sussurra surpreendida. - V-você está aqui...
- Sim. Eu voltei mamãe. -Dou um sorriso sem graça e ela me puxa para um abraço apertado, começando a chorar quase que imediatamente. Assim como ela, derramo lágrimas e mais lágrimas. Senti tantas saudades dela, de Emma, do seu abraço... finalmente estou de volta ao meu lar.
- Entre filha, temos muito que conversar. -Me leva para dentro e sento no sofá, me sentindo uma intrusa na minha própria casa.
- Mamãe eu... -começo, mas ela me interrompe.
- Depois meu anjo, depois... -Vai até a cozinha e traz um enorme copo com suco de laranja e umas bolachas doces. - Toma, deve estar com fome. -Um sorriso genuíno brota no meu rosto. Mães sempre serão mães.
Como algumas bolachas e bebo todo o suco, percebendo que realmente estava com muita fome. Percebo que seu olhar permanece por um bom tempo na minha barriga e decido que já é hora dela saber a verdade.
Coloco o copo em cima da pequena mesa de centro, limpo minha boca com um guardanapo e respiro fundo.
- Mãe, estou grávida do Alex. -Solto de uma vez, tremendo de nervoso.
Sua expressão se alterna entre surpresa, felicidade e talvez algo de repreensão.
Por alguns minutos, ela não diz nada, apenas absorve a notícia, talvez tentando encontrar as palavras certas para dizer. - Eu não queria que isso tivesse acontecido, quando fui morar com Joseph, não sabia de nada, depois comecei a passar mal e fiz um teste que deu positivo... eu sinto muito por mentir, não era minha intenção, eu estava com tanto medo do que vocês iriam pensar de mim, eu.... -falo como se uma comporta tivesse sido aberta e ela ainda me olha impactada. Respiro fundo para levar um pouco de ar aos meus pulmões e ela aproveita para levantar a sua mão me pedindo silêncio.
- Filha, o que você fez não foi certo, mas eu a entendo. E saiba que jamais pensaria mal de você! -Exclama e me sinto envergonhada por sequer haver cogitado essa possibilidade. - Nós vamos dar todo o amor a esse bebê, disso pode ter certeza. -Assegura e me abraça novamente, reafirmando o que acaba de dizer.
Meu coração se acalma um pouquinho mais ao saber que terei o seu apoio.
- Alex já sabe? -Pergunta, acariciando meu abdomem, maravilhada.
- Sim. Mas ele não sabe que estou aqui. -Confesso e ela me observa curiosa.
- Como ele reagiu quando soube?
- Ele ficou tão feliz mãe, você tinha que ver sua expressão... até beijou a minha barriga e disse que já o amava. -Conto tudo o que aconteceu naquela pracinha, lembrando daquele momento precioso.
- Acho que ele merece saber que você voltou, meu bem. Ele a ama muito sabia? Veio aqui quase todos os dias, tentar saber onde você estava. Fiquei tão triste por ele. -Meus olhos se enchem de lágrimas ao saber disso. Não posso mais me esconder, preciso encontrá-lo e dizer a ele que o amo tanto que chega a doer.
- Eu sei disso... preciso ligar para Amanda primeiro. Pelo que soube, ela está bastante chateada comigo.
- Mas sabe que ela vai a perdoar não é mesmo?
- Sim... ela é como uma irmã para mim. -Lembro dos nossos momentos no time e uma nostalgia me invade. Sorrio involuntariamente.
- E aposto que ela sente o mesmo sobre você. -Sorri e me abraça outra vez. - Querida, preciso buscar a sua irmã no colégio.
- Não vou sair daqui, não se preocupe. -A tranquilo quando percebo seu temor.
- Ok. -Suspira aliviada e sai me deixando sozinha.
Aproveito para ligar para minha amiga.
Digito o seu número no celular e respiro fundo algumas vezes antes de finalmente apertar o botão de "ligar".
Depois de alguns longos minutos ela atende, respirando rápido.
- Alô?
- Amanda... sou eu. Estou em casa. -Essa simples frase basta para que ela entenda o que quero dizer.
- Marjorie... -Posso sentir que ela está chateada. - Fico muito feliz que tenha voltado, mas precisamos conversar. Quero muito entender porque resolveu sumir sem me dizer nada...
- Eu sinto tanto amiga... não estava nos meus planos ficar tanto tempo... aconteceram tantas coisas. -Conto tudo para ela, desde o momento em que parti até o momento em que voltei. Amanda escuta tudo calada e quando finalmente termino o meu relato, espero que ela diga algo.
- Margo... eu estou tão feliz! -Solto a respiração ao perceber que tudo vai ficar bem. - Finalmente terei um sobrinho! -Praticamente grita e caio na risada. Amanda é única e sempre será importante para mim.
Conversamos por mais algumas horas, fazendo planos para o futuro, escolhendo possíveis nomes para o bebê, e esqueço por um tempo, tudo o que passei.
Encerro a ligação quando mamãe entra acompanhada de Emma, que me observa com uma expressão séria.
- Você voltou. -Solta brava.
- Voltei meu amor. Me desculpa por ter ido embora... mas sabe de uma coisa? Eu jamais deixei de pensar em você, porque te amo muito. -A abraço e sinto seus pequenos braços rodeando meu corpo.
- Eu também te amo, e senti saudades. -Solta e meus olhos se enchem de lágrimas. - A mamãe disse que você tem algo para contar. -Pergunta curiosa e lanço um olhar de soslaio para mamãe que observa tudo calada.
- Sim... você vai ser titia! -Exclamo e ela arregala os olhos, me arrancando uma risada por sua expressão engraçada.
- Sério? Você vai ter um bebê? Eu vou poder segurar ele? -De repente sou atacada com uma enxurrada de perguntas, que respondo com um sorriso enorme no rosto.
Meu coração está tão cheio de felicidade que sinto que irei transbordar.
Só falta uma coisa por fazer.
Abraço as duas mulheres da minha vida e faço um sinal para mamãe, que capta minha intenção rapidamente.
- Boa sorte querida, ele vai ficar muito feliz quando te ver. -Me abraça e recebo um beijo na bochecha.
Ligo para Amanda enquanto espero o táxi.
- O que houve? -Pergunta.
- Preciso que me faça um favor... -Peço e explico o meu plano. Amanda concorda rapidamente e quando encerro a ligação, sinto que estou tremendo.
********
Depois de pagar o táxi, caminho até a praça esperando que tudo tenha saído como o planejado.
Pedi que Amanda ligasse para Alex, dizendo que precisava encontrá-lo urgente na praça de sempre. Quero fazer uma surpresa para o garoto que amo incondicionalmente.
Me tranquilizo ao ver o seu carro estacionado e procuro sua silhueta pelo lugar que foi o nosso escape do mundo real.
O encontro sentado na pequena ponte de costas para mim, observando os patinhos no lago, na mesma posição que eu costumava ficar.
Me aproximo lentamente e me sento ao seu lado.
- Eles são tão lindos... -Comento e ele apenas balança a cabeça até que se vira rapidamente, ao reconhecer minha voz.
- Marjorie? -Pergunta como se estivesse tendo uma alucinação.
- Sou eu meu amor, finalmente voltei. -Sussurro e vejo o exato momento em que ele percebe a força das minhas palavras.
Alex se levanta e o acompanho em um abraço apertado.
- Deus, eu te amo tanto! -Me aperta ainda mais.
- Eu também te amo, me desculpa por tudo? -Peço envergonhada.
Alex encosta sua testa na minha e absorvemos um ao outro por alguns minutos.
De repente, como se uma força sobrenatural nos conduzisse, seus lábios pairam em cima dos meus, e nos beijamos apaixonadamente.
Um beijo cheio de significados.
- Esqueça o passado, o que importa é que você está aqui, comigo. Senti tanto a sua falta... não deixei de pensar em você por um segundo sequer. -Confessa e passo meus braços pelo seu pescoço.
- Eu também pensei em você tanto que meu peito doía de saudade. -Sorri.
A felicidade transbordando por todo o meu ser.
- Meus pais já sabem... -Essa frase me deu medo e paz ao mesmo tempo.
- O que eles disseram?
- No começo ficaram bravos, mas depois já estavam comprando coisas para o neto. -Sorriu feliz. - E eles querem conversar com você.
- Devo me preocupar? -Pergunto nervosa. Seus pais me dão medo. Principalmente o senhor Estensoro.
- Eu sempre vou estar do seu lado, não precisa se preocupar. -Promete e o beijo novamente.
Ficamos abraçados por mais algumas horas, conversando sobre tudo e aproveitando a companhia um do outro, até que começa a escurecer e preciso voltar para casa.
Entramos no seu carro e suas mãos não deixam de me tocar por um segundo sequer, como se eu fosse desaparecer.
- Estou aqui meu anjo e não penso ir embora novamente. -Sussurro e percebo que ele respira profundamente.
Quando estacionamos, ele fica receoso em me deixar ir.
- Queria poder acordar ao seu lado...
- Eu também, mas não podemos fazer isso, não por enquanto pelo menos. -Brinco e ele sorri. - O que acha de almoçar conosco amanhã? - Ele aceita rapidamente o convite e depois de nos despedirmos com um beijo demorado e de receber um beijo no abdômen, passo pela porta e vejo mamãe e Emma com o rosto colado na janela.
- Curiosas! -Brinco e elas se assustam ao serem pegas no flagra.
Comento algo sobre o nosso encontro e sobre o almoço, mamãe fica super feliz assim como Emma, por ganhar um irmão, como ela mesma disse.
Sinto que todo o peso do meu corpo foi retirado e agora posso dizer que estou em paz.
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