Capítulo 18

Por mais que esteja escuro, sinto o olhar de Alex sobre mim. Suas mãos me rodeiam e me aconchego no seu abraço. Seus lábios pousam na minha testa e despejam um beijo carinhoso. Posso sentir que ele está sorrindo e para ser sincera, também estou.

Não sei porque neguei por tanto tempo que eu o amava. Foi tão libertador poder finalmente dizer o que sinto, abertamente, sem medo de ser julgada.

Sou embalada pelo som constante dos seus batimentos cardíacos e acabo fazendo algo que não conseguia a dias: dormir.

Sinto calor e um peso enorme em cima de mim. Abro meus olhos lentamente e tento lembrar de onde estou no momento.

As lembranças do dia anterior me vem à mente, quando um braço musculoso me puxa para si e me aperta de maneira sensual.

Alex ainda está dormindo, e o movimento é totalmente involuntário, o que me faz soltar uma risadinha boba.

Nunca pensei que chegaria esse dia, em que eu Marjorie Evans, sorriria igual uma adolescente apaixonada.

Tento me esquivar do seu abraço, mas acabo o acordando sem querer.

—Onde pensa que vai moça? -Sua voz rouca de sono me acaba distraindo por alguns segundos. Observo seu corpo coberto apenas da cintura para baixo, me surpreendendo ao descobrir que algumas tatuagens enfeitam sua pele morena.

De repente sua boca se abre em um sorriso e eu acabo rindo também, como se fosse um espelho bem ali na sua frente.

Seus braços me puxam e acabo caindo em cima dele, sendo presa novamente pelos seus braços. —Se pensa que vai escapar de mim, está muito enganada…

Solta antes de me dar um beijo rápido.

—Não ia fugir, só queria ir até o banheiro… -Confesso e ele parece feliz ao saber que não tenho nenhuma intenção de ir embora, não por agora pelo menos.

—Isso é ótimo, porque esperava mesmo, não tomar café da manhã sozinho.

Quando a frase escapa da sua boca, sinto algo de pena por ele, seus pais são tão ausentes, não sabem o que estão perdendo. Automaticamente a lembrança do meu pai me vem à mente e minha expressão se transforma em dor novamente.

—Ei, o que foi? -Pergunta passando os dedos pelo meu rosto.

—Nada, é só que eu… deixa para lá, vem, vamos comer, estou faminta. -Tento desconversar, mas Alex é inteligente e percebe o que está acontecendo rapidamente. 

—Marjorie, não adianta querer evitar pensar no seu pai. Ele sempre vai estar na sua memória, o único que você pode e deve fazer, é lembrar dos momentos felizes que teve com ele, das risadas, dos passeios… assim, a dor vai ser substituída aos poucos apenas pela saudade de uma pessoa amada.

Concordo com a cabeça, sem conseguir falar nada. Desde quando Alex é tão poético? Pelo visto, eu o julguei sem ao menos conhecê-lo realmente.

Recebo outro abraço demorado, damos um último beijo e vou para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto antes de descer.

Depois que já estou com a cara lavada e com minhas roupas do dia anterior, vou até a cozinha e encontro Alex colocando a mesa para nós dois.

Há uma variedade de pães, bolos, sucos, café e inclusive chás, o que me faz rir.

—Nossa, um batalhão vem comer hoje e não estou sabendo? -Brinco e ele se assusta levemente com minha aparição repentina.

—Engraçadinha… eu não sei do que você gosta, então pedi que trouxessem um pouco de… tudo. -Diz um pouco envergonhado.

Me aproximo e o abraço, sentindo que estou no melhor lugar do mundo. Respiro profundamente sentindo o cheiro do seu perfume e beijo o seu pescoço, lhe arrancando um arrepio.

—Obrigada, eu como qualquer coisa, não precisava se preocupar. -Lhe dou outro selinho, como se não conseguisse ficar sem beijá-lo por um segundo sequer e depois me sento em uma das cadeiras vazias.

Alex ocupa o lugar ao lado do meu, e comemos silenciosamente por vários minutos.

Eu não fazia uma refeição completa há dias, estava definhando na minha própria dor e me deixando cair, o que me faz pensar, o que aconteceria se eu não tivesse sido encontrada ontem?

Balanço a cabeça e me concentro em comer. Não quero mais pensar nisso. Preciso aproveitar esse momento antes que as coisas voltem ao normal.

Terminamos de comer e insisto para deixarmos a mesa limpa, guardando toda a comida que sobrou e levando a louça suja até a pia para que a empregada as lave mais tarde.

Voltamos para o quarto de hóspedes e nos deitamos outra vez, nos abraçando imediatamente, como se fizéssemos isso a anos.

—Marjorie… -A voz grossa me chama a atenção depois de vários minutos em silêncio. —Eu gostaria de te pedir uma coisa. -Ele parece nervoso e isso me deixa muito curiosa.

—Pode falar. -O incentivo e sinto que ele está tragando saliva, pelo movimento do seu peito que sobe e desce rapidamente.

—Eu… quero que… você sabe… que você…

—Alex, por favor, não dê mais voltas e diga o que quer. -Minha falta de paciência resolve dar as caras e ele solta uma risada achando graça, não sei do que.

—Sabe o que mais gosto de você? -Percebo que ele está mudando de assunto, e me debruço sobre o seu peitoral musculoso curiosa, fazendo um gesto para que ele continue falando. —Você é sincera. Gosta de ir direto ao ponto, não quer nada de rodeios… -Solta e sou obrigada a concordar com ele. —Além de que é tão linda, que às vezes eu me pego pensando que deve haver um monte de marmanjos dando em cima de você… principalmente aquele idiota do Marcel… -Sua voz agora adquire um tom raivoso e dou risada da sua suposição.

—Ah Alex… -Outra risada me escapa e ele me observa sério.  —Não precisa ficar com ciúmes do Marcel.

—Não estou com ciúmes dele… -Começa mas lhe lanço um olhar de que sei muito bem que está mentindo. —Tudo bem, admito. Algumas vezes quero dizer a ele que não chegue perto de você, nem que te abrace. Aquele dia no colégio quando você deu seu número a ele, fiquei com tanto ciúme, que minha vontade era de socar a cara dele. -Essa revelação me pega completamente de surpresa. Então ele agiu daquela maneira, porque estava com ciúmes. Interessante.

—Sabe… por mais que eu gostaria de fazer você continuar pensando isso, tenho que lhe dizer que o que viu aquele dia, foi totalmente o contrário do que pensou. Marcel me pediu o número de Amanda, porque segundo ele, está apaixonado pela minha amiga. E quanto ao abraço, ele sempre me cumprimenta assim, eu sei que ele é um galinha, e ambos sabemos que não haverá nada mais além da nossa amizade. -Confesso e posso reconhecer o arrependimento no seu olhar. 

—Merda. Eu fui um babaca né?

—É, você foi. Mas eu também fui. Fiz a mesma coisa com o seu beijo com Melina.

Ele balança a cabeça. Ambos nos equivocamos e tiramos conclusões precipitadas, mas o importante é reconhecer o erro e seguir em frente.

—Só por favor, não a beije novamente… -Sinto meu rosto ficando vermelho de vergonha. Isso mesmo, eu também me mordi de ciúmes quando vi aquela cena deles dois. Fazer o que, não podemos controlar nossas emoções…

—Não vou fazer mais isso, pode ficar tranquila. -Promete e eu beijo sua boca em agradecimento. —Porém com uma condição. -Brinca com meus lábios e tenho que me concentrar bastante para entender do que se trata essa “condição”.

—Se for pedir para que deixe de abraçar o meu amigo, pode ir tirando o cavalinho de pau da…-Começo em um tom irritado, quando sou interrompida pelas três palavras que nunca imaginei escutar da sua boca.

—Seja minha namorada.

—O-o que? -Me levanto de repente e caminho nervosa pelo quarto.

—Isso mesmo que escutou, Marjorie. Eu gosto de você, você gosta de mim, não há motivos para não sermos namorados, de verdade. -Assinala a última palavra, já que antes éramos namorados de mentirinha. Ele se aproxima e me abraça.

—Eu… -As palavras fogem da minha boca. Alex se separa de mim e me olha com apreensão.

—Olha, quero que pense a respeito, sei que te peguei de surpresa, não precisa me responder agora, eu vou esperar até que estiver pronta, é só que pensei que… era um bom momento, você sabe… -Ele suspira e me sinto horrível por dar a impressão de que não quero ser sua namorada. Eu fiquei receosa porque jamais namorei na vida, não queria que ele pensasse que não gosto dele. A resposta já está enraizada na minha mente antes mesmo de botar a palavra para fora.

—Aceito.

**********

Depois de aceitar o pedido de namoro de Alex, fui para casa me desculpar com mamãe e Emma. Conversei com as duas e disse tudo o que estava trancado no meu peito.

Choramos horrores mas prometi que não as deixaria novamente, que tentaria ser melhor para elas e para mim mesma.

Quando contei que estava namorando, elas ficaram tão felizes e Emma me abraçou dizendo que sabia que a gente ficaria junto. Não consegui segurar a risada, minha irmã sempre tão inteligente.

Os dias começaram a passar cada vez mais rápido e na escola, acabamos virando o assunto principal das fofocas, já que um dia, quando cheguei, Alex me recebeu com um belo de um beijo, me deixando completamente desconcertada.

Melina ficou furiosa, obviamente, mas não ligo para ela, só quero voltar a ser feliz e tentar me acostumar com o fato de que papai já não estará aqui conosco, pelo menos não fisicamente.

Amanda quase surtou quando soube da novidade e gritou um “eu sabia” que deu para se ouvir desde o espaço. Ela ficou muito feliz, já que segundo suas palavras, eu e ele eramos um casal perfeito.

As coisas estavam começando a voltar para os trilhos e quando menos pensei, estávamos a uma semana do campeonato interestadual, pelo que o time foi intimado aos treinos, sem possibilidade de faltas, de doenças repentinas ou desculpas esfarrapadas. Nosso título de invictas estava literalmente em jogo e o time adversário era muito forte, o que não deixava margem para erros. 

—Evans, eu queria dizer que sinto muito pela sua perda. -O treinador Rogers disse quando cheguei para o primeiro dia de treino depois de faltar tanto tempo. Pelo que entendi, Amanda lhe explicou o que aconteceu e ele me deu essa chance para voltar, o que deixou agradecida e emocionada.

—Obrigada, treinador. -Respondi um pouco envergonhada.

—Bom, agora comecemos a treinar, para chutar a bunda daquelas cobras. -Gritou para todas. Imediatamente nos colocamos em posição e começamos a executar os movimentos e jogadas ensaiadas. Uma sensação de paz me invadiu, me fazendo pensar nos dias que eu perdi enquanto me afundava na tristeza. Esse time é minha família também, e elas merecem que eu dê o melhor de mim.

Jogamos por mais de duas horas e depois de dar a última apitada nos liberando para ir embora, peguei minhas coisas e fui até o vestiário tomar banho e me trocar. Estava exausta afinal não havia deixado de treinar, mas meu corpo agradecerá por esse cansaço mais tarde, quando eu deitar e dormir como pedra.

De banho tomado e com a bolsa de treino pendurada no ombro, me dirigi até a saída do colégio.

Um sorriso brotou no meu rosto ao ver Alex parado ao lado da minha moto. Ele combina tanto com ela que qualquer um pensaria que é dele.

—Oi… -Digo me aproximando e dando um beijo rápido na sua boca. Ao tentar me afastar, ele segura meu braço e me puxa para outro beijo mais profundo, como se o primeiro não fosse o suficiente para acalmar a sua sede. Nunca direi a ninguém, mas eu sempre faço isso de propósito, porque adoro a sensação de saber que ele não resiste a um beijo meu.

—Estava indo para casa? -Pergunta depois de separar seus lábios dos meus.

—Sim… acabamos de ser liberadas do treino. Porque, quer me sequestrar por acaso? -Minha curiosidade abre passagem e as palavras saem da minha boca sem ter tempo de ser filtradas.

—Quero te levar a um lugar. -O mistério na sua voz me deixa ainda mais curiosa.

—Tudo bem… -Digo lentamente e ele abre um sorrisinho sexy.

—Mas precisamos ir de carro… Você terá que deixar sua moto aqui e depois eu trago você de volta.

—Não sei, Alex… e se roubarem ela ou furarem os pneus…

—Fica tranquila, não vai acontecer nada com a Judite, eu prometo. -Ele brinca e dou um tapa no seu braço.

—O nome dela não é Judite e você sabe disso, é Jason.

—Tudo bem, tudo bem, não precisa ficar brava. -Me beija e nos perdemos por alguns minutos, em um abraço apaixonado. —Vamos antes que chamem a polícia para nós! -Sorri nos meus lábios e puxa meu braço até o seu carro de última geração.

Tento tirar informações dele sobre onde estamos indo, mas ele se mantém na margem, não me dá uma pista sequer.

Viajamos por quase meia hora e o cenário caótico da cidade começa a ser substituído por pasto e árvores, em uma paisagem de tirar o fôlego.

Alguns minutos depois, entramos em uma estrada de terra e Alex dirige tranquilo até parar diante de um portão de madeira vermelha que parece entalhado por algum artista de renome.

Ele desce do carro e abre o enorme cadeado com uma chave que tira do bolso.

Apenas quando entro na propriedade, percebo o enorme chalé de madeira. 

O lugar é tão lindo e fico me perguntando quando Alex pensou nisso tudo.

Observo tudo atentamente, impressionada com tanta beleza rústica.

Alex tira algumas coisas do porta malas e leva para dentro do chalé.

Entro depois de alguns minutos e o encontro na cozinha olhando a geladeira e sorrindo.

—Temos comida, água, luz e gás. -Me diz orgulhoso e me aproximo dele, o abraçando quando o alcanço.

—E como o senhor se atreve a me sequestrar assim? -Brinco e ele me aperta ainda mais.

—Eu queria que você escapasse um pouco do barulho da cidade. Hoje é sexta e vocês só voltarão a treinar na segunda, então pedi permissão para sua mãe para trazer você aqui…

Realmente ele pensou em tudo e fico imaginando a cena dele pedindo para que mamãe me deixe passar a noite com ele em um chalé no meio do nada.

—Obrigada Alex, eu realmente precisava disso. -Beijo sua bochecha e ele abre um sorriso ainda maior, causando uma sensação de felicidade enorme dentro de mim.

—O único que ela me pediu, é para devolvê-la amanhã, pois você prometeu levar Emma no parque. -Ela tem razão. Eu prometi e não posso falhar, caso contrário, minha irmã ficaria muito triste.  

Balanço a cabeça enquanto me solto do seu abraço e vou explorar o lugar.

A parte de trás consegue ser ainda mais linda com um enorme lago de tirar o fôlego.

O céu azul começa a ser coberto pela escuridão da noite e Alex aparece com uma enorme cesta de piquenique e alguns cobertores.

Arrumamos tudo no chão e comemos a comida deliciosa, sendo iluminados apenas pela luz da lua e das estrelas.

Observo os milhares de pontinhos brancos no céu, me perguntando qual deles será papai.

Um sorriso nostálgico brota no meu rosto ao me lembrar dele. Como Alex previu, a dor foi substituída pela saudade e apenas as lembranças felizes permaneceram dentro de mim.

—Daria um dólar pelos seus pensamentos… -A voz de Alex ressoa no meu ouvido me tirando do transe.

—Estava pensando qual dessas estrelas deve ser papai… -Respondo e ele sorri comigo.

—Talvez todas sejam ele. Não há como saber. O único que posso te garantir, é que ele está te cuidando desde onde estiver.

Uma lágrima escorre pela minha bochecha ao escutar suas palavras. Mas dessa vez não é de tristeza e sim de emoção.

Seus dedos percorrem o meu rosto e ele limpa minha pele molhada, sem dizer nada.

Nos deitamos no cobertor e ficamos abraçados um bom tempo observando o céu, cada um no seu mundo, no entanto, conscientes da presença um do outro ali.

O clima começa a ficar mais fresco então nos cobrimos com outro cobertor grosso, nos esquentando entre beijos e abraços não tão inocentes.

Voltamos para casa algumas horas depois e vamos direto para a cama.

Alex não tenta passar para a segunda base, e eu me apaixono um pouquinho mais por ele, pois nesse momento tudo o que eu preciso, é de sua companhia e ele está consciente disso. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top