Capítulo 17

Fiquei tão surpresa com o beijo, que demorei quase meia hora para terminar de me arrumar e finalmente ir para casa. Minhas mãos tremiam tanto, que derrubei as chaves da moto algumas vezes antes de finalmente colocá-las na ignição.

Depois de conseguir, giro a chave e dou vida ao motor antigo, entrando no trânsito caótico de Santa Helena.

Como é horário de saída de todos do trabalho, levo quase meia hora para chegar em casa.

Ainda estou tão distraída com os acontecimentos de hoje, que sequer noto a enorme viatura policial estacionada do outro lado da rua.

Passo pela porta como sempre faço, mas ao entrar na pequena sala, quase derrapo com a imagem que encontro.

Mamãe está sentada em um dos sofás com os olhos vermelhos e inchados e há dois policiais no outro sofá, que me observam com expressões estranhas.

—Mãe? Está tudo bem? -Pergunto, largando a mochila e o capacete no chão de qualquer jeito.

—Margo… -Ela começa mas um soluço a impede de continuar. Lágrimas deslizam pela sua bochecha até caírem e se perderem no tapete azul escuro. Meu coração começa a bater tão forte que sinto que vou desmaiar a qualquer momento. 

—Me digam o que diabos está acontecendo! 

—Acho melhor você se sentar… -Um dos policiais começa mas faço um gesto para que ele se cale. Não sei de onde tirei a coragem para desrespeitar os oficiais, no entanto não estou nem ligando.

—Eu só vou sentar, quando finalmente me explicarem o porquê de estarem aqui! -Vocifero e passo o olhar pela casa, constatando algo. —Onde está minha irmã? -Pergunto para mamãe, vendo o seu quarto vazio, pela porta aberta.

—Emma está na vizinha… eles disseram que era melhor ela não estar aqui quando… oh Margo… -Meus olhos começam a arder e de repente uma comporta se abre liberando uma enxurrada de lágrimas salgadas.

—Onde está papai? -Uma terrível sensação se apodera de mim e um aperto no meu peito, me tira toda a capacidade de respirar. Ninguém me responde por alguns segundos. —ONDE ESTÁ PAPAI! -Grito e mamãe chora ainda mais. —Onde está meu pai? -Pergunto novamente, dessa vez em um sussurro afogado entre as lágrimas que continuam caindo.

Um dos policiais caminha até ficar de frente para mim e praticamente me arrasta até um lugar vazio no sofá ao lado do companheiro.

De canto de olho, vejo os ombros da minha mãe caídos, como se tivesse uma tonelada em cima.

—Margo, eu sinto muito… o seu pai, ele… sofreu um acidente a algumas horas e não resistiu, acabou falecendo no local.

Nesse momento, minha visão fica escura e parece que meu mundo vai desabar. Não sinto o chão sob os meus pés, não escuto nada, nenhum som. Não sinto quando mamãe me abraça, nem quando colocam um copo de água na minha mão.

Imagens de minha infância invadem minha mente, dos momentos de alegria, onde ele nos levava até a pequena praça e me empurrava no balanço. Ele me balançava até que eu me preparava e caía nos seus braços. Papai dizia que sempre estaria lá para me receber e evitar minha queda. Mas agora… ele se foi.

Ele simplesmente não vai mais me segurar quando eu finalmente cair.

—Margo? -Mamãe sussurra colocando a mão no meu rosto.

—Isso não pode ser verdade… tem que ser mentira. -Minha voz soa robótica, como se de repente eu me transformasse em uma mistura de cabos e metal incapaz de sentir emoção. —Ele vai chegar daqui a pouco para  jantarmos e depois vamos ver um filme… ele vai chegar daqui a pouco mãe. É melhor começarmos a cozinhar.

Mamãe está chorando ainda mais. Porque ela está chorando?

—Não precisa chorar mãe, ele já vai voltar.

—Ele não vai voltar meu anjo…

—ELE VAI VOLTAR SIM! -Outro grito escapa pela minha boca e me levanto em um rompante. Limpo as lágrimas e os observo sorrindo. —Ele vai voltar mãe!

De repente ela se levanta e segura firme o meu rosto, uma mão de cada lado da minha bochecha.

—Ele morreu Margo. MORREU!

Choro novamente e deslizo pelo seu corpo até chegar ao chão. Segundos depois, ela me abraça. Juntas, derramamos lágrimas e mais lágrimas, e quando penso que estou seca, que meus olhos não poderiam produzir mais nada, começa tudo de novo.

Ficamos assim por alguns minutos até que os policiais nos deixam, com a promessa lúgubre de que ligarão para nos informar onde estará o corpo e quando poderemos começar o processo na funerária.

Porque isso tinha acontecer comigo? Que merda eu fiz para merecer isso?

Me levanto e vou até o seu quarto. Pego uma das suas blusas preferidas e a levo até o nariz sentido o cheiro do seu perfume. Me deito na cama abraçada à peça de roupa e acabo pegando no sono de tanto chorar.

Acordo horas depois com vozes vindas da sala. Corro o mais rápido que posso, na esperança de que tudo não tenha passado de um pesadelo, mas meu peito dói ao ver que é apenas a vizinha trazendo Emma para casa. Ela vem ao meu encontro e me abraça apertado, me fazendo chorar outra vez.

—Vai ficar tudo bem, Margo. Nós vamos ficar bem. -Sua voz fina invade meus ouvidos.

—Vai sim, maninha. Eu sei que vai. -Aliso o seu cabelo e ela se solta de mim, indo até o quarto.

Me encosto na parede e deslizo até chegar ao chão, não aguentando o peso da saudade sobre mim.

**********

Os dias passam em um borrão. O IML finalmente libera o corpo de papai e fazemos um enterro digno de um homem que foi um exemplo para todas nós.

Papai sempre nos apoiou, nunca nos deixou faltar nada em casa e trabalhou duro a vida toda.

Observo o caixão descer lentamente, depois que o padre fez uma breve oração.

Jogo uma rosa branca antes de que a terra comece a engolir a madeira preta com detalhes dourados.

O dia está ridiculamente soleado. Eu gostaria que estivesse chovendo, caindo um temporal, para que assim minhas lágrimas fossem levadas com a água e se perdessem com o vento.

Cada vez que lembro que o acidente foi causado por um condutor falando ao telefone, tenho vontade de procurá-lo e fazê-lo pagar por isso.

Amanda, mamãe e Emma me abraçam e choramos juntas pela perda. O funeral foi feito apenas com alguns familiares, amigos mais cercanos e minha única e verdadeira amiga.

Pedi que ela não comentasse com ninguém, não quero chegar na escola e ser alvo da falsa piedade de pessoas que sequer conheço.

Depois que a última pá de terra é colocada, dedicamos um último adeus e cada um vai para sua casa.

Amanda insiste em dormir comigo por hoje, porém, não quero companhia. Preciso ficar sozinha. Minha maneira de lidar com a dor é essa.

Quando minha amiga vai embora, respiro fundo e vou até o pequeno quarto na garagem.

Não consigo dormir dentro da casa, a cada lugar que olho, lembro dele. Quando vejo a cadeira vazia na cozinha, minha garganta aperta e sinto vontade de gritar. Quando anoitece e a televisão permanece desligada, meus olhos se enchem de lágrimas. Todos estão em luto, mas eu estou um estado que não consigo explicar.

Não consigo evitar. Sei que mamãe está sofrendo e me sinto uma pessoa terrível por não estar ali ao seu lado para consolá-la. A única coisa que me deixa tranquila é que Emma dorme com ela todas as noites.

Todas as noites, espero que as luzes se apaguem e saio com minha moto pela cidade.

A insônia virou minha companhia fiel e também algumas garrafas de vodka.

Algumas vezes, passei a noite toda na praça. Pensando em como poderia acabar com essa dor que dilacera cada vez mais meu coração.

Já estou a mais de uma semana sem ir para a escola.

Amanda me ligou tantas vezes que minha caixa de entrada se encheu. Não consigo atender, porque sei que quando ouvir a sua voz, vou desabar.

Enviei algumas mensagens dizendo que estava bem e que no outro dia iria para a aula.

Jamais apareci.

Estou perdida.

Não penso com clareza. A cidade passa como um borrão pela viseira do capacete conforme acelero e meu coração pesa cada dia mais no meu peito.

Paro em um semáforo qualquer e meus olhos recaem sobre uma garotinha que segura firmemente na mão de um senhor enquanto atravessam a rua.

Sinto um gosto salgado nos lábios e só então percebo que estou chorando. 

Quando a luz vermelha muda para verde, acelero o mais rápido que posso e fujo dali, escutando os xingamentos e buzinadas das pessoas irritadas.

Encontro uma praça e desço correndo da moto. Sento em um banco e seguro meu rosto com as duas mãos, enquanto tento me acalmar.

Fico assim por alguns minutos até que sinto algo vibrar no meu bolso.

Provavelmente Amanda me ligando outra vez.

Pego o aparelho com a intenção de desviar a chamada, mas o nome que aparece na tela me deixa desconcertada por alguns minutos.

Alex me ligou várias vezes nesses dias. Não tanto quanto minha amiga, mas ele me ligou. Não tive coragem para atender.

Assim como hoje.

Decido desligar o celular de uma vez, só assim deixarão de tentar entrar em contato comigo.

Volto para casa algumas horas depois e encontro Amanda sentada na pequena escadinha que leva até a porta.

Estaciono a moto e caminho até ela. O olhar que recebo é uma mistura de raiva, tristeza e pena.

—Porque desvia minhas ligações? -Solta sem rodeios.

—Estava sem bateria…-Minto e ela bufa.

—Sei muito bem que isso não é verdade Margo. Você precisa voltar para a escola, estamos quase chegando na época de provas! -Sua voz fica cada vez mais aguda conforme ela me segue até a garagem. —Mas que diabos é isso? -Xinga quando vê o quarto improvisado que montei ali.

—Isso é uma cama, uma escrivaninha… -Zombo e se ela pudesse me lançar raios laser com o olhar, certeza que o faria.

—Margo, eu… eu entendo que você deve estar triste ainda, mas a vida continua amiga. Você precisa voltar a estudar, tem que deixar de sair o dia todo e de dormir aqui. Você tem uma casa, uma mãe e uma irmã ainda! Elas precisam de você… eu preciso de você. -Sussurra enquanto aponta para a cama ainda desarrumada.

—Você não sabe como é difícil Amanda, acordar todos os dias e perceber que ele não vai estar sentado na mesa tomando café da manhã, ou ver algo interessante e querer ligar para ele para contar e constatar que ele não vai atender o telefone, porque ele está morto. -Minha voz sai ríspida contradizendo às lágrimas que caem descontroladas pelo meu rosto. Amanda chora comigo e tenta se aproximar para me abraçar, no entanto, a afasto delicadamente.

—Margo… não faz isso por favor. -Posso sentir a dor nas suas palavras.

—Me desculpe Amanda, eu preciso ir. -Levanto novamente o capacete e passo por ela.

—Não seja covarde Margo! Não fuja daqueles que só querem o seu bem, daqueles que estão aqui para você! -Grita para minhas costas. Caminho sem olhar para trás e desapareço novamente pelo asfalto surrado da cidade.

Gasto gasolina por quase uma hora até que acabo parando na mesma pracinha de sempre.

As palavras de Amanda me deixaram tão mal que não sinto sequer vontade de voltar para casa. Talvez eu seja mais um peso do que uma ajuda nesse momento.

Idéias malucas passam pela minha cabeça e caminho pela praça como uma louca, procurando as razões pelas quais eu ainda mereço viver.

Pelo menos umas duas horas depois, me sento na ponte que une as duas partes do lugar, observando a pequena família de patinhos que vive no riacho.

Estou tão miserável que ninguém sequer tem coragem de se aproximar de mim nesse momento.

Se fosse fisicamente possível, eu também não quereria ficar perto de mim agora, mas como não posso fazer isso, apenas aceito o fato e me debruço na madeira velha e fecho meus olhos, talvez assim minha mente se livre por alguns minutos dessa tristeza infinita.

Acabo pegando no sono e sonho com papai me empurrando no balanço de sempre, mas agora é diferente, já não sou uma criança. Ele me empurra uma e outra vez e seu sorriso me conforta por alguns segundos.

Acordo de supetão e olho ao redor. Não vejo ninguém e aquela sensação de vazio me invade, reivindicando o seu lugar.

Me levanto. Preciso voltar a rodar pela cidade, caso contrário enlouquecerei.

Estou quase chegando no meio da praça quando algo me faz estancar no lugar.

Alex está parado ao lado da minha moto, com os braços cruzados e feição preocupada.

Me aproximo dele tentando não parecer afetada por sua presença ali e falhando miseravelmente.

—Pode me dizer por favor o que está acontecendo? -Sua voz grossa ressoa antes mesmo de eu ter alguma chance de dizer algo.

—Estou dando uma volta… não vê? -Debocho e ele me lança um olhar furioso.

—Não estou brincando, Marjorie. Você simplesmente sumiu a mais de uma semana do colégio, não deu notícias, não atendeu minhas ligações! -Solta furioso enquanto pega impulso e caminha até ficar de frente para mim. —Procurei a sua amiga mas ela não quis me dizer nada… você não faz idéia de como estou preocupado, droga! -As palavras saem tão baixas que quase não consigo ouvir, mas eu entendi perfeitamente. —Eu sabia que iria te encontrar aqui, vim algumas vezes, mas nunca tive essa sorte, até hoje. Por favor me diz o que eu fiz de errado? Por favor só…

Ele se cala e nega com a cabeça. Coitado, está pensando que desapareci por causa do nosso beijo…

—Vem. -Suspiro pesadamente e puxo sua mão e o levo até um dos bancos vazios da praça. Nos sentamos e ele me observa expectante, enquanto tento organizar as palavras e tentar explicar o porque do meu desaparecimento. —Alex eu… não sei o que fazer para tirar essa dor de dentro de mim. -Ok, essas não eram as palavras que tinha planejado dizer.

—O que aconteceu, você está bem? -Recebo um olhar apreensivo e suas mãos se colocam confortavelmente sobre as minhas, em um apoio silencioso para que continue. 

—O meu pai ele… -Balanço a cabeça e tento espantar as lágrimas antes de continuar. —Ele sofreu um acidente e não resistiu… e-ele me deixou, Alex. -Engasgo e sinto minha garganta se fechando.

—Oh meu Deus! Eu sinto tanto, Marjorie… não fazia idéia, eu… -Seus braços agora rodeiam o meu corpo em um abraço cheio de significados.

—Não consigo dormir, Alex. Fecho meus olhos e minha mente é invadida com imagens dele, dos nossos dias felizes, em família, das nossas brincadeiras… eu não sei quanto tempo aguentarei essa dor. Passo praticamente o dia todo fora de casa, não consigo comer direito, não tenho vontade de fazer nada. Eu estou perdida na escuridão e papai era minha luz, mas agora ele… ele se foi! E eu… eu estou sozinha.

Já não tento evitar o inevitável. As palavras saem da minha boca como tiros de uma metralhadora. Digo tudo o que venho sentindo nesses dias e Alex escuta tudo calado. Não tenta me consolar, nem dizer que tudo vai ficar bem, ele apenas me escuta botar para fora tudo.

Quando finalmente me calo, ele me observa triste.

—Marjorie, eu sinceramente não sei o que posso fazer para tentar amenizar essa dor, me diz o que precisa… meu peito dói de te ver triste.

O abraço e ele passa a mão pelo meu ombro, subindo e descendo, em um movimento rítmico que me tranquiliza por alguns minutos.

Quando o sol se pôe nos deixando com a escuridão noturna, ele se levanta e me puxa para cima.

—Vamos, te levarei para casa, está ficando tarde. -Oferece antes de deixar um beijo na minha testa.

—Alex eu não consigo. Estou dormindo na garagem… -Confesso e ele me olha confundido.

—O que? Porque está fazendo isso?

—Não consigo sequer entrar na minha casa, a cada lugar que olho, me lembro dele. A mesa de jantar, a televisão, o seu quarto… eu não aguento ver a casa sem ele…

—Vamos. -Me puxa e resisto. Será que ele não escutou o que acabei de falar?

—Alex, eu disse que não quero ir para casa, não me obrigue a isso, por favor. -Ele percebe o desespero na minha voz e segura meu rosto com as duas mãos, olhando profundamente nos meus olhos.

—Nós não iremos para a tua casa, Marjorie, iremos para a minha. -Confessa e engulo seco.

—Não precisa fazer isso, seus pais não vão gostar de…

—Eles estão de viagem, e mesmo que estivesse aqui, eu não te deixaria sozinha. Vamos na sua moto e direi a alguém que venha buscar meu carro.

A única saída que tenho, é balançar a cabeça e concordar com essa loucura.

Tiro a chave do bolso e coloco na ignição, mas quando vou subir, ele me impede.

—Eu pilotarei. -Solta e concordo. Não sei se estou com cabeça agora para levar o meu peso e o dele. O que me impressiona, é saber que ele sabe pilotar motos. Sempre pensei que ele fosse mais um dos que preferem carros.

Alex costura pelas ruas surpreendentemente bem e chegamos na sua casa em minutos. Acabo percebendo que ele mora bem perto da praça.

Ele diz algo para o interfone e segundos depois, os portões se abrem, permitindo a nossa entrada.

Estacionamos no lugar indicado e entramos na enorme casa.

Alex me leva até um quarto de hóspedes e diz que posso ficar a vontade.

—Me empresta o seu telefone. -Diz de repente.

—Para que?

—Avisarei a sua mãe que você vai dormir aqui.

—Oh… obrigada.

—Tudo bem. Aquela porta ali é um banheiro, pode tomar banho se quiser. -Aponta para a porta de madeira que nem tinha reparado.

—Eu não tenho roupas limpas… -Sussurro envergonhada.

—Não tem problema, trarei uma blusa e um short meus para que você possa dormir confortável.

—Não precisa disso Alex, sério… -Estou muito envergonhada com tudo isso, jamais imaginei que dormiria na casa de um garoto, principalmente de Alex Stensoro.

—Eu faço questão, agora vá tomar banho, demore o tempo que quiser, eu irei ligar para a sua mãe enquanto isso. -Diz e sai do quarto sem esperar por resposta.

Sem opção, fecho a porta, retiro minha roupa e a deixo dobrada em cima de uma cadeira elegante, antes de entrar no enorme banheiro.

Abro a torneira, regulo a temperatura  e entro debaixo do jato de água, deixando que ele leve embora todo o cansaço dos últimos dias.

Depois de quase meia hora, decido que já me aproveitei demais e termino de tomar banho.

Pego uma das várias toalhas enroladas em uma pequena cesta de cobre e me seco antes de enrolar o tecido suave no meu corpo.

Volto para o quarto e encontro um calção azul e uma blusa branca de algodão em cima da cama.

Me visto e sento na cama olhando para o nada.

—Marjorie? -A voz de Alex invade meus pensamentos e sou tirada dessa névoa de tristeza.

O garoto senta do meu lado e me entrega o celular.

—Obrigada, o que ela disse? -Pergunto.

—Expliquei o que estava acontecendo e ela disse que não havia problema se você dormisse aqui hoje, mas que espera que você volte para casa amanhã, ela quer falar com você.

Suspiro profundamente. Mamãe deve estar devastada com meu comportamento e com toda a razão. Não posso fazer com que ela sofra mais, não por minha causa.

—Obrigada. -Agradeço novamente e ele apenas balança a cabeça colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.

—Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar, Marjorie. Meu quarto é o ultimo do corredor. -Dá um beijo na minha testa antes de se levantar e começar a se afastar de mim.

O desespero começa a me invadir, a solidão ameaça me assolar novamente e quando percebo, meus dedos se enrolam firmes no seu pulso, como algemas de carne e osso.

Alex observa a cena surpreso, mas não diz nada.

—Fica, por favor. -Essas três palavras bastam para compreender que esse garoto virou algo muito mais importante do que eu gostaria de admitir.

De pensar que a semanas atrás eu não podia sequer olhar para ele sem sentir raiva e agora estou implorando para que ele não me deixe sozinha.

Ainda sem dizer nada, ele me puxa para um abraço e me leva até a cama, me fazendo deitar e me cobrindo com o edredom.

Então ele vai até o interruptor e apaga a luz antes de voltar até a cama e se deitar junto comigo.

Seus braços envolvem o meu corpo e uma lágrima solitária goteja e cai sobre sua mão.

Me viro ficando de frente pra ele, e beijo delicadamente sua boca.

—Me faz esquecer de tudo isso, Alex. Por favor… -Imploro banhada pela nova onda de lágrimas.

—Não posso fazer isso, Marjorie. -O tom da sua voz é culpado e tento não pensar na razão disso.

—Porque? -Meus dedos procuram pelo seu rosto, na escuridão do quarto.

—Não seria justo…

—Não entendo. -Levanto uma sobrancelha por mais que saiba que ele não pode ver o movimento.

—Eu jamais me aproveitaria da sua fragilidade emocional, Marjorie.

—Eu estou te implorando, Alex, que me faça esquecer, de qualquer maneira, não importa como… sem sentimentos… -Insisto, mas ele coloca os dedos sobre minha boca, me calando delicadamente.

—Isso é impossível…

—Alex… eu não vou me apegar a isso, juro…

—Marjorie, você não está me entendendo.

—Então me explique por favor!

—Não posso fazer isso, porque não conseguiria não colocar tudo o que eu sinto!

—E o que você sente nesse momento?

—Sinto algo por você, algo que não consigo controlar… não suporto te ver triste e preciso que entenda, que essa não é a forma de acabar com a sua dor… eu jamais teria coragem de te desrespeitar assim.

Confessa me deixando completamente sem palavras.

—Alex eu… -Começo a falar depois de um bom tempo, mas ele me interrompe outra vez.

—Não precisa dizer nada, Marjorie. Eu vou esperar até que esteja pronta para dizer o que sente por mim, entendo que agora não é o momento para isso e…

Agora é a minha vez de fazer com que ele se cale, mas diferente dele, eu o calo com meus lábios. O beijo é diferente dos outros que compartilhamos. Não tem nada de sensual, pelo contrário, é carinhoso e cheio de significados.

Quando nos separamos, depois de algum tempo, colo minha testa na sua, e o único  som que se escuta, é o das nossas respirações aceleradas.

—Eu te amo, Alex. Por tanto tempo tentei esconder esse sentimento de mim mesma, mas não adianta mais, é em vão negar o inegável… Depois de hoje, entendi que você foi o único que conseguiu me acalmar, me trazer um pouco de paz, nessa loucura que tenho vivido todos esses dias. E saber que você se importa comigo, só me fez compreender que meu coração é completamente seu, só por favor não o rompa, pois no momento ele está tão quebrado que não sei quanto tempo levarei para recuperar todos os pedaços.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top