Capítulo 16
Os dias passam devagar e simplesmente não vejo Alex em lugar nenhum. É como se ele estivesse escapando de mim esse tempo todo.
Caminho como um zumbi pelos corredores e algumas vezes tenho o desprazer de encontrar Melina pelo caminho. Como sempre ela me lança um olhar mortal e depois sou ignorada como se nem existisse. Ela ainda deve estar brava porque eu “roubei” o Alex dela.
Será que ela sabe que é apenas encenação? Se bem que ela me odiaria ainda que eu salvasse a sua vida.
Temos um jogo em alguns dias e não consigo me concentrar nos treinos. Praticamente todos os alunos do Santa Helena adoram especular se eu e Alex somos realmente namorados. Inclusive já até ouvi alguns comentários do tipo “ele é muito para ela” ou “será que ela está grávida dele?”. Ignorei todas as vezes porque realmente não ando tendo paciência para lidar com idiotas e o que mais me tira do sério, é um idiota em questão, que não atende minhas ligações nem minhas mensagens e isso está me deixando doida.
Estamos treinando como condenadas e hoje não é uma exceção. Apesar de ser sábado, estamos desde às oito da manhã ensaiando as jogadas, planejando ataques, vendo vídeos sobre as nossas oponentes e estou literalmente esgotada.
─Margo, cuidado! -Escuto um grito e segundos depois sinto a pancada.
A bola acerta em cheio meu estômago e tenho que me sentar por alguns segundos para trazer ar aos meus pulmões. ─Está bem? -Amanda se aproxima e tenta abrir meus olhos, como os médicos fazem quando alguém tem uma concussão.
─Estou bem, estou bem! -Me levanto irritada e caminho até o vestiário. Mas que merda! O que está acontecendo comigo? Como posso me distrair tanto, a tão pouco tempo do jogo? Isso não está bom, não está nada bom!
─Margo, você está bem? Anda distraída, quer me contar por favor o que está acontecendo? Estou preocupada com você amiga. -Amanda entra minutos depois e se coloca na minha frente.
Ela com certeza percebeu que algo está errado, afinal de contas é minha melhor amiga.
Balanço a cabeça e sento em uma das bancas frias. Não consigo dizer nada, estou tão confundida que minha cabeça parece que vai explodir.
─É o Alex? Ele te tratou mal? -Continua tentando tirar informação e apenas nego com a cabeça. ─Tem certeza amiga? -Coloca sua mão no meu rosto e fico um pouco mais calma com o afago.
─Sim, estava pensando em algumas coisas e fiquei off-line por alguns segundos, nada do que se preocupar. -Minto e ela me olha, a dúvida estampada no seu rosto.
─Tem certeza?
─Sim, Mandy. Estou bem, juro! -Solto uma risada sem graça. ─Agora é melhor a gente voltar para o treino senão vamos levar bronca do Rogers. -Saio do vestiário sem esperar sua resposta e corro até a quadra para continuar com as jogadas e tentar escapar um pouco mais do interrogatório da minha amiga.
Mais ou menos duas horas depois, estamos todas moídas. O treinador nos avisa que hoje é o último treino e que descansaremos amanhã para o jogo de segunda.
Estou mais nervosa do que de costume, esse jogo como qualquer outro, é muito importante para mim. Não podemos perder ou não iremos para a final e a quadra teria que ser destruída antes do previsto, não dando tempo para que Alex convencesse o pai a desistir da ideia.
Meu estômago se embola só de pensar na ideia e me sinto algo tonta quando saio do vestiário com roupas limpas.
Caminho rápido até a saída, subo na minha moto e vou direto para casa. Preciso me concentrar. Não posso deixar que o idiota do Alex me distraia, não em um jogo tão importante como esse.
Passo o domingo em cama, tentando não pensar em nada. Vejo vários episódios de uma série muito boa, escuto música e até leio algumas páginas de um livro que ganhei de presente de Amanda a alguns anos.
Mamãe nos chama para jantar e comemos conversando sobre nada em específico.
De barriga cheia, volto para o quarto e deito na cama novamente.
Quando dou por mim, já é quase hora de dormir.
Escovo meus dentes, apago a luz e fecho os olhos. Alguns minutos se passam, mas o maldito sono não vem. Não posso acordar cansada amanhã, preciso estar cem por cento presente, o time precisa de mim.
Droga!
Me sento no colchão e pego meu celular. Abro o aplicativo de mensagens e escrevo várias vezes antes de finalmente apertar o botão “enviar”.
“Está tudo bem com você? Sumiu depois de já sabe…”
Depois de alguns minutos, a resposta finalmente chega.
“Sim, não precisa se preocupar.”
Tento não afetar com a frieza das suas palavras, mas quando percebo, estou com o cenho franzido tentando entender porque Alex é tão babaca às vezes.
“Na verdade nem estou preocupada, só queria saber se teria que depor caso te encontrassem em alguma vala… não sou muito boa falando em público, já sabe…”
“Que engraçadinha! Quase ri… e sim, você estava preocupada, só não quer admitir.”
Por mais que eu queira dizer o contrário, o idiota está certo.
“Desculpa por não dar sinal de vida, estive ensaiando com Melina, vamos nos apresentar no final do jogo de amanhã.”
A segunda mensagem chega e tenho vontade de jogar o celular na parede.
Então por isso que ele não respondeu às mensagens que mandei, ele estava com a idiota número dois.
“Que bom. Nos vemos amanhã então.”
Balanço a cabeça me repreendendo. Se eu não queria parecer interessada, falhei miseravelmente.
“Nos vemos amanhã Marjorie, durma bem.”
Leio a mensagem e um sorrisinho invade meu rosto. Fico seria rapidamente ao perceber isso e bloqueio o celular.
Deito na cama e praticamente me obrigo a pegar no sono. Não gosto do Alex. Não mesmo.
No outro dia, milagrosamente, acordo super cedo, completamente descansada. Tomo um café da manhã rápido e dou um beijo nos meus pais e na minha irmãzinha. Digo o horário do jogo, para caso eles consigam sair dos trabalhos a tempo. Não fico brava caso eles não possam comparecer aos meus jogos, sei que não o fazem por mal e que se pudessem, iriam a todos, sem falta, assim como sei que o trabalho vem em primeiro lugar, caso contrário, não teríamos comida na mesa todos os dias.
Chego no colégio juntamente com o resto do time e vamos até o vestiário nos trocar e nos preparar. O time adversário chegará em poucos minutos e devemos estar aquecidas para esse momento.
Já vestidas com o uniforme, vamos até a quadra e corremos, nos alongamos e fazemos alguns exercícios para esquentar os músculos.
O lugar vai se enchendo pouco a pouco e quando as garotas do Paradise chegam, estamos mais do que prontas para ganhar.
O locutor finalmente anuncia o início do jogo e tiramos na moeda para ver quem começa com a posse de bola.
Paradise ganha o cara ou coroa e começam com a vantagem, mas isso dura pouco tempo, já que recuperamos a bola novamente e fazemos um ponto depois de outro.
O jogo termina em cento e dezessete para nós e noventa e cinco para elas. Do meio do segundo tempo em diante, elas ficaram mais agressivas, mas graças aos céus, conseguimos manter nossa pontuação e nos conduzir até a vitória e consequentemente até a final.
Comemoramos com nosso grito de guerra e com pulos alegres depois de abraçar as garotas do Paradise.
Todas as jogadoras vão para o vestiário se trocar, mas eu fico sabendo que daqui a pouco haverá um show de dança.
—Não saiam do lugar, que teremos uma apresentação muito especial para todos vocês! -A diretora anuncia e meu coração começa a bater cada vez mais forte, sabendo que verei a Alex e a Melina em questão de minutos. Todos voltam a se sentar e a iluminação é diminuída para criar um ambiente mais sombrio.
Fico parada ao lado de uma das arquibancadas enquanto espero que a dupla apareça de algum lugar.
De repente uma música triste começa a tocar e Alex e Melina caminham até o centro da quadra e começam a dançar.
Alex executa os movimentos com perfeição enquanto Melina praticamente voa pela quadra em seus braços. Sua expressão de tristeza enquanto a música toca, são tão reais que eram refletidas nos rostos de todos os espectadores.
Encostada na arquibancada, observo enquanto eles dançam sem parar.
Estou cansada e suada, quero ir até o vestiário e tomar uma ducha bem quente, mas estou meio que hipnotizada pelos músculos de Alex quando ele joga Melina pra cima como se ela fosse uma boneca de pano.
Quando a música está quase no final, eles param na frente um do outro e sinto minha respiração acelerar. Estão tão perto... De repente Alex coloca a mão do rosto da garota e a puxa, colando seus lábios nos dela. Fecho meus punhos e sinto meus olhos se arregalarem tanto que não sei como não saltaram para fora das órbitas. Mas que merda está acontecendo comigo?
Sem ânimos para ver como tudo isso vai terminar, saio praticamente correndo da quadra, Alex me lança um olhar estranho mas no momento estou pouco me lixando para o idiota. Aperto ainda mais o passo e quando finalmente chego no vestiário feminino, tiro minha blusa e shorts de uniforme entro debaixo do chuveiro apenas de top e a calcinha Boxer que uso para jogar. Desde quando roubaram minhas roupas, não confio em que estou sozinha no lugar e nem nas meninas, já que as portas não tem trancas para evitar "acidentes". Elas adoram pregar peças, principalmente em mim.
Encosto o rosto na parede enquanto sinto a água morna banhar meu corpo, relaxando levemente meus músculos cansados. Começo a me sentir mais tranquila até que escuto um estrondo vindo da porta.
—Quem é? -Pergunto enxaguando o meu cabelo. Não escuto nenhuma resposta, no mínimo alguma garota do time resolveu vir tomar banho também depois do show.
De repente a porta do banheiro se abre e Alex aparece no meu campo de visão.
—Da o fora, estou ocupada, não está vendo? -Continuo me ensaboando. Por fora pareço tranquila, mas por dentro estou tremendo dos pés à cabeça.
—Aquele beijo não foi real, Margo. -Diz com a voz ofegante, ainda cansado.
—E por que acha que quero saber disso?
—Porque vi como saiu escapando.
—A apresentação terminou, decidi tomar um banho e só. O mundo não gira em torno de você, Sattie. -Alex faz uma careta ao escutar o apelido que coloquei nele.
—Porque tem que ser tão durona sempre heim? Porque não pode admitir que aquele beijo te afetou? -Sua voz alterada me faz encará-lo e descubro que foi um erro total fazer isso.
—EU NÃO LIGO SE VOCÊ BEIJOU A MELINA! ESTOU POUCO ME LIXANDO PARA VOCÊS OK? -Grito e ele apenas ri do meu ataque de histeria.
—Mentiras. Não está cansada disso?
—Do que Alex?
—De fingir que não gosta de mim.
—E quem disse que gosto de você?
Nesse momento, seus olhos brilham intensamente e sinto meu corpo inteiro se arrepiar, um presságio de que algo grande está para acontecer.
Alex entra dentro do cubículo e fecha a porta detrás de si.
—Está ficando louco garoto? Vai se molhar! E se nos pegarem aqui, estamos ferrados! -Sussurro tentando não chamar a atenção.
—Não ligo. Você pode não estar cansada, Margo, mas eu estou.
—Não sei do que está falando. -Me viro ficando de costas para ele. O segundo erro cometido em menos de dez minutos.
Suas mãos contornam o meu corpo e me trazem de encontro ao seu. Sinto seu peitoral musculoso e um volume mais abaixo que me deixa preocupada e curiosa ao mesmo tempo. Suas mãos vão descendo por meu abdômen até chegar no cós da minha boxer. Respiro profundamente e balanço a cabeça. Estou caindo na tentação.
—Não se atreva. -Sussurro, mas se ele ouviu, fingiu que não o fez. Sou virada rapidamente e em uma fração de segundos sua boca se cola na minha me trazendo um misto de sensações inexplicáveis. Sinto como se mil borboletas estivessem de repente dentro do meu estômago. Sua boca conduz a minha com maestria, como se estivéssemos em uma de suas danças e me sinto leve como uma marionete nas suas mãos grandes e cheias de calos. Quando Alex finalmente para de me beijar para sugar um pouco de ar, encosta sua testa na minha e balança a cabeça rindo.
—Você não me engana, Margo, está tão caidinha por mim, quanto eu estou por você. -Diz simplesmente saindo do cubículo me deixando completamente consternada. O que raios acabou de acontecer?
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top