Capítulo 12

Saio correndo do salão sem ligar para os olhares de espanto que me lançam.

As lágrimas escapam pelos meus olhos, escorrendo por minhas bochechas e se perdendo com o vento conforme corro pelas ruas movimentadas desse bairro desconhecido.

Eu sei que estou sendo dramática, mas caramba, eu nunca havia beijado ninguém e quando Alex colou seus lábios nos meus, algo em mim mudou. Eu não queria ter gostado tanto do seu beijo, mas não posso mentir, foi... mágico. E isso é o que me dá mais raiva. Eu não gosto de Alex, não queria beijá-lo, e o pior de tudo, não queria haver sentido o que senti.

Com os olhos encharcados, observo ao meu redor e não reconheço o lugar. Perfeito, estou perdida.

Mais calma, caminho até um pequeno banco e me sento. Pego o celular dentro da bolsa e estou a ponto de ligar para Amanda quando um carro estaciona bem na minha frente.

Alex caminha a passos decididos e se ajoelha ficando na minha altura.

─Vem, vou te levar para casa. –Coloca uma mão na minha perna e sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo.

─Estava ligando para Amanda... –Minto e ele suspira resignado.

─Vamos Marjorie, não seja tão teimosa, não vou deixar que fique aqui sozinha a essa hora, é perigoso. –Insiste e tenho que reconhecer que ele tem razão.

Me levanto e começo a caminhar em direção ao carro, mas sou impedida por sua mão que segura firmemente meu braço.

─Me desculpa ok? Eu não sabia que você... eu...achei que não ligaria. Não queria te deixar desconfortável. –Diz Sincero e eu cometo o erro de olhar nos seus olhos e ver a culpa transbordando nos seus orbes caramelo.

─Nós tínhamos um acordo, Alex. Eu sei que também exagerei, mas você me pegou de surpresa e... –Suspiro e balanço a cabeça tentando organizar as palavras antes de botá-las para fora.

Como se soubesse como me sinto nesse exato momento, Alex me puxa para perto dele e me abraça apertado. Acabo não resistindo e contorno seu corpo com meus braços e ficamos assim por um bom tempo.

Eu nunca imaginaria que ele seria assim, quero dizer, que pediria desculpa sem precisar invocar um espirito primeiro.

Na escola, ele e Melina são os donos do pedaço, sempre mandando em tudo e em todos, mas depois de hoje, começo a pensar que talvez ele seja apenas uma marionete nas mãos daquela naja venenosa.

O calor que seu corpo transborda, me tranquiliza rapidamente e sinto uma vontade louca de ficar assim para sempre.

Depois de alguns minutos, nos separamos em um acordo mutuo e caminhamos lentamente de mãos dadas até o carro.

Como de costume, Alex abre a porta e entro, colocando o cinto de segurança.

Percorremos o caminho até a casa de Amanda em um silencio confortável, distraídos com os acontecimentos de hoje.

Ao contrário da ida, a volta é rápida e em questão de minutos paramos na frente do portão da casa da minha amiga. Escrevo uma mensagem a ela, que responde no mesmo segundo e abre o portão para que entremos.

Estacionamos ao lado da minha moto e Alex dá a volta para abrir a porta para mim, estendendo sua mão em uma ajuda para que saia do automóvel.

Caminhamos lado a lado e quando chegamos na porta ele segura minha mão e fica de frente para mim. Sinto que quer dizer algo, mas não tem coragem ou talvez não saiba como começar.

─Obrigada pela carona e pelo jantar, foi... interessante. –Digo quebrando o silêncio e ele apenas concorda com a cabeça.

─Marjorie, eu queria me desculpar novamente. Não sei o que deu em mim naquele instante.

─Tudo bem, já passou...

─Espero que pelo menos tenha gostado do primeiro beijo. –Brinca e solto uma risadinha nervosa, ah se ele soubesse que na verdade eu gostei e muito...

─Nos vemos segunda, Alex. –Mudo de assunto e espero que ele se despeça, mas em vez de dizer tchau ou algo assim, ele se aproxima do meu rosto, perigosamente perto da minha boca.

Prendo a respiração esperando outro beijo contradizendo a toda cena que fiz mais cedo, mas seus lábios pousam suavemente na minha bochecha e ofego ficando mais calma.

─Nos vemos segunda. –Sussurra e caminha até seu carro sem olhar para trás.

Observo os faróis se perderem na escuridão até que os portões se fecham e a porta da casa se abre em um rompante.

─Meu Deus, o que foi tudo isso? –Amanda pergunta com os olhos brilhando de excitação e eu respiro fundo novamente, mas dessa vez é para ter forças para aguentar ao interrogatório que me aguarda.

Vamos direto até o seu quarto e tiro o vestido elegante colocando a roupa de dormir. Enquanto tiro a maquiagem, vou contando sobre tudo o que aconteceu a noite e vejo seus olhos se arregalarem conforme as coisas vão ficando mais... intensas.

─Ele te beijou? Não acredito nisso! Como foi? Ele beija bem? –A enxurrada de perguntas não me surpreende.

─Foi... bom. Mas eu acabei pirando e briguei com ele o deixando sozinho no meio do salão. –Levanto os ombros e ela dá um tapa na minha cabeça.

─Porque fez isso sua doida?

─Porque eu deixei bem claro que não queria que ele me beijasse. Você sabe que não... que nunca... quero dizer...

─Eu entendi, você nunca havia beijado alguém, quando Alex te beijou, você gostou, mas ficou assustada porquê pensa que não gosta dele, quando na verdade tem algum sentimento por ele sim, e fez a única coisa que poderia fazer naquele momento: correr. –Deduz me deixando perplexa. Como ela conseguiu entender e resumir tão facilmente algo que ainda não encaixa na minha própria cabeça?

─Não gosto do Alex, Amanda.

─Arram, finge que diz a verdade que eu finjo que acredito querida.

Lanço um olhar furioso para ela e entro no banheiro bufando. Escovo meus dentes rapidamente e volto para o quarto me deitando na enorme cama ao lado da minha amiga.

─Não fica brava, Margo. Gostar de alguém não é um crime. –Boceja e me abraça. ─Boa noite, durma bem e sonhe com aquela boca gostosa.

─Boa noite Amanda, e se eu quiser ter pesadelos vejo um filme de terror.

[*********]

O domingo passa tão rápido, que quando percebo, estou pilotando em direção à escola. Mesmo que não quisesse admitir, pensei em Alex o dia inteiro. Me peguei tocando meus lábios várias vezes, lembrando do seu beijo, de suas mãos pelo meu corpo...

Droga, tenho que parar de pensar nisso!

Graças a Deus chego no colégio e estaciono de qualquer jeito. Não pretendo perder tempo com isso, ou acabarei me atrasando. Vou direto para o meu armário pegar meus materiais das aulas de hoje. Encontro Amanda no corredor e ela me lança um olhar estranho.

─Como está hoje, senhora Estensoro? –Brinca e dou um tapa no seu braço.

─Não diga isso em voz alta, ninguém aqui pode saber... –Sussurro e ela cai na risada.

─Ah amiga, você é tão ingênua... a essa altura todos no colégio já devem ter visto as fotos nos sites de fofoca, ou você acha que não tinham paparazzis no jantar?

Não consigo achar nenhuma palavra para responder. Como não pensei nisso? Se é um jantar de ricos, como não haveriam fotógrafos para contar ao mundo as boas ações deles? Merda. Preciso conversar com Alex sobre nosso "término", caso contrário, todos acreditarão nessa farsa.

Pego meu celular e ligo para ele. Toca várias vezes e nada dele atender. Talvez esteja ocupado. Mando uma mensagem dizendo que precisamos conversar pedindo que me ligue assim que esteja disponível, mas como imaginei, ele sequer visualiza.

Guardo o aparelho no bolso da jaqueta de couro e acompanho o fluxo até a sala de aula.

O dia passa lento e na minha cabeça, um pensamento prevalece: o beijo. Não consigo deixar de pensar nisso um segundo sequer. Alex tirou algo de mim, algo que estava guardando para alguém especial. Mas droga se não foi bom. Até sem querer esse garoto tira a minha sanidade mental. Tenho que sacudir minha cabeça várias vezes para conseguir prestar atenção a tudo que os professores ensinam, não quero ficar de recuperação por causa de um beijo bobo.

Nem percebo quando o sinal toca e todos saem para o recreio. Sinto um tapa na cabeça e olho para cima para ver Amanda rindo igual uma hiena e me chamando para ir comer algo.

Guardo meus materiais e a acompanho, ainda com o pensamento a mil. Alex ainda não respondeu a minha mensagem. Porque estou tão pendente disso?

─Amiga, você está muito distraída hoje, o que aconteceu? –Amanda pergunta enquanto devora o sanduiche de peito de peru com maionese.

─Eu? Quero dizer, nada aconteceu... estou só cansada, não dormi muito no final de semana, sabe que sou acostumada a dormir cedo. –Minto e ela cai na risada.

─Sei... ou será que está pensando em alguém especial? –Empurra meu ombro de leve e lanço um olhar mortal a ela.

─Não Amanda, tenho mais o que fazer. –Minha voz sai mais raivosa do que esperava e ela ri ainda mais.

─Ainda bem, porque olha quem está entrando no refeitório... –Diz apontando para a porta com a cabeça. Cometo o erro de olhar só para ver Alex caminhando confiante ao lado de Melina e de mais alguns garotos que pelo que sei são seus amigos.

Ele varre o lugar com o olhar e quando me vê, seus olhos se trancam nos meus e não consigo desviar o olhar. Como sempre é como se estivesse sendo hipnotizada. Alex faz um leve movimento com a cabeça e continua caminhando como se nada tivesse acontecido.

Sinto meu corpo inteiro tremer. Espera porque estou nervosa? Nosso acordo acabou, não tenho porque ficar assim.

Quando termino de comer, mais rápido do que o normal, vou até a lixeira e jogo a embalagem vazia fora.

Sem dizer nada, saio do refeitório e vou até o banheiro. Preciso molhar meu rosto com agua fria. Aproveito para tirar agua do joelho e quando sai da pequena cabine, encontro com a última pessoa que gostaria no momento.

Lavo minhas mãos em silencio e tento sair do lugar, mas Melina segura meu braço tão forte que sinto suas unhas pontudas fincando na minha pele.

─Se não quiser ter seu braço arrancado, é melhor tirar suas mãos nojentas de cima de mim. –Rosno e ela solta uma risada sarcástica achando que me causa algum tipo de medo.

─É bom você manter distância de Alex, eu sei que todo aquela cena no jantar não passou de uma farsa, você e ele nunca ficarão juntos, são como água e azeite, nunca vão combinar. Alex é rico e deve ficar com pessoas da sua mesma classe social, ou acha que não sei que tem uma bolsa esportiva nesse colégio heim? Você nunca estará aos pés dele, nem de ninguém daqui. –As palavras saem da sua boca, completamente envenenadas, mas o que ela não sabe, é que eu tenho o antidoto no meu corpo e jamais me deixaria abalar por sua futilidade.

─Ah Melinda, é tão lindo ver uma pessoa totalmente insegura, destilando seus medos por aí... não sei se você percebeu, mas Alex não quer nada com você querida, se toca! –Minha voz sai calma mesmo que por dentro eu queira desfigurar esse rostinho de porcelana que ela tem.

─Fique longe dele, Marjorie, estou te avisando. Ele acha que não gosta de mim, mas eu sei que ele me ama no fundo. Nos conhecemos desde sempre e quando a escola acabar e ele for o novo chefe da empresa do pai dele, vamos nos casar e ser muito ricos. E felizmente, você não está incluída em nenhum desses planos. E meu nome é Melina! –Grita me fazendo dar um pulinho de susto.

─Você está louca... –Sussurro e puxo meu braço com força, me livrando do seu aperto. Saio quase correndo do banheiro e escuto sua risada macabra reverberando por todo o corredor. Essa garota precisa se tratar urgente.

Volto para o refeitório e encontro Amanda conversando com algumas companheiras do nosso time de basquete. Me aproximo e entro na conversa. Estou tremendo de nervoso e minha amiga percebe isso depois de alguns minutos.

─Você está bem? –Pergunta baixo e nego com a cabeça. Meus olhos se enchem de lágrimas e ela me puxa para fora do colégio, até um lugar meio escondido.

Caminho em silencio e quando finalmente paramos, Amanda coloca uma mão em cada lado do meu rosto.

─O que aconteceu Margo? –Pergunta preocupada. Sinto uma bola na minha garganta, mas não irei chorar por causa daquela garota idiota. Não mesmo!

Depois de respirar profundamente, conto a ela tudo o que ocorreu no banheiro e o rosto da garota vai ficando cada vez mais vermelho.

─Não acredito nisso! A Melina está passando dos limites, você tem tanto direito de estar aqui quanto qualquer outro estudante! Tem que contar ao Alex isso. Eu não duvido nada que ela é capaz de qualquer coisa...

─Porque eu teria que contar ao Alex, Amanda? Não tenho nada com ele, nosso namoro é de mentira, esqueceu?

─Sim, mas ele precisa saber que tem uma cobra que se faz passar de sua amiga. Aquela garota é toxica e Alex não faz ideia do quanto.

─Não sou sequer sua amiga, além do mais, ele não acreditaria em mim de qualquer jeito.

─Então eu mesma falarei com ele. Não vou permitir que essa louca te ameace assim, Margo. –Declara e começa a caminhar de volta para o edifício.

─Não! Deixa isso para lá Amanda, você mesmo disse, Melina está louca. –Peço, segurando o seu braço e ela me lança um olhar desconfiado, depois respira fundo e finalmente concorda com a cabeça antes de passar o braço pelo meu ombro e seguirmos até a sala de aula.

─Não vou dizer nada, mas se ela te disser algo assim de novo, eu não vou ficar calada. –Promete e concordo.

Entramos caladas na sala e passamos o resto da aula distraídas. Cada uma no seu mundo, provavelmente pensando nos acontecimentos de hoje.

Quando finalmente somos liberadas, vamos até a quadra para treinar.

Troco de roupa e despejo todo esse nervosismo no jogo, me sentindo mais tranquila quando o treinador apita indicando o final do treino.

Volto para o vestiário, tomo uma ducha demorada e coloco meu uniforme novamente. Depois que minha roupa foi "roubada", eu a deixo trancada e só tiro para me vestir.

Saio só de toalha do chuveiro e caminho até o armário para pegar minhas coisas.

Solto um grito quando percebo uma sombra na porta e sinto meu coração batendo tão forte, que não seria nada raro ele sair pulando pelo piso frio.

─Droga Alex, que susto, caramba! Dá para parar de fazer isso? –Pergunto com as mãos no peito, tentando acalmar meu coração que agora bate rápido por outros motivos.

─Desculpa, não quis te assustar. Amanda me disse que estava aqui... –Diz com a voz meio rouca e tenho a impressão de que ele não se sente nada arrependido.

─Se não quisesse me assustar, teria me esperado do lado de fora. Já te disse que é proibido meninos no nosso vestiário. –Seguro ainda mais forte a toalha, sabendo que é o único que cobre minhas partes intimas.

Alex me olha por alguns minutos e sinto meu corpo ficando vermelho de vergonha.

─Eu vi sua mensagem... –Diz de repente, engolindo em seco. ─O que aconteceu?

─Nós... é... temos que ver como faremos para "terminar" o nosso namoro. –Faço aspas com os dedos e ele concorda com a cabeça.

─Sim... é só que... meus pais te convidaram para um almoço na minha casa e eu disse que você iria. –Solta com uma careta e se eu não estivesse só de toalha, me lançaria sobre ele e o encheria de tapas.

─Não acredito que fez isso! Nosso acordo era só o jantar! –Grito q ele coloca suas mãos na frente do corpo, talvez para se proteger de um possível ataque meu.

─Eu sei, me desculpa, mas eles me pressionaram e eu não sabia o que fazer!

Balanço a cabeça e respiro profundamente uma, duas, dez vezes. Preciso ficar calma. Não posso perder a cabeça. Um assassinato não pegaria bem na minha ficha escolar perfeita.

─Tudo bem. –Digo depois de alguns minutos e ele suspira aliviado. ─Mas depois disso, você vai dizer que terminamos e se não fizer isso, eu mesma ligarei para os seus pais e farei questão de dizer como foi a briga, com detalhes. –Ameaço e ele concorda.

─Obrigado. –Agradece, mas em vez de sair do vestiário e me deixar sozinha, ele faz o contrário. Caminha a passos lentos até ficar parado bem na minha frente.

─O que acha que está fazendo garoto? –Pergunto mais nervosa do que gostaria de admitir.

Alex fica a apenas centímetros de mim e sem perceber, estou encostada nos armários frios de metal. Meu peito sobe e desce rapidamente devido a minha respiração acelerada.

Um braço seu está de um lado da minha cabeça e ele passa um dedo pelo meu rosto, levando uma mecha de cabelo até minha orelha, como fez no jantar. Um calafrio percorre todo o meu corpo e tenho que juntar toda a minha força de vontade para não colar nossos lábios ali mesmo, correndo o risco de ser pegos por qualquer um.

Sua mão vai parar atrás da minha cabeça e tento adivinhar o que ele está tramando até que....

─Você... deveria se vestir, vai acabar pegando um resfriado.

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