Capítulo 11 - parte II
Depois que o filme acaba, Emma dorme tranquilamente no sofá e aproveito para contar tudo a Amanda, que a essa hora deve estar desconfiada do meu sumiço depois do treino. Eu sempre a espero e conversamos por alguns minutos antes de que cada uma tome o rumo de casa, mas hoje foi diferente pois não tinha tempo a perder.
Antes de discar o número que já sei de cor, penso calmamente no que contarei a ela. Estou tão nervosa! Nunca fui convidada para um jantar, ainda mais um de gala! Pela milésima vez, me arrependo de ter aceitado essa loucura, mas não tem volta atrás, infelizmente.
Quando já tenho tudo organizado na minha cabeça, digito o número de Amanda no celular e aperto o botão “ligar”.
Minha amiga demora alguns minutos para atender e depois de pelo menos uns cinco toques, finalmente escuto sua voz.
─Oi amiga! –Diz animada e respiro profundamente antes de responder.
─Oi Mandy, tudo bem com você? –Sei que estou sendo covarde tentando adiar esse momento o máximo possível, mas não consigo dizer assim de uma vez.
─Tudo sim! E como você, aconteceu alguma coisa? Você sumiu depois do treino... –Diz desconfiada. Minha amiga não é boba.
─Então... –Suspiro, criando coragem e balanço minha cabeça. É isso Margo, deixa de ser covarde! ─O Alex me fez uma proposta hoje na escola. –Começo e o silencio do outro lado da linha é um indicativo para que continue. ─Ele pediu que eu fingisse ser sua namorada em um jantar de gala ou beneficente, algo assim, porque seu pai quer que ele namore a Melina e eu jurava que os dois eram namorados e...
─Não estou acreditando nisso! –A voz aguda de Amanda me corta no meio da frase e afasto o celular da orelha para não correr o risco de ficar surda. ─Melina e Alex jamais foram namorados, Margo!
─Eu não tinha essa informação Amanda, mas a questão aqui é que aceitei o trato e agora estou ferrada porque não tenho roupa, sapatos, sequer sei me maquiar para essa porcaria de jantar! –Ressopro desanimada e sua risada estridente me tira do sério por alguns segundos. ─Qual a graça? –Pergunto estressada com tudo isso e Amanda continua rindo.
─Margo, você tem a mim! Quando é esse jantar? –Posso sentir a animação na sua voz daqui, ao contrário de mim que estou um poço de nervos.
─Sábado. Depois de amanhã. Eu estou tão ferrada, droga! –Coloco os dedos na testa sentindo uma pontada de dor de cabeça iniciando.
─Fica calma, eu sou sua fada madrinha! Venha almoçar na minha casa sábado, traz uma muda de roupa interior bem bonita para que tome banho e aproveite para dormir aqui, que quero saber tudo o que acontecer nesse jantar. Vai ser tão divertido, uma festa do pijama depois de um jantar de gala!
Sua animação acaba me contagiando e sorrio fraco. Só espero que minha amiga tenha razão. Não quero passar vergonha diante de pessoas ricas, sei o quanto podem ser esnobes.
Pesquiso na internet algumas regras de etiqueta e pratico como se sentar na mesa, que talheres usar, etc. É o único que posso fazer a essa altura do campeonato.
Acabo dormindo enquanto assistia alguns vídeos sobre como andar em salto alto. Acordo algumas horas depois com um delicioso cheiro de comida e sei que mamãe chegou. Ou talvez papai.
Fico alguns minutos deitada na cama, olhando para o teto e tentando adivinhar o que vai acontecer no sábado. Será que farei tudo certinho? Ou será que vou ser a piada da festa? Decido não ficar muito paranoica com isso e desço para jantar. De repente me deu fome.
No final das contas, tanto papai como mamãe estavam em casa. Comemos acompanhados de uma conversa amena. Emma conta como foi o seu dia na escola enquanto papai a escuta atentamente. Sempre gostei disso. Eles não fingem se importar. Realmente escutam o que temos a dizer.
Quando me perguntam como foi meu dia, resumo tudo o que aconteceu hoje, omitindo a parte de Alex me encurralar no vestiário feminino, por razões obvias é claro, e os dois sorriem. Emma me observa atentamente e sei que está se perguntando porque não contei a eles sobre o jantar, faço um sinal discreto para que ela não diga nada e minha irmãzinha concorda e começa a contar coisas aleatórias sobre o que aprendeu hoje na escola.
Depois de comer, conversamos mais um pouco e cada um vai para o seu quarto. Todos estamos cansados e sempre nos acostumamos a dormir super cedo, o que para alguns é meio estranho, mas na minha família isso é super comum.
A sexta-feira passa incrivelmente rápido e quando percebo já está na hora de dormir novamente. Não vejo Alex durante todo o dia, o que me deixa muito curiosa. Deito na cama com um frio no estômago só de saber que amanhã serei a “namorada” de Alex. Não que esteja emocionada, é só que... nunca namorei ninguém. Não sei sequer como agir diante dessa situação.
Que Deus me ajude.
[************]
Uma música estridente toca, me arrancando do meu sonho totalmente sem sentido. Procuro a origem desse som infernal e demoro alguns segundos para perceber que é meu celular que está tocando.
─Alô? –Atendo com a voz rouca de sono.
─Acorda Margo! Temos muito que fazer hoje, já passam das nove da manhã! –A voz de Amanda soa animada e... espera! Eu dormi tanto assim? Geralmente as sete horas já estou de pé.
─Já estou acordada! Em alguns minutos chego. –Aviso e encerro a ligação.
Salto da cama e vou para o banheiro correndo. Escovo meus dentes, lavo meu rosto e depois de liberar minha bexiga, corro para a cozinha para tomar um café da manhã rápido e acabo encontrando papai sentado no sofá.
─Bom dia flor do dia. –Diz sem tirar os olhos no jornal que está lendo.
─Bom dia. –Dou um beijo na sua cabeça e ele segura minha mão em um gesto carinhoso. ─Pai... eu irei almoçar na casa da Amanda, e ela me convidou para dormir lá também... tudo bem se eu ir? –Pergunto receosa. Não quero contar a eles sobre o jantar porque não sei como sequer abordar esse assunto.
─Claro filha! Se comporte e mande um abraço para a sua amiga. –Responde e suspiro aliviada.
─Obrigada pai, estou indo agora, avise a mamãe por favor? –Peço e ele concorda. Provavelmente ela está dormindo, mamãe sempre aproveita para dormir um pouquinho a mais no sábado, já que sua rotina é super cansativa.
Volto até meu quarto pego minha mochila, coloco meus documentos dentro, uma calcinha e um sutiã de renda, de uma cor rosa clarinho, escova de dentes, uma blusa comprida e um short curto que uso para dormir. Minhas mãos estão tremendo e respiro fundo várias vezes na tentativa de me acalmar. Não é nada, é só um jantar. Com Alex. Que vem de uma das famílias mais ricas de Santa Helena. Droga.
Bebo um copo de água para me acalmar e caminho até a saída de casa. Pego as chaves da moto e me despeço de papai. Ele acena divertido e saio nervosa. Sinto um frio na barriga só de pensar no que acontecerá hoje.
Depois de quase meia hora no transito, finalmente chego na casa de Amanda.
Toco o interfone do enorme portão de ferro e em alguns segundos ele se abre me dando passagem. Já a visitei várias vezes, mas sempre me impressiono com a beleza da sua casa.
Minha amiga me espera como sempre na porta, com um sorriso de orelha a orelha. Ela com certeza está aprontando algo.
Estaciono minha moto no lugar de sempre e desço, cautelosa.
─Dormiu bem, amiga? –Pergunta enquanto me abraça e me empurra para dentro do lugar. Sussurro um sim e ela me lança um olhar arregalado. ─Porque eu não dormi nada! –Confessa e meu medo aumenta ainda mais, juntamente com a certeza de que a garota esconde algo.
─Pode me dizer o que está tramando Amanda. –Pressiono e ela bate palmas animada.
Combinamos de ir até uma loja de alugueis de vestido de segunda mão, já que obviamente não tenho dinheiro para comprar um novo. Amanda concordou prontamente e agora que paro para pensar, foi fácil demais.
─Me desculpa Margo, mas eu tive que fazer isso. –Solta enquanto caminhamos escadaria acima até o seu enorme quarto. Quando entramos, quase tenho um ataque cardíaco com o que vejo.
Na cama há pelo menos cinco vestidos em tons azul marinho, cada um diferente do outro, no chão uma dezena de pares de sapatos e na penteadeira, maquiagem, muita maquiagem.
─Amanda! Nós combinamos que eu iria alugar um vestido! –Coloco a mão na minha boca, totalmente espantada.
─Amiga, os vestidos de aluguel são nojentos, horríveis e não chegam nem aos pés desses! –Protesta e só consigo lançar um olhar assustado a ela.
─Mas como vou pagar isso tudo! –Sinto minha boca seca e meu coração acelerado só de pensar no valor que deve ter custado cada peça.
─Marjorie, eu por acaso disse que você vai pagar algo? Esses vestidos eu trouxe em condicional, você prova cada um e o que ficar mais bonito, eu compro. Será meu presente de aniversário adiantado para você. E os sapatos são meus, agradeça por calçar o mesmo número que eu. –Solta e sinto meus olhos se encherem de lagrimas no mesmo instante.
─Você não pode fazer isso comigo, Amanda... –Sussurro com a voz embargada e ela me abraça carinhosamente.
─Você é minha melhor amiga, é o mínimo que posso fazer. E não precisa se preocupar, tenho uma grana da minha mesada guardada. –Passa a mão na minha cabeça como uma mãe preocupada com sua cria. ─Eu passei a noite inteira vendo modelos de penteados e maquiagens no Pinterest. Escolhi algumas olha. –Me solta do seu aperto e me passa seu celular com várias fotos. Os penteados não são tão complexos, na verdade são bem simples, porém elegantes e ao contrário do que pensava, as maquiagens são delicadas, quase não parece que as modelos estão maquiadas. ─Gostou de algum? –Pergunta depois de alguns minutos e aponto para os que mais gostei.
Amanda explica que como não sou acostumada a usar maquiagem, faremos algo bem suave, além de que maquiagem pesada não está na moda, segundo ela.
Depois de almoçar, passamos a tarde inteira provando os vestidos e tentando descobrir qual penteado combinaria mais com cada um. Treino minha caminhada com o salto alto e escolho um que é mais ou menos fácil de usar, já que não é tão alto nem tão fino.
Já passam das três da tarde e tenho que tomar banho para começar a me arrumar. Escolhemos um vestido comprido azul marinho de mangas compridas com um decote em v bem pronunciado. No começo fiquei meio incomodada com o decote, mas Amanda me certificou de que é um decote “ilusão”, que não mostra nada demais. Ele é apertado até a cintura e o resto é solto, meio esvoaçante. O tecido é super macio e ao me olhar no espelho me sinto outra pessoa.
Saio do banho com um roupão emprestado e Amanda me coloca sentada em um banquinho na frente da sua penteadeira.
Pega o secador e começa a fazer uma escova no meu cabelo molhado. Quase meia hora depois e com o cabelo alisado, ela passa a chapinha e vai fazendo pequenas ondas nas pontas, segundo ela para que pareçam ondas naturais.
Uma vez que o penteado está pronto, é a hora da maquiagem.
Me sinto estranha com esses mimos todos. Sempre fui do estilo moleca e não me acostumo com rímel, base, sombras e tudo mais.
─Amanda, acha que estou fazendo a coisa certa? –Pergunto enquanto ela passa um pincel com sombra delicadamente pela minha pálpebra.
─Sim. Quero dizer, pelo que me contou, Alex prometeu falar com o pai sobre a quadra... eu faria o mesmo, Margo. –Responde concentrada e ofego.
─Mas e se eu passar vergonha? Eu nem conheço o garoto assim tão bem, para ser sua namorada de mentira. Nós conversamos na pracinha sobre alguns assuntos que devemos saber, mas e se eu esquecer e acabar cometendo uma gafe?
─Relaxa querida, vai dar tudo certo, além do mais, quando te perguntarem algo é só dar alguma resposta evasiva e pronto. Os ricaços não gostam de jogar conversa fora, vai por mim, já fui a vários jantares como esse. –Balanço a cabeça e ela me repreende. ─Não se mova, vou errar a maquiagem. Você disse ao Alex que estaria aqui e não na sua casa? –Pergunta.
─Não, acabei me esquecendo, mas enviarei uma mensagem quando você terminar a maquiagem.
─Perfeito. Já estou quase acabando, você não sabe como está ficando linda, o garoto vai cair aos seus pés! –Comemora alegre e dou risada.
─Mandy, somos namorados de mentira, não se ilude! –Brinco e ela faz uma cara safada.
─Vai por mim, depois de hoje ele vai te olhar com outros olhos, porque até eu te pegaria se não fosse mulher...
─Amanda! –Grito e ela cai na risada.
Ficamos em silencio por alguns minutos até que ela termina o seu trabalho. Aproveito para mandar o endereço para Alex e ele responde com um emoji de uma mão fazendo joinha. Bufo e coloco o aparelho em cima do criado mudo.
─O que foi? –Amanda pergunta entrando no quarto com dois copos de suco.
─Nada... quero dizer... é que mandei uma mensagem a Alex e ele me respondeu com um emoji apenas. Esse garoto é estranho. –Reclamo enquanto levo o copo até a boca e sinto minha garganta se relaxando com a sensação de frescura.
─Talvez ele também esteja ocupado se vestindo... –Sugere e concordo. Não quero pensar nisso, afinal tenho muito com o que me preocupar no momento. Falta apenas uma hora para que Alex me busque e estou uma pilha de nervos.
Ainda de roupão, coloca a sandália e caminho por uns vinte minutos pelo quarto. Até que estou ficando boa nisso.
Quando olho no relógio e vejo que já são seis e quarenta, peço que Amanda me ajude a colocar o vestido. Tiro a calcinha e o sutiã da mochila e coloco em cima da cama.
─Amiga, esse vestido é para ser usado sem sutiã. –Observa e quase caio para trás.
─Por que não me avisou antes? –Pergunto nervosa e ela cai na risada.
─Porque você não aceitaria vesti-lo, ele ficou lindo no seu corpo, vai por mim! –Insiste e acabo concordando. Não tenho tempo para tentar outro. Coloco a calcinha por baixo do roupão e me viro de costas ficando praticamente pelada na frente da minha amiga. Não me sinto envergonhada, já que no vestiário andamos só de calcinha quase sempre quando tomamos banho. Virou algo normal.
Amanda coloca o vestido delicadamente aos meus pés e “entro” dentro dele. Ela vai subindo a peça até que estou completamente vestida. Ela alisa algumas partes e depois corre até o enorme guarda roupas, voltando com uma bolsa pequena e quadrada bege escuro, como se fosse um envelope de veludo.
─Aqui. –Me entrega e coloco meu celular dentro. ─Espera, toma, isso nunca pode faltar. –Pisca um olho e coloca o mesmo batom com o qual me maquiou dentro da bolsa e agradeço.
─Posso me olhar no espelho agora? –Pergunto ansiosa e ela balança a cabeça e bate palmas.
Caminho até o enorme espelho do lado da cama e quase desmaio com o que vejo. Pareço outra pessoa. Estou muito bonita, quase não me reconheço. Suspiro e Amanda solta um grito, dizendo que se eu chorar, vou borrar a maquiagem. Dou risada e a abraço apertado.
─Obrigada amiga, não sei o que faria sem você! –Sou sincera e ela segura meu rosto com as duas mãos.
─Eu não sei o que faria sem uma amiga como você! Está tão linda... Alex vai amar...
Como se soubesse que estamos falando dele, meu celular começa a tocar e com certa dificuldade pelas minhas mãos que não deixam de tremer, abro a bolsa e tiro o aparelho de dentro, atendendo a ligação.
─Estou no portão, pode pedir para que abram? –Ele diz seco.
─Oi para você também, Alex. Sim pode deixar, já abrem. –Respondo e desligo na sua cara. Se ele quer ser mal educado, pois bem.
Quando procuro Amanda não a encontro. Desço cuidadosamente até a sala e a encontro ao lado do interfone. Com certeza foi liberar a entrada do garoto.
Meu estômago embrulha só de pensar no estou fazendo. Estou tremendo dos pés à cabeça e minha amiga percebe isso.
─Calma Margo, vai dar tudo certo. Você está linda, é inteligente, não vai cometer nenhuma gafe. Fica tranquila e aproveite a comida grátis! –Brinca e acabo rindo de nervoso.
─Obrigada. –Agradeço pela milésima vez e ela está por dizer algo, quando a campainha toca.
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