Capítulo 10

Ao voltar para o colégio somos recebidos com assobios e palmas pelos alunos já que tanto o nosso time como o Serpentes, o time dos meninos, ganhamos os primeiros lugares.

Levamos os troféus até a vitrine recheada e os colocamos lá com cuidado.

Uma tristeza me invade em saber que depois da Liga Estadual, não teremos mais nossa quadra para treinar, tudo por uma ganância sem sentido. Mas já conversei com Amanda e com o treinador, não vamos nos abater, faremos de tudo para vencer a Liga e com o dinheiro do prêmio, construiremos um teto na quadra ao ar livre, além de melhorar a qualidade, para que sigamos treinando. É a nossa promessa.

As aulas continuam normalmente e os dias passam tão rápido quanto um trem-bala, cada vez mais se aproximando do último dia nosso na quadra.

Depois de terminar mais uma aula de história, finalmente somos liberadas para treinar.

Esses dias todos, continuei sem ver Alex, apenas via Melina pelos corredores. Achei muito estranho, mas nem que o mundo estivesse acabando, iria perguntar a ela o que estava acontecendo. A preocupação me corroía, no entanto.

─Está tudo bem como você, Margo? –Amanda me pergunta enquanto trocamos nosso uniforme pela roupa de treinar no vestiário.

─Porque diz isso? –Coloco o blusão e amarro os cadarços dos tênis surrados.

─Não sei, você quase não prestou atenção nas aulas hoje, estava distraída... aconteceu algo?

─Não... quero dizer... sim. –Suspiro e me sento no banco frio.

─Então me conta amiga, estou aqui para te apoiar. –Amanda se senta do meu lado e me dá um empurrãozinho com seu ombro.

─Eu sei...eu sei. –Inspiro profundamente e ordeno as palavras na minha cabeça antes de começar a falar. ─É o Alex.

─Não sei porque, mas tinha esse pressentimento de que seria por ele essa sua inquietação, ele andou te enchendo de novo? –Suas palavras adquirem um tom protetor e uma risadinha me escapa. Eu amo essa menina realmente.

─Na verdade dessa vez não. É que desde o dia que nos encontramos na pracinha eu não o vi mais. Hoje vi a Melina, mas ela estava sozinha, eu... droga odeio admitir isso, mas estou preocupada com ele. –Confesso e Amanda cai na risada. ─Qual a graça? –Pergunto na defensiva e recebo um abraço como resposta.

─Ah Margo, eu dou risada de você sabe. Jura de pé junto que não sente nada pelo bailarino, mas está toda preocupada por causa do sumiço do garoto.

─Eu não... Argh, não gosto dele Mandy, apenas sinto que algo anda mal com ele. Mesmo ele sendo um idiota noventa por cento das vezes, ele continua sendo um aluno, colega de escola, um... adolescente como eu, como você.

─Eu sei amiga, vou perguntar a algum amigo dele o que anda acontecendo e te aviso, ok? –Promete e eu devolvo um abraço apertado. Minha amiga é demais mesmo. ─Agora vamos treinar, que nosso tempo está acabando, temos que ganhar aquele campeonato! –Dá um tapa na minha coxa e me levanto, caminhando ao seu lado para fora do vestiário.

*******

─Caramba Alice, passa essa bola, não seja tão fominha! –Grito para a garota que quer a todo custo fazer os pontos por ela mesma.

Nosso time é conhecido na cidade toda pela união e trabalho em equipe e agora Alice quer fazer tudo sozinha. Não gosto disso.

Ela apenas balança a cabeça e lança a bola para outra garota que estava por perto, mas posso ver a carranca no seu rosto. Ela não aprende nunca, já perdemos vários pontos pela demora em realizar a jogada por culpa dela. Sempre querendo a atenção e o brilho dos holofotes.

Já explicamos a ela várias vezes que se uma faz um ponto, todas levam o credito, mas ela não entende.

Começamos novamente a jogada e repasso mentalmente os passos que vi na nossa viagem. Aquelas garotas jogavam insanamente bem, não sei como conseguimos vencê-las. Explico ao treinador e ele pensa alguns minutos antes de tentar o mesmo conosco.

Começamos uma nova ronda, com a bola laranja sendo lançada para o alto para definir quem começa com a posse de bola. Como sou meio baixa em relação às outras garotas, acabo perdendo nesse quesito, mas minha vantagem é que sou rápida então recupero rapidamente a posse e corro até a área de dois pontos e encesto com maestria garantindo alguns pontos para o meu time.

As garotas vibram e bato com as mãos nas coxas delas voltando ao jogo rapidamente. Sempre treinamos com o time oficial e as reservas, assim todas conhecem as jogadas e ficam em forma para qualquer coisa.

Rogers sempre coloca a mim e a Amanda em times opostos, assim podemos liderar cada uma e ajudar aquelas que estão meio perdidas.

Depois de alguns minutos, Alice fica novamente com a posse de bola. Ela corre pela quadra em direção à cesta oposta, mas quando está quase chegando, as atacantes a cercam a deixando completamente imobilizada.

─Passa a bola, Alice! –Grito de novo, mas em vez de fazer caso, ela executa uma jogada muito perigosa, tenta passar a bola entre as pernas de alguma jogadora, mas o movimento sai pela culatra pois outra garota acaba tirando sua posse de bola rapidamente e converte um ponto para o time oposto. Novamente Alice corre e pega a bola tentando mais uma vez encestar.

Minha paciência está no limite, se ela continuar assim, terei que pedir ao treinador que converse com ela.

Dessa vez ela consegue o tão sonhado ponto, mas ninguém a felicita, muito pelo contrário, todas a observam caladas. As meninas sabem muito bem o que está acontecendo.

Alice pega a bola novamente e caminha até o meio da quadra.

─Caramba garota, o que custa passar a bola, o time não consta só de uma pessoa! –Grito me aproximando e vejo seu rosto ficando vermelho igual um pimentão.

─Você quer essa maldita bola, Margo? Então toma! –Grita ao mesmo tempo em que lança a bola com toda a força para mim. Não tenho tempo de desviar e acabo recebendo uma bolada na cara.

Caio no chão com o impacto e um zumbido soa no meu ouvido. Minha visão fica meio turva por alguns segundos e vejo apenas imagens borradas das garotas tentando ver se estou bem.

Respiro fundo e tento me sentar, sentindo o mal-estar passando.

─Margo, você está bem? –O treinador pergunta preocupado e balanço a cabeça sentindo uma leve pontada de dor. ─Merda, você está sangrando, precisamos ir até a enfermaria.

Instintivamente toco meu nariz e sinto o liquido espeço escorrendo e pingando no chão. Merda, essa garota me paga.

─Estou bem Rogers, só preciso limpar essa bagunça. –Me levanto com a ajuda das garotas do time e vejo se consigo realmente caminhar. Tiro minha blusa folgada que uso para treinar ficando apenas de top e faço pressão no meu nariz.

Caminho até a saída e a imagem que vejo me traz a mesma sensação de surpresa de minutos atrás.

Alex está sentado em uma das arquibancadas e me observa atento enquanto a diretora entra na quadra ao lado de um homem vestido com um terno elegante. Sei imediatamente que é seu pai pela semelhança dos dois. Os cabelos castanhos escuros, a barba por fazer e aquele olhar de superioridade. Idênticos.

O homem traz um tablet nas mãos e gesticula arduamente mostrando algo para a diretora. Nesse momento um clic soa na minha cabeça e percebo o que vieram fazer.

─Merda. ─Sussurro e caminho ainda mais rápido até o vestiário. Quando estou já dentro do lugar, me apoio na pia e sinto vontade de chorar. Curiosamente, meu nariz começa a pingar ainda mais, pintando levemente de vermelho a brancura imaculada da pia.

Abro a torneira e lavo meu rosto me deliciando com a sensação da agua fria sobre a minha pele. 

Como eles podem ser tão indiferentes? Acabam de nos ver jogando e mesmo assim querem destruir essa quadra que trouxe tantos prêmios para esse colégio. Eu não consigo entender. Se pelo menos não ganhássemos nada, mas temos uma vitrine chega de troféus para provar o meu ponto.  Balanço minha cabeça e fecho a torneira. Volto a pressionar meu blusão no nariz e me viro para voltar à quadra.

É quando dou de cara com a última pessoa que queria ver nesse momento.

─O que quer agora? –Pergunto, minha voz saindo completamente hostil. ─Não ferrou com a minha vida o suficiente? –Continuo diante do seu silencio.

─Está bem? Parece que o golpe foi forte. –Pergunta apontando para meu nariz, ignorando completamente minha pergunta.

─E desde quando se importa, Alex?

O garoto não responde, apenas levanta os ombros em um movimento completamente infantil.

Balanço a cabeça exasperada e caminho até a porta. Não quero mais vê-lo, nem falar com ele, nem pensar mais nele.

─Tenho uma proposta para te fazer. –Solta antes que eu consiga cruzar a porta. Me viro com uma risada de escárnio e o observo com a sobrancelha levantada.

─Mas você é cara de pau mesmo, né? –Quando percebo, estou parada bem na sua frente. ─A resposta é não. –O empurro com o dedo percebendo que é uma má jogada quando ele segura firme na minha mão.

─Pelo menos escuta o que tenho para te propor... por favor. –Pede e sou obrigada a rir. Alex pedindo por favor? Essa é nova. Decido escutar apenas por pura curiosidade, afinal, ele não se rebaixaria tanto assim por nada.

─Você tem dois minutos.

Um sorrisinho vitorioso pinta os seus lábios e minha vontade é de tirar essa expressão dele na base do tapa.

─Então, minha proposta é a seguinte: quero que você me acompanhe em um jantar beneficente, como se fosse minha namorada e...

─Espera um segundo! –O interrompo, isso não poderia ser mais estranho. ─Eu não acredito que estou escutando isso. Você só pode ser louco Alex! E a Melina? –A essa altura já estou gritando com ele de indignação. Como ele pode fazer isso com a namorada?

─O que tem a Melina? –Pergunta curioso como se não soubesse do que estou falando.

─Ela é a sua namorada caramba! Vai com ela nessa porcaria de jantar.

A risada que escapa da sua boca agora tem um tom de diversão. Não entendo nada.

─Eu e Melina não temos nada, Marjorie, somos apenas amigos de infância. Na verdade, é justamente por isso que preciso que finja ser minha namorada.

Agora sim estou surpreendida. Todos esses anos pensei que os dois eram namorados. Melina pelo menos sempre agiu como uma namorada ciumenta diante dele.

Será que ele nunca percebeu isso?

─Mesmo assim garoto, o que te faz pensar que vou aceitar essa proposta maluca?

─Eu posso fazer algo por você também, sei lá... posso deixar de te encher o saco... pedir para Melina te deixar em paz...

─Ah Alex... seria preciso muito mais do que isso para que eu aceite participar dessa loucura. –Declaro e libero minha mão da sua, tentando sair novamente do vestiário. Esse menino enlouqueceu, essa é a única explicação plausível que passa pela minha cabeça. Talvez seja por isso que não apareceu todos esses dias na escola, vai ver estava internado.

─Eu convenço meu pai a não destruir a quadra de basquete. –Sua voz sai firme e eu paro de caminhar no mesmo instante. Me viro novamente e o encaro incrédula.

─O que?

─É isso mesmo que ouviu. –Dá alguns passos se aproximando de mim lentamente. ─Eu o convenço.

─Não acredito em você.

─Te dou minha palavra. –Olho bem no fundo dos seus olhos e por incrível que pareça, posso ver que ele está dizendo a verdade.

─Porque eu, Alex? Você tem literalmente qualquer pessoa dessa escola aos seus pés. –Isso mesmo, digo pessoa porque qualquer um nessa escola se rende ao seu charme.

─Justamente por isso. Você obviamente não gosta de mim, então as coisas serão muito mais fáceis para ambos. Não quero iludir ninguém, preciso que você finja ser minha namorada por uma noite, depois inventamos uma briga e “terminamos”. –Acho que minha cara de confusão é tanta que ele percebe e continua explicando. ─Meu pai é um grande amigo dos pais de Melina, eles querem que ela seja minha... namorada, mas não quero nada com ela, como já te disse, somos apenas amigos. Porém enquanto eu estiver aparentemente solteiro, eles não deixarão de me importunar com essa ideia maluca, e esse jantar é muito importante para as duas famílias, pois aí eles aproveitarão para fechar um acordo, então não posso faltar.

─Espera um segundo. Você quer que eu finja ser sua namorada apenas para que os seus pais não queiram dar uma de cupido para cima de você? –Pergunto e ele confirma com uma leve balançada de cabeça. ─Esperava mais de você, Alex. A resposta continua sendo não.

─Oh vamos, garota! Eu já te disse que posso convencê-lo com a quadra, me ajude nessa, por favor!

─Você tem a cara de pau de me pedir ajuda depois de todos esses anos fazendo da minha vida um inferno? Não estou acreditando nisso, não mesmo!

─Por favor! –O garoto coloca as duas mãos sobre os meus ombros e olha bem no fundo dos meus olhos o que me causa um misto de sensações indescritíveis. ─Se não fosse tão importante, não estaria te pedindo nada disso... Além do mais, você me deve esse favor! 

Posso sentir pelo seu olhar aflito que eu sou sua última esperança.

─Desde quando? Não te devo nada, garoto. –Minha voz sai em um sussurro nervoso e ele levanta uma sobrancelha desafiador.

─Se não fosse por mim, você estaria suspendida por andar pelada pelo colégio. –Alex tem a cara de pau de dizer.

─Ah pronto! Foi você mesmo que escondeu minhas roupas, seu louco! –Agora minha voz sobe algumas oitavas e o garoto cerra os olhos e se aproxima lentamente de mim.

─Eu disse que ia cobrar, se não me ajudar, irei dizer à diretora que você simplesmente saiu de toalha do vestiário e que eu a encontrei no corredor desse jeito, que ninguém escondeu suas roupas.

Observo como a expressão de vitória passa pelo seu rosto. Como ele pode ser tão mal assim?

Ele não deve sequer conhecer o significado da palavra empatia.

─Quando é esse jantar maldito? –Pergunto com raiva de mim mesma por estar aceitando essa loucura.

─No sábado, eu te pego às sete na tua casa e te levo de volta.

─É bom mesmo, Alex. E ai de você se não cumprir com o que disse. –Bufo já me arrependendo.

─Eu prometo. Obrigado por me ajudar.

─Eu não estou te ajudando. Nós temos um trato, estou fazendo isso pela quadra e pelo meu time.

Ele apenas balança a cabeça e sai do vestiário me deixando sozinha.

Me sento exasperada no banco e passo as duas mãos pelo meu rosto.

─Aonde foi que eu me meti? –Sussurro e respiro fundo. Já que estamos na pista, não resta outra opção a não ser dançar.

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