01. Ponto de Vista: Jungkook
➼ Aproveitem ❤️
"Perdoe o jeito que eu olho
Não há mais nada para comparar
A visão de você me deixa fraco
Não há mais palavras para falar
Mas se você sentir o que eu sinto
Por favor, deixe-me saber que é real
Você é bom demais para ser verdade
Não consigo tirar meus olhos de você"
- Can't take my eyes off you
O conheci durante um acampamento de verão quando tinha dez anos, tudo porque meu irmão convenceu os meus pais e a mim de que eu precisava de aventura. Os Jeon acharam uma boa ideia pois supuseram que me ajudaria a enturmar com os colegas da nova cidade, Seul, onde viemos morar.
No entanto, era uma desculpa para que Namjoon pudesse ter a casa só para ele sem eu no seu pé implorando para jogarmos poker ou irmos a quadra do bairro.
Eu estava um tanto desinteressado com esse acampamento, mas segui o seu conselho de "sair de casa e crescer com novas experiências" sem nem saber muito bem o que aquilo significava.
Quando comentaram de uma competição de caça ao tesouro, meu eu competitivo tomou conta. Ele tinha o mesmo espírito então assim que o vi reunir o pessoal do nosso time todo empolgado e com seu entusiasmo contagiando os demais, eu abri o meu primeiro sorriso do dia.
Nós exploramos a floresta em busca de pistas, criamos mapas improvisados e estratégias juntos, no fim vencemos compartilhando vários brinquedos e doces que estavam no baú entre nós e os novos amigos.
Sua energia e simpatia me animava então tudo ali passou a ser divertido. Quando descobri que ele era do tipo que fazia carinho sem preconceitos então - me ocorreu de chorar com saudade da família e ele não me zoou, apenas sentou ao meu lado e se pôs a acarinhar meu cabelo até que me rendi ao seu abraço quentinho -, eu gostei ainda mais dele.
Jimin nunca teve um pingo de masculinidade frágil, eu também nunca fui ligado nesses comportamentos estereotipados considerados "masculinos". Por isso éramos o tipo de amigo que vivia grudado, se tocava, fazendo carinho, abraçava sem problemas, bem bff, como muitas garotas da nossa sala. Onde um estava, o outro também estava presente. Se um não ia, o outro também não. Até hoje somos bem assim, unha e carne.
E por sermos assim, eu me encontrava em sua casa, deitado ao seu lado no tapete felpudo da sala assistindo mais um dos infinitos vídeos que ele gostava de teorias, competições de poderes ou resumos desde que tive algum anime envolvido.
Eu não sou fã de anime e não vejo sentido em ficar vendo detalhes do que você acabou de assistir, tipo, você já assistiu. Mas ele parecia sempre tão empolgado e sorridente… Tão sorridente… Que eu acabava gostando de assistir junto esses vários vídeos no YouTube.
— … Sensacional! — o que ele comentou sobre o vídeo que acabamos de ver? Eu não sei dizer.
Isso porque percebi que estou perdido nele e em como seu cabelo castanho parece brilhante, em como suas sobrancelhas se movem enquanto ele faz suas expressões, em como as bochechas ficam rosadas quando ele ri muito e seus olhos se fecham formando dois risquinhos adoráveis enquanto seus dentes são expostos num sorriso largo tão energizante e lindo que… meu coração começou a bater rápido. Rápido demais. Minha boca ficou seca e as mãos começaram a tremer.
Essa não era a primeira vez que me acontecia tais sintomas.
— Ji, eu já vou. — dei um pulo no chão, o vendo diminuir o mesmo sorriso que eu estava tão imerso observando.
— Aconteceu alguma coisa? — se pôs de pé, vindo preocupado até mim.
— Estou com dor de barriga. — fiz careta diante do aceleramento interno e o incômodo gástrico intestinal. — Eu me sinto estranho.
— Meu Deus, você está tremendo. — disse, pegando minhas mãos com as suas macias e tão quentinhas. As mãos dele sempre tiveram uma temperatura quente, tão diferente da minha, tão confortável… Me olhou atento, isso me fez sentir pior. Eu sempre piorava quando estava passando mal e ele se aproximava.
— É sério, eu preciso ir.
— Pode usar o banheiro daqui, você já é de casa. Temos intimidade suficiente para isso.
— Eu sei. Mas prefiro ir pra casa. — me soltei, mesmo no fundo não querendo. Mas eu estar apavorado diante do meu coração quase saindo pela boca me fez sair correndo. — Namjoon está lá, então não vou ficar mal sozinho, não se preocupe. Te mando mensagem depois. Tchau!
Escapei pela porta antes que ele insistisse em cuidar de mim - pois se acontecesse, eu iria ceder - e andei em passos rápidos até minha casa, na próxima avenida.
Eu não sabia o que eram as coisas que estava sentindo e minha mente estava confusa sem saber o que pensar, ao mesmo tempo temendo que eu estivesse tendo um quadro terrível de ansiedade ou um infarto.
Meu Deus! Será que o que venho sentindo são alertas de que irei morrer de infarto mesmo? Eu só tenho vinte e um, sou jovem demais para ir de arrasta para cima!
Entro em casa apavorado com essa ideia, mas pareço sem sintomas. É por isso que deve ser ansiedade. Afinal, é só estar no meu lar que tudo parece bem. Minha zona de conforto parece me acalmar e toda a ruindade vai embora.
— Hyung! — vejo Namjoon com um pote de pipocas, vindo da cozinha, provavelmente fez para assistir um dos milhares filmes de luta que gostava.
— JK, você está bem? Parece meio acelerado.
— Estou. Não. — ele me olhou confuso. — Me sinto melhor, mas tem um tempo que em alguns momentos eu me sinto estranho. Podemos conversar?
— Claro. Chega aí. — foi para o sofá, se sentando e eu o acompanhei.
— Eu temo que esteja mal da cabeça. — disse, mexendo na barra da minha camiseta, coisa que acontecia com frequência quando estava nervoso. Ele é médico e muito sincero, eu tenho medo de suas suspeitas além de temer apavorá-lo porque é meu irmão, se suspeitar que estou em estado grave vai ficar péssimo.
— Como assim?
— Eu ando com sintomas de ansiedade. Se não, algo pior. — mordi o lábio, mexendo mais meus dedos no pano. — Como infarto.
Ele franziu o cenho, me olhando sério como se me analisasse.
— Você me parece bem em todo momento que estivemos juntos desde a minha volta. A não ser agora que está nervoso.
— É porque aqui eu me sinto bem. Mas não é a primeira vez! Hyung, minha boca fica seca, eu suo frio, minhas mãos tremem, meu coração fica a mil parecendo que corri uma maratona e minha barriga fica estranha como se eu tivesse andando numa montanha russa ou como se eu estivesse passando mal de desidratação.
Seus olhos se estreitaram.
— E quando você sente isso?
Pensei um pouco…
Quando eu saio para a faculdade, para algum evento que a envolva, ou para jogar vôlei na quadra, os meninos estão com a gente - Jimin e eu - então eu me distraio. É mais quando estamos sozinhos. Começou desde o dia em que o ajudei a mudar.
O hyung tinha conseguido financiar um apartamento e agora, para o desespero de sua mãe muito amorosa, atenciosa e grudentinha, ele morava sozinho. Eu o ajudei a convencê-la de que ele precisava sair do ninho e bater suas asas, se aventurando no mundo e crescendo com suas próprias experiências. Foi o que Nam me ensinou desde pequeno. Apesar de eu não ter entendido tão rápido, sou grato a ele porque esse seu conselho me fez ir lá para fora e interagir com as pessoas, me fez um dia a onze anos atrás conhecer meu hyung tão único e maravilhoso.
— Quando estou na casa do Jimin. — disse após pensar.
— Ah.
— Só isso? — cruzei os braços. — O que “ah” quer dizer?
Ele riu.
— Hyung, você não está me levando a sério? Eu posso morrer!
— Calma, JK. Você não vai morrer. Isso não é problema de ansiedade ou infarto. — antes que eu pudesse perguntar o que diabos era então, ele continua: — Esses sintomas surgem em momentos específicos?
Ali estou, parado, refletindo mais um pouco.
Eu sempre estou atento a Jimin, a cada passo que ele dá, a cada movimento que ele faz, a cada expressão em seu rosto, e a cada vez que sua boca carnuda se curva em um sorriso. Quando ele me olha de volta com seus olhos estreitos e afiados, principalmente estando pertinho, meu coração se acelera. E eu me sinto estranho quando acaricia meus cabelos ou nossas mãos se tocam, apesar de apreciar a diferença de temperatura entre elas.
A primeira cena clara em minhas lembranças de passar mal desse jeito é do dia da mudança. Eu estava o ajudando, carregando as caixas para seu novo lar, estávamos empolgados, com o som ligado tocando The Weekend e toda uma bagunça para arrumar. Ele trancou a porta quando passamos com as últimas coisas e eu me vi no meio de sua nova sala, olhando ao redor e notando que era a primeira vez que ficávamos sozinhos. Completamente. Porque na minha casa o escritório dos meus pais é lá então estavam vinte e quatro horas presente e sempre perguntando se queríamos alguma coisa. Já na dele sua mãe se oferecia para assistir TV junto, ficava ao nosso redor nos enchendo de doces e amor como se ainda fossemos suas crianças pequenas do passado.
Por algum motivo estarmos a sós me trouxe um pouco de inquietação. Quando ele se aproximou de mim para colocar uma tiara com orelhas de coelho que achou em uma das várias caixas - era de uma fantasia que usamos na festa de halloween de um cursinho de inglês - eu me afastei de supetão e deslizei o pé num skate que não sei de onde veio, caindo no chão e me machucando. Ele, preocupado e ainda sendo aluno de fisioterapia, pegou meu tornozelo e foi analisar enquanto eu o olhava atentamente sentindo meu coração acelerado e as mãos tremendo, pelo susto, claro.
Sua mão parecia ainda mais quente na minha pele e a forma com que ele me olhava, com tanta atenção e doçura, calma e carinho, me fez sentir todo aquele conjunto de sensações estranhas pela primeira vez. Mas eu ignorei porque a dor aos poucos se sobressaiu, apenas foquei em por o gelo que ele pegou e depois fui embora prometendo a ele que voltaria para ajudar quando melhorasse a leve torção que tive.
Da outra vez a qual lembro com clareza sentir essas coisas foi pouco depois quando estávamos brincando de verdade ou consequência com nossos amigos Seokjin, Taehyung e Yoongi e me desafiaram a olhar no fundo de seus olhos, quem desviasse ou risse primeiro levaria um tapa na cara. Mas se o desafio era meu, por que o Jimin corria risco de se ferrar? É que eles disseram ser justo já que meu hyung nunca estava pedindo desafio e como “somos como um só” valeria a pena.
Eu o encarei como de costume e ele me olhou de volta, mas de repente eu percebi que estávamos muito perto, eu podia ver cada mísero detalhe do seu rosto bonito. Seus olhos cor de mel tinham as pupilas redondinhas alteradas pelo álcool, ele me encarava fixamente, era como se pudesse me ver despido, como se enxergasse a minha alma, nesse momento me veio a sensação de frio na barriga e o descompasso do meu coração, lembro que me senti tremendo e suando como se passasse mal de verdade. Eu saí correndo e me fechei no banheiro respirando fundo e tentando controlar uma possível dor de barriga. Afinal, deveria ser o tanto de porcarias que comemos e misturamos no estômago junto do álcool, não é?
Fora hoje, a última vez que reparei sentir isso foi semana passada no dia que meu irmão chegou para passar um tempo com a gente, longe de seu consultório e sua casa monótona - segundo suas próprias palavras.
Meu computador havia estragado, por isso fui até o apê para usar o seu, eu estava escrevendo o roteiro de uma das peças que escrevi para minha sala apresentar no festival de inverno da faculdade que precisava entregar dali a poucos minutos para aprovado. Enquanto isso ele tomava banho.
Somos da mesma faculdade, Namwoo, porém em períodos e cursos diferentes. Eu faço arte e ele fisioterapia. Enfim, estava concentrado quando, de repente, percebi sua presença e isso me trouxe a sensação de susto, afinal, eu não esperava que estivesse com o rosto ao lado do meu olhando na tela. Porém, a sensação piorou quando ele me olhou nos olhos com o carinho costumeiro, acarinhou meu cabelo e sorriu abertamente dizendo que estava muito bom. E meu coração quase saiu pela boca quando percebi que ele estava somente de toalha, todo seu peitoral e abdômen além das coxas grossas estavam expostos e meio úmidos pelas gotinhas que permaneceram. Algo explodiu dentro de mim, eu simplesmente salvei o texto, peguei seu notebook e saí dizendo que esperava ele na sala. Eu demorei a me sentir bem naquela noite, mesmo quando nos separamos para irmos cada um para nossa sala.
— Eu… Acho que o problema está no Ji. — disse, pensativo.
— Por que?
— Toda vez que ele me encara eu me sinto esquisito e nervoso e quando está próximo de mim, com a gente sozinho, eu me tremo e meu coração vai a mil, me dá vontade de sair correndo. Eu… — acabei de perceber algo! — Tenho evitado ele, não intencionalmente, mas eu inventei desculpas para a gente não se ver falando que precisava passar o fim de semana com você e durante a semana o ignorei na faculdade, ficando mais perto dos nossos amigos. Fiquei de consciência pesada por isso fui passar tempo com ele hoje. Mas voltou a acontecer… Eu passei mal.
Ele abriu um sorriso. Maluco. Nem vou dar bola.
— O que acha que possa ser?
— Ansiedade, certeza. Mas por que ele anda me deixando tão ansioso? Eu sempre me senti confortável com ele desde meus dez anos quando o conheci no acampamento. Ele nunca foi um alerta de perigo na minha mente, não entendo… — eu realmente estava confuso.
— Você não sabe mesmo? — balancei a cabeça, mexendo na barra da camiseta. — Me descreva com detalhes os momentos que se sentiu "mal".
Eu disse as cenas que passaram na minha mente e, pouco a pouco, enquanto dizia em voz alta, as peças desse quebra cabeça iam se juntando e ficando cada vez mais claro. Mas eu não podia acreditar…
— O coração acelerado, boca seca, mãos trêmulas, suor, e frio na barriga em mim… Não é infarto.
— Não. — ele estava segurando aquele sorriso idiota.
— E nem problema com ansiedade. Apesar de ser como uma espécie de ansiedade…
— Você está perfeitamente bem, JK. Então o que está te causando esses sintomas?
Eu engoli em seco, meus olhos arregalados quando sussurrei:
— Paixão.
❤️
Eu nunca tirei os olhos dele. Desde meus dez anos quando me apresentaram para o garoto mais velho de treze que seria responsável pelo time vermelho, o meu time, por já conhecer as dinâmicas dali a anos pois nunca falhava em nenhum acampamento como alguns colegas seus que ficaram com os times das outras cores.
Nunca tirei meus olhos dele porque ele era agradável de se olhar. Além de muito bonito, era gentil, bondoso, educado, e carinhoso. Eu o admirava desde essa época. E com o passar dos anos essa admiração só foi crescendo, eu só não percebi a intensidade que se tornou e que ela se transformou em algo maior.
Mas agora, desde minha conversa esclarecedora com Namjoon, eu sei.
E estou cada dia mais nervoso ficando perto dele. Ao mesmo tempo, meus olhares se tornaram ainda mais constantes e meus sorrisos ainda mais bobos.
Se antes eu o queria no meu campo de visão inconsistentemente, agora eu precisava disso. Eu queria estar sempre assistindo ele comentar e sorrir empolgado com seus vídeos idiotas sobre anime, o vendo rir com nosso amigos e dizer besteiras junto, ficar sério e concentrado quando estávamos na biblioteca da faculdade estudando… Eu queria até vê-lo triste ao ver que o time de vôlei de sua sala havia perdido de novo - fazer o que, eles são ruins mesmo, o da minha é melhor.
Eu queria manter meus olhos nele porque ele era lindo de todas as formas. Porque meu nervosismo já não me fazia querer sair correndo e sim me aproximar. Eu aceitei minha paixão de bom grado, só tinha medo de sua reação caso soubesse. Então estava o admirando calado, sorrindo por sua causa em segredo.
Mas não parecia suficiente.
Eu queria mais.
Toda vez que ele encontrava meu olhar e perguntava sorrindo meio tímido "o que?" eu queria responder "você e sua beleza estonteante me atrai, não consigo tirar meus olhos de você".
Além de declarar meus sentimentos, eu queria ser como Seokjin e Taehyung. Poder ficar de mãos dadas, me aconchegar em seu ombro, beijar sua boca carnuda por horas como se fosse a melhor coisa do mundo - o que não duvidava que fosse.
Para isso, eu precisava me confessar. E, pensando nisso, decidi escrever. Eu fiz uma carta linda… Mas eu não tive coragem de entregar.
Eu não sei se ele pode me corresponder, essa dúvida me deixa inseguro. Me atormentava pensar que eu pudesse perder a conexão especial que tínhamos porque era o que aconteceria caso ele decidisse se tornar distante.
A falta de experiência também não me ajudava. Eu nunca enfrentei uma situação tão íntima e vulnerável, isso me deixava nervoso. Eu saberia lidar com um possível não? Se ele negassse e quisesse ainda assim continuar nossa amizade, eu seria capaz de ignorar meus sentimentos? Eu não quero mudar o que temos. Há não ser acrescentar mais afeto e beijos e algumas coisas a mais…
Eu não entreguei a carta por estar lutando internamente entre o desejo de dizer meus sentimentos e talvez tê-los correspondidos, e o medo de perder nossa bela amizade. Eu estava preso em um clichê. E descobri que isso não era emocionante como nos filmes que eu gostava, na vida real era insuportável.
— Jungkookie?
Pisquei, o foco voltando para ele. Eu estava no seu sofá enquanto pensávamos que filme assistir. Por mais que eu estivesse todo apaixonadinho e confuso, querendo me manter um pouco afastado até eu me resolver, eu não resistia aos seus chamados. Sempre gostei de lhe fazer companhia. E é claro que parte de mim queria muito passar todo tempo possível com ele.
— Oi?
— Você está pensando demais. Só escolhe um filme logo antes que eu coloque Boruto.
Ah, o filme. Hoje é o meu dia de escolher… Me peguei dizendo:
— 500 Dias com Ela.
— Você e esses filmes de romances dramáticos. Espero que dessa vez eu não termine chorando igual em Diário de uma Paixão.
O filme é uma comédia romântica que conta a história do relacionamento de Tom e Summer de uma forma não linear, mostrando os momentos significativos ao longo dos 500 dias deles.
Eu percebi que o escolhi porque assim como Tom, eu estou em um processo de refletir minhas emoções e relembrar os momentos que compartilhei com Jimin. Agora tudo que o envolvia, eu via com outros olhos - olhos mais boiolas impossível.
Enquanto assistia ao lado dele, eu estava observando suas expressões e reações. Jimin ria nas cenas engraçadas, eu amava a forma como seus olhos pequenos brilhavam de alegria e como sua risada preenchia meus ouvidos, chegando até o meu coração e o aquecendo de uma forma tão gostosa que eu me via sorrindo juntos.
Tentei ler além das suas expressões, procurando algum indícios de reciprocidade ou algo mais profundo… Mas ele era um mistério para mim. Um mistério calmo, carinhoso e muito neutro. Como qualquer amigo deve ser.
Em momentos de emoção, observava a seriedade tomar conta de seus olhos, sua concentração mexia comigo. Ele parecia sexy envolvido nas coisas que fazia, agora assistindo com atenção.
Atenção. Eu adorava quando a sua estava em mim. Mesmo que eu pudesse ficar sem jeito atualmente por ter notado meus sentimentos por ele.
Ok, percebi através da minha observação nele que no fundo eu tinha uma intenção oculta. Não se tratava apenas do filme, era sobre explorar suas emoções junto das minhas, e criar um espaço para que ele pudesse se expressar. Mas Jimin não me diz nada. Ele quase nunca comenta sobre seus sentimentos amorosos.
Sei que esteve apaixonado por uma colega do ensino médio na época da escola, eles chegaram a sair mas na mesma noite ela ficou com outro na frente dele e o deixou arrasado. Foram muitas noites de eu cuidando de sua ressaca até que um dia ele superou. Isso foi há seis anos. De lá até então, nada mais.
E eu também não digo nada a respeito, apesar de ser claro que sou um romântico nato, porque afirmava não sentir essas atrações e sentimentos… Até agora. Por ser por ele, eu não fazia ideia de como começar o assunto. Pois qualquer a que eu dissesse, ele poderia saber toda a verdade.
A suavidade de suas feições, sua empatia visível nas cenas de emoção, tudo isso ecoava o motivo pelo qual eu me apaixonei. A forma como ele era capaz de se conectar com as histórias e personagens - também pessoas no dia a dia -, expressando compaixão e compreensão, me fazia admirá-lo mais e mais.
O filme avançava e eu sentia meu coração acelerar. A cada olhar em sua direção, eu estava mais ansioso.
Em um momento eu me rendi e deitei a cabeça em seu colo. Não seria estranho porque eu fazia isso com frequência. Ele levou a mão ao meu cabelo acariciando como às vezes fazia - sempre alegando ser muito macio -, e meu estômago gelou. O encarei, ele me olhou de volta e deu um pequeno sorriso. Eu sei que há ternura entre nós. Mas meu coração apaixonado necessita saber se há a possibilidade de algo mais.
Eu não consegui prestar atenção em sua opinião assim que o filme se findou, pois eu só percebia que me sentia inspirado a seguir em frente e enfrentar minhas próprias incertezas sobre o amor.
Mas creio que preciso de um momento propício. Vai ser estranho eu só virar para ele e dizer "Hyung, eu na verdade amo você e quero te beijar para o resto da minha vida". Ou lhe entregar a carta e, certamente, como eu sou, sair correndo com medo das suas expressões e da resposta.
Eu poderia fazer algo relacionado com o que ele gosta, levar ele em um encontro perfeito e no final me confessar…
— Oh, saiu vídeo novo sobre a batalha entre as habilidades e estratégias de combate dos personagens de Boku no Hero. — afirmou animado com a notificação no seu celular.
— Coloca para a gente assisir. — disse no automático o que sempre falava, ainda estando preso nos meus próprios pensamentos sobre como agradá-lo.
— Eu simplesmente amo esses vídeos!
Então minha mente deu um estalo.
— É isso que eu vou fazer!
Ele se voltou para mim.
— Vídeo pro YouTube?
— Sim! — por eu estar empolgado, ele ficou feliz.
— Seria ótimo! Eu posso te ajudar. Podemos criar um canal de heróis!
— Não. — neguei veemente. Ele não podia estar junto comigo enquanto eu filmava minha declaração de amor. — Eu preciso estar sozinho.
— Ah, tudo bem. — pegou seu celular. — Um amigo meu da faculdade tem um canal há um tempo. Ele faz vídeos de jogos e jogando, manda muito bem nas edições. Como faz isso a anos, deve ter várias dicas para você. Te mandei o número.
Por impulso - que buscou seu corpo - pulei nele, o abraçando. Ah, o contato do seu peitoral firme no meu, o seu calor… Me deixava completamente fraco.
— Obrigado...
Ele deu uma risadinha.
— Não há de que, Jungkookie. — fez carinho no meu cabelo após nos separarmos. — Eu quero ser o primeiro a ver, hein?
— Eu prometo que você será. — sorri largo.
Ele mal sabe o que virá pela frente.
Ele é muito entusiasmado por vídeos do YouTube, então eu quero criar um vídeo personalizado, expressando meus sentimentos e me declarando dessa maneira que eu finalmente percebi que será bem recebida por ele. Mesmo que não me corresponda de forma romântica, sei que vai amar a minha tentativa e nunca a esquecer.
Agora eu me sinto muito mais confiante. Vou aproveitar e já combinar com esse tal amigo dele para me auxiliar nessa o mais rápido possível!
❤️
O amigo dele se chama Jung Hoseok e ele se pôs pronto de imediato a me ajudar quando eu lhe confiei a minha verdade.
Então aqui estou eu, sentado em uma cadeira grande extremamente confortável, na frente de todo seu setup gamer, com seus tripés de luzes, microfone e câmera voltados a mim enquanto me sentia nervoso.
— Quando você quiser. — disse, por trás da câmera.
Remexi os dedos apertando a barra da minha camiseta.
— É estranho… Eu só falo e é isso?
— Minha dica é olhar para câmera e fingir que tem um público te assistindo, fica mais tranquilo. — pela minha careta ele notou que eu não concordava. — Ou pense que está falando para as pessoas mais íntimas da sua vida. Como seus pais, seu irmão, seus amigos…
— Como sabe que tenho um irmão? — franzi o cenho, procurando na memória se eu lhe disse algo mas todo nosso papo se manteve em torno de Jimin desde o início. Começando com "Oi, sou Jeon Jungkook, melhor amigo do Jimin e gostaria de sua ajuda para gravar um vídeo e ele sair pelo menos aceitável hahah" até "eu quero me declarar para ele pois nos últimos dias notei que minha admiração não é só admiração" e segue eu boiolando ou ficando nervoso ao falar mais e mais sobre isso para ele.
Eu me abri com um estranho. Mas se ele era amigo do Ji, eu confiava. Ele sempre foi muito seletivo em quem mantém em sua vida, apenas cultiva amizades com quem é legal, compreensivo e recíproco.
— O Jimin já citou.
— Já? — perguntei surpreso e admito que interessado.
— É, você é o melhor amigo dele. — deu de ombros. — Acaba comentando muito de você.
Ele fala sobre mim para outras pessoas. Eu não sou pouca coisa, uhm? Sorri abobalhado.
— Certo. Vamos logo com isso. Estou louco para mudar esse título de melhor amigo.
— É assim que se fala!
O toque de fundo era a melodia da música Can't Take My Eyes Off You. Era a que sempre me fazia lembrar dele desde o acampamento quando cantaram ela ao redor da fogueira. Agora quando eu a escutava, tendo consciência dos meus sentimentos, tinha um sentido ainda mais especial.
Respirei fundo e ergui a cabeça. Eu vou deixar meu coração - esse mesmo que está bombeando a mil - se abrir porque eu confio. Jimin nunca iria me machucar. Ele não fez em onze anos de amizade. E provavelmente nunca faria.
— Oi, pessoal. — disse, imaginando de fato meus pais, irmão, a mãe dele e nossos amigos ali. — Sabe, ultimamente percebi algo incrível… algo novo, que mudou minha vida e tem poder de mudar ainda mais. E eu preciso compartilhar isso com vocês. Desde que o conheci, meus olhos nunca se afastaram dele. Cada momento, cada risada, cada olhar... eu simplesmente não consigo tirar meus olhos dele.
Meus dedos estavam inquietos, segurando os papéis em cima da mesa, fora do enquadramento da câmera.
— É como se o mundo inteiro desaparecesse quando estou perto dele. E é mágico, sabe? Como se o universo conspirasse para tornar tudo perfeito quando ele está por perto apesar que isso anda me deixando bem nervoso. Ele é minha inspiração, a melhor e mais gentil pessoa que já tive o prazer de conhecer, a luz que ilumina meus dias.
Peguei e ergui a folha onde estava escrito: "Cada olhar dele é um poema para mim".
— Cada olhar dele é como um poema para mim, uma história que me fascina a cada dia. Eu não acredito que alguém possa ser tão incrível, tão único. Ele é meu raio de sol em dias chuvosos, sempre foi. — meus dedos coçavam de vontade de ir para minha blusa mas para serem secados, estavam suando. — E agora, aqui estou eu, tentando encontrar as palavras certas para expressar o que sinto. Não é fácil para mim fazer isso porque nunca senti algo assim nem precisei expor antes, mas sei que tenho que tentar. Porque eu confio nele e, quer saber? Não me importo de receber um não. Se for para ter o coração partido, estou feliz que seja por alguém tão bom.
Passo a folha para: "É amor. E é tudo por ele."
— Sim, eu finalmente percebi... De admiração a paixão, de paixão à amor porque o que está no meu peito não é um sentimento ardente e que pode ser passageiro. É forte. Um amor que transborda, que faz meu coração bater mais forte a cada sorriso, cada aproximação, cada toque. E eu não quero mais esconder isso. — olhei para a câmera com intensidade. — Estou aqui, diante de todos vocês, para ler a carta que à alguns dias, por insegurança boba, não tive coragem de entregar… Ela é para você, hyung.
"Querido Jimin,
Nestes versos que brotam do meu peito, tento traduzir o sentimento que me incendeia a alma
Um fogo suave que desperta na presença calorosa do teu ser
Em cada olhar que trocamos ao longo dos anos, descubro melodias celestiais
Onde as notas são tuas risadas e os compassos, a cadência dos teus gestos
Sinto-me como um navegante em mares desconhecidos
Com teus belos olhos a guiar meu coração por constelações de encanto e ternura
Cada palavra tua é um poema que ecoa em meu ser, ecoando melodias de afeto e cumplicidade
Teu sorriso, jardim perfumado de rosas, colore meu mundo em tons vibrantes
E, no silêncio do entardecer, ouço o sussurro suave do teu nome nas brisas que dançam pelo ar
És o verso mais belo que minha vida já compôs, a estrofe que completa minha poesia
Se me permitires, quero escrever contigo as páginas mais lindas deste livro chamado amor
E que, juntos, possamos colorir os dias com a tinta da felicidade, com a poesia do carinho e com a música da nossa união
Com toda a ansiedade da paixão,
Portanto, questiono-te…
Me namora?
Com todo meu amor,
Jungkook."
Olhei para a câmera cheio de expectativas, que rezava para não serem quebradas, e segurei a última folha:
"Estou esperando sua resposta com todo o meu coração".
Sinto a pura mistura de nervosismo e esperança.
Hoseok vem até mim cheio de entusiasmo.
— Você ficou tão concentrado e entregue que nem vou precisar fazer cortes no vídeo. Mandou bem garoto! — bagunçou meu cabelo, eu soltei o ar que não notei estar prendendo junto de um sorriso sincero e um tanto aliviado de ter dado certo. Em partes. — Jimin tem razão. Seu cabelo é muito macio! Parece um algodão!
Ele comentou até isso?
— Vocês devem ser bons amigos.
— Somos amigos o suficiente para eu saber que ele vai infartar depois que eu editar o formato do vídeo, upar e você enviar para ele.
— Ele vai… — meus olhos se arregalaram. — De uma forma boa ou ruim?
Ele desviou o olhar e deu de ombros.
— Terá que esperar para saber.
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