Capítulo 1
Christofer Bang
Me resumindo em algo, apenas, sou um pobre e fodido.
Com atualmente meus 27 anos, já vivi o suficiente para saber da minha dura realidade. Nunca passei por dificuldade, apenas uma vez quando sai da casa da minha mãe, mas por toda minha infância e adolescência, minha coroa - Senhora Rosa - nunca deixou a pobreza vencer, ela que cuidava de mim sozinha, já que meu pai cuzão não assumiu a responsabilidade, teve que se revirar para nós sustentar, diarista, secretária, ela já fez tudo e por isso hoje em dia, me esforço todo dia mais para que nunca falte nada pra ela.
Enquanto minha mãe dava duro, eu que era um pivete aproveitei minha infância normalmente, eu não tinha mordomias e nossa vida era bem simples, mas eu passava o dia todo jogando bola com os amigos, descalço mesmo, agradeço minha mãe por ela ter me dado um luxo de poder viver minha vida na safe até meus 16 anos de idade, tá ligado?
Hoje em dia sou um mecânico, e ter essa profissão 'num bairro não tão rico de São Paulo é decepcionante pra caralho, ainda mais se tu mal completou o ensino médio! Um monte de burguês que vi arrumar o carro prefere passar diretamente por você com cara de quem chupou um pau e não gostou, isso é honestamente cansativo, tenho vontade de mandar geral tomar no cu, mas por amor ao meu emprego ─ e logicamente ao dinheiro, eu não faço tal ato.
Uma cota de horas atrás, eu tinha pintado um carro e polido, porra, ficou nos trincos, fui devolver 'pro cliente e ele ficou de sacanagem - O nariz empinado me olhou de cima à baixo, nem falou comigo e disse ficou não ficou tão bom, fiquei me sentindo humilhado, mas essa é a famosa vida de pobre, não é!?
─ Pior que foi assim mesmo, esses burguês ficam toda hora de caô! Quase perdi a paciência pelo Chris ─ Jorginho disse fumando o cigarro de maconha pendurado em sua boca.
Esse é o Jorge, ou o Jorginho como eu chamo, só da eu e ele falando mal de todo mundo na garagem, ele é meu parceiro na oficina e da vida toda, conheci ele quando éramos pivetes ─ por volta dos 6 anos ─ ficamos grudados desde então, afinal eu e ele sempre fomos os únicos olhos puxados da favelinha, era difícil de se enturmar, por isso eu e o Jorge ficamos jogando futebol na rua, isso até crescermos. Jorginho tem sotaque carioca, afinal ele na real é do Rio de Janeiro e também um canalha, papo reto.
Nos dias de hoje não temos mais essa mordomia, trabalhamos de segunda à sábado, das meio dia às seis da noite, sem ter descanso! E no domingo no máximo que fazemos é sair para boates, mesmo que na maioria das vezes eu não beba tanto álcool por conta do trabalho.
─ Parça, não sei qual da mais raiva, ter que aguentar burguês ou as versão em miniatura deles ─ Marcos disse, pegando o cigarro que Jorginho estava fumando e tragando também.
Esse é o Marcos, o professor de filosofia em escola particular que conhecidentemente conheceu o Jorge em um beco, quando ele estava fumando maconha. Marcos é simplesmente o próprio caos em pessoa e filósofa do nada, conheci ele há mais ou menos três anos e desde então somos só nós, um trio.
─ Namoral, ainda bem que nossas férias estão chegando, estou louco pra passar as férias no RJ, voltar às origens ─ Disse o maconheiro, Jorginho tragrando uma.
─ Papo reto, três semanas e a gente finalmente vai ter uma pausa do inferno ─ Digo bebendo da minha própria cerveja, Skol.
Meu sonho sempre foi ir pro Rio de Janeiro, Jorginho sempre ia quando pivete e sempre me contava como as praias de lá eram lindas, além da vista. Esse ano vai ser meu primeiro e provável não único ano que eu pra fazer, estou louco pra salgar a vida.
─ Vou tentar ir também, os nariz empinado são complicados, mas eu dou meu jeitinho ─ Marcos disse pegando o baseado da mão de Jorginho e fumando também.
Maconheiros safados.
Enquanto a gente conversava e brisava na conversa, minha cachorrinha Lulu pulou no meu colo com carinha de dó ─ porra, até nisso ela puxou o papai dela, vulgo eu ─ nisso eu já sabia o que ela queria, passear.
Graças ao trabalho, eu mal consigo cuidar da minha filhote ─ que não é mais filhote, mas eu faço o meu melhor como dono e dou tudo pra ela direitinho, faz um mês que eu não passeio com ela, então vou aproveitar que ainda são cinco da tarde pra passear.
─ Vou dar uma pausa aqui e vou ir passear com a Lulu, alguém quer vir? ─ Perguntei, já me levantando quando a Lulu deitou no sofá que eu tava descansando a bunda.
─ Ih chapa, se vira nos trinta, vamos ficar aqui fumando, vê se volta logo ─ Jorginho disse apagando o baseado.
Rolei os olhos e coloquei a coleira na Lulu, abri a porta
─ De boa, pivete ─ Digo colocando meu boné, peguei meu Samsung e coloquei ele no bolso ─ Marca um dez.
Sai de lá depois que coloquei a coleira na minha cachorra, assim que abri a porta ela já foi na frente. Passei tranquilamente por um tempinho com ela, estava a tão pura paz que eu queria que minha vida sempre fosse assim, sem problemas, sem conta de água e luz, sem burguês de caô.
Minha paz durou pouco, um gato cinza passou correndo na frente da cachorra, ela que ama perseguir gato começou a latir e estava desesperada tentando se soltar, quando eu fui pegar ela, a Lulu se soltou.
Corri desesperado atrás dela, ela por ser pequena corre muito rápido, quando eu menos vi, um cachorro passou pela Lulu.
O carro saiu direto, arrombado. Corri até a Lulu e tirei ela de lá, graças a sorte, a Deus, ela estava viva e respirando, mas estava machucada e a respiração bem fraca, comecei a chorar e fiquei desesperado.
Lembrei que o veterinário 24 horas do seu Zé ficava à uns cinco minutos da onde eu estou, nunca fui lá por ser longe da minha casa, mas já ouvir falar.
Corri até lá torcendo para que ela não morresse, assim que cheguei lá ouvi dois rapazes conversar.
─ Viado, quero beijar aquele dono do pitbull, mó gatinho ─ Um falou, enquanto eu entrava.
A porta era de vidro, deu para ver dois rapazes conversando, um moreno alto, com pirceng no canto da boca - que é bem carnuda, cabelos pretos quase longos, aparência asiática e o outro era um loiro mais baixo, brasileirinho que só.
─ Chapa não Rafael ─ Um loirinho, e assim que entrei os dois me olharam.
─ Minha cachorro, ela foi atropelada, por favor andem logo ─ Digo apressadamente.
O tal de Rafael me deu assistência, pediu o nome e a idade da Lulu, raça e tudo, eu disse tudo meio me tremendo ainda, ele levou ela até o balcão.
─ Fica tranquilo amigão, ela vai passar com o doutor Samuca, o melhor daqui. ─ Ele disse entrando na sala de assistência e logo saindo.
Enquanto esperava vi uma criança banguela com a blusa do patrulha canina, chinelo do homem aranha e banguela correndo pelo local.
─ Enzo, tua mãe já está chegando, fica na safe ─ Rafael disse ao menino.
Esperei e uma hora que virou uma cota de tempo depois o Rafarl recebeu uma ligação.
─ Oh, meu patrão, pode entrar na sala 3B, sua cachorrinha já está bem ─ Rafael disse, e eu agradeci pela minha sorte ser tão forte.
Entrei na sala aliviado vendo minha cachorrinha deitada e o veterinário dele estava de costas, tossi para chamar atenção dele e quando ele virou pra mim, papo reto, era um ruivinho.
Puta que pariu, eu morri? Ele parece um anjo, namoral.
─ E você é? ─ O ruivo de voz linda me perguntou.
─ Eu sou gay. ─ Digo automaticamente.
Meu santo destino que merda eu acabei de falar, caô, eu sou hetero.
─ Eu quis dizer nome, senhor. ─ O ruivo disse, me fazendo corar.
─ Eu quis dizer, Christofer ─ Digo, suspirando e enviando o olhar, e ele ri.
Que risada gostosa, não sei o que deu em mim.
─ Sua cachorrinha não teve nada demais, foi mais um susto, ela sangrou e quebrou a pata, teve que levar ponto, mas o carro ou moto passou de raspão no corpo dela, então não teve ferimentos mais graves, não tem risco de vida e ela vai ganhar um gesso, daqui uma semana você vai voltar com ela aqui. ─ O ruivinho disse se virando, e logo pegou um gesso da turma da mônica, colocando na pata da lulu.
─ Valeu ruivinho, o recepcionista, eu acho que é, o Rafael disse que você não pediu taxa pelo gesso, agradeço demais doutor. ─ Digo agradecido.
─ Não tem de que, eu só fiz meu trabalho. ─ Ele disse e sorriu, pegando a Lulu no colo e dando ela em meus braços.
Se eu sou hetero ou não, eu não sei, só que sei que me atrai por esse doutor, ele é lindo.
─ Será que eu posso te chamar pra comer em algum lugar? Só pra mostrar o quanto fiquei agradecido.
─ Eu só fiz meu trabalho, não há necessidade ─ O ruivinho disse e eu suspiro.
Ele é difícil.
Depois do fora que eu recebi, o doutor me acompanhou até a porta do veterinário.
[...]
Uma semana depois voltei ao veterinário para tirar o gesso da lulu e por sorte o ruivinho que iria atender a lu de novo.
Desta vez Jorginho foi comigo, já que estávamos na hora se almoço e já íamos matar a larica depois em um lugar qualquer.
─ O doutor parece um curupira do bem, me amarrei ─ Eu disse brisando.
─ Você tem uns papo torto, meu irmão se você chamar ele assim, o coitado vai achar que tu acha que ele é um capeta. ─ Jorginho disse apagando a maconha na mão dele.
O doutor me atendeu, não consegui tirar os olhos dele e Jorge ficou me esperando na porta.
─ Doutor se me permite falar, você parece um anjo. ─ Digo, e ele ri corando. ─ Eu só iria te chamar para sair só por agradecimento.
─ Desculpa senhor, mas eu namoro ─ Ele disse, logo me entregou a lu e já tinha tirado o gesso, caralho que velocidade.
─ Eu entendo doutor, você me entendeu errado.
Entendeu errado porra nenhuma.
Ouvi Jorginho se segurar pra rir, com a lu no meu colo saímos de lá, e quando saímos o esquisito começou a rir alto.
─ O que viadagem foi essa, Chris? Você é gay? ─ Jorginho perguntou e fomos indo em direção há um pão de açúcar perto da clínica.
─ Se for gay for querer pegar esse ruivinho, é, talvez eu seja. ─ Digo, e o Jorginho continuou me enchendo o caminho inteiro.
⛱
Fim do primeiro capítulo, gostarão?
Não esqueça de curtir e comentar ;)
O que acharam das personalidades do CB, IN e do KS?
Quis fazer uma coisa mais diferenciada, espero que deem uma chance à NAP e que curtam.
Dicionário das gírias:
Larica = Fome.
Fica de sacanagem = Bravo, Irritado, raiva, etc.
Ainda = Concordância, confirmação, claro, sim, ok.
Já é = Então, combinado, beleza.
E pá = Continuação. Ex: E tal, e etc.
Tô/Tá ligado = Entendi, entendeu, sei, sabe.
Marcar um dez = Marcar dez minutos ou qualquer tempo indicado pelos personagens.
Papo reto (pprt) = De verdade, sem brincadeira, sinceramente.
Chapando = Ficando maluco.
Papo torto = Coisa estranha, besteira.
Caô = Mentira, besteira.
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