Capítulo trinta e três; Tão gata, e ao mesmo tempo tão louca
Rebecca Alves
— O Jp tá bem? – perguntei assim que Miguel se sentou ao meu lado.
As coisas por ali estavam meio tensas. Meu pai assava as carnes com a ajuda de Thiago enquanto Marina estava sozinha e quieta, mexendo em seu celular próxima da piscina. Julia havia ido dormir e os únicos que estavam bem eram Nathaly e Nike que conversavam e riam animados.
— Ah, ele vai ficar. Na real mesmo ele tá assim por causa de uma garota. – comeu uma linguiça que estava na bandeja e olhou para mim.
— Entendo... A Julia também está assim por causa de um garoto e eu espero que eles se resolvam logo porque eu não aguento mais ela assim. – comi um pedaço de carne e olhei para o moreno ao meu lado.
Ficamos nos encarando por um momento em silêncio até que ligamos os pontos e começamos a rir.
— Porra! Como nós somos burros. – negou com a cabeça enquanto ria e ri mais ainda.
— Quem diria... Julia e Orelha. E eles diziam que se odiavam. – dei um gole em minha Coca.
— Bom, 'tava na nossa cara né. Nós que não percebemos. – sorri enquanto Miguel negava com a cabeça, sorrindo. — Mas aí, a Julia foi muito 'vacilona com ele.
— Eu 'to sabendo da história já. Mas todo mundo pisa na bola, eles só tem que se resolver e tá tudo certo. – dei de ombros.
— Se eu tivesse feito o que a Julia fez, tu me perdoaria? – olhei para Miguel que me encarava e logo desviei o olhar para frente.
— Bom, nós não namoramos. Eu ficaria que nem o Orelha, puta mas depois tentaria conversar com você e te perdoar. – olhei para o moreno novamente. — Isso é, se você fizesse questão também né. – dei de ombros e o mais velho riu, me puxando para mais perto de si.
— Qual foi Becca, eu faço muita questão do nosso relacionamento sim. Se ainda está bolada com o que aconteceu hoje, relaxa. Fiz tudo isso por você e, quem sabe um dia, tu entende. – deu um beijo em minha bochecha enquanto eu olhava para frente, vendo meus pais conversando animados perto da churrasqueira enquanto escutavam Legião Urbana. — Eu gosto muito de você. Pra caralho.
O churrasco em família já havia acabado e agora Marina, Nathaly e eu estávamos em nosso quarto, nos arrumando para dormir.
— Olha, eu sei que a noite de hoje foi estressante, mas finalmente vamos poder dormir. – Nathaly se jogou em seu colchão, logo se sentando para ajeitar a blusa de Matheus que usava.
— Eu só quero que esses dias passem logo pra eu voltar pra casa. – Marina ajeitou seu coque e logo se deitou na cama, pegando seu celular.
— Marina, me desculpa por nunca ter contado que... – comecei a me desculpar mas fui interrompida pela mais nova.
— Os meninos são bandidos? Eu não me importo mais com isso Rebecca, foda-se. Eu só estou impressionada com a atitude de você e do Thiago me esconderem isso, as pessoas que eu mais confiava. – negou com a cabeça, voltando a olhar para seu celular. — Olha, quando voltarmos pro Rio eu vou ficar uns tempos na casa do meu pai pra esfriar a cabeça um pouco e focar nos estudos. Já falei com ele.
— Marina, aquele apartamento também é seu! Você não precisa sair de lá por minha causa. – apontei para mim mesma mas a garota nada disse, apenas continuou a mexer em seu celular.
Olhei para Nathaly que nos olhava como se não estivesse gostando daquele clima. Ao olhar para mim, ela apenas deu de ombros como se dissesse para deixar Marina em paz. Suspirei e me deitei também, pegando meu celular.
— Eu vou ligar o ventilador e desligar a luz. – Nathaly disse e se levantou.
Assim que ela ligou o ventilador, Thiago, Matheus e Miguel entraram no quarto segurando travesseiros.
— O que estão fazendo aqui? – a morena riu. — Que eu saiba o quarto de vocês é o do lado, não esse.
— Também adoraríamos estar no nosso quarto mas a porta está trancada e o Jp não responde. – Thiago abraçou seu travesseiro e se apoiou contra o batente da porta.
— Nós já ligamos pro celular dele, batemos várias vezes na porta mas ele não dá respostas. – Matheus entrou e se sentou no colchão. — Eu também ouvi uns gemidos mas não quero imaginar nada.
Miguel olhou para mim e eu ri junto com ele ao entender o que ele queria dizer.
— Ei, vocês sabem de algo, né? – Nathaly empurrou levemente seu irmão.
— Eu não sei de nada não. Tenho apenas minhas dúvidas, nada concreto. – o moreno voltou a sua posição ainda rindo.
— Ai gente, por favor! A Julia não tá aqui e o João tá trancado no quarto. Liguem os pontos e não sejam burros. – Marina disse ainda vidrada em seu celular.
Os três que não sabiam de nada ficaram em silêncio por alguns segundos, até entenderem tudo e fazerem um "ah" logo rindo.
— Porra, isso 'tava tão na cara. Como não percebemos? – Nike perguntou rindo.
— Gente, vamos dormir agora. Amanhã nós conversamos sobre a Julia e o Jp. – me ajoelhei na cama e chamei Thiago e Miguel que estavam parados na porta.
— O último fecha a porta e desliga a luz. – Nathaly se sentou ao lado de Nike que já se deitava.
Miguel fechou a porta e desligou a luz, não demorando a ligar a lanterna do seu celular para ver onde pisava. Se sentou na cama ao meu lado e olhou para mim sorrindo.
— E eu achei que fossemos ficar quatro dias separados. – me deu um selinho e eu sorri.
— Thiago, você vai dormir no chão sem nada? Por que não deita com a Nathaly e o Matheus? – perguntei ao ver o loiro se deitar no chão frio.
— Hã... Não precisa. Não quero incomodar ninguém. – o garoto respondeu acanhado e Miguel e eu nos entreolhamos.
— Tem 'câo nenhum não mano. Deita aqui com a gente. – Nike chegou para o lado junto com Nathaly, dando espaço para o garoto.
Meio hesitante, Thiago se deitou ao lado dos dois e pegou o lençol de Julia para se cobrir. Olhei para Marina mas ela estava virada para o lado da parede, usando seus fones de ouvido.
Eu entendo ela estar irritada conosco daquele jeito mas esperava que, ao menos, ela se resolvesse logo com Thiago.
Infelizmente as férias haviam acabado e tudo havia voltado a normalidade. Julia admitiu que estava ficando com Jp — o que não era mais novidade para ninguém —, meus pais amaram conhecer Miguel e queriam que eu namorasse com ele o quanto antes, Marina estava na casa do pai dela — ainda brigada comigo e com Thiago, que estava dando seu melhor para que eles voltassem — e já estava na segunda semana de volta às aulas.
Pelo fim do ano estar próximo e, com isso, mais um fim de um semestre, as provas já haviam começado na Quarta mesmo e eu estava desgastada. Pra completar ainda mais essa semana horrível, minhas grades ficaram no mesmo horário que as do Erick, então estava o vendo o tempo todo e, pra completar, tinha que ficar aturando suas indiretas infantis.
— Bom dia flor do dia, fiz o café da manhã. – Miguel disse assim que cheguei na sala.
Olhei para a mesa que ficava perto da bancada que separava a cozinha da sala e sorri ao ver que ele havia ido na padaria e comprado pães, bolo, mortadela, entre outras coisas.
— Eu sei que passou a madrugada estudando então resolvi preparar a mesa para minha princesa se alimentar e estar preparada para mais uma prova. – o moreno saiu da cozinha com a garrafa de café e a jarra de suco natural e as colocou em cima da mesa.
Como eu não sai esse final de semana para estudar, Miguel resolveu vir aqui em casa pra me fazer companhia, o que foi algo muito bom.
— Hum... Eu não acordo com cheiro de café desde que me mudei pra cá. – Julia apareceu usando uma camisa do Flamengo que, com certeza, não era dela. — Miguelzinho, eu amei você ter ficado aqui no lugar da Marina durante esses três dias. Você me deu mais forças pra continuar essa semana de provas. – a morena se sentou na mesa e colocou um pouco de suco num copo.
— Tudo por você, sua gostosa. – Miguel deu um beijo na bochecha da minha melhor amiga e eu ri ao ver a cara de espanto da mesma.
— Olha só amiga, controla seu boy antes que eu leve eles 'pras ideia. – rimos e eu me sentei ao lado dela.
— Você tem mais quantas provas? – Miguel perguntou colocando café pra mim.
— Hoje, finalmente, é a última. Mas ainda tenho um trabalho valendo ponto e eu não sei o que o professor vai querer, vou saber hoje. – comi um pedaço de bolo.
— Bom, então amanhã te busco na faculdade pra tomarmos um açaí. Pode ser? – colocou seus braços em cima da mesa e sorriu.
— Meu amor se comprar pra ela vai comprar pra mim também. 'To segurando vela aqui desde Sábado e mereço algo em troca. – Julia se meteu e eu ri, olhando para Miguel.
— Claro minha linda, eu não esqueceria do amor da minha vida. Mas quem paga o seu vai ser teu namorado. – apontou para a garota e ela jogou o cabelo para trás, dando uma mordida em seu pão com manteiga e mortadela.
— Com muito prazer. E ele não é meu namorado, ainda. – disse e Miguel e eu rimos, não demorando muito para tomarmos nosso café.
Depois da última prova estressante, finamente o dia havia acabado. O professor já havia dito o trabalho que valeria os últimos pontos para fechar o semestre — que seria uma apresentação sobre as áreas de administração — e eu já tinha me organizado com as meninas que fariam comigo.
— Bom turma, eu queria avisar algo a vocês sobre o próximo semestre e, talvez, haverá algumas mudanças. A faculdade está passando por alguns problemas financeiros e, a diretoria conversou com alguns de nós e disse que, se as coisas não se ajeitarem até o começo do ano que vem, teremos que atrasar um pouco o início do próximo semestre e isso atrasará vocês também, comprometendo a formatura. – naquela hora, os alunos começaram a ficar indignados com aquilo.
— Professor, isso não é justo não! Meu pai não paga minha faculdade pra eu não me formar no ano que foi prometido. – Erick disse e eu fui obrigada a concordar.
— Erick eu sei disso. Mas não poderemos fazer nada se os problemas não se resolverem. Tentamos fazer de tudo para dar o conforto a vocês e comprar os materiais necessários para todas as áreas, isso anda nos causando problemas.
Todos os alunos continuaram a reclamar e o sinal tocou, indicando o fim da aula.
— Pessoal, não se esqueçam que o prazo do trabalho é até Segunda que vem. Então, até a próxima semana já que sei que, a maioria, não virá mais essa semana. – todos começaram a sair de sala ainda indignados com a notícia e o professor parecia meio triste com aquilo.
Peguei minha mochila e me aproximei da sua mesa, enquanto o mais velho pegava seus materiais.
— Professor? Sobre esses problemas financeiros que a faculdade está passando, não há nada que possamos fazer para ajudar? – o moreno me encarou, meio confuso.
— Bom, ao menos que você consiga convencer a todos os alunos da faculdade a abrirem uma vaquinha para ajudar a faculdade... – deu de ombros e começou a andar para fora de sala.
Permaneci parada por alguns minutos, hesitante com que diria.
— Professor Ricardo! – corri até ele antes que o mais velho saísse de sala. — E se eu conseguir fazer uma festa pra arrecadar dinheiro pra faculdade? Eu tenho uma amiga daqui que fala com todos e, talvez, pudesse ajudar...
— Ao menos que você consiga juntar dez mil reais com essa festa, ajudaria muito. – riu cinicamente.
— E... Se eu conseguir? Não é algo impossível.
— Olha Rebecca, se você conseguir arrecadar o dinheiro necessário, eu te dou pontos até o próximo semestre. – riu antes de sair de sala.
Pontos até o próximo semestre? Aquilo não me parecia uma ideia ruim.
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