Capítulo trinta e sete; Mãe, desculpa, virei traficante
Rebecca Alves
Finalmente o dia da festa que eu preparava desde do meio do mês anterior havia chegado. Eu estava mais ansiosa do que antes e o frio na minha barriga só aumentava.
Boa parte da faculdade havia confirmado presença e, fazendo as contas, tínhamos conseguido arrecadar até então nove mil e alguns quebrados — pouco para chegar a dez mil —, e eu não podia estar mais orgulhosa do que estava.
— Becca, já está pronta? – Julia entrou no quarto e pude ver que ela usava um tule colorido com suspensórios, um cropped rosa com pedrinhas e uma tiara de unicórnio.
— Sim, sim. A Nath já chegou? – peguei meu chapéu que estava em cima da penteadeira e coloquei.
Eu usava um tule preto, com a parte de cima do meu biquíni também preto, uma parte de uma algema presa em meu pulso e o chapéu de policial — algo bem simples mesmo —. Decidi usar a mesma fantasia que havia usado em um dia de carnaval desse ano mesmo porque estava sem criatividade alguma e Julia disse que seria contraditório porém engraçado se fantasiar de policial já que meu par era Miguel.
— Bom, ela não mas o uber já tá lá embaixo. – a morena foi para a sala e eu a segui.
Olhei para a porta fechada que ficava no final do pequeno corredor e olhei para minha melhor amiga que pegava sua bolsa em cima do sofá.
— A Marina vai mesmo né? – a morena olhou para mim e riu minimamente, indo em direção a porta.
— Deve ir, eu não sei. Mas a parte dela do dinheiro ela deu e, bom, você fez sua parte em convidar ela. – fechei a porta enquanto a garota ia até o elevador, para chamá-lo para nosso andar. — E, adivinha quem me mandou direct no Insta. – mudou de assunto rapidamente animada.
— Quem? – entrei no elevador e apertei o botão do térreo.
— O Diego, ele pediu seu número. Disse que ficou com vergonha de pedir pra você no seu Insta. Olha amiga, se você não estivesse de rolo com o Miguel eu diria pra você amassar. O Diego é um gato, puta que pariu!
— Mas vimos agora que ele é 'talarico. Eu já fiquei com o melhor amigo dele e mesmo assim ele dá em cima de mim...
— Ai Rebecca, para né. Você nunca foi do Erick e ele sabe que o Erick não gosta de você de verdade, então não vejo problema algum nisso. – Julia saiu do elevador e passou pelo porteiro, que deu boa noite para nós.
— Bom, depois falamos do Diego e do Erick. Vamos agora ir pra nossa festa e aproveitar muito. Eu 'to ansiosa pra ver a fantasia do Miguel. – sorri, entrando no carro.
— Se ele for de prisioneiro eu vou amar, sabe. – Julia fechou a porta do carro e nós rimos.
O motorista deu boa noite e confirmou meu nome, não demorando para que ele desse a partida.
A festa mal havia começado mas já estava a todo vapor. Julia já havia conversado com o DJ e, agora, sua playlist só tocava funk e pagode — algumas vezes também tocava Marília Mendonça porque ninguém ali tinha sangue de barata —, e todos estavam bastante animados. A decoração estava bem colorida e os drinques que serviam tinha até gelo seco para dar um ar mais chique. Resumindo: tudo estava perfeito como Julia, Nathaly e eu havíamos planejado.
— A festa está bem bonita, assim como você. – me assustei ao ver Diego ao meu lado, sem camisa e vestindo apenas uma samba-canção de bolinhas.
— Diego! Que bom que você veio... – sorri meio sem graça. — Então... 'Cê tá curtindo a festa?– tentei puxar assunto para não ficar um clima meio pesado.
— Estou sim! Eles servem cada bebida boa... Tem até lagoa azul, minha bebida favorita. – sorriu.— As músicas também são fodas mas... Deixa eu te perguntar: a Julia falou com você?
— A Julia sempre fala comigo. – ri olhando para frente, vendo as meninas dançarem Kevinho.
— Rebecca, se fazendo? – o moreno riu me dando um leve empurrão. — É sério cara. Ela falou, não falou? – o encarei, mordendo os lábios apreensiva.
— Diego, você é bonito, eu admito mas não posso ficar com você... Eu estou ficando sério com alguém e, além disso, eu já fiquei com seu melhor amigo. Você não está sendo 'talarico? – cruzei os braços.
— Rebecca, quem liga pro Erick? Realmente, ele é meu amigo sim mas não presta e todo mundo sabe que ele...
— Rebecca? – olhei para trás e vi Erick logo atrás de mim, interrompendo seu amigo. — Pensei que seu namoradinho estivesse com você mas vejo que está com o Diego. – o moreno sorriu, cruzando os braços.
— O que você quer Erick? Por que não curte a festa e me deixa em paz? – revirei os olhos.
— Ah nada, eu estava apenas dando uma volta por aí. Mas falta algo, sabe? Você me disse que o favelado viria mas, a festa já começou e eu não vejo nenhum favelado por aqui... – olhou entre as pessoas e voltou seu olhar para mim, sorrindo cinicamente.
— Ele vai chegar Erick. Já que já falou o que queria, sai de perto de mim.
— Como tem tanta certeza disso? Ele prometeu? – riu. — Rebequinha, você não aprendeu né? Bom, quando ele te der o bolo, não venha correndo atrás de mim.
— Olha só Erick, o Miguel vai vir e, mesmo que não viesse, eu jamais correria atrás de você. – me aproximei do garoto que estava fantasiado de Coringa.
— Vamos ver então. – o garoto sorria cinicamente, enquanto me encarava fixamente nos olhos.
— Rebecca! Vem dançar! – fui puxada por Nathaly para longe de Erick. — Te livrei de uma, viu? – riu me puxando para a pista de dança.
— Eu agradeço por isso. – sorri olhando para a morena vestida de palhaço.
A música que tocava era Combatchy da Anitta e, assim como Nathaly que rebolava com o refrão, comecei a fazer o mesmo junto com o aglomerado de pessoas que dançavam ao nosso redor.
Já eram quase meia-noite mas a festa se seguia agitada. A todo momento eu mandava mensagem para Miguel para saber se ele já estava chegando mas ele não as recebia e, muito menos, atendia minhas ligações — já havia até perguntado dos meninos para Nathaly e Julia mas elas também não tinham notícias deles —. Estava parada ao lado da mesa de doces, olhando para as pessoas que dançavam Surtada versão bregafunk enquanto a cada segundo olhava para meu celular. E a cada olhada meu coração se apertava mais.
Mais afastado de todos, vi Marina voltar do lado de fora e, após alguns minutos, Guilherme também saiu do mesmo lugar. Forcei minha vista para ver se realmente estava vendo o que eu vi mesmo mas não estava enganada — era difícil não reconhecer Marina, já que a mesma estava fantasiada de sereia, cheia de glitter e acessórios —. Naquele momento, fiquei em choque porque não imaginava que os dois pudessem ficar juntos mas, não ter respostas de Miguel, era o que mais mexia comigo.
— Ele não vai vir né? – meu corpo estremeceu num leve susto com Erick que havia se aproximado.
— Ele vai. Só deve estar ocupado com algo. – disse mas eu mesma não tinha certeza daquilo.
— Pois é Rebecca, eu tinha razão. Acho que agora, tanto eu quanto ele estamos quites com você. – olhou para mim mas eu permaneci olhando para minha frente. — Bom, se quiser esfriar a cabeça, estarei no bar fazendo batidas. – deu um leve toque em meu ombro e saiu de perto de mim.
Olhei novamente para meu celular e, como das outras vezes, nenhuma notificação. Erick tinha razão. Ele não viria e eu não podia estar mais desapontada com aquilo.
Miguel Lorenzo
— Porra padrinho, tem que ser logo agora? – perguntei meio impaciente.
A festa de Rebecca já havia começado e eu ainda tinha que voltar pra casa e me arrumar. Havia prometido a ela que iria e não podia dar um bolo nela.
— Tem Silvestre. Eu preciso sair do morro agora e não vai dar tempo de ir lá, mas todos já estão avisados pra se reunirem lá. – terminou de arrumar sua mala e olhou para mim. — Achei que isso fosse importante pra tu. Sabe que essa é a fase final pra tu né menor? – olhei para baixo e coloquei minhas mãos no bolso de meu short.
Eu precisava tomar conta das coisas por uma semana enquanto Rato estivesse fora e, dependendo do meu rendimento, eu teria meu tão sonhado cargo de vice-chefe do morro. Assim como o meu pai.
— Já é então, eu vou lá. Mas ó, não vou demorar não porque ainda preciso ir numa festa hein. – me rendi.
— Pois então vá logo. Faz os teus 'corre e vai se divertir, meu filho. – disse antes de eu descer as escadas para ir embora de sua casa.
— Qual foi galera, o Silvestre tem um recado pra dar. – Orelha chamou a atenção de todos que estavam ali e todos se sentaram, dando a deixa para que eu mandasse o papo.
— É o seguinte, o Rato teve que ficar ausente por uma semana e, durante esse tempo, eu vou ser o dono daqui, qualquer problema resolver comigo. Os 'corre de vocês continua na atividade mas preciso estar a par de tudo agora, tá ligado?
— Caralho, o que o Rato tem na cabeça pra deixar esse menor no comando? – um tesoureiro novato riu, cruzando os braços.
— O moleque mal chegou e já quer meter a banca, pode isso? – um outro riu também.
— Cala boca menor, não sabe o que tá falando. – Nike deu um tapa em sua nuca.
— Esse dai é o Silvestre, filho do caco, mais respeito. – DG falou cruzando os braços.
— Pois eu não acredito. – um deles disse e eu ri, negando com a cabeça.
— Pra quem não me conhece, o que eu acho difícil, eu sou filho do Caco. Sim, o eterno Caco, braço direito do Rato. – olhei para os garotos que me encaravam com os olhos arregalados. — E sabe o que mais eu sou? Afilhado do Rato, por isso ele me colocou no comando.
Naquela hora os garotos engoliram em seco e os bandidos mais velhos apenas riram.
— Agora, pra deixar bem claro pra todos, eu vou comandar essa porra durante essa semana e eu quero respeito nesse caralho porque eu sou o novo dono do morro.
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