Capítulo trinta e seis; Eu odeio essa parte


Marina Rodrigues

Chateada. Era isso que eu estava há semanas com Rebecca e Thiago. Eu sei que exagerei um pouco; não tinha sido necessário terminar com Thiago e até mesmo sair da minha casa. Mas esse tempo na casa do meu pai foi bom para pensar nas coisas e repensar pelas coisas que passei.

— Marina? – olhei para a porta do meu quarto e vi meu pai parado ali mesmo. — Você tem visita.

Me levantei da cama e segui meu pai pelo corredor.

— Filha, não acha que está na hora de me contar o que houve entre o Thiago e você? – falou enquanto íamos para a sala.

— Pai... Não aconteceu nada, eu já disse. – ao chegar na sala, levei um susto ao ver quem estava ali.

Meu pai cumprimentou o garoto e foi para seu escritório — que ficava depois da cozinha, nos fundos da casa — enquanto eu fiquei ali, encarando o garoto a minha frente.

— Guilherme? O que faz aqui? – perguntei sem graça.

— Vim conversar cara a cara com você. Marina, faz uns dias que 'cê anda estranha e eu quero saber o que tá rolando. – o loiro cruzou os braços. — Eu sei que faz apenas duas semanas que estamos conversando no sério mas eu quero saber se você quer seguir adiante com isso de verdade. Se não superou teu ex é só falar que eu sigo a minha vida, mas não posso ficar esperando você se decidir.

Desde que terminei com Thiago eu vinha trocando mensagens com Guilherme — ele foi o único com quem eu pude desabafar sobre o que estava sentindo — e ele tem me ajudado muito desde então. Claro que, entre essas conversas, ele acabou dizendo que me achava muito bonita e pediu para ficar comigo e, por meu término ser recente, eu acabei pedindo para que ele esperasse um pouco e ele foi super compreensivo comigo. Mas é claro que uma hora ele se cansaria de esperar e eu entendia seu lado, não o julgava.

— Gui, me desculpa por te fazer esperar. Eu não quero voltar para o meu ex, fica tranquilo. – me aproximei dele e segurei em suas mãos. — Mas eu também não quero ficar com você de qualquer jeito. Quero ter certeza também que, se não der certo, continuemos amigos.

— Claro que vamos continuar Marina! Eu não sou um garoto qualquer que fica com a garota e depois dá uma de maluco e para de falar com ela do nada. – pareceu ficar ofendido e soltou sua destra da minha para jogar seu cabelo para trás.

— Então tudo bem. – sorri. — Eu tenho uma oportunidade perfeita para ficarmos então!

— Quando?

— Na festa que a Rebecca vai dar! Será a fantasia e ninguém vai ficar sabendo porque estarão ocupados demais bebendo e dançando. – coloquei minhas mãos em sua nuca, o obrigando a ficar com seu rosto mais próximo do meu.

— Será ótimo porque eu não vou aguentar ficar a festa inteira do lado do Erick. – se desgrudou de mim para se sentar no sofá. — Eu não aguento mais ele falando da empresa do pai dele. Acredita que o "senhor Fontaine" está enchendo o saco dele porque há um novo futuro candidato a vice-presidente e ele precisa conhecer logo o cara? – fingiu se importar com o que havia acabado de falar, logo revirando os olhos.

— Bom, ao menos o Erick não é uma Rebecca apaixonada. – ri me sentando ao seu lado. — Quando a Rebecca gostava dele, vivia falando o tempo inteiro do Erick.

— Ah! Queria eu que o Erick só falasse da empresa. – apoiou suas costas no sofá. — Ele não para de falar que vai fazer a Rebecca voltar pra ele. O Erick falou que vai fazer de tudo pra eles voltarem nessa festa e, que se eles voltarem, dessa vez ele vai pedir ela em namoro.

— Eu não acredito nisso! Como o Erick é cara de pau. Ele sabe que a Rebecca está ficando sério com outro e ele não gosta dela. Por que faz tanta questão de voltar? – eu sinceramente não conseguia me conformar com aquilo.

O Erick era tão embuste, mimado. Ele não podia só ficar quieto no canto dele e não incomodar ninguém? Era tão difícil?

— Bom, sua amiguinha deu um fora nele na frente dos nossos amigos e o Erick não gosta de ser deixado mal na frente dos outros. E sabe como ele é, a Rebecca se fez de difícil e agora ele quer ela a todo custo pra, quando a ter, ser mais uma de suas conquistas.

Desviei meu olhar ao ver que o loiro sorria com aquilo. Apesar de ainda estar chateada com a Rebecca ela ainda era minha melhor amiga e escutar aquilo me deixava mal. Minha amiga não era um prêmio pra ser tratada daquele jeito.

— Marina? Por favor, não me diga que você vai se meter nesse assunto. Olha, a Rebecca não é mais uma criança, ela já ficou com o Erick pra saber como ele é de verdade. Se ela voltar com ele vai ser por escolha dela. Não se meta nisso... – olhei para ele que tinha sua testa franzida.

— Eu... Não vou me meter. – forcei um sorriso. — Vamos esquecer o Erick e Rebecca, sim? Vamos focar na festa e em como vamos ficar lá. – abracei o loiro de lado e olhei para ele que sorria.

Por mais que eu quisesse me meter nos planos do Erick, eu não iria. Afinal, Guilherme estava certo. A Rebecca já havia ficado com Erick, ela sabia como ele era e, ela voltar para ele, seria muita burrice da parte dela.

Havia acabado de sair do banco para retirar o dinheiro da pensão que minha mãe havia deixado quando, do outro lado da rua, vi Thiago.

— Ei Marina! Espera aí! – exclamou enquanto atravessava e eu bufei, vendo o loiro se aproximar de mim.

— O que faz aqui? – semicerrei meus olhos por conta do sol e olhei para o loiro.

— Esqueceu que minha vó mora nesse bairro? Foi apenas uma coincidência, caso esteja pensando que eu te segui. – colocou sua mão esquerda na frente de seu rosto, para tampar o sol e eu pude ver que ele ainda usava seu anel de noivado. — Marina, desde que voltamos de viagem eu não consigo falar com você. O que houve?

— Se você não consegue falar comigo é porque eu não quero falar com você. Simples. – dei de ombros, cruzando os braços.

— Mari, me desculpa por ter tentado esconder aquilo sobre você. Eu já me desculpei mil vezes, você vai mesmo ficar bolada comigo por causa disso?

— Eu não estou mais brava com você Thiago, mas eu também não quero voltar.

— E por que não? Nós estávamos noivos, vai simplesmente jogar cinco anos de relacionamento fora? Por que não quer mais voltar? – o mais velho parecia apreensivo por respostas.

— Thiago, eu andei pensando e... Eu te amo, de verdade mas, depois da nossa briga, eu não aguento mais. Acho que o problema foi ficarmos noivos. – descruzei os braços e vi o loiro ficar confuso. — Olha, eu acho que não estou pronta pra estar noiva, pra me casar. Antes de você, eu tive apenas um namorado na minha vida toda e fico muito feliz pelo nosso relacionamento ter durado tanto mas... Eu só tenho dezoito anos, estou na faculdade... Eu quero me divertir um pouco, sabe?

— Eu não consigo entender Marina... Tá que tivemos nossas brigas, isso todo casal tem mas... Pensei que fossemos mais fortes pra suportar tudo. – Thiago parecia estar abalado e eu não gostava de o ver daquele jeito.

— Thiago, eu não quero prolongar nada, eu não quero tentar nada agora. Eu sei que não acredito nessa de tempo mas eu preciso dele pra decidir o que eu realmente quero da minha vida.

— Você então quer... Um tempo? É isso que eu entendi? – sua voz saiu falhada.

— Sim, eu quero um tempo. Eu quero saber o que quero realmente e espero que me entenda. Se for pra gente voltar, voltaremos se não for... Bom, foi um aprendizado. – sorri com os olhos marejados e o mais velho apenas desviou seu olhar para o chão.

Eu odiava ver meu namorado chorar, não conseguia aguentar suas lágrimas mas era necessário agora um adeus para, quem sabe mais pra frente, ter uma volta.

— Ei, por favor, não me leva a mal. Você ainda é importante pra mim. – me aproximei dele e levantei sua cabeça.

— Por que não pode aguentar mais um pouco? Decidir o que quer junto comigo? Continuar como se nada estivesse errado? – seus olhos estavam claros por conta das suas lágrimas e aquilo me doeu muito.

— Eu não poderia fazer isso com você. Seria muito injusto.

— Marina você sabe que eu sempre apoiei qualquer decisão sua e... Por mais que me doa ficar sem você, essa é outra decisão sua que eu apoiarei. – colocou suas mãos em meu rosto. — Eu vou te esperar e espero que, um dia, você volte.

Fechei os olhos para que as lágrimas não caíssem e senti os lábios de Thiago tocarem os meus, num selinho seguido de um abraço.

— Eu te amo. – murmurei deixando uma maldita lágrima cair.

— Eu também te amo. E muito. – sua voz saiu abafada.

E naquele momento foi que eu percebi que Thiago era o único que me fazia me sentir única. E, diferente de Guilherme, ele me esperaria. Mesmo que aquele meu tempo pudesse durar meses ou anos... Ele estaria ali por mim e eu não podia me sentir mais amada do que aquilo.

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