Capítulo treze; Se realmente Deus existe, você é a prece Dele
Marina Rodrigues
— Mari, seu telefone 'tá tocando. — Thiago murmurou sonolento, me acordando.
Ainda com preguiça, estiquei meu braço até o criado-mudo que ficava ao lado da cama e peguei meu celular, logo o atendendo sem ao menos ver quem era.
— Alô? — bocejei, girando na cama e me cobrindo mais com o edredom.
— Marinaaa! Quando você vem? Estamos com saudades. — demorei um pouco para reconhecer a voz eufórica por conta do sono mas logo me liguei que era Julia.
— Julia, você me ligou pra isso? — ri ainda com os olhos fechados. — Eu só passei o fim de semana aqui.
— E a Segunda também e, ah, não te vi hoje na faculdade. — a imaginei com as mãos na cintura, esperando respostas.
— O Thiago e eu decidimos não ir a faculdade ou trabalhar hoje. Queremos um dia só nosso e, bom, amanhã depois da faculdade já estou em casa.
— Jura mesmo? Domingo no jantar e ontem foi muito difícil sem você aqui. Ainda bem que Rebecca e eu não tomamos café da manhã mas, nosso dinheiro já acabou pra comprar comida. — pude escutar Becca rindo no fundo.
— Em vez de gastarem dinheiro com besteiras por que não fazem a comida de vocês? Não é tão difícil assim. — retirei o edredom de minha cabeça e olhei para o teto de gesso acima de mim.
— Sabe como é né Mari, só você tem os melhores pratos e não queremos comer nada queimado. — riu me fazendo rir junto.
— Eu odeio vocês. Mas, tudo bem, sei que tem miojo aí em algum armário na cozinha, vocês sobrevivem com ele até amanhã depois do almoço.
— Marina, como recompensa por ter passado tanto tempo longe de nós, amanhã, de jantar, você vai preparar nosso prato favorito. — Rebecca se junto a nós na ligação.
— Macarrão ao molho branco! — as duas disseram juntas e eu ri.
— Claro, claro. Eu faço sim. Só comprem os ingredientes. — olhei para Thiago que não mais dormia e, sim mexia em seu telefone. — Agora eu preciso desligar. Nos vemos amanhã, tchauzinho. — me despedi e encerrei a ligação.
Era fato que, ultimamente, eu andava grudada mais ao meu namorado do que com as minhas melhores amigas. Mas não era por mal. As meninas e eu sempre fomos próximas, desde o começo do Ensino Médio. E, desde então, decidimos que iriamos morar juntas e — por ironia do destino — tudo ocorreu perfeitamente bem pelo simples fato de que tínhamos conseguido uma bolsa de estudos na mesma faculdade e nossos pais concordaram que seria ótimo morarmos juntas por esse motivo. Mas, morar é diferente do que conviver apenas por algumas horas.
O trio era bastante grudado na escola e, sempre que podíamos, saiamos juntas e causávamos horrores. Eu já namorava o Thiago, mas conseguia dar atenção igual para ambos. Só que, assim que nos mudamos e fomos para a faculdade, as coisas mudaram. Rebecca ficou apaixonada por um amigo de Julia, o Erick, e vivia fazendo de tudo para que fosse notada. O que falhava sempre porque Erick é o típico garoto babaca, riquinho, que não liga pra nada a não ser ele próprio. E, por sempre ser bastante sociável, Julia rapidamente fez amizade com a faculdade toda, sempre indo para festas e saindo com as novas amigas. Agora, só tínhamos tempo livre na hora do almoço em alguns dias da semana e algumas noites.
Depois que aconteceu de Rebecca começar a namorar com o irmão da Nathaly, amiga de Julia, elas ficaram bem mais próximas e deixaram de contar boa parte das coisas para mim. Desde então, eu passava bem mais tempo com o meu namorado do que com elas porque não queria me sentir excluída. As duas só foram me dar novamente atenção mesmo, quando elas brigaram — pena que, infelizmente, foram separadas e não o trio —.
De verdade, me sentia um pouco mal com aquilo; eu era também a melhor amiga delas e morava sob o mesmo teto também. Mas, aquilo também foi bom porque pude passar mais tempo com meu namorado e acho que era por esse único motivo que eu não reclamava com elas.
Me virei sobre a cama e apoiei minha cabeça no peito de Thiago. O meio aloirado de olhos verdes começou a fazer cafuné em minha cabeça.
Hoje era Terça e, tanto eu quanto ele, resolvemos tirar um dia de folga de tudo e de todos apenas para nós dois. Era fato que sempre nos víamos mas não eramos da mesma faculdade. Thiago estudava design na PUC — ele havia conseguido entrar por mérito próprio — e era dois anos mais velho que eu. Começamos a namorar quando eu ainda estava no final do Ensino Fundamental, enquanto ele já estava no segundo ano do Ensino Médio. Muitos disseram que nosso namoro não ia durar, que eu era apenas uma adolescente iludida e, já ele, um quase homem que iria me colocar chifres. Mas, aqui estamos nós, no seu apartamento na Saens Peña, deitados na mesma cama, fazendo quase cinco anos de namoro.
— Você não acha que já está na hora de se reconciliar com suas amigas? Dizer que está se sentindo excluída e que quer que voltem a ser um trio como na escola? — me aproximou mais entre seu corpo, acariciando meu braço esquerdo.
— Não, é um pouco mais complicado que isso. — levantei meu olhar para cima, para vê-lo. — Amor, não estamos mais na escola. Agora trabalhamos, estudamos, temos grades diferentes... Eu entendo elas por estarem um pouco distantes. Elas tem os mesmos horários de grade, dividem o quarto, saem juntas...
— Por que você não sai com elas? Marina, você sabe que não precisa ficar grudada comigo 24h por dia. — o garoto riu, olhando para mim.
— Eu sei disso, eu sei. Mas elas agora sobem o morro juntas e ficam lá o final de semana todo. Não é algo que eu queira fazer, entende? — fiz um biquinho.
— Você realmente é uma burguesa incubada. — riu e eu dei um tapa em sua coxa.
Tudo bem. Eu não gostava muito da ideia de subir o morro, confesso que era porque não me sentia segura lá mas não era porque eu me sentia superior a eles, ou algo assim. Mas odiava quando Thiago me chamava de burguesa. Não vou mentir, sempre fui muito mimada — assim como Julia e Rebecca — e namoro com um cara que minhas amigas chamam de burguês e meus amigos são, a grande maioria, filhinhos de papais que moram em Vila Isabel ou no Méier mas... Eu não era burguesa!
— Vamos parar, tá legal? — ri anasalado, me sentando na cama. — Eu vou convidar elas pra darem uma volta comigo no shopping. Assim colocamos todos os assuntos em dia. Você acredita que elas estavam brigadas porque a Becca ficou com o Erick?
— Ué, mas não era isso que a Julia queria? — o loiro cruzou os braços e eu ri.
Eu adorava contar fofocas para o meu namorado, simplesmente porque ele era mais fofoqueiro que eu. Ele adorava fofocas e sempre escutava e contava alguma.
— Sim menino, mas aí é que 'tá. A Rebecca tinha um ex, que é irmão da amiga da Julia daí ela quis que a Becca ficasse com ele e não com o Erick. Enfim, 'mó treta. A Becca só me contou que elas brigaram por causa disso e ela bateu na Julia.
— Mentira! — Thiago colocou suas mãos sobre seu rosto e arregalou os olhos, bastante surpreso.
— Verdade. Elas ficaram meses sem se falar, voltaram essa semana. A Becca 'tava até dormindo comigo no meu quarto. — me ajeitei na cama.
— Por isso você não veio essa semana pra cá. — assenti com a cabeça. — Mas aí, você sabe a Isabella? Minha amiga da faculdade?
Confirmei com a cabeça.
— Então, você acredita que ela tá grávida do Vinicius? Namorado dela. Temos ainda, contando esse ano, três semestres pra acabar a faculdade e ela vai ter que trancar.
— Nossa! E ela vivia dizendo que era prevenida. Bom, pelo menos, já sabemos que vamos ser chamados pra um chá de bebê do Enzo ou da Valentina. — rimos e eu me deitei sobre o branco novamente.
— Agora, falando de nós... — cessou o riso e olhou fixamente para mim. — Marina, sei que faz quase cinco anos que estamos juntos e, quanto mais o tempo passa, mais eu te amo. E eu estava pensando... O que acha de trocar nossas alianças de compromisso por uma de noivado?
Me levantei desacreditada. Eu tinha mesmo escutado o que escutei? Thiago realmente me pediu em noivado? Assim, sem rodeios?
— Você tá brincando? — ele riu e me puxou para mais perto de si, segurando em minhas mãos.
— Não, meu amor, eu não estou. Marina Rodrigues dos Santos, eu sou perdidamente apaixonado por você desde a primeira vez que te vi. E continuo me apaixonando mais e mais a cada minuto. Sei que somos muito novos pra isso, mas eu quero mudar o meu status de relacionamento e te vejo no meu futuro. É você a mulher que eu quero pra ser mãe dos meus filhos e eu digo isso há quatro anos já.
— Thiago... — cobri minha boca com as mãos, deixando uma lágrima escapar. — Eu aceito, eu aceito! Eu te quero, te quero mais do que nunca! — me aproximei dele, ficando de joelhos na cama e o beijei perdidamente apaixonada.
Eu estava noiva! E precisava contar isso pras meninas o mais rápido possível.
NOTAS:
Então, me perdoem por não ter postado esse cap ontem. Acabei esquecendo de deixá-lo pronto e só puder escrever ontem a noite. Enfim, resolvi fazer esse cap focado um pouco na Marina para que se envolvam com ela um pouco, ela é uma das principais e (apesar de não estar grudada com as meninas) ela tem um papel importante e, por isso, resolvi criar esse cap especial pra ela. Espero que tenham gostado e até o próximo cap.
OBS: o casal na foto é o Thiago e a Marina rs
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top