Capítulo sete; Do crime eu já virei refém


Rebecca Alves

Acordei com a forte luz do Sol que já havia nascido, o que me obrigou a abrir os olhos. Olhei para os lados e vi que estava numa cama diferente da minha, ou a de Nathaly. Assim que vi Miguel ao meu lado dormindo, coloquei minha destra sobre minha testa, bastante preocupada.

Porra! Eu fiquei mesmo com o Miguel na noite passada e aquilo não era bom. Havia quebrado uma das regras que eu mesma havia colocado e aquilo podia foder com tudo — literalmente —.

Rapidamente, me levantei da cama e me vesti rapidamente, procurando minhas roupas que estavam jogadas no chão. Saí em passos leves porém apressados, pois não queria acordar Miguel e, assim que desci, dei de cara com Julia que terminava de fazer café.

— Becca! Bom dia! — ela sorriu, colocando o café em sua xícara. — Senta aí. Toma um pouco de café.

— Hã... Eu adoraria mas não vai rolar. Fiquei de almoçar com meus pais hoje. — sorri envergonhada.

Na verdade, eu nem sabia que horas eram.

— Julia por que deixou eu dormir aqui?

— Amiga, eu nem sabia que você tinha dormido aqui. Depois que você subiu com o Miguel, eu fiquei dançando com a Marina e fiquei com um garoto que veio com a Gabriella. Acha mesmo que eu ia lembrar de você nessas horas? Pra mim vocês já tinham ido embora. — riu, bebendo seu café.

— Vocês?

— Você e Miguel. — fez cara feia ao perceber que estava me fazendo de sonsa. —Rebecca, eu entrei no meu quarto hoje mais cedo e vi vocês dois. Mas, fica tranquila, é normal você transar com o garoto que está ficando. Acontece.

— Eu não estou ficando com o Miguel! — arregalei os olhos. — Isso tudo é pelo Erick e você sabe muito bem disso. — assim que disse aquilo, minha melhor amiga revirou os olhos.

— Sério mesmo isso? Olha, Becca, dizer isso no começo era de boas mas agora... Vai dizer que é por causa do Erick que você dorme na casa do Miguel? Que vocês vivem juntos agora? Por favor! — olhei para baixo, evitando encará-la. — Sei que é clichê dizer isso mas, é previsível que você goste dele já que estão fingindo ser o que não são e, com isso, passam o tempo inteiro juntos.

— Julia, o Miguel e eu nunca ficamos pra valer. Os beijos que damos nem língua tem, sempre que alguém começa a se envolver demais a gente cessa. Essa foi a primeira vez que ficamos de verdade e, bom, eu acho que fiquei mais pelo que aconteceu ontem... Talvez eu tenha me sentido culpada por ele apanhar do Erick... — cruzei os braços e vi que ela sorria cinicamente.

— Becca, pode até ser mas, sério, desencana do Erick de vez. Tem certeza que, depois do que aconteceu ontem, você ainda gosta dele? O Erick é meu amigo mas... Ele foi um tremendo cuzão! Cara, não vale a pena insistir em quem não presta. Larga quem não te agarra amiga. — ela se levantou, indo para a cozinha.

— Pois eu digo que ainda está muito cedo para gostar do Miguel, e mais, não rolou sentimento algum. — me levantei. — Mas continuamos essa conversa mais tarde, eu preciso ir mesmo. Quando o Miguel acordar diz que mais tarde eu passo na casa dele pra pegar minhas coisas e me manda mensagem de como está o rosto dele. — Julia assentiu sorrindo e eu fui embora.

Miguel Lorenzo

Por causa do puto do Erick, o meu rosto ainda doía pra caralho. Assim que acordei, Julia ainda me ajudou a passar algo no meu olho e na minha boca que ainda estavam inchados antes de eu ir embora mas eu ainda estava muito puto com tudo aquilo. Meu olho estava roxo e minha boca inchada e tudo aquilo por culpa do Erick! Eu ainda ia pegar aquele garoto e, quando pegasse, eu ia acabar com ele.

— Mãe? Cheguei! — falei assim que abri a porta, não demorando muito para entrar e me jogar no sofá.

— Miguel? Onde estava? Por que não me avisou que ia dormir fora? Eu fiquei preocupada, sabia?— minha coroa apareceu na sala, me enchendo de perguntas.

— Ih alá. — ri mas logo parei assim que minha boca começou a doer. — Calma dona Márcia, fica suave aí. — passei minha mão sobre minha boca.

— Ficar suave? Não Miguel, eu não fico não. Eu sei que você já é maior de idade e eu nunca perguntei pra onde ia ou com quem mas, se você vai passar a noite fora em algum lugar, preciso que me avise. Você ainda mora debaixo do meu teto e eu sou sua mãe, me preocupo com você. — bufei e me sentei no sofá.

— Já 'to ligado dessa sua preocupação toda. Relaxa que não é nada disso que a senhora 'tá pensando não. — a olhei de canto. — Eu fui numa festa da amiga da Rebecca. A Nathaly também foi mas eu acabei dormindo lá com a Becca. Foi de última hora, desculpa não ter avisado a senhora.

— Dormiu lá? Então cadê a sua namorada? E por que está com essa cara toda fodida?

— O ex da Rebecca 'tava lá. Ele bebeu pra caralho e, do nada, quis arrumar briga comigo. Ele me pegou desprevenido e eu apanhei. — me levantei. — Eu não estava na boca mãe. Tem como a senhora acreditar em mim? O padrinho tá seguindo as ordens do meu pai em não me deixar entrar, tá feliz? — comecei a me estressar com ela.

— Filho... Sabe que eu não gosto dessa ideia de você ser igual ao seu pai. Eu quero que você saia desse morro, conheça pessoas novas, de bem mas eu também não posso te impedir. — a mais velha colocou suas mãos em meu rosto e eu apertei os olhos, ao sentir seus dedos em meu olho roxo. — Eu conheci seu pai quando já estava envolvido e você cresceu vendo tudo isso. Sabe que essa vida não é boa, tem seus altos e baixo e você viu seu pai como era. Eu só não quero que você tenha o mesmo fim que ele.

Era foda ter aquela conversa com a minha mãe. Eu sabia que, apesar de tudo, ela só queria me proteger; tinha medo de que eu morresse como meu pai. Mas ela tinha que entender que eu era diferente dele e que, os erros que ele cometeu, eu não cometeria de jeito algum.

— Mãe... Meu pai não morreu por causa do tráfico. Ele morreu por causa dos 'cana. E eu não sou igual a ele, não vou cometer o mesmo erro. — retirei suas mãos do meu rosto. — A senhora precisa confiar em mim. — beijei sua mão esquerda e vi que ela segurava o choro.

— Porra Miguel... Eu não quero isso e você sabe! Mas eu sei que, mesmo eu dizendo essas coisas pra você, não vai adiantar nada. Então, mesmo eu não aceitando, eu só quero que você faça o que te faz feliz. — uma lágrima caiu em seu rosto. — Eu só te aviso que, se você morrer igual ao seu pai, eu não vou ao seu enterro.

— Qual foi coroa! Eu sou seu filho querido. — brinquei a fazendo rir. — Pode deixar que esse desgosto eu não dou pra senhora. — beijei sua bochecha e corri para a porta.

— Vai pra onde?

— Vou na casa do padrinho. Preciso conversar com ele. — respondi antes de fechar a porta.

— Qual foi, o Rato tá aí? — perguntei para uns dos soldados que estavam parados no portão da casa do meu padrinho.

— Tá sim. Já veio tontear teu padrinho, Silvestre? Se eu fosse você desistia. — riu enquanto dava passagem para que eu abrisse o portão.

— Qual foi? Vai se foder, assunto meu e dele. Tu não tem nada que se meter não. — bati o portão na cara dele antes que eu me estressasse no sério com ele.

Assim que entrei na casa do Rato, o vi na cozinha preparando algo pra comer.

— Silvestre? O que faz aqui?

— Preciso trocar um papo contigo. — cruzei os braços e ele revirou os olhos, como se já soubesse o que vinha.

— Ai ai... Lá vamos nós. — colocou seu prato em cima da bancada e foi até a sala. — Vai falando.

— Eu lembro uma vez, antes do meu pai morrer, que ele tinha comentado contigo que só deixaria eu entrar na boca caso minha mãe desse permissão. — me sentei ao seu lado do sofá.

— O que tem? — perguntou parecendo desinteressado na conversa, enquanto mudava de canal.

— O que tem que ela acabou de falar comigo e me deu permissão. Agora Rato, tu não tem pra onde correr, ou é oito ou é oitenta. Diz logo.

— Como é? — ele finalmente prestou atenção em mim. — Eu não creio que a Márcia, logo ela, disse que por ela 'tava tranquilo tu entrar nessa.

— Não foi bem com essas palavras mas... — dei de ombros.

— Puta que pariu Miguel, você não vai desistir mesmo, né? — neguei sorrindo ladino e ele suspirou. — Já é, vou te propor um bagulho. Essa semana vai chegar armamento novo, tá ligado? Dos 'cana que fecha com a gente. Se você conseguir fazer tudo certo, conversamos melhor sobre isso. Pode ser? — estendeu a mão para mim.

— Suave, essa vai ser fácil. — fechamos o acordo com um sinal de mãos.

— Agora cai fora da minha casa porque eu quero comer.

Nathaly Lorenzo

Assistia TV na sala, quando alguém tocou a campainha. Mesmo com preguiça, me levantei para atender quem era e meu coração acelerou ao ver quem era. Era Matheus.

— Nath? É... O Silvestre tá aí? — o moreno perguntou meio sem jeito.

— Não, ele deu uma saída. Quer esperar ele? — voltei para o sofá enquanto ele entrava para fechar a porta.

— Marcar um dez aqui então. — sentou-se ao meu lado.

Eu tentava ignorar sua presença ali mas era bastante difícil. Não terminamos de um jeito fácil e eu admito que ainda gostava bastante dele mas sentia que não podia continuar mais. Era como se eu estivesse traindo a confiança do meu pai.

— Nathaly... Foi mal sair perguntando isso mas... Eu 'to aqui pensando e, não sei, tu tem certeza de que não sente mais nada por mim? Tipo, de verdade? — o encarei sem jeito.

Matheus mexia em seu relógio, parecendo apreensivo.

— Matheus... Eu já te disse isso quando terminamos. Você deveria superar isso já.

— Não, Nathaly, não tem como! — ele bateu no sofá, mostrando indignação. — Porra, eu gosto de você pra caralho, não dá pra jogar fora anos de namoro assim do nada. Sei que foi por causa do rolo com teu pai mas... Nós não temos nada a ver com isso.

— Não tem como você superar? Sério mesmo? — fiz cara feia, demonstrando indignação. — Não sou eu que, desde que terminou, fica com o morro inteiro! Você é muito cara de pau de dizer que me ama mesmo ficando com outras. Olha, eu não quero falar sobre isso. — me levantei do sofá mas, antes que saísse dali, o moreno segurou em meu braço, me impedindo de andar.

— Qual foi Nathaly, senta aí. Vamos conversar no sério agora. Precisamos falar sobre nós e eu não aceito um não como resposta. — foi naquela hora que eu gelei.

Eu não sabia mais o que fazer, não queria conversar com Matheus sobre nosso término. Por que ele tinha que complicar tudo?

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