Capítulo quarenta e cinco; O destino sempre faz nós dois ficarmos juntos
Mais um dia de carnaval e tudo estava ocorrendo muito bem. Já haviam se passado duas semanas desde que eu havia jogado as verdades na cara de Miguel e, desde esse dia, as coisas entre nós havia mudado um pouco. Havíamos voltado a conversar por mensagem e, nos blocos, ficávamos de casal; resolvemos não voltar no nosso assunto pendente e curtir o carnaval, e estava tudo bem.
Era um domingo chuvoso mas nada nos impedia de curtir nosso carnaval. Estávamos no Aterro do Flamengo, todos debaixo do KFC dançando e se aquecendo com Ousadias e vodkas. Gravávamos vários vídeos cantando e dançando e fazíamos diversos boomerangs também — que seriam mandados no nosso grupo que havíamos feito para marcar os blocos.
— O que houve amiga? Não vai ficar de casal com o Miguel hoje? – Julia perguntou ao ficar do meu lado.
— Eu não sei. Eu quero muito mas sei que é errado... Eu estou namorando Julia e sequer conversamos sobre tudo o que aconteceu. – peguei a Ousadia de blueberry que a morena bebia e dei um gole.
Aquela Ousadia era a mais forte de todas, por isso não abusaria já que também nem gostava muito de beber. Devolvi a garrafa para a garota que usava seu conjunto de saia e cropped com as cores do arco-íris e uma tiara igual.
— Se vocês ainda não conversaram mas estão todo amorzinhos abraçados nos blocos, é sinal que vocês não tem o que conversar beloved. – riu dando de ombros e deu um gole em sua bebida.
— Não Julia, nós temos sim. – cruzei os braços e olhei para Miguel que ria e dançava com Jp, Caio e Vinicius — dois amigos seus. Mas logo voltei a encarar a morena.
Sei que no dia seguinte nada do que eu falava naquele momento seria lembrado por ela, mas eu tinha que desabafar para alguém o que eu sentia — mesmo que esse alguém fosse a Julia bêbada.
— Quando eu conversei com o Miguel, eu disse para ele provar que me amava. Disse que o amava mas queria que ele me provasse que era recíproco, já que ele disse que era. Eu só quero que ele me prove mesmo Julia, quero saber se realmente o Miguel que eu amo ainda está ali... – meus olhos se encheram de lágrimas e eu ajeitei minha tiara de diabinho.
— Amiga, você sabe que eu apoio muito você e o Miguel e o que eu mais quero é que vocês se entendam logo mas... Você está namorando o Erick ainda. Por mais que eu esteja cagando 'praquele babaca manipulador, ele já foi muito chifrado por você e, mais um pouco, a cabeça dele não vai aguentar o peso dos próprios chifres. – arregalou os olhos ao colocar as mãos na cabeça e eu ri.
— Eu tenho certeza que ele está muito bem acompanhado na viagem dele de carnaval Julia. E outra, eu só estou de casal com o Miguel, nada mais. Só ficamos mesmo no primeiro bloco. – eu queria sim ficar com o Miguel mas não ficaria até ele me provar que tudo o que eu sinto por ele é realmente recíproco.
— Aah! – Julia revirou os olhos e cambaleou um pouco para trás. — Foda-se então. Foda-se, apenas foda-se! – riu. — Amiga, eu quero apenas que você seja feliz e curta seu carnaval, sem pensar no depois. Esse carnaval tem que ser o carnaval. Entendeu? – colocou as mãos em meu rosto e eu assenti com a cabeça logo recebendo um selinho seu.
Após isso, minha melhor amiga foi pulando até Jp e o agarrou pelo pescoço, quase fazendo com que ambos caíssem no chão e todos riram com aquilo. Eu já estava me preparando para uma Julia com uma puta ressaca no dia seguinte.
Olhei novamente para Miguel e o garoto olhou para mim, sorrindo de canto logo dando um gole em sua Ousadia de morango misturada com Sprite. Sem graça, desviei o olhar e me aproximei de Nathaly que dançava perto de Matheus.
Mesmo bêbada, Julia tinha razão. Eu tinha que aproveitar meu carnaval; o rumo da minha vida eu tomaria depois dele.
Já se fazia um tempo que o bloco havia começado e, junto com ele, a chuva também veio mais forte. Havíamos cansado de ficar embaixo do KFC, visto que a chuva não pararia e seria inútil ficarmos ali e não aproveitarmos o bloco.
— Vamos lá gente, quem tá na chuva é pra se molhar! – Julia exclamou correndo para o meio da rua e Jp correu logo atrás.
A morena pulou no colo do mais velho e começou a gritar, fazendo com que todos nós ríssemos e algumas pessoas que observavam fizessem o mesmo.
Nathaly segurou na mão de Nike e os dois correram para o outro lado da rua, já que o bloco mesmo era do outro lado. Caio e Vinicius pegaram a mochila que estavam nossas coisas e as bebidas e fizeram o mesmo, só sobrando Miguel e eu.
— Vamos? – o mais velho estendeu a mão para mim e eu sorri, segurando sua mão.
Rapidamente nós corremos, esbarrando com Jp que levava Julia — que ainda estava em seu colo — para o outro lado. Não demorou um minuto para que atravessemos mas foi tempo o suficiente para que já estivéssemos completamente encharcados.
— Olha, eu só espero que o glitter não saia do meu corpo com essa chuva toda. – Nathaly, que estava vestida com um tule amarelo, uma hot pant branca e a parte de cima de um biquíni com estampa de girassol disse olhando para seus braços para conferir se seu glitter dourado ainda estava ali.
Por azar de todos nós, mesmo saindo na chuva, estávamos todos de chinelo, ou seja, logo nossos pés estariam todos enlameados.
— Aí gente, vamos curtir! É carnaval porra! – Julia puxou Nathaly e Matheus que estavam embaixo de uma tenda, os levando para a chuva.
— Isso aí! – uma garota que estava próxima de nós gritou e todos que estavam próximos gritaram em aprovação. Eu apenas ri envergonhada com toda aquela situação.
— Eu vou comprar cigarro. A Julia já me fez pagar muito mico em menos de cinco minutos. – Caio riu e chamou Vinicius para ir junto com ele.
Os dois saíram de perto de nós e eu olhei para Miguel que bebia ao meu lado. O moreno ajeitou seu boné e riu ao me encarar, fazendo com que eu fizesse o mesmo. Apesar de tudo, eu não conseguia parar de gostar dele.
Já eram sete da noite e muita coisa aconteceu durante aquele tempo. Vinicius e Caio já haviam ficado com cinco garotas. Julia havia perdido o controle de tudo e Jp tomava conta dela — o que não adiantava muito já que ele estava tão bêbado quanto ela. Nathaly e Nike dançavam no meio da chuva enquanto Miguel e eu ficávamos abraçados observando tudo e rindo.
Naquele momento, estávamos tentando nos proteger da chuva — apesar de estarmos totalmente encharcados — próximo de um grupinho de pessoas que estavam com uma caixa de som escutando funk, onde também se encontrava um aglomerado de gente que estava ali pelo mesmo.
Todos os meus amigos estavam reunidos no meio da chuva, um do lado do outro dançando enquanto eu gravava tudo e não conseguia parar de rir. Os garotos estavam sem camisa, Julia e Nathaly usavam a camisa de seus namorados e Miguel e Jp dançavam descalços. Nada podia ser melhor que aquilo.
— Vamos à praia? – Julia perguntou animada, cambaleando.
— Vamos! – Nathaly deu pulinhos animados e todos concordaram.
— Gente, está chovendo. Vocês estão malucos? – franzi o cenho com tamanha loucura. Eu era a única sóbria dali e sabia que aquilo não era uma ideia boa.
— Ah Rebecca, deixa de ser mata baile. – Caio fez cara feia.
— Já tá geral molhado mesmo, que diferença vai fazer? E outra, a praia é logo ali na frente. – Vinicius deu de ombros.
Encarei todos que me encaravam também, esperando que eu me rendesse. Revirei os olhos e bufei.
— Tudo bem. Vamos. – me rendi e todos pularam animados.
— Nós vamos à praia! – Julia exclamou recebendo a atenção de algumas pessoas que estavam ali e elas riram.
Certeza que achavam aquela ideia louca; até eu achava mas não podia fazer nada a não ser segui-los.
Começamos a correr pela rua na chuva e descalços. O chão molhado deslizava; Vinicius perdia a terceira marcha enquanto Caio caia no chão. Nathaly e Julia começaram a dançar Deslizo e jogo no meio da chuva. Jp e Nike as faziam sair do chão porque elas cismavam em fazer a parte mais difícil da dança e eu ria de tudo enquanto corria de mãos dadas com Miguel, as vezes deslizando no chão mas não caindo.
Chegou a hora de atravessarmos a rua. Eram dois sinais, sendo um deles uma via de mão dupla; na hora ninguém se lembrou daquilo. Resultado: quase cometemos suicídio coletivo ao atravessarmos correndo e vir carros de ambos os lados.
— Puta que pariu! Se não morremos hoje, não morremos nunca mais. – Jp riu puxando Julia para trás para que ela saísse de perto da rua.
— Papo reto. Nós somos muito loucos. – Matheus disse abraçando Nathaly por trás que ria loucamente com Julia.
Depois disso fomos enfim para a praia. Passamos entre uns policiais que, por sorte, não nos pararam — apenas deram boa noite e desejaram um bom carnaval e os meninos disseram o mesmo para eles. Ao chegar na praia, decidimos não entrar na água por amor a vida, mesmo que não estivesse tendo trovões ou relâmpagos. Ficamos sentados na areia molhada conversando, rindo e observando as ondas do mar enquanto éramos molhados pela chuva — já estávamos encharcados; aquela chuva nem nos incomodava mais.
— Eu vou ficar muito surpresa se não pegarmos uma gripe depois de hoje. – Nathaly riu dando um gole em sua Sprite que ela havia colocado em sua garrafa vazia de Ousadia.
— Mano, hoje foi o melhor bloco de carnaval. Nada supera esse dia. – Miguel abriu um largo sorriso.
— Só a gente mesmo pra vir num bloco na chuva e ainda decidir vir à praia. – Jp negou com a cabeça sorrindo.
— Aí gente, o bloco é logo ali e a praia aqui. Esse é o bom de ser carioca, tem sempre uma praia por perto. – Julia falou embolado rindo logo em seguida enquanto se jogava em cima de Jp.
— Não vou mentir, foi bom quase ter dado de cara no poste por ter passado da terceira marcha. – Vinicius riu olhando em direção para o mar.
Ficamos ali, bebendo em silêncio observando o mar mas, longe de ser incômodo. Estar ali com todos e só escutar o barulho do mar com a chuva caindo sobre nós estava sendo muito bom. Eu perderia tudo o que eu tinha agora com Erick por apenas mais uma hora daquele momento.
— Rebecca? – Miguel chamou a minha atenção. O encarei, esperando que ele continuasse a falar. — Lembra que você disse que queria que eu provasse que te amava?
Assenti com a cabeça e coloquei meu braço entrelaçado ao seu.
— Então, eu não sei porque nunca disse isso, talvez seja porque eu seja um completo 'cuzão. – desviou o olhar e riu minimamente. — Mas... Eu te amo. Te amo mais que tudo e sinto muito por nunca ter te dito isso, sinto muito por todos os meus vacilos. Talvez você esteja certa, eu sou pior que o Erick mesmo... – olhou para a areia e começou a fazer um buraco com seus pés.
— Miguel...
— Eu sei que isso não prova muita coisa Rebecca mas eu quero melhorar, quero ser alguém melhor. E espero de coração que perceba que eu lutarei para te ter novamente porque é você que eu amo e é você que eu vejo ao meu lado para todo sempre. – olhou fixamente para mim e eu fiquei sem reação.
— Miguel... – eu estava extasiada. Não esperava algo tão repentino assim. — Só cala boca e me beija. – sorri e o puxei pelo pescoço, tomando seus lábios em um beijo enquanto sentia a chuva que caía sobre nós aumentar.
A verdade é que eu amava Miguel e, não importa o que acontecesse, o destino sempre dava um jeito de fazer com que voltássemos a ser o que no começo estava sempre predestinado para ser: Miguel era meu e eu pertencia a ele. Isso nunca mudaria.
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