Capítulo onze; A gente briga mas se ama


Rebecca Alves

Já se faziam dois meses desde que Miguel e eu "terminamos". E, desde desse dia pra cá, muitas coisas mudaram.

A começar entre Julia e eu que ainda estávamos brigadas. Era difícil não falar mais com ela, eu sentia bastante falta. Passei a dormir desde então no quarto de Marina e, na hora de almoçar ou ir embora da faculdade, tenho que ir sozinha pois Julia não vai mais comigo. Até mesmo é difícil vê-la sair para algum lugar e não me chamar mais como de costume. Mas ela havia deixado claro que enquanto eu estivesse fazendo papel de trouxa, ela não voltaria a falar comigo e aquilo me deixava bastante triste.

Sobre Miguel, depois do nosso "término" ainda trocávamos mensagens mas, aos poucos, elas foram se cessando já que Erick vivia dizendo que, se eu estava com ele, não deveria mais ficar mandando mensagens para Miguel. Querendo ou não, ele estava certo. Eu estava com Erick agora e não com Miguel e... Miguel também estava certo. Se acabássemos com aquele joguinho, nossa amizade não seria mais a mesma.

A única coisa que me favoreceu com essa minha briga com Julia foi que, agora, eu estava mais próxima de Erick. Já se fazia dois meses que estávamos ficando. Ele nunca disse que era sério mas agia como se fosse e, as vezes, até comentava sobre namoro, mas não dava indícios que me pediria em namoro. Pelo menos não agora.

Admito que, antes de tudo isso, era meu sonho estar com ele. E, para as minhas amigas, seria maravilhoso estarmos juntos mas... Agora na prática, já não era como eu imaginava. Por ele, eu briguei com a minha melhor amiga que tanto me apoiava e não é como eu imaginava. Erick quase nunca tem tempo pra mim. Se ele não está estudando, ele está em reuniões ou com o pai falando da empresa. Miguel era diferente. Mesmo que não saíssemos, sempre por falta de dinheiro, estávamos comendo um podrão no morro, ou na casa dele assistindo a um filme, ou até mesmo jogando dominó com os amigos dele e Nathaly. E aquilo me fazia uma puta falta...

Droga Rebecca! Por que só agora percebeu como você foi burra?

— Olha pra cá! — Erick chamou minha atenção, me puxando para mais perto dele pelo meu pescoço.

— Erick, eu não quero tirar foto. — resmunguei, tentando me soltar do moreno enquanto o mesmo fazia bico para a foto.

— Qual é Becca! Só uma, por favor. — me puxou novamente, fazendo com que nossos rostos ficassem grudados. — Temos que postar uma foto juntos no status, já que, nunca fizemos isso.

— Certeza que quer postar uma foto comigo? — fiz biquinho e ele olhou para mim, intercalando seu olhar dos meus olhos para minha boca.

— Tenho. — me deu um selinho e eu segurei em sua mão.

Me posicionei para a foto e fechei os olhos, o dando um beijo na bochecha. Escutei o clique da foto e abri os olhos para ver o resultado.

— É... Até que não ficou ruim. — olhei para Erick que sorriu.

— Olha... Becca, precisamos conversar. — o moreno postou a foto no meu status e mandou a foto para ele, logo bloqueando meu celular e olhando para mim. — Já faz dois meses que estamos ficando e, bom, não dissemos nada sobre ficar sério e essas mas sinto que te devo explicações.

— Erick eu não quero que sinta pressionado a nada. Você fala como se eu estivesse te cobrando algo mas eu nunca comentei nada sobre com você. — me afastei dele no banco.

— Eu sei e é por isso mesmo. Becca, eu não quero namorar agora e também não quero nada sério no momento. O lance da empresa do meu pai está me tomando todo o tempo e eu não quero ter um compromisso com você sendo que eu sei que não poderei te dar a devida atenção. Você entende? — segurou em minhas mãos mas eu rapidamente retirei minhas mãos das suas.

— Cara, eu nunca te cobrei nada mas você podia ter me dito isso desde o começo, não acha? Fala sério Erick! Eu terminei com o Miguel por você, eu briguei com a Julia por sua causa e agora você vem me dizer que não quer nada sério? Você agiu como se eu fosse propriedade sua pra isso? — me levantei furiosa, pegando minha mochila de cima do banco.

— Rebecca, me desculpa... — desviou o olhar para o chão.

— Quer saber Erick? Faça as porras que quiser fazer e só me chama quando tiver acabado tudo. Eu vou resolver minhas merdas porque acho que já passou da hora de parar se ser trouxa por você.

Sem me despedir, fui embora indo até o ponto de ônibus. Com sorte, talvez eu ainda pudesse encontrar Julia em casa antes que ela saísse para algum lugar.

— Julia? Podemos conversar? — entrei no quarto enquanto via a morena terminar de se arrumar.

Eu havia enrolado desde que havia chegado da faculdade para falar com Julia. Marina tinha até mandando eu ir falar com ela mas, a menina havia ido pra casa do namorado e eu ainda estava enrolando. Estava com medo de Julia não querer falar comigo, com medo dela fazer o mesmo que eu fiz com ela e, se fizesse, não tiraria razão. Eu bem que andava merecendo uns tapas.

— Depende. Vai me bater de novo? — parou de arrumar sua mochila e olhou para mim, seriamente.

— Não. É sobre isso mesmo que eu quero conversar. — a morena cruzou os braços. — É... Para onde vai?

— Dormir na casa da Nathaly. Hoje tem baile e resolvemos ir, já que, faz tempo que não vamos. Fiquei de ir mais cedo pra me arrumar com ela.

— Eu posso ir com vocês?

— Olha Rebecca, se apenas tivéssemos discutido eu bem que podia falar com você normal, como se nada tivesse acontecido. Mas não vai rolar. Eu estava apenas querendo te ajudar, me preocupando com você, coisa que melhor amiga faz, sabe? Mas você me bateu e isso foi uma puta atitude estúpida! — olhei para baixo, tentando controlar minhas lágrimas.

— Desculpa por isso, eu te bati por impulso. Você tem razão, eu estava cega e me arrependo muito pelo que fiz com você. Se quiser me bater também não vou julgar, você tem todo o direito. Eu só sinto falta de você e de dormir no mesmo quarto que você... Eu sinto falta da minha melhor amiga. — abracei a mim mesma, deixando uma lágrima teimosa cair.

— Rebecca... Não chora. — Julia se aproximou de mim e me deu um abraço. Naquele instante, eu caí em prantos. — Qual é, para de chorar se não eu choro também. Irmãs brigam de vez em quando e você sabe disso, já tivemos brigas antes.

— Mas eu nunca te bati antes. — ela se desgrudou de mim e começou a secar as lágrimas.

— Ei, tá tudo bem cara. Foi escroto da sua parte? Foi, mas acontece. Quem sabe um dia não briguemos de novo e eu te bata? Nunca sabemos o que se pode acontecer. — sorriu me fazendo sorrir de canto. — Eu nunca vou te abandonar e quero que saiba disso. Eu te amo, piranha. — riu.— Agora me diga o que aconteceu. Foram dois meses sem estar atualizada.

Ri e me sentei em sua cama, a puxando junto comigo.

— Bom... Dando um resumão, eu estava esse tempo todo com o Erick só que, hoje, tivemos uma discussão e, agora, eu não quero muito falar disso. Preciso esfriar um pouco a cabeça e queria muito ir no baile com você.

— Eu vou falar com a Nathaly e digo que me encontro com ela lá então, vamos juntas. E, depois, eu quero saber o que aconteceu entre você, o Miguel e o Erick. — assenti com a cabeça e ela fez cafuné em minha cabeça, logo se levantando e indo para a sala.

Já eram umas três da manhã e havíamos acabado de chegar no baile. Diferente da primeira vez que vim, ele estava mais cheio e, a qualquer mole que desse, poderia me perder ali mesmo.

— Vem por aqui. — Julia me chamou mas, antes que pudesse dar a mão para ela, uma multidão surgiu me separando dela.

Sem que ela percebesse, eu fiquei ali parada enquanto ela seguia seu caminho. Foda-se, eu compraria alguma bebida e depois procurava ela de novo.

— Nossa! Que avião é esse! — um garoto disse, parando ao meu lado. — Por acaso está sozinha?

Olhei para ele com desdém e o ignorei por completo, mas, antes que eu pudesse sair de perto dele, o mesmo me segurou fortemente pelo braço.

— 'Peraí meu anjo, não vai embora. Dança uma música comigo, vai. — aproximou seu corpo do meu e eu gelei na hora.

— Qual foi cara, solta ela aí! Ela tá comigo. — senti o garoto me soltar e olhei para frente vendo Miguel.

— Desculpa Silvestre, eu não sabia. Foi mal mesmo mas, devia colocar uma coleira nela então. Uma gata como essas não pode ficar sozinha. — o garoto sorriu, me dando nojo.

— E eu acho que já tá na hora de você cair o fora daqui. — Lorenzo segurou em minha mão e o garoto rapidamente foi embora. — E você? Tá fazendo o que aqui?

— Que eu saiba aqui é um lugar público. Posso estar aqui tanto quanto você. — me soltei dele, reparando nas enormes correntes de ouro que usava.

— Gostou de relembrar? Acho melhor então cair fora também antes que seu namoradinho sinta tua falta e resolva piar aqui. Aproveita e conta 'pros seus novos amiguinhos burgueses como é o baile daqui.

— Do que você tá falando Miguel? Por acaso fumou demais? — segurei seu braço antes que ele saísse de perto de mim. — Você conhece meus amigos e sabe que eles não são assim, assim como também sabe muito bem que não estou namorando.

— Eu vi tua foto com o riquinho no Whatsapp. Quer me fazer mesmo de trouxa? Eu já disse Rebecca, eu não sou seu ombro amigo e não sirvo pra essas coisas. Agora cai fora. — segurou fortemente nos meus pulsos.

Ele estava tão puto por me ver...

— Lorenzo, por que você não deixa de ser um imprestável uma vez na vida e me escuta? Eu não subi porque quero te fazer de otário não. Eu subi porque sinto sua falta e quis te ver! O que você não entende?

Naquela hora, ele ficou estático e me soltou, sem reação alguma.

— Foda-se. Talvez tenha sido mesmo uma péssima ideia ter subido aqui só pra te ver.

Antes que eu fosse embora dali, senti Miguel me segurar e, assim que me virei para ele, senti seus lábios nos meus e, aos poucos, fui me envolvendo. Eu estava tendo um puta flashback da primeira vez que nos vimos e aquilo era tão bom. 

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