Capítulo oito; Te esquecer por inteira


Miguel Lorenzo

Assim que cheguei em casa, vi Nathaly e Nike juntos, o que logo estranhei.

— Qual foi? 'To atrapalhando algo? — fechei a porta, assustando os dois.

— Não, na verdade, o Nike só 'tava te esperando. — minha irmã se levantou rapidamente do sofá.

— Poxa maninha, eu não nasci ontem. — cruzei os braços, me aproximando dos dois.

— Silvestre, é o seguinte: — Nike se levantou e pigarreou, olhando para Nathaly e logo voltando seu olhar para mim. — Eu 'tava trocando um papo com a Nath sobre nós e...

— Eu e você?

— Não, idiota! A Nathaly e eu... — franziu o cenho.

— Eu 'to ligado cara, 'tava só zoando contigo. Continua. — ri.

— Então... Nós estávamos conversando sobre nós dois e, não sei, queria voltar com ela... — coçou a nuca, nervoso.

— Te mandar a real, pega a visão, eu não vi vocês ficando ou namorando. Só fui saber depois de quase dois anos e, porra, fiquei muito puto com vocês dois. Mas, eu já troquei uma ideia contigo e sei que suas intenções com minha irmã são boas e, Nathaly, sei que ainda gosta dele então só para de cu doce. — a morena revirou os olhos. — Na moral, cara, eu acho que vocês combinam e deviam tentar se dar uma chance de novo. Pô, terminar por algo sem motivo e 'mó coisa de otário.

Os dois se entreolharam e abaixaram a cabeça.

— Mas isso é só a minha opinião, cês fazem o que bem quiserem. Eu só quero que os dois sejam felizes. — dei de ombros. — Enfim, tu queria falar comigo? — bati no peito de Nike para que ele olhasse pra mim.

— Que? Ah, sim mas deixa. Era um bagulho da boca mas depois te falo, mando mensagem mais tarde. — sorriu amarelo.

— Suave então... — dei de ombros e subi para o meu quarto, deixando os dois sozinhos.

'To ligado que eles precisavam conversar a sós e não seria eu que estaria ali empatando a foda.

Rebecca Alves

Já havia se passado uma semana desde a festa que Julia havia dado e tudo estava tranquilo. Como de costume, Miguel havia me buscado para sair Sexta e, como sempre, Erick estava puto com isso. Falando nele, desde a festa eu não falava com ele. A atitude que ele tivera batendo no Miguel foi tão infantil e otária que havia feito eu ficar bastante puta. Durante a semana inteira o moreno tentou falar comigo, mas eu o ignorei por completo ou, por vezes, nem olhava para sua cara.

— Rebecca! Ei! — olhei para trás e vi que era Erick que me chamava.

Revirei os olhos e continuei a andar mas parei assim que senti suas mãos segurando em meu braço, me impedindo de andar.

— Espera aí, por favor. — murmurou a última parte.

— O que você quer? Saber se o Miguel ainda está muito machucado? Quer bater nele de novo? Me fazer passar vergonha na frente de todos novamente? — dei um tranco no meu braço para que ele me soltasse.

— Não. Rebecca... Olha, me desculpa pelo que eu fiz na festa. Eu bebi demais e acabei passando dos limites. Não queria te fazer passar vergonha e, mesmo eu não gostando daquele cara, não queria bater nele. — o moreno contraiu a mandíbula e olhou para o lado oposto.

— Olha... Não é a mim que você deve pedir desculpas, sinceramente. — cruzei os braços e mordi meus lábios.

— Rebecca, eu sinto muito, de verdade. Quero que você veja que estou arrependido mas não sei como fazer. — ele gesticulou, mexendo os ombros. — Mas, olha, depois resolvemos isso. Na real mesmo, eu estou aqui porque a professora de Filosofia pediu pra que a gente fizesse um trabalho e... Bom, eu pensei que você pudesse me ajudar. — pediu minha ajuda meio acanhado.

— Por acaso é um resumão do livro que ela passou pra gente ler? — ele assentiu e eu ri anasalado. — Eu até queria te ajudar mas não vai rolar. Eu ainda estou lendo o livro e eu preciso entregar o resumo até Quinta que vem. — sorri sem mostrar os dentes.

— Espera aí! Eu preciso entregar na Quinta também mas, acho que em um horário diferente. — riu. — Podemos fazer juntos. O que acha?

Admito que eu ainda estava bolada pelo que ele havia feito mas, tudo que eu estava fazendo há um mês, pelo visto, estava funcionando e, dessa vez, eu não podia perder a oportunidade.

— Eu não sei... Só tenho tempo livre às Segundas e Quartas depois do almoço porque não trabalho. Não sei se vai bater com o seu horário. — cruzei os braços.

— Pra mim está ótimo! Nesses dias eu termino minha grade depois do almoço. Podemos nos encontrar aqui mesmo e estudar na minha casa, já que eu tenho um apartamento aqui em Ipanema e é mais perto que minha casa no Leblon. — riu e eu sorri.

— Tudo bem então, podemos nos ajudar com esse trabalho. — acabei me rendendo e ele sorriu vitorioso.

— Vem cá, que horas você deixa o trabalho? Dependendo da hora podíamos sair para jantar, o que acha?

Para tudo! Era isso que eu estava escutando mesmo? Erick Fontaine me chamando para jantar? Calma, preciso manter a compostura e fazer a egípcia.

— Eu largo o trabalho às 18h mas não sei não Erick... Acho que meu namorado não ia gostar da ideia de sair com você. — mordi os lábios tentando parecer bastante convincente.

— Você não precisa falar que vai sair comigo e mais, pelo que eu saiba, seu namorado não te vê dia de Terça. Estou errado? — me encarou desafiador.

— Por acaso está me stalkeando, senhor Fontaine? — brinquei dando um leve esbarrão em seu ombro.

— Longe de mim fazer esse tipo de coisa. — riu. — Bom, acho que isso é um sim. Te busco então no seu trabalho, Rebequinha. — deu um beijo em minha bochecha e foi embora, me deixando sorrindo feito boba.

Assim que saí do trabalho, como combinado, Erick estava com o carro estacionado em frente ao meu estabelecimento, me esperando. Estava meio boba com tudo aquilo e, ao mesmo tempo aliviada, pois — com Miguel — eu precisava pegar o ônibus e depois subir a pé. Mas com Erick não, ele tinha um carro próprio mas... Era muito diferente. Com Miguel havia conversas e zoações e, com Erick, assuntos sobre a faculdade e elogios que ele me dava para quebrar o silêncio.

Demorou pouco tempo para que chegássemos em seu apartamento — o de Ipanema — e, depois de um tempo, estávamos nós dois na sua sala de jantar comendo macarrão ao molho branco.

— Então... Você conhece Miguel há muito tempo? — Erick perguntou após dar um gole em sua taça de vinho.

— Hã... Há um certo tempo sim. Mas, juntos mesmo, fez um mês. — sorri, olhando para meu prato.

— Engraçado. Vocês estavam juntos naquele dia do baile mas, que eu saiba, você gostava de mim ainda...

Erick estava tentando me testar ou era apenas coisa da minha cabeça?

— Bom... — pigarreei. — Eu ainda não tinha nada sério com ele e, não sei, eu não sou obrigada a ficar esperando alguém que não dá a mínima pra mim. — levantei minha cabeça para olhá-lo e, dessa vez, foi o maior que abaixou a cabeça.

— Becca, me desculpe por isso tudo, de verdade. Eu fui um completo idiota. É que... Eu não sabia como dizer mas eu também sou a fim de você mas... Tinha medo de te contar e, depois que te vi com o Miguel, percebi como fui um cuzão. Principalmente com as atitudes que tive depois. — o moreno me encarou meio pidão.

— Erick... — o senti tocar sua mão na minha e eu voltei a raciocinar. — É... Licença, meu celular está tocando. — sorri amarelo e peguei o celular que estava ao lado do meu prato, logo me levantando.

Fui até enorme varanda da sala, que dava vista para a praia e disquei o número de Miguel. O vento que se formava balançava tanto o vestido tomara que caia que usava quanto meu cabelo que estava solto. Não demorou muito para que ele atendesse.

— Diga.

— Miguel, preciso te contar algo. Só, por favor, não fica puto comigo. — fechei os olhos.

— Aí não sei né. Dá logo o papo. — ele pareceu meio apreensivo.

— Então, o Erick me chamou pra jantar e... — suspirei e, antes que eu pudesse continuar a falar algo, Miguel rosnou parecendo estar com raiva.

— Como é? Esse cara tem problema por acaso? Porra! Eu posso ainda estar me curando do olho roxo mas, juro, que dessa vez quem vai ficar com o olho roxo é ele!

— Miguel, para! Ninguém vai se bater mais, por favor. — me apoiei contra o vidro da varanda. — Eu estou aqui na casa dele agora e, se tudo continuar correndo bem, acho que não vamos mais precisar fingir que namoramos. — mordi os lábios.

Naquele momento, só pude escutar sua respiração.

— Lorenzo?

— Que? Ah... Tá tranquilo pô...

— Você... Está bolado?

— Bolado? — riu. — Por que eu estaria bolado? Nós não estamos juntos de verdade.

— Eu não sei, talvez você goste de mim depois de termos... Ficado na festa da Julia. — olhei para os carros que passavam logo abaixo no asfalto.

— Qual é Rebecca, relaxa. Aquela transa não significou nada. Eu só fiquei meio escaldado agora porque tu é minha amiga e, mesmo que tudo tenha começado por causa do Erick, eu não quero que você se magoe. Tá ligada? — sorri, olhando para os meus pés.

— Miguel, nós vamos continuar sendo amigos, mas não precisamos mais fingir que temos algo. Podemos continuar nos vendo e marcar algum dia para sairmos ainda. — apoiei meu braço esquerdo em minha barriga.

— Tu sabe que não vai mais ser assim. Não vai ter mais uma desculpa pra nos vermos e você não é tão chegada da Nathaly. Mas, quem sabe nos esbarramos qualquer dia desses por aí. Quem sabe tu não brota no baile de novo? — riu me fazendo rir.

— Eu... Preciso desligar agora. Mas nos falamos outra hora, está bem? Quando sair daqui te digo se tudo deu certo ou não.

— Já é. Só... Se cuida. — sorri de canto e encerrei a ligação, voltando para o Erick.

— Era algo importante? — o moreno perguntou olhando para mim.

— Não, não. Era a Marina perguntando se eu ia demorar muito ainda. — sorri, pegando minha bolsa que estava ao lado da cadeira. — Eu acho que está na hora de ir, Erick. Já está ficando tarde e eu não quero andar por aí sozinha essa hora...

— Eu até te daria carona mas, preciso arrumar umas coisas aqui ainda, desculpa mesmo. — se desculpou enquanto se levantava. — Eu te deixo no elevador.

Saímos do apartamento juntos e fomos até o elevador. Apertei o botão e esperei para que ele chegasse ao andar que estávamos. Não demorou muito para que ele logo subisse e eu abrisse a porta.

— Bom... Obrigada pelo jantar. — sorri, recebendo um abraço do moreno.

— Nos vemos amanhã na faculdade. — assim que ia lhe dar um beijo na bochecha, Erick se virou e me deu um selinho. — Tchau. — sorriu.

Entrei no elevador e apertei o botão para o Térreo, ainda bastante extasiada por aquilo. Assim que o elevador começou a descer, soltei um gritinho eufórico. Eu não acredito! Depois de todos esses anos, Erick finalmente havia me beijado!

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