Capítulo dois; Quando te vi no baile




Miguel Lorenzo

Miguel, seu babaca! — acordei com algo sendo jogado em mim.

— Porra Nathaly, não fode! — resmunguei me sentando na cama. — Mais tarde tem baile e quero dormir pra aguentar virar a madrugada lá, tem como me deixar em paz?

— Não Miguel, não tem como. — a morena cruzou os braços. — Você por acaso come merda ou o que?

Olhei para o teto e bufei, logo voltando meu olhar para minha doce irmã.

— Já é Nathaly. Poderia me dizer o que eu fiz dessa vez pra eu poder voltar a dormir? — cruzei as pernas e fiquei de braços cruzados, esperando sua resposta.

— Você é muito debochado, né? — riu sem humor e colocou sua mão esquerda sobre sua cintura.— O Juninho me disse que te viu lá na boca, mexendo nas armas e o caralho a quatro. Sério, Miguel, o que você tem na cabeça?

— Caralho garota, cessa aí. Eu 'tava ajudando o Jp porque o Rato encheu ele de serviço dai ele me pediu ajuda. E, mesmo que eu estivesse envolvido, qual o problema? Você não tem nada que se meter.

— Não tenho que me meter? Miguel você é muito pau no cu, sério. Nosso pai fez tudo pela gente e morreu por isso. Ele abriu mão de muita coisa e você sabe muito bem que ele não quer que nenhum de nós se envolva com isso.

— Qual foi Nathaly! Já faz quase dois anos que nosso pai morreu. Ele deixou a gente com tudo e eu só quero ser como ele... — olhei para baixo.

— E no final morrer fugindo da polícia? Mano, não vale a pena e nosso pai sabia disso. Ele só achou um meio fácil pra nos sustentar e, por ele, eu também abri mão de muita coisa.

Olhei para a janela, onde se tinha visão de praticamente todo o morro e vi que já estava escurecendo. Eu não queria discutir com a minha irmã sobre algo que eu já tinha dito mil vezes. 

— Abrir mão de que garota? Já viu menina virar bandido? — ri debochado.

— Você não cansa de ser otário, não é mesmo? Pelo nosso pai Miguel, eu deixei uma coisa pra trás. Se quiser, pergunta pro Matheus porque eu vou deixar o "futuro Caco" dormir pra curtir o baile dele mais tarde. — a morena saiu do quarto e eu me deitei novamente.

Eu estava puto com aquela conversa. Eu odiava quando minha irmã tocava no assunto de eu querer virar bandido. Porra, eu só quero ser igual meu pai e eu vou ser igual a ele. 

Já eram uma onze e pouca e eu estava terminando de me arrumar para ir ao baile. Já estava todo trajado na Oakley e estava terminando de arrumar meu cabelo para colocar meu boné.

Nathaly tinha saído de casa mais cedo porque ela disse que buscaria uma amiga sua lá embaixo e nossa mãe foi visitar nossa vó no interior e só voltaria Segunda depois do trabalho. Isso significava que estávamos com a casa só para nós dois e eu podia trazer quantas garotas eu quisesse para cá.

Assim que cheguei ao baile, vi que ele já estava bastante lotado. Logo no fundão, já vi meus amigos no camarote com um copão na mão, vendo as garotas dançarem e me aproximei deles.

— Fala meu mano Silvestre, passa a visão. — Orelha me cumprimentou. Seus olhos já estavam tão vermelhos e menores que o normal, que logo percebi que ele já estava ali há um tempo já.

— Fala aí mano. — peguei a maconha que ele havia acabado de pegar de uns dos caras que estavam ali com a gente e encarei Nike, que bebia olhando as garotas do baile. — Qual é, parça, quero trocar uma ideia contigo. — soltei a fumaça de minha boca e me aproximei do garoto.

— Passa a visão meu mano. — ele sorriu e, logo eu o prensei fortemente contra a parede, segurando fortemente no colarinho de sua camisa. — Qual foi cara? Me solta, porra! — balançou seu copo, quase derramando a bebida.

— Que papo é esse de você tá com a minha irmã? Se liga na tua responsa, mano.

— Qual foi meu mano, me solta. — fez uma careta e me empurrou fortemente pra trás. — Eu não 'to mais com ela não, acalma os nervos florzinha. — ajeitou o cordão de ouro que usava. — Se quer saber, nós namoramos por quase dois anos, só não assumimos por causa do seu pai. Depois que ele morreu nós terminamos, então vai se foder e se acalma.

— Me acalmar porra nenhuma! Por que tu não me contou? Você é meu melhor amigo e 'tava envolvido com a minha irmã, caralho.

— Ela que pediu pra não contar, falou? Eu nunca fiz nada de ruim com ela, tá ligado? Só terminamos porque ela ficou 'mó mal com a morte do teu pai. Agora, abraça o papo, eu ainda gosto dela e nunca vou fazer mal pra ela e muito menos tratar ela como as puta daqui do morro. Pegou a visão?

— Peguei sim, Matheus. Mas aí, tá ligado que se você tentar algo com a minha irmã, cê tá fodido né? — apontei o dedo na cara dele.

— Pô cara, não sou nem maluco. A Nathaly é sua irmã e eu respeito você pra caralho, fica suave.

— É só pra você ficar ligado... Agora, vamos curtir o baile. — o puxei pelo pescoço e saímos atrás de alguma mina.

Rebecca Alves

Eu não acredito que pela primeira vez na minha vida estava subindo um morro! Enquanto Julia e Nathaly subiam animadas mais a minha frente — vez ou outra parando para dançar uma música que tocava no celular da Julia —, eu subia logo atrás. Vez ou outra eu olhava meu Iphone vendo se tinha alguma mensagem de Marina, que ficou em casa com o namorado dela ou olhando para as pessoas que subiam ou desciam, fosse de moto ou fosse a pé.

Quando me dei por si, já tínhamos chegado no baile e Julia logo me puxou para mais perto dela e de Nathaly para que eu não me perdesse, já que estava muito cheio.

— Meninas, eu vou pegar uma bebida pra gente, pode ser? — Nathaly disse ajeitando o top que usava.

— Pode pegar só um energético pra mim? Eu não gosto de beber. — sorri amarelo quando vi as duas olharem estranho pra mim e logo derem risadas.

— Eu vou ver se encontro um energético lá pra você. — a garota sorriu e saiu de perto de nós.

Comecei a me encolher entre o meio de garotas que rebolavam até o chão e garotos que estavam logo atrás sarrrando — ou tentando — nelas.

Logo, a música que estava tocando acabou e deu começo a uma do Fp. Julia deu um grito e me puxou para mais perto do paredão. 

— Vamos dançar! Eu amo essa música! — a morena começou a rebolar e eu fiquei meio sem jeito, ali com todos dançando e eu ali parada.

Comecei a olhar as pessoas dançando e, entre a multidão, consegui ver uma pessoa toda trajada de azul e com dois garotos, com blusa de time, acompanhado de Erick.

— Julia. — a puxei pelo braço, sem tirar os olhos do moreno.

— O que foi? — ela parou de dançar e jogou seu cabelo para trás.

— Olha que tá ali, o Erick! — abri um enorme sorriso.

Julia olhou para o garoto que dançava com seus amigos, com uma garrafa de Smirnoff ice na mão, e depois olhou para mim sorrindo.

— E o que você tá esperando? Vai lá falar com ele.

— E-eu não. — cruzei os braços.

— Ai Rebecca, por favor. Deixa de ser careta, estamos num baile e você não tem nada a perder indo lá falar com ele. Então... Sai da minha frente antes que eu mesma tome uma atitude.

Apreensiva, olhei para ela e mordi os lábios. Tudo bem, talvez não fosse uma ideia ruim falar com ele.

— Tudo bem, eu vou lá. — falei após um suspiro profundo.

— Isso aí, garota! Se você ver a Nathaly por aí diz que estou aqui.

Com um pouco de dificuldade, fui passando entre as rabas pro alto e entre os garotos folgados que, vez ou outra, soltavam algo. A música alta que tocava estava me fazendo ficar com dor de cabeça e, por um descuido, acabei esbarrando com um garoto que passava quase derrubando o copo dele no chão.

— Opa! — ele se afastou assim como eu.

— Desculpa. — sorri de canto e ele sorriu, como se dissesse que não tinha problemas.

Porém, quando olhei novamente para frente, Erick não estava mais no lugar que o tinha visto. Estavam apenas seus amigos. 

Enquanto era esbarrada pelas pessoas que dançavam, pude ver bem no fundo, numa parte pouco mais afastada, o garoto dando em cima de outra e, por uma fração de segundos os dois começaram a se beijar.

Sei que não devia ficar triste com aquilo, mas o ver com outra havia me deixado bastante abalada. Desconcertada, comecei a empurrar as pessoas para que eu saísse dali o mais rápido possível.

— Rebecca! Ei! — escutei alguém me chamar e olhei para trás, vendo ser Nathaly. — Eu 'to procurando vocês há minutos já. Até que enfim te encontrei.

— Ah, a Julia pediu pra avisar que ela está lá perto do paredão. Eu vou tomar um pouco de ar, não precisa se preocupar que já, já eu volto. — a garota não disse nada, apenas me entregou meu energético e sumiu entre a multidão.

Enquanto isso, eu continuei a andar e, quando me afastei um pouco das pessoas e a música que, antes estava alta, se tornou abafada para mim, eu parei e me sentei no chão, perto de uma moto.

Comecei a beber meu energético e fiquei olhando os stories das pessoas no meu Instagram, principalmente o de Julia dançando e bebendo com Nathaly.

— Ei, você tá bem? — olhei para cima e vi um menino parado bem na minha frente.

Assenti com a cabeça. 

— Eu não bebi, é só energético. — balancei o copo pro alto e sorri de canto, bastante desanimada.

— Ih, já que vi que cê não tá muito feliz em estar aqui. — riu, se sentando do meu lado.

— Eu já não queria estar aqui e, pra completar, vi o garoto que gosto com outra. Tem como minha noite ficar melhor? — olhei para o menino que olhava atentamente para mim.

— Entendi. Posso fazer algo por você? — olhei para baixo e ri.

— Ao menos que você magicamente me faça estar na minha casa, assistindo minhas séries... — rimos.

— Não, isso eu não posso fazer. — brincou com o cordão que usava. — Mas aí, sobre o garoto que tu gosta, você não pensa em fazer ciúmes não? Digo, porra, tu é uma garota muito bonita e ele tem que ver que tá perdendo um avião como esses e se ligar.

— Obrigada pelo elogio mas eu não acho muito que ele se importe.

— Qual foi garota? Se menospreza não. Vem comigo. — se levantou e estendeu sua mão para me ajudar a levantar.

— Vai me levar pra onde?

— De volta pro baile ué. Vamos ver onde esse cara tá e vamos fazer ciúme nele. Tu vai ver que ele vai se ligar rapidinho.

Sem que eu dissesse algo, o garoto me levou novamente para o baile. Olhei para o paredão e não vi mais Nathaly e Julia. Mas, próximo do camarote, estava Erick dançando com uma loira.

— Tá vendo o menor? — o menino perguntou em meu ouvido.

Assenti e apontei para onde ele estava. O garoto não disse nada, apenas segurou em minha mão e me levou próximo a Erick que, ao me ver, me ignorou por completo e continuou a dançar com a garota.

O menino que estava comigo começou a dançar e me puxou para mais perto de si, me obrigando a dançar junto com ele, o que me fez rir. Sem que me desse conta, o garoto segurou em minha cintura e me puxou para um beijo. Eu não havia raciocinado nos primeiros segundos, mas depois me dei conta e me envolvi ao beijo.

Ele não durou muito, mas foi tempo o suficiente para que eu me envolvesse e esquecesse que estava chateada com Erick por ter ficado com uma menina no baile.

— O menor ficou mordido quando te viu me beijando. — o garoto fez um carinho no meu cabelo e riu.

Olhei para Erick que disfarçava não olhar para mim e ri.

— Aí, tu quer ficar um pouco ali no camarote? Só até o menor sair daqui.

— Claro! Por que não? — dei de ombros, sorrindo.

O menino segurou novamente em minha mão e passou entre as pessoas dançando. Assim que passei ao lado de Erick o olhei e joguei meu cabelo para trás, entrando feliz no camarote.

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