Capítulo dez; Lamento, mas eu preciso te evitar
Miguel Lorenzo
Era uma Sexta e, como de costume, ali estava eu esperando Rebecca sair de aula para sairmos juntos. Estava apoiado na minha moto quando vi a morena sorrindo junto com Marina e... Erick.
Assim que ela me viu, parou de sorrir e se desgrudou de Erick, que segurava sua mão. Vi que ele tentou a beijar mas ela apenas desviou, olhando para mim e, quando o moreno olhou para mim, sorriu e voltou seu olhar para a menor. O cara deu um beijo em sua testa e foi para o estacionamento, enquanto Rebecca veio em minha direção.
— Miguel? O que faz aqui? — perguntou ao se aproximar de mim.
— Eu vim te buscar ué. — ri. — Não é isso que eu tenho que fazer todas as Sextas? — parei de sorrir e mordi os lábios, logo olhando para baixo assim que vi seu semblante sério.
— Nós... Precisamos conversar. — olhei para ela e assenti com a cabeça sem ânimo algum.
Resolvemos conversar na Afonso, que era perto de nossas casas e seria mais fácil também. Chegando lá, nos sentamos num banco qualquer e percebi que ela estava sem jeito.
— Pode falar. Já sei o que tu vai dizer. — cruzei os braços, olhando para as crianças que brincavam nos brinquedos.
— Miguel... Olha, você foi uma pessoa maravilhosa pra mim nesse último mês, mas... — virou-se para mim, colocando suas mãos no meu braço esquerdo. — Finalmente o Erick me notou e eu agradeço muito pelo que fez por mim. Só que não precisamos mais fingir sermos namorados.
— Tá me dispensando assim mesmo? — ri sem humor a encarando. — Porra Becca, se tivesse me dado um pé na bunda por mensagem teria sido melhor. — me levantei mas a morena segurou em meu braço.
— Miguel! Espera, por favor! Isso não quer dizer que não somos mais amigos, eu ainda gosto muito de você.
Pena que não gosta da mesma forma que eu, Becca... Porra! Eu achei que não ia gostar de ninguém desde que meu pai morreu mas aqui estou começando a ter sentimentos pela garota que eu jurei não sentir nada. Eu era tão otário.
— Já é Rebecca, mas eu já falei sobre isso. Não vai mais ser como antes, você agora vai ficar com o Erick e não teremos mais desculpas pra nos ver. Qual é cara, mesmo se fingirmos terminar e que somos ex de boas, acha mesmo que não vai ser estranho pras outras pessoas?
— As outras pessoas não importam Silvestre. Só... Por favor não me deixa, você foi muito importante pra mim. Não me deixa só porque agora eu estou com o Erick, afinal, esse era o objetivo desde o começo.
— É sério isso mesmo? — dei um tranco em meu braço, fazendo com que ela me soltasse. — Rebecca, foi mal aí mas não vai rolar. Eu não quero ser teu ombro amigo quando o Erick te magoar e, na moral, tu sabe que eu não sou esse tipo de pessoa.
— Desculpa... — olhou para baixo.
— Becca... É isso mesmo que tu quer? Porque, se eu for, tu não me vê mais.
— Do que cê tá falando? Eu estou fazendo algo tão errado assim pra você não querer me ver mais?
— Não é isso. São... Coisas complicadas. — passei minha mão sobre minha nuca. — Mas e aí? Qual é a tua decisão?
— Eu... Não quero parar de te ver mas... Não quero desistir do Erick.
— Então eu já 'to ligado na sua resposta. — jurei ter visto seus olhos cheios d'água mas preferi não questionar. — Bom, preciso ir, tenho que resolver umas coisas ainda. Espero que não se magoe e.... Que seja feliz.
Rebecca sorriu de canto e eu resolvi ir embora logo, a deixando ali sozinha.
Assim que cheguei no morro, já tinha visto os 'cana que entregariam o armamento novo ali perto. Eles não haviam aparecido semana passada por problemas lá e, por isso, deixaram pra essa e ali estavam. Sem a menor das intenções, me aproximei deles que logo me olharam torto.
— Aí moloque, tu conhece o Rato? — o cara loiro disfarçou, coçando seu nariz.
— Quem não conhece? — ri, cruzando os braços.
— Armamento novo, tá sabendo? Rato pediu pra que entregássemos pro... Silvestre. Tu conhece ou não? — o moreno que estava ao seu lado se pronunciou.
— Tá falando com ele em pessoa. — sorri cinicamente.
— Já é. Vamos deixar as caixas com as coisas aqui perto, temos que ir logo e não podemos subir até a boca. Tu se vira aí pra levar. — ele rapidamente se desencostou do seu carro e abriu o porta-malas para retirar as coisas. — Avisa pra ele que não é muita coisa dessa vez, porque ontem deu rolo lá no departamento mas vai fortalecer pra vocês aí.
— Já é mas... O Rato falou que a grana só vai ser entregue pra vocês mês que vem. Ele disse que vocês não podiam demorar a entregar porque eles precisavam invadir um morro aí mas, como demoraram, fodeu eles e agora ele vai foder vocês também.
— Já estamos sabendo disso. Foi erro nosso, foi mal. Mas sabe como é difícil ser policial e conseguir essas coisas pra vocês. Nem todos estão do mesmo lado que nós. — o loiro olhou para mim ao finalizar de colocar as caixas no chão.
— Bom, de qualquer forma, foi ótimo fazer negócio com vocês. — sorri sem mostrar os dentes.
Sem se despedir, os dois entraram no carro e foram embora, me deixando sozinho com aquelas caixas. Peguei meu celular e mandei mensagem no grupo que havia somente Orelha, Nike e eu, pedindo que eles fossem até meu encontro pra me ajudar.
Como eles estavam perto e, de carro, foi rápido de eles chegarem. Colocamos as coisas no carro e entramos, subindo o morro até a boca.
— Aí Silvestre, tu nem sabe o que aconteceu com o Orelha. — Nike me cutucou rindo.
— O que? — olhei para Orelha que dirigia e o mesmo fez uma cara feia.
— Porra Nike, tu é vacilão hein! Nada demais cara, eu 'tava fumando essa semana com os moleques quando uma mina subiu dai eles mexeram com ela né. Eu 'mó educado fui defender ela e a vadia cheia da ignorância me deu 'mó fora.
— 'Carai. — ri. — Ela era do morro?
— Daqui não, né. Que mina do morro por acaso me trataria assim? É pedir pra ficar careca. E mais, se fosse eu conheceria.
— Mas nenhuma garota também te tratou mal na vida. Acho que essa aí não resistiu ao encanto do meu amigo, João Pedro. — bati em seu ombro, fazendo Nike rir.
— Mas ele apaixonou legal Silvestre. Desde que aconteceu esse bagulho que ele não para de falar dessa mina, nunca vi alguém gostar de uma pessoa que foi pisado legal.
Bom, eu conhecia mas resolvi não falar nada.
— É Nike? E você? Quer falar da Nathaly não? — Orelha tentou se tirar da reta e Nike logo parou de rir.
— Pô cara eu adoraria mas já chegamos e... Tu sabe que o que se faz a dois nunca se comenta a quatro. — eu ia falar algo mas resolvi ficar na minha e ignorar completamente o comentário do meu amigo.
— Qual foi, cês ficam aí que eu vou lá dentro da casinha ver se tem alguém lá pra ajudar. Já é? — saí do quarto e os dois assentiram.
Fechei a porta e entrei sem fazer barulho, vendo dois guardas do meu padrinho conversando. Mas, antes que eu falasse com eles, escutei a conversa deles que me chamou bastante atenção.
— Qual foi, não fala pra ninguém que te contei isso senão tu tá fodido também mas vou delatar o Rato pros 'cana. Eu fiz um trato com eles que, se contasse os bagulhos que o Rato tá tramando, eu receberia uma grana preta e eles não me prenderiam.
— Qual foi cara, isso é errado. Quando descobrirem que aqui tem x9 tu tá fodido legal. — DG disse.
Eu não podia escutar aquilo. Aquele cara era quase o braço direito do Rato e, justo ele, estava tentando prender meu padrinho. Sem pensar duas vezes, peguei meu celular e comecei a gravar aquela conversa.
— Ninguém vai descobrir, falou? Tu não vai contar nada pra ninguém. Quando eu receber a grana por ter entregue o Rato, vou cair fora desse morro e ninguém nunca mais vai me ver. E, você, se contar algo, vai morrer.
Assim que ele terminou de dizer isso, pigarrei chamando a atenção dos dois e parei de gravar. Os dois me olharam assustados e deram um passo pra trás.
— Silvestre? Tu escutou algo? — Rio perguntou, sorrindo amarelo.
— Não muito mas o suficiente pra saber o que tu tá tramando. E eu não vou deixar fazer isso.
— Por acaso tu acha que se contar isso pro Rato ele vai acreditar? — riu sem humor e DG logo foi embora.
Não o impedi, pois o papo era entre Rio e eu.
— Silvestre, ele não vai acreditar e vai ser mais um motivo pra ele não deixar você entrar nessa. Qual é cara, todo mundo sabe que você não é igual ao seu pai e nunca vai ser. Eu sou quase o segundo dono dessa porra aqui e, se eu fosse você, desistia de vez.
— Rio, tu sabe que tá enganado. Eu não sou mesmo igual ao meu pai, eu sou melhor que ele. Não vou precisar me rebaixar a nível nenhum porque já tenho um puta status por causa dele. Acha mesmo que se eu entrar nessa vou ser um simples vapor ou um tesoureiro? — ri me aproximando dele, ficando cara a cara. — Não cara, eu vou ser o braço direito do Rato e não vou medir esforços pra isso. Se eu fosse você teria medo porque, se eu virar bandido e tu ainda estiver aqui, vou sentir pena da tua família quando tiver que reconhecer seu corpo.
Rio engoliu em seco enquanto eu sorria cinicamente.
— Mas, antes disso acontecer, por que não vai lá fora e ajuda o Orelha e o Nike a trazerem o armamento pra cá? Preciso resolver algumas coisas pendentes. Nos vemos mais tarde. — dei tapinhas leves em seu ombro e saí dali.
Eu precisava falar com meu padrinho e, seria agora mesmo. Mandei o áudio que havia gravado pra ele e fui direto para sua casa.
— Miguel que porra de áudio foi esse que tu me mandou? — Rato perguntou impaciente pra mim.
— É isso mesmo que tu ouviu. O Rio ia te deletar pros 'cana. Eu não sei se tu vai fazer algo a respeito mas preferi te contar antes que o pior acontecesse. Não 'to pensando em cargo nenhum dando uma de x9, 'to fazendo isso em consideração a família. Tu é meu padrinho e não quero que vá em cana por causa de um filho da puta. — me sentei no sofá e dei um gole na cerveja que ele bebia.
— Meu filho... Muito obrigado por isso. Eu vou falar com os outros guardas e ver se tem mais algum x9 entre nós. Sobre o Rio, relaxa que farei algo a respeito, não deixarei passar.
— Bom, já que fiz meu serviço já, vou indo. Acho que vou pra casa agora ficar assistindo séries e me sentir um lixo por ter rompido meu namoro. — falei debochado, me levantando do sofá.
— Silvestre, espera! Foi mal por ter te subestimado. Pra ser sincero, tu tem um ótimo futuro pela frente. Eu só estava seguindo ordens do seu pai e te prevenindo do pior mas tu tem jeito pra isso. Igual ao seu pai. — abaixei a cabeça, ainda de costas para ele. — Olha, eu preciso passar esse final de semana no Salgueiro e preciso de alguém tomando conta das coisas pra mim, principalmente do Rio. Você... Não quer me ajudar?
— Ser o teu braço direito por um final de semana? — sorri.
— É... Quase isso. Pedirei que, dessa vez, DG te ajude pra que ninguém perca o controle ou te subestime. Você... Acha que consegue dar conta disso? — me virei para ele e vi que me encarava desafiador.
— Patrão... Eu nasci pronto. — sorri desafiador e ele sorriu.
Tudo bem que eu havia "terminado" com Becca e não estava muito feliz com isso. Mas admito que isso ter acontecido agora foi ótimo, pois agora poderia focar em me tornar traficante e ninguém iria me interferir mais.
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