Capítulo cinquenta; Não consigo evitar me apaixonar por você

— Olha só quem chegou! – exclamei sorridente olhando para a senhora que estava sentada em sua cadeira de balanço.

— Rebecca minha filha! Você chegou! – minha vó abriu os braços sorridente e eu corri para abraçá-la, deixando minha mochila com Miguel.

— Era pra eu ter chegado mais cedo mas meus pais quiseram que o meu namorado se alimentasse bem antes de pegarmos a barca. – olhei para os meus pais que estavam atrás de mim junto com Miguel.

— Mãe, a senhora sabe como essa barca balança. Do Rio para Paquetá é uma viagem e tanta e meu genro não podia passar mal. – meu pai colocou as bolsas em cima do sofá e foi ao encontro de minha vó para abraçá-la.

Era uma Sexta à tarde e, aproveitando que eu não trabalhava as Sextas, meus pais decidiram passar o final de semana na casa dos meus avós e queriam que Miguel os conhecesse. Eu concordei, afinal, seria uma boa sair um pouco da vida da cidade e fazer algo diferente e, quando disse a Lorenzo, ele ficou tão animado quanto eu.

— Deixe de bobeira José, esses meninos não são mais crianças. – meu avô apareceu na sala descascando uma banana. — Mimá-los não vai adiantar de nada. E outra, a Rebecca já teve outros namorados antes desse garoto aí.

Ri ao ver meu avô comer sua banana. Ele sempre teve aquele seu jeito rabugento, sempre falava o que vinha na telha e eu amava aquele seu jeito. 

Quando pequena, sempre que podia, eu vinha para cá passar o fim de semana ou minhas férias com meus avôs — como eu não tinha primos por parte de pai, eu ficava sozinha com eles mas isso não me impedia de me divertir. 

Como eles moram na praia, durante o dia meu avô ficava comigo lá e durante a noite nós ficávamos em casa jogando dominó, damas ou até mesmo ficávamos assistindo ao programa do Rodrigo Faro enquanto comíamos pizza. Durante o pôr do sol, meus avôs ficavam comigo na varanda, sentados na rede e tomando chocolate quente com biscoitos. Eu sentia saudades daquele tempo e vir aqui depois de tanto tempo me trazia grandes lembranças e nostalgias. 

A casa dos meus avôs sempre foi o meu refúgio da cidade grande e eu os amava imensamente. Sempre quis que eles morassem no Rio conosco, mas eles preferem a vida na praia por ser mais calma; minha avó já é aposentada e meu avô vai receber sua aposentadoria daqui há alguns meses, eles vivem uma vida boa e são muitos queridos pelos vizinhos.

— Prazer, eu me chamo Miguel. – meu namorado se aproximou do meu vô, estendendo sua mão para cumprimentá-lo.

Meu avô o encarou de cima em baixo e terminou de comer sua fruta.

— Você sabe jogar truco?

— Hã... Sei. Meu pai me ensinou uma vez. – me encarou confuso.

— Então seja bem-vindo a família, moleque. Agora me ajuda aqui a sentar porque minhas costas estão me matando. – colocou sua destra em seu lombar e Miguel correu para ajudá-lo, o que me fez rir.

— Ora Francisco! Pare de escravizar o menino! – minha avó se aproximou dele e deu um tapa em sua cabeça. — Perdoe o meu marido Miguel, esse homem é muito folgado. Se você deixar, até Domingo você não terá um minuto de descanso.

Miguel riu da minha avó e ela o abraçou.

— Vocês almoçaram? Eu preparei uma galinha cozida com feijão-fradinho pro almoço e está muito bom. Vocês vão gostar. – ela disse contente.

Só de escutar o cardápio minha boca já havia enchido d'água. Minha avó era uma cozinheira de mão cheia e, mesmo que eu não gostasse da comida, eu fazia questão de comer pois todos os seus pratos eram deliciosos.

— Sogra, vamos deixar essa galinha pro jantar. Agora, vamos arrumar o quarto que vamos dormir.– minha mãe pegou as bolsas que estavam no sofá.

— Arrumar o que minha filha? Vocês sabem que o quarto que tem aqui é da Bequinha, ninguém dorme ou mexe nele a não ser ela. Vocês vão dormir no quartinho da empregada. – a mais velha cruzou os braços.

— Mãe a senhora não vai fazer isso. – meu pai balançou a cabeça negativamente em negação. — Aquele quarto é muito apertado para mim e para a Soraia. A Rebecca e o Miguel pode dormir aqui nesse sofá. Ele ainda é aquele sofá-cama?

— Meu filho, quem manda nessa casa sou eu e se eu digo que a bonequinha dormirá no quarto dela, é porque ela dormirá no quarto dela. – colocou as mãos em sua cintura e eu segurei o riso. — Agora vão indo lá que eu vou pegar os lençóis pra vocês. Andem, andem. O quarto teve umas pequenas mudanças depois que a Célia foi embora. – empurrou levemente meus pais e olhou para mim dando uma piscadela.

Sem dúvidas eu amava meus avós. 

Nosso final de tarde se seguia bastante tranquilo. Meus avôs tratavam Miguel como se ele fosse da família há anos e ele estava bastante confortável já, ali na presença deles e dos meus pais.

Naquele momento, eu assistia a um filme de ação qualquer com meu pai e meu avô enquanto minha mãe preparava o jantar e Miguel estava na varanda com minha avó.

— Rebecca, já são seis horas. Vá lá fora e pergunte a sua avó se ela já tomou o remédio dela. – meu pai chamou minha atenção e eu me levantei sem hesitar.

Ao chegar na porta da varanda, pude escutar a conversa que Miguel tinha com a minha vó e não pude deixar de sorrir.

— A senhora tem mesmo todos os álbuns do Elvis Presley? – Miguel perguntou parecendo bastante interessado na conversa.

— Todos não, mas aos poucos estou terminando minha coleção. Eu tenho alguns vinis guardados no meu quarto, se quiser amanhã eu te mostro com mais calma.

Me apoiei sobre o batente e fiquei observando os dois que estavam sentados na rede, ao lado do antigo toca discos da minha avó que, por incrível que pareça, ainda funcionava e tocava Hound Dog. Minha vó era uma grande fã do Elvis Presley — tanto que ela e meu vô se conheceram numa matinê para fãs dele quando ainda eram adolescentes. Lembro-me que, quando pequena, ela vivia me contando sua história de amor com meu avô e adorava dizer que Elvis Presley teve uma grande participação nela — porque se não fosse por ele, ela nunca teria conhecido meu avô; admito que era uma história de amor muito fofa e o final dela é melhor ainda. Ela disse que no final daquela festa que eles se conheceram, eles foram para a praia assistir ao amanhecer enquanto eles dividiam o fone do walkman do meu avô e escutavam Can't help falling in love.

Aquela era a história que minha vó contava agora a Miguel, que escutava atentamente com um sorriso no rosto. Ao terminar sua história, minha avó o puxou para dançar e os dois começaram a dançar ali mesmo na varanda. Miguel ria enquanto rodopiava minha avó e a mesma ria enquanto fazia os passos que costumava fazer quando era mais nova.

Entrei na varanda dançando e me juntei a eles, que riram ao me ver chegar.

— Vó, a senhora é uma grande dançarina! – sorri. — Mas a senhora já tomou seu remédio? – a abracei e a menor arregalou os olhos.

— Bequinha obrigada por me lembrar, vou tomar agora mesmo. Miguel, fique aí. Eu vou aproveitar e te mostrar o outro disco que eu tenho do Elvis. – correu em passos pequenos para dentro de casa e eu ri, olhando para Lorenzo.

— Rebecca, sua família é maravilhosa. Agora eu entendo como você pode ser tão adorável. – Miguel se sentou na rede e eu me sentei ao seu lado.

— Eu não sou nem um terço igual aos meus avôs Miguel. – ri. — Mas gostaria de ser. A vida deles é tão calma, eles são tão felizes...

— Sabe? Eu não quero ir embora nunca daqui. – entrelaçou seu braço em meu pescoço, me puxando para mais perto de si. — Eu quero ser igual aos seus avós Rebecca. Morar em frente a praia, sem ter preocupação com nada, acordar todos os dias ao lado de quem ama... Saber que Domingo eu tenho que voltar pro Rio e assumir todas as responsabilidades que deixei lá é chato. É chato voltar a rotina.

— Eu faço parte da sua rotina Lorenzo. – o encarei. — Eu sou chata?

— Não meu amor. – riu olhando para frente. — Eu só tenho vontade de chutar o balde as vezes, fugir pra bem longe com você e morar numa ilha. Só eu, você e os nossos pivetes, sem ninguém pra nos encher o saco. – seus olhos brilhavam e eu até que o entendia.

— Miguel... Não podemos fazer isso. – virei seu rosto para que ele me encarasse. — Mas podemos ser nosso lugar de paz. Podemos ser a ancora um do outro, que nos ajuda a não querer chutar o balde. Um dia, quem sabe, nós sejamos igual aos meus avós mas... Enquanto esse dia não chega, vamos viver apenas um dia de cada de vez. – o mais velho sorriu.

— Eu não reclamo de todos os dias estar com você. Você é a única coisa da minha rotina que não me cansa Becca. Eu te amo. – me deu um selinho e eu sorri.

— Eu também te amo Miguel. – encostei minha cabeça em seu braço e ficamos ali, observando o céu ficar totalmente escuro enquanto o disco de minha vó ainda tocava.

A música que tocava era Can't help falling in love. A música que meus avós escutaram juntos enquanto viam o amanhecer, e agora era a minha música com Miguel que escutávamos enquanto víamos o sol se pôr por completo e juntos.

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