Capítulo 32

24 de fevereiro de 2020.

Murilo

Já é madrugada quando entro na casa de meus pais para ir ao banheiro, já que a festa está longe de acabar e quero aproveitar o máximo do que estamos vivendo aqui. Marina está se divertindo como há muito tempo não vejo, dançando e rindo com nossa família, e apesar de querer carregá-la pra casa e arrancar dela aquele vestido lindo, me deliciando com o que tem embaixo dele, sei que terei ainda a vida inteira pra tê-la só pra mim. Apesar de já ser segunda-feira, graças a Deus é feriado, então podemos aproveitar sem receio do dia seguinte.

Escuto alguns cochichos vindos do escritório do meu pai quando passo pelo corredor, e imagino quem está lá e o que está fazendo, mas me dirijo diretamente ao banheiro, já que as cervejas que ingeri durante a noite estão implorando pra sair do meu corpo. Confesso que estou um pouco embriagado, e resisti a princípio porque não queria que minha esposa se sentisse excluída sem poder beber, mas ela me garantiu que não tem problema, e que estava bem feliz com seu suco de maracujá, seu favorito, que foi uma das únicas exigências que fiz para minha mãe sobre a festa. Então acabei tomando algumas long necks, e por não estar mais acostumado a beber, já que o faço raramente e nunca em casa, fiquei alto bem rápido.

Finalmente chego ao banheiro, onde me esvazio e passo uma água no rosto para espantar a bebedeira e também o suor que se acumula. Observo mais uma vez a aliança que novamente se encontra em minha mão esquerda, ainda sem acreditar que, contra todas as expectativas, minha Marina voltou pra mim, e me sinto feliz e realizado. Claro que a felicidade genuína continua sendo um pouco ofuscada pela perda do Théo, mas a dor que nos atingiu nos últimos anos deu lugar a saudade, então não era mais tão difícil pensar nele, já que apenas lembranças bonitas me passavam pela cabeça. A dor da perda é insuportável, mas a dor da saudade nos permite respirar, já que traz com ela momentos maravilhosos vividos junto com quem se foi.

Lembrando de meu menino correndo por essa casa enquanto volto pelo corredor, começo a imaginar como seria se ele ainda estivesse aqui, como ele estaria agora, e algumas lágrimas caem de meus olhos. É melhor eu voltar pra festa e parar com essa melancolia. Antes de continuar, junto minhas mãos em oração e peço que Théo olhe por nós lá de cima, e que não deixe que nenhum outro mal aconteça em nossa família.

Continuo meu caminho rumo a área externa, mas ouço novamente um barulho vindo do escritório do meu pai. Rapidamente entro no local, e a cena que vejo me deixa preocupado e desconfiado. Maya está deitada no sofá em frente a lareira, e está desacordada, enquanto um rapaz alto tenta sem sucesso fazê-la acordar. Sem nenhum aviso, empurro o rapaz para o lado e me ajoelho ao lado de minha filha, que continua inconsciente.

- O que você fez com ela? - pergunto ao garoto, muito irritado. - Ela bebeu álcool ou ingeriu alguma droga? - questiono vendo no garoto um semblante preocupado.

- Não senhor, eu juro que não dei nada a ela, e nem a via tomando nada alcoólico enquanto estamos conversando - diz ele meio trêmulo.

Continuo chamando por minha filha, até que aos poucos ela desperta. A princípio ela fica confusa, mas quando ela me vê parece ficar ciente do que aconteceu.

- Minha filha, você está bem?

- Si-sim pai, estou bem. Acho que tive uma queda de pressão, algo assim. Não comi muito bem no jantar - responde ela se sentando.

- Vou chamar sua mãe e vamos te levar para o hospital - digo já me levantando.

- Não pai! - diz Maya me puxando pela mão. - Não precisa, de verdade. Você vai estragar a festa dela por nada. Eu juro que tô melhor. O Andrew pode me levar na cozinha, e lá eu como alguma coisa pra forrar o estômago.

- Andrew, é? - digo me dirigindo ao rapaz que estava calado até o momento, e vejo que ele fica vermelho, assim como minha filha. - O que vocês dois estavam fazendo aqui no escritório, com a porta fechada? - indago.

- Ah pai, nada demais, estávamos apenas conversando - diz Maya olhando para as mãos.

- Pois então chega de conversa. Vamos Maya, eu te levo até a cozinha pra pegar algo, e você come lá fora perto da gente, onde vocês podem conversar. Não quero saber de você passando mal aqui dentro sem a companhia de um adulto - digo olhando com recriminação para Andrew, que deve ter a idade aproximada de minha filha.

Mesmo relutante, ela se levanta e caminhamos juntos em direção a cozinha. Mesmo negando, percebo que Maya parece fraca enquanto precisa da minha ajuda para caminhar, e fico muito preocupado que isso seja algo a mais do que falta de comida. Faço ela comer uns salgadinhos na cozinha mesmo, enquanto preparo um prato pra ela levar para fora, e fico mais aliviado quando vejo a cor voltando ao seu rosto.

Depois de instalar ela e Andrew, que mesmo envergonhado não saiu do lado de minha filha, em uma mesa perto de onde minha família dá um show na pista de dança, observo Marina enquanto ela balança os quadris ao som de funk. Quem diria que aquela moça envergonhada que conheci há quase vinte anos estaria agora dançando funk, sem nenhuma inibição, na frente de um monte de gente? Rio com a constatação. Meu sorriso some, porém, quando vejo os caras que se diziam meus amigos naquela época e que desdenharam de mim quando iniciei meu relacionamento com Marina, cobiçando minha esposa que dança alheia a tudo isso. É muita cara de pau deles aparecerem aqui quando eles nunca me apoiaram meu relacionamento com ela.

Ignorando eles e a vontade que eu tenho de esmurrá-los por estarem secando a minha mulher, vou em direção a ela, a puxo pela cintura e lhe dou um beijo cheio de intenções, enquanto meus familiares batem palmas. Marina, surpresa com minha chegada repentina, passa os braços por meus pescoço e me permite beijá-la ali mesmo, outra coisa que ela não teria permitido quando mais nova.

- Senhor Sartori, qual o motivo desse beijo de novela na frente de todo mundo? - ela questiona quando finalizamos nosso momento de carícia.

- Apenas querendo mostrar para alguns abutres que essa mulher linda aqui já é comprometida - digo segurando-a em meus braços. Ela apenas ri e enxerga nossa filha sentada onde a deixei.

- Tudo bem com Maya? - ela indaga, já que nossa filha não ficaria sentada em uma festa animada como essa.

- Ela teve uma queda de pressão, disse que não comeu direito hoje, então fiz um prato pra ela e a coloquei no alcance de nossas vistas, já que quando a encontrei ela estava com um garoto dentro do escritório do meu pai.

- Minha nossa, não quero nem saber o que você disse ao pobre garoto - responde ela rindo. Depois, com um olhar mais sério, ela continua. - Vamos levar Maya ao médico assim que possível, e fazer um check-up apenas para garantir que está tudo bem.

- Com certeza, tudo o que há de melhor para a minha princesa - respondo.

- Princesa é? E onde eu me encaixo nessa história? - diz Marina fazendo biquinho.

- Você é a rainha meu amor, quem comanda meu reino e meu coração - digo a puxando mais uma vez para meus lábios. Mesmo depois de tanto tempo, é como se fosse a primeira vez.

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